sábado, 24 de outubro de 2020

A educação à luz das virtudes


 Autora: Mariana Casoni(*)


Ao longo dos últimos séculos a educação sofreu grandes transformações, desde sua organização, com a criação das escolas, até a grade curricular e o ensino obrigatório. 

Uma das grandes mudanças, entretanto, é o objetivo pelo qual se educa. Será que paramos para pensar para que temos uma educação formal obrigatória que hoje se inicia aos 4 anos de idade, no ensino básico e finaliza aos 17 anos, no ensino médio[1]? Certamente a resposta que virá é: estudamos a maior parte da vida para conseguirmos um bom trabalho ou ainda para sermos bons cidadãos. E de fato isto é pregado aos quatro cantos, principalmente nas escolas. Mas será que o verdadeiro objetivo da educação se limita ao mundo do trabalho? 

Ao restringir a educação ao mundo do trabalho empobrecemos drasticamente não só a educação, mas também o ser humano. Na educação clássica as virtudes estão no centro da educação humana, ao desenvolvê-las o homem torna-se independente e busca o Bem. 

Muitas vezes as pessoas relacionam as virtudes com a religião cristã, no entanto este é um equívoco, já que as virtudes fazem parte do ser humano. Aristóteles, na Grécia Antiga, já disseminava a sua importância, bem como o seu desenvolvimento a fim de que o homem pudesse ter atitudes morais e éticas. 

Outro equívoco muito comum é crer que a virtude é um hábito bom, no entanto ela é mais do que isso é uma perfeição habitual da inteligência e da vontade (FAUS, p. 20, 2014). Ela não é uma tendência para fazer o bem, mas é algo que demanda um esforço, uma atitude firme. 

Mas afinal o que é uma virtude? A virtude, como dizia Aristóteles, está no meio (virtus in medio) do defeito e do excesso. Assim, a virtude da coragem está entre a covardia (falta de coragem) e a temeridade (seu excesso). Portanto, para adquiri-las é preciso esforçar-se desde muito cedo, por isso a importância dos pais e professores neste processo. 

As principais virtudes humanas são: prudência, justiça, fortaleza e temperança, em torno delas giram outras, como a mansidão, a coragem, a constância etc. Ainda na infância é possível e necessário que a criança desenvolva as virtudes para não somente ser um bom cidadão ou uma boa pessoa, mas para chegar ao seu ápice de humanidade. Uma criança que é corajosa, pontual, prudente etc, certamente será um adulto que contribuirá para o desenvolvimento de outras pessoas. 

A conquista das virtudes deve ser feita no cotidiano, em casa e na escola e não é algo tão difícil de ser trabalhado pelos pais e professores, no entanto requer um esforço diário. É possível trabalhar a conquista da fortaleza insistindo para que a criança coma todos os alimentos que estão no prato, mesmo que a criança não goste de comer verduras e legumes, por exemplo. A criança ao comer o alimento que ela não gosta, aos poucos vai desenvolver a virtude da fortaleza e que depois poderá ser aplicada a ações maiores em sua vida adulta. 

É imprescindível que as pessoas, sobretudo os pais, voltem seu olhar para a educação das virtudes e não fixem seus olhos em uma educação que visa somente o mundo do trabalho, pois ao educar as crianças para as virtudes elas não serão apenas boas pessoas, mas serão capazes de escolher o bem e serão boas em todos os aspectos de sua vida e consequentemente no campo do trabalho. 

Referência: 

FAUS, Francisco. A conquista das virtudes. Cultor de Livros: São Paulo, 2014. 

[1] O ensino obrigatório hoje é dos 4 aos 17 anos.

*MARIANA CASONI













Graduada em Letras (2010) pela UNESP- Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho";
- Mestre em Literatura Comparada (2013) pela mesma Universidade;
- Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/4705890322409799

Nota do Editor:
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