sábado, 29 de outubro de 2022

Perspectivas da Educação no Ensino Superior


 Autora: Adriana Soeiro(*)


A modalidade a distância tem recebido diversas classificações, de acordo com os recursos tecnológicos e estruturação pedagógica. Diversas Instituições adicionam à nomenclatura de seus cursos alguma numeração: 2.0, 4.0, 100% EAD, em lugar do tradicional on line. Recentemente, os termos semipresencial e híbrido têm sido adotados.

Pela trajetória histórica, percebe-se que esse não é um processo estático, portanto passível de mudanças, no entanto, vale destacar que de fato, existe uma carga de encontros presenciais previstos nos projetos de cursos, mesmo quando ofertados na modalidade a distância. Portanto, os cursos classificados como 100% EAD devem oferecer alguma carga horária presencial, seja para participação na ambientação à plataforma virtual, seja para realização de provas ou participação em eventos Institucionais. É verdade que, com a pandemia, os encontros presenciais dos cursos na modalidade EAD foram suspensos, mas desde o segundo semestre de 2021 estes foram retomados, ou deveriam ter sido. Mas isso é bom ou ruim? O tempo dirá! Mas temos alguns dados.

O ENADE- Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, mas a cada edição um determinado grupo de ensino superior, divididos entre as áreas de conhecimento, é escolhido pelo MEC para ser avaliado, em sistema de rodízio, de modo que mesma graduação seja reavaliada a cada três anos. Essa avaliação possibilita que as Instituições de ensino, estudantes e futuros empregadores possam conhecer os resultados acadêmicos e possam avaliar aquilo que está sendo ensinado e aprendido nos cursos superiores. A partir disso, as instituições podem fazer melhorias, propor mudanças nos planos de curso, estudantes podem pesquisar onde estudar e empregadores podem pesquisar a reputação dos melhores formadores. Esses dados são públicos.

Na última edição do ENADE em 2021, ficou evidenciado que os cursos superiores de graduação da modalidade EAD ultrapassaram em número os dos cursos presenciais. No entanto, diferente que vinha ocorrendo desde 2007, em que o resultado obtido no ENADE pelos cursos ofertados na modalidade a distância tinha sido muito superior aos da modalidade presencial. Em 2021, porém, a nota máxima dos alunos da modalidade EAD é menor do que a metade dos que ingressam nos bancos das Instituições de Ensino Superior (IES) convencionais.

A última prova do ENADE aplicada em novembro de 2021 avaliou os cursos de licenciatura, ou seja, destinados à formação de futuros professores. Dentre esses, apenas 2,3% dos cursos a distância alcançaram a nota máxima. Os mesmos cursos ofertados na modalidade presencial, 6,2% atingiram o índice máximo. Tal resultado, se mostrou ainda mais preocupante, uma vez que muitos cursos não obtiveram a nota mínima exigida pelo Ministério da Educação (MEC), que é 3,0. Para refletirmos, de acordo com os dados do INEP, das licenciaturas ofertadas na modalidade EAD, 47,8% atingiram apenas as notas 1 e 2. Ou seja, que profissionais o mercado educacional terá nos anos? O que dizer das demais áreas? Em novembro de 2022 será a vez de 26 cursos relacionados à área de gestão: Logística, Gestão Financeira, Comercial, Marketing, Gestão da Qualidade, Recursos Humanos também Comunicação Social, Relações Internacionais, Direito e Psicologia.

Confesso que sou entusiasta na modalidade EAD por acreditar na democratização do ensino, mas nem sempre os modelos pedagógicos adotados por algumas Instituições representam o mínimo de qualidade desejada. A preocupação com a qualidade dos cursos deveria ser constante, isso contempla a avaliação periódica dos materiais disponibilizados, o acompanhamento dos estudantes pela equipe multidisciplinar e pelo corpo tutorial, composto por docentes que possuem formação aderente às áreas em que atuam e que, possam de fato assessorar os estudantes em sua trajetória acadêmica. Mas temos mudanças à vista!

Em 2023, entrarão em vigor as Atividades Extensionistas, indissociáveis do fazer acadêmico, assegurada pela Lei Nº 10.17248/2001, que institui como responsabilidade das IES a garantia de que os estudantes disponham de atividades de extensão devidamente regulamentadas, contempladas nos respectivos Planos dos cursos e concretizadas por meio das Diretrizes da Extensão na Educação Superior Brasileira estabelecidas pela Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estas estão previstas para os cursos de ensino superior ofertados nas modalidades presencial e a distância, no entanto, todas essas ações estão programadas para ocorrerem presencialmente, ou seja, estamos caminhando para que os encontros síncronos obrigatórios, supervisionados pelos coordenadores, docentes e tutores que, terão a missão de organizar as práticas pedagógicas, previstas pelas DCNs dos cursos. Ou seja, a aplicabilidade do conhecimento junto à sociedade.

