quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A perspectiva de gênero no Direito de Família


 Autora: Sara Ferreira(*)

Publicado pelo Conselho Nacional de Justiça, em 2021, o protocolo para julgamento com perspectiva de gênero estabelece diretrizes que, quando aplicadas no Direito de Família, auxiliam na redução das desigualdades dentro do contexto familiar. Existem desigualdades que são históricas e acompanham tanto a vida íntima quanto as decisões judiciais. Nessa seara, o patriarcado influencia a manutenção de estereótipos prejudiciais capazes de influenciar processos envolvendo divórcio, pensão alimentícia e guarda dos filhos.

Com base nisso, as diretrizes supramencionadas fornecem orientações aos magistrados para que possam abordar casos relacionados a questões familiares, além de outras, para que considerem o impacto das interseccionalidades que acompanham  a perspectiva de gênero. Dessa forma, as múltiplas opressões capazes de prejudicar o desenvolvimento humano de uma mulher e reflete formas de dominação, como racismo, etarismo e elitismo classista, devem ser identificadas e trabalhadas para que não acentuem a desigualdade e a exclusão sofridas por mulheres.

O documento reforça questões como “feminização da pobreza”, que ocorre quando mulheres precisam se submeter a condições de trabalho precárias, sujeitando-se simultaneamente às remunerações baixas e ausência de proteção trabalhista. Muitas vezes, isso ocorre por conta do dever de cuidado atribuído a mulher que, para cuidar de seus filhos, pais e outros familiares, associado as tarefas domésticas, busca no mercado informal formas de sobreviver uma vez que necessita de uma jornada mais flexível.

Sendo assim, as questões aqui apresentadas, e tantas outras presentes no documento do CNJ, podem embasar decisões mais justas para mulheres reforçando o papel do judiciário como instituição capaz de promover a igualdade de gênero. A partir disso, guardas podem ser geridas fora da perspectiva do senso comum que atribui o cuidado apenas para a mulher, mantendo divisões mais igualitárias entre os pais. Pensões podem ser arbitradas para além dos alimentos da prole, considerando a necessidade de desenvolvimento pessoal desta mulher para que ela consiga se profissionalizar para ter salários mais altos.

Ademais, tais diretrizes oriundas do CNJ, conforme o protocolo publicado em 2021, são importantes para diversas áreas do Direito, atuando como um protocolo que visa identificar influências patriarcais, sexistas, machistas, racistas e homofóbicas, alcançando a aplicação e interpretação jurídica. É um grande avanço na luta feminina!

 *S ARA BRÍGIDA FARIAS FERREIRA











-Advogada e Professora Universitária; 

-Bacharela em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2015);

 -Especialista em Direito de Família pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) (2016).;

-Mestre em Planejamento e Desenvolvimento Urbano e Regional na Amazônia pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) (2021); e

-Mestranda em Propriedade Intelectual pela UNIFESSPA.

Advogada e Professora Universitária. 

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