sábado, 30 de março de 2019

O que queremos para nossos filhos?


Autora: Márcia de Carvalho(*)

Vivemos em uma sociedade onde os pais tentam fazer as coisas pelos filhos, como dar comida na mão, cortar o pão, preparar o lanche, fazer as lições de casa por eles e até "enfrentar" os colegas e professores para defender qualquer situação que os deixaram chateados, frustrados ou magoados. Não estou falando de crianças pequenas, mas sim as que já estudam no ensino fundamental.

Essa geração está crescendo cheia de "mi mi mi", sem autonomia, sem freios, sem limites e sem deveres. 

Nas salas de aula, professores fazem papel de tudo... psicólogo, pai, mãe, médico, terapeuta, investigadores de materiais perdidos e cada vez menos de professor, pois ao invés de ensinarem os conteúdos básicos como continhas, situações problemas e interpretação de texto, eles precisam ensinar boas maneiras e valores que deveriam vir de casa.

Fora que essa mesma geração está aprendendo a não ter esforço nenhum para conseguir o que querem. Acredito que não seja isso que os pais estejam querendo na verdade.

Acredito que assim como eu, tiveram vidas difíceis e querem dar o melhor para seus filhos. Mas como achar um equilíbrio nisso tudo, neste mundo onde toda hora temos novidades simultâneas, informações em tempo real e respostas com apenas uma palavra ditada para o celular. 

Não podemos dizer mais nada que os contradizem e muito menos chamar-lhes atenção. Na mesma hora aparecem até vizinhos, estranhos, outros pais defendendo-os, reivindicando, reclamando e brigando com quem quer que seja, independente da situação. Tudo hoje é rotulado como bulling, agressão verbal, ofensa e exposição da criança.

Esses pequenos estão cheios de direitos, mas esquece, ou os pais não os ensinam, que também existem deveres. Acreditam na versão dos filhos como verdade absoluta e esquecem que sempre existem outras versões para a mesma história. Muitos deles, pais ou filhos se mostram ingênuos ou vendados diante das situações que o tiram da zona de conforto. Acreditam que o melhor é criar o filho em uma redoma de vidro, fazer e lutar por ele.

Nos dias de hoje o número de crianças depressivas e que chegaram ao suicídio tem aumentado demais. Não dá para achar isso normal, pois nunca será. A maioria dos pais tentam suprir a ausência, o tédio e as decepções que os filhos tanto se queixam com bens materiais, recompensas por atitudes que não merecem recompensas, dando tudo que o filho quer e fazendo todas as vontades, mas isso não os torna mais feliz. 

Lembro-me de uma das minhas primeiras reuniões pedagógicas na carreira do magistério, onde li um texto para os pais sobre a borboleta. No texto dizia que a borboleta queria sair do casulo, mas estava com tanta dificuldade, que um homem que a observava, cortou o casulo com a intenção de ajudá-la a sair dali. O que este homem da história não sabia, é que a borboleta precisa passar por esse sofrimento para fortalecer suas asas. O final você já imagina né? A borboleta não conseguiu voar e acabou morrendo. 

Triste, mas é o mesmo que fazemos com nossas crianças nos dias de hoje. Fazemos por eles, mas cada um tem um motivo para se ausentar da culpa rs... Um é para a criança ficar quieto, outro para compensar a falta que sentem dos pais, outro é para parar de brigar com o irmão ou na escola, mas não é assim que deveríamos preparar as crianças para o futuro, pois nós não duraremos para sempre.

Devemos ensinar os valores e autonomia! A escola ajuda, a igreja contribui, mas educação para formar o caráter, respeito ao próximo e solidariedade tem que vir e ser exemplo dentro de casa, pois somos o primeiro modelo de homem e mulher para eles. Nós pais, que damos exemplos que se fortalece na infância e que levam para o resto da vida. Sermos permissivos não tornará a vida dos nossos filhos mais fáceis que a nossa, pelo contrário, farão bater a cara e sofrer mais quando forem caminhar sozinhos na estrada da vida. 

Nenhum diretor, nenhum professor, nenhum chefe deixará fazer o que querem, na hora e do jeito que querem. Nenhum deles irá chama-los de príncipes e princesas, não farão elogios e nem os defenderão em situações problemas. O que fazer então? Chorar? Não precisa, mas ainda dá tempo. Sempre dá tempo de dar o exemplo e fazer o que de verdade é melhor para eles, mas o problema é que dói, muitas vezes dói mais em nós dos que neles mesmos, mas vale a pena. 

Educar o filho tem que ser para o mundo. Aprender a conviver e viver em grupo com pessoas diferentes, que tiveram outra criação e crença, ter compaixão, se doar a quem precisa, ser solidário, se colocar no lugar do outro, pensar e ensiná-los a pensar: "... e se fosse comigo?"

A vida é uma via de mão dupla e o que transmitimos sempre recebemos. Uns dizem que isso é a lei do retorno, é justiça divina, a semeadura, mas não importa. O que importa é olharmos para eles no futuro e sentirmos orgulho do SER HUMANO que se tornaram. 

*MÁRCIA DE CARVALHO













-Pedagoga formada pela Universidade do Grande ABC, Santo André, SP;
-Especialista em Ensino Fundamental, problemas de aprendizagem, com Especialização pela Faculdade Campos Eliseos em Direito Educacional, Educação Especial e
-Especialização em Novas Metodologias pela PUC;
-Professora há 20 anos, lecionando desde a educação infantil em colégios particulares e há 5 anos no ensino público do Município de São Paulo já Lecionou em cursos de especialização na área da Educação como convidada de  algumas Universidades.

Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Existe Justiça no Brasil?


 Autor: Guardião Verde(*)


Por mais que tenha "respeito", as decisões tomadas pelos homens chamados de "excelências com notório saber jurídico e possuidores da famosa reputação ilibada", eu particularmente, como brasileiro, sinto-me envergonhado e sinceramente não ouso acreditar no que todos chamam de JUSTIÇA. 

Até o famoso escândalo denominado por Inquérito 470 – MENSALÃO DO PT E ADJACENTES, poucos Brasileiros, ou uma parcela ínfima da População, conhecia realmente, quem eram os Guardiões da Constituição, os Manda-Chuvas da chamada Justiça Brasileira. 

A par de muitas informações veiculadas, em rádio, televisão, revistas, jornais e diversas Redes Sociais