sábado, 20 de junho de 2020

A Educação Brasileira sob as Lentes do Covid-19


Autora: Márcia Stochi(*)

O ser humano, há cerca de 10 mil anos atrás, começou a perceber que depender da natureza não garantia seu sustendo. Essa percepção levou a humanidade ao início da agricultura e foi alterando gradualmente sua condição de homem nômade para sedentário. Em tempos atuais, nos preocupamos em garantir algum tipo de estabilidade financeira, para que possamos obter nosso sustento. Porém, anos de uma certa estabilidade fez com que a humanidade se esquecesse de algumas antigas lições e se sentisse mais segura em suas conquistas, até que um fato novo ocasionou uma quebra de paradigma. Essa nova condição nos obrigou a repensar nosso modo de vida, nossas prioridades e nossos valores.

Sempre ouvi a frase que a saúde precede a educação, pois sem saúde não se consegue aprender, mas nesse momento diria que essa questão se coloca de modo inverso, pois aqueles que se negam a utilizar máscara e que não praticam um distanciamento social, irão prejudicar a sua própria saúde, e fazem ainda pior, prejudicam a saúde de quem tentou se resguardar. Essa situação, que assola o planeta, escancarou nossos problemas de saúde e de educação para o mundo. 

O atual mandatário da nação se coloca numa posição negacionista em relação ao covid-19, esse fato acompanhado de um desleixo com as questões de saúde nacional, tem trazido resultados trágicos.

Desde a chegada do vírus ao Brasil, já trocamos dois ministros da saúde, o primeiro por um problema de competência, mas num sentido inverso, ele se mostrou competente, solidário e apresentava a situação com transparência e clareza, o que provocou ciúmes e levou a sua demissão. O segundo, em menos de um mês no comando da pasta teve que pedir demissão, pois lhe era imposta a condição de validar um medicamento que não se mostrava eficiente na cura da doença e com possíveis contra indicações. Neste mês de junho, temos um ministro interino, militar não médico, que em uma entrevista, mudou a posição da linha do equador, como se isso fosse possível e elevou à condição de Estado a Cidade de Porto Velho, revelando a falta de conhecimento daqueles que estão no poder. Nesse cenário, só podemos lamentar a falta que faz um pouco de conhecimento sobre geografia, pois assim teríamos evitado um vexame mundial.

A situação atual está intrinsecamente relacionada às questões biológicas, já na escola se ensina que a simplicidade na composição orgânica de um vírus faz com que ele seja muito mais perigoso, e que novos vírus podem surgir por meio de mutações de outros. O próprio covid-19 já é uma mutação de outro tipo de corona vírus. Essa possibilidade sempre levará a uma situação desconhecida, fazendo com que seja primordial ter profissionais bem formados em biologia, pois sempre haverá um novo desafio a ser superado. 

Porém, poucos jovens brasileiros têm condições financeiras e conhecimentos básicos para ingressar e permanecer em um curso de graduação nessa área. Além da falta desses profissionais eles ainda sofreram agressões por parte de setores da população, numa demonstração de completa ignorância. Se poucos brasileiros têm condições de atuar nessa área, então espera-se que o restante da população respeite e valorize esses profissionais. Nesse cenário, só podemos lamentar a falta que faz um pouco de conhecimento sobre biologia, o que poderia ter evitado as agressões e as altas taxas de contaminação. 

As questões sobre o isolamento social uso de máscaras, luvas e higienização das mãos, são questões de saúde e fator que colabora com o recuo na taxa de contaminação. A propagação da doença se dá segundo uma progressão geométrica, quanto maior esse índice, mais rápido a doença se espalha. Assim, a análise dessa situação está relacionada a matemática. Isso nos remete aos nossos conhecimentos, em nível da educação básica, pois quando o índice é maior que 1 significa que alguém com o vírus infecta mais de uma pessoa, fazendo com que a curva de contaminação seja ascendente.

Destacamos ainda, as comparações simplórias com outras nações sem se considerar a proporção em relação a população total. Neste cenário, só podemos lamentar a falta que faz um pouco de conhecimento sobre matemática, esses são essenciais para que cada cidadão consiga fazer suas reflexões e tomar decisões de como se proteger.

Para agravar a situação o Ministério da Educação tem se mostrado inapto em assegurar uma Educação em âmbito nacional e, ainda, somos ameaçados com a extinção desse Ministério, comprovando o pouco caso desse governo com nossa educação. Assim, cabe a população sair em defesa de uma educação para todos! 

*MÁRCIA STOCHI
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-Atua há 20 anos na docência em vários níveis: Educação Básica; Graduação e Pós-graduação;
- Bacharel e Licenciatura em Matemática Pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993);
- Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo  (2003) ; e
- Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2016).

Nota do Editor:

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