Qual é o impacto disso? A estruturação das aulas das modalidades presenciais e a distância elas estão passando por ajustes, uma vez que a curricularização da extensão amplia o espaço da sala de aula, contribuindo com o processo pedagógico na medida em que possibilita o intercâmbio e participação entre as comunidades interna e externa à vida acadêmica. Temos aqui a concretização da abordagem Heutagógica, em que o aluno é autônomo para decidir como e com que recursos aprender, numa situação de formalidade ou informalidade. No entanto, com a obrigatoriedade das atividades extensionistas, também será dado enfoque para o protagonismo desse estudante, que terá a oportunidade de acessar os saberes e todo o conhecimento em pró da resolução de problemas e oportunizar mudanças no entorno. Assim, o estudante é o centro do processo e a aprendizagem e o professor ou tutor assumem o papel de orientador, que é apenas mais um agente dentro desse processo complexo e não-linear, apesar do que o currículo tenta ditar. O objetivo é que o contato com a sociedade possa retroalimentar o ensino e a pesquisa e a própria extensão, contribuindo para o desenvolvimento de novos conhecimentos científicos, intensificando a convergência entre sua vocação técnico-científica e seu compromisso social.

Os princípios dessa aprendizagem autodeterminada ou HEUTAGÓGICA enunciam a criação de uma experiência otimizada pela facilitação ao acesso à informação e ao conhecimento por meio de diversos dispositivos tecnológicos e da alta velocidade de comunicação, em que o estudante seja o protagonista de seu aprendizado, embasado em problemas reais, centrado nas necessidades da sociedade do século XXI. Poderemos constatar a qualidade dos cursos de graduação nos resultados do ENADE de 2025?

O desafio está em vencer a barreira do comodismo e promover ações em que o estudante tenha a postura ativa frente ao saber, o aprender a aprender, pois essa metacognição é crucial ao estímulo de saber resolver. Portanto, essa consciência da aprendizagem autodeterminada, princípio da Heutagogia, estabelece compatibilidade com educação ao longo da vida. Assim, mais relevante do que ter aprendido ou não algo é a criação de uma experiência otimizada pela facilitação ao acesso à informação e ao conhecimento por meio de diversos dispositivos tecnológicos e da alta velocidade de comunicação do próprio educando acerca do quanto ele entendeu o processo da aprendizagem, identificando claramente como ele aprende.

Neste contexto, as atividades extensionistas, previstas pela Curricularização da Extensão, exigirão comprometimento do estudante, seriedade da Instituição na supervisão e suporte junto aos alunos e sociedade, mas também representam um novo momento educacional, principalmente para os cursos da modalidade a distância, pois as interações dos cursos ofertados na modalidade estavam restritas aos momentos de discussão nos fóruns, chats e poucos momentos síncronos, mas, em 2023 teremos a oportunidade de proporcionar ao estudante a aplicabilidade do saber, a partir das atividades presencias, referentes às práticas pedagógicas essenciais ao processo educativo, ou seja, estamos falando do hibridismo ou blended learning., embasadas pela abordagem heutagógica.

Certamente os tempos são outros e fica a pergunta proposta pelos autores da abordagem heutagógica: "Próximo passo para onde?"

Referências:

Resolução MEC:


Resultado ENADE 2021:


Tese de Doutorado: Pino, Adriana Soeiro. Educação a distância: propostas pedagógicas e tendências dos cursos de graduação(2017)

*ADRIANA SOEIRO
















-Licenciada em Letras e Pedagogia - Faculdades Integradas de Guarulhos (1991);
-Mestrado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2012);  e 
-Doutorado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2017),  pesquisa voltada à proposta pedagógica destinada à EAD.
-Graduada em Gestão Pública, especialista em Gestão EAD. 
Atualmente, é coordenadora do NUPEX, Núcleo de Pesquisa e Extensão da Cruzeiro do Sul virtual, gestora do NEAD do Grupo Drummond -São Paulo e Uverse- Acre e 
Diretora Pedagógica do Colégio Externato José Bonifácio.

Nota do Editor:

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