sexta-feira, 15 de março de 2019

Bolsonaro é o Luan Santana da Política Brasileira

Autor: Eduardo Praxedes Costa(*)

Bolsonaro está na moda, é trending topic do Twitter há meses, está na capa de revistas políticas de todo o mundo, mas não é cool, não consegue ser chique ou refinado aos olhos da mídia que, pelo contrário, o considera rude e grosseiro.

Grande parte desta impressão de ser um sujeito arrogante e que não aceita crítica provém de atitudes solitárias do próprio, ou seja, sem estímulo, sendo ele mesmo na tribuna da Câmara ou que, ao declarar votos em plenário, pregou em si a pecha de insensível e mal-educado. 

Até o dia do atentado pouco mais se sabia da personalidade deste político que falava a uma franja de adeptos composta por policiais, bombeiros (cabo Daciolo, incluído), militares da reserva. Sua linha de ação baseava-se na defesa dos militares, na recuperação dos salários da caserna e de defender o moralismo através do combate ao que foi denominado kit-gay e a escola com orientação pedagógica socialista.

Quase tendo sido passageiro de Caronte por obra de um bispo Adélio, emergiu do leito hospitalar uma nova face de Bolsonaro: que revelava medo, insegurança, carência e que era cuidado e amado por mulher, irmão, filhos e filha. 

Uma mistura do homem turrão com este ser que respirava afeto, fez um blended único que se tornou imbatível eleitoralmente.

Toda dinâmica eleitoral durou até primeiro de janeiro, data da posse, dia festivo de culminância do pré-governo.

No dia seguinte, tínhamos um governo instalado e atuante, mas já criticado pelo que não fizera e pelo que prometia fazer.

Patacoadas de ministros, de filhos e de parlamentares com gostos orientais deram mais munição aos famintos opositores do governo.

Um ministro foi afastado, outro está sendo avaliado e um filho, o zero um, jura ser inocente.

No entanto, a mídia não para de bater no presidente, Sempre há algo a ser feito que ele não pensou ou alguma coisa que ele fez ou falou que não deveria ter dito. O presidente está out por não participar de grupos sociais que protegem os desassistidos. É cafona por não ter pedigree de um diploma universitário na área social ou de humanas, e por não conseguir entabular conversas onde o fio condutor seja o Mal-Estar na Civilização.

Bolsonaro é alvo daquilo que sempre o acusaram: preconceito. É um sertanejo universitário, faz sucesso, mas não estudou o suficiente para fazer música melhor, ou falta-lhe talento para ser um Caetano ou um Chico. 

Esquecem os sociólogos puristas, mentores da prevalência deste preconceito, que a música brasileira de hoje é muito mais representativa do nosso povo do que, por exemplo, a franja que a bossa nova tinha de ouvintes e adeptos. Esta franja, tal qual a dos antigos eleitores de Bolsonaro representava minúscula parte da população brasileira e não conseguia ouvir os seus anseios, suas dores e necessidades. 

O Brasil é um país composto de poucas metrópoles e muitas e prósperas cidades do interior onde as pessoas têm um erre bem pronunciado que é motivo de galhofa de quem mora nos grandes centros de sul e sudeste. 

Também é constituído por pessoas que, mesmo sem terem frequentado curso superior ou pós-graduação em Princeton ou Havard, tocam suas atividades de forma a gerar muitas divisas para o país. E onde o presidente pode ter um guru outsider como Olavo de Carvalho.

Enfim, somos tudo isto junto e misturado e hoje temos um presidente que suavizou seu discurso colocando nele alguns versos de MPB: mas, por favor, não vamos fugir às raízes verde-amarelas, pois sou mais Luan, Teló e Lucas Lucco, como divulgadores dos afetos brasileiros apolíticos, do que as grandes poesias de Chico e Caetano que expõem, temas bem mais restritos do alcance de um povão de vida simples e com erres bem pronunciados. 

*Eduardo Praxedes Costa


- Médico psiquiatra e neurologista;
- Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental (UFRJ, 1995); 
- Advogado desde 2007, aprovado na Prova da Ordem em dezembro/2007;
-Atua como psiquiatra em seu consultório no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro;
-Autor do conto policial A Investigação, publicado pela KDP Amazon em e-book (agosto,2017);
-Está finalizando seu primeiro romance. 

Nota do Editor:


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