Autor: Lucio Panza (*)
Depois de participar ativamente do movimento grevista dos profissionais de Educação da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro contra o Projeto de Lei Complementar (PLC) 186/2024, enviado pelo prefeito Eduardo Paes à Câmara Municipal para votação, o qual retira diversos direitos e propõe mudança na contagem de horas , eu quero conversar com o leitor sobre uma outra “bomba”. A bomba real, física, dolorosa e visceral com a qual fomos atacados pela Polícia Militar - a violência. Fomos tratados como bandidos, comparados a traficantes e uma “ameaça”. Temos observado casos de violência contra professores em várias partes do mundo como na Inglaterra, Chile, Colômbia e Espanha, com relatos similares.
Por outro lado, a profissão de professor no Japão é muito valorizada e respeitada, onde os professores são considerados mestres sábios e orientadores das crianças. No Japão, os professores são chamados de sensei, um título honorífico que também é usado para outras profissões que exigem conhecimento superior e respeito. Os professores na Suíça recebem salários elevados e o sistema educacional do país é reconhecido pelo seu alto padrão. Na Índia, vários professores são chamados gurus, cuja conotação caracteriza um mestre espiritual que pode elevar a consciência do estudante e levá-lo além das limitações autoimpostas.
Um levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o Brasil entre os países com os índices mais altos de agressões contra professores, índices que foram atualizados nos últimos anos.
Quando um policial de qualquer nação atira bombas ou gás de pimenta contra manifestações pacíficas de professores, que só carregam livros e canetas de quadro é um indicativo de que o país acabou, não deu certo, não existe um projeto de Sociedade desenvolvida nos pilares democráticos do respeito e dignidade humana. E esse recorte não é um ato isolado, mas parte de um ciclo mais amplo de violência estrutural que vem marcando a sociedade brasileira na última década devido a uma onda extremista (global também, é verdade) e narrativas de criminalização dos mestres e contra a educação pública.
Os espaços escolares são os lugares onde temos a possibilidade de desenvolver a análise crítica, o convite à reflexão e a empatia, os quais não dialogam com perspectivas extremistas, onde há a neutralização dessas habilidades e competências.
Um ser humano questionador de suas próprias atitudes pode chegar a origem e verdadeiras intenções de si mesmo e de quem o estimula.
O educador sempre teve, em variadas épocas e em diferentes lugares, a árdua missão de colaborar no desenvolvimento humano, ajudando os alunos a não se sujeitarem as diferentes formas de dominação.
Partindo dessa lógica atual e perversa na qual nos encontramos, me parece muito simples entender por que fomos atacados com tamanha violência nas manifestações pelas avenidas da cidade. Afinal, para romper esse ciclo, é fundamental investir em educação de qualidade, combater a desinformação e que os pais possam compreender efetivamente o conceito de escola enquanto Instituição da confluência dos saberes e do desenvolvimento de cidadãos plenos com interferência ativa no mundo em que vivem, não sendo cooptados por discursos rasos de doutrinação e ódio aos professores. Devem caminhar ao nosso lado para essa dicotomia seja promissora a longo prazo.
É urgente a promoção de políticas públicas que protejam os educadores. Mas quem, quando e onde começaremos isso? Desculpem a desesperança.
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, Ricardo Alexino. Brasil lidera ranking de violência contra professores. Jornal da USP, 2016. Disponível em: <https://jornal.usp.br/?p=57757>. Acesso em: 27/12/2024;
Brasil tem histórico de alto índice de violência escolar: veja dados sobre agressão contra professores. G1, 2023.
Disponível < https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/03/27/brasil-tem-historico-de-alto-indice-de-violencia-escolar-veja-dados-sobre-agressao-contra-professores.ghtml >. Acesso em: 27/12/2024.
LUCIO PANZA
-Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -UFRJ (2006);
-Pós-graduação em:
- Biociências e Saúde pela Fiocruz (2013) e
-Ensino de Ciências e Biologia pela UFRJ (2015)
- Revisor técnico do material Rio educa;
- Criador de material pedagógico inédito e exclusivo de baixo custo para professores;
-Atua como professor regente no magistério público estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro;
-Possui experiência em mediação de exposições científicas em espaços formais e não-formais.
- Desenvolve projetos didáticos com foco no aspecto lúdico como instrumento de aprendizagem;
-Consultor pedagógico do grupo Somos Educação;
-Professor Inovador IV 2022 (Coletânea de práticas pedagógicas de professores que inspiram);
- Educador Transformador 2023 (Projeto selecionado para concorrer ao prêmio).
Nota do Editor:
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