sábado, 24 de agosto de 2024

Fala Professor…


 
Maria Cristina Marcelino Bento (*)

E como está o professor? O que sente o professor mediante a tantas publicações em diferentes veículos de comunicação após a divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB/2023?

O IDEB é considerado uma medida estatística de desempenho dos alunos da educação básica (ensino fundamental e médio), em todo o território brasileiro, envolvendo estudantes de escolas públicas e privadas. Os dados são coletados bienalmente, em anos ímpares, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP/MEC. A coleta, processo de apuração, e apresentação dos dados é um trabalho estupendo, assim como toda está iniciativa.

O desempenho dos alunos é mensurado de 0 a 10, em testes/provas de português e matemática. Os resultados podem ser acessados em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/ideb/resultados . O leitor poderá verificar os resultados de todo o território nacional, por região e Estados, municípios ou ainda por escolas.
    
Comparando os dados do IDEB/2023 com os dados de 2021, temos que nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5 º ano) a nota nacional é 6. Claro que essa média se deu com a alta variação entre os Estados brasileiros e de diferentes escolas. Como estão os professores do ensino fundamental I, em todo o Brasil, após lerem os resultados do IDEB/2023? (considerem também aqui toda a equipe de gestão da escola)

Ao escrever sobre a média 6 para os anos iniciais me veio a mente... serão o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID e Residência Pedagógica - RP da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES um dos impulsionadores desta média? Há muito trabalho a ser feito para conseguirmos esta resposta, mas ainda não encontrei essa resposta nos vários textos que já li sobre tema. Outras análises se fazem necessárias, como as escolas de ensino fundamental II e médio que participaram destes programas se saíram nos testes do IDEB/2023? Dados importantes para as IES parceiras e as escolas de educação básica.

Vamos agora a média referente aos anos finais do ensino fundamental ou ao também nomeado ensino fundamental II, a situação é crítica. A média está abaixo da meta, 5,5. Pior então, foi a média para as escolas de ensino médio, com 4,3.

Muito se discute e pesquisa sobre a educação escolar em nosso país, formação docente, práticas pedagógicas, avaliação da aprendizagem e por aí vai... mas, em um país onde há auxílio para quase tudo (auxílio gás, auxílio leite, bolsa família, entre outros tantos), - até que o ser humano use os auxílios quando necessários – não há quase nada de incentivo ao ser humano para ser melhor a cada dia. Não melhor do que ninguém, porém um ser de superação. Realmente, ameniza a vontade de aprender, aprender a ser/estar, ou como dizia Freire em muitas de suas obras, um ser humano capaz de ler mundo, de compreender que "Ivo viu a uva". Não somente como palavras para aprender a decodificar o signo linguístico, mas ir além. Inferir quem era o Ivo, sua história de vida, entendê-lo como ser humano (corpo, mente e espírito). Entender a uva não apenas como fruta, mas como símbolo do sagrado, alimento e sobretudo seu cultivo/cuidado e como produto de mercado. Ah! Há muito a decifrar nesta pequena frase.

Mas, meu foco aqui é o docente frente a estes resultados do IDEB/2023, o que estão sentindo os professores? A divulgação dos dados está acompanhada de muitas observações: desde que a somente aplicação de verbas não resolve, docentes mal formados, práticas pedagógicas absoletas, sistema de ensino que não considera o aluno como o sujeito da aprendizagem, sugerem adotar diretrizes pedagógicas eficazes.

Vamos rememorar que a pandemia ocasionada pelo COVID 19 afetou a todos de diversas formas, a educação escolar então... Quantos professores tentaram trabalhar, embora a qualidade da internet e dos dispositivos móveis nem sempre eram adequados, acrescenta-se a falta de dispositivos. Em momento pós pandemia, percebo que deveríamos verificar qual (s) e quanta(s) escolas conseguiram organizar e distribuir tecnologias digitais aos alunos e docentes; escolas que encaminharam as atividades impressas aos alunos, se alunos/responsáveis conseguiram entregar as atividades realizadas para os professores poderem corrigir e dar continuidade ao processo de aprendizagem. O que sentem os professores pós pandemia e /ou o que sentiram os professores durante a pandemia? Diga, professor!

Este ano diversas entidades envolvidas com a educação escolar tiveram a oportunidade em apresentar contribuições as diretrizes de formação docente em nosso país. Outro grande debate na atualidade sobre a formação docente está centrada nas licenciaturas ofertadas em EAD. Uma coisa é atuar na formação docente, outra é pretender ganhar dinheiro com oferta de cursos. Mas, este tema a gente desenvolve em outro texto.

Formar professores em curso presencial ou EAD é preparar um profissional para cuidar de gente, da pessoa humana que pertence ao Cosmo. Formar professor é comprometimento com a formação do cidadão crítico, criativo, capaz de superação dos desafios do século XXI.

Mas, quem forma o professor? Quais são as narrativas docentes dos formadores de professores? Quem influenciou a pratica docente dos formadores de professores? Os professores formadores de professor, como estão mediante o pós pandemia e com os resultados do IDEB/2023? E, aqueles professores maravilhosos que marcaram nossas vidas, será que viram os resultados do IDEB/2023? Os docentes aposentados, aqueles que já lecionaram durante anos, o que sentem com estes resultados? Por um lado precisamos ampliar ainda mais os debates sobre a formação docente no Brasil, por outro a questão é: a quem interessa um povo culto?

Enquanto isso, há professores nas redes sociais fazendo piada para ganhar uns trocados a mais. O professor é o único profissional que trabalha antes do trabalho para na hora do trabalho ter trabalho, e após o trabalho trabalha de novo.

Fala aí, professor... como se sente? Como percebe esse resultado, como vê sua formação profissional?

* MARIA CRISTINA MARCELINO BENTO






















-Graduada em Pedagogia pela UNISAL (1989); 

- Mestre em Educação pela UMESP-SBC (2008); 

-Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital pela PUC-SP(2016); 

-Mentora na Kanttumprof

Atualmente é :

-Docente  titular no UNIFATEA; e -Coordenadora Institucional do PIBID/Capes - Pedagogia/ UNIFATEA .

http://lattes.cnpq.br/7723002210560216


Nota do Editor:

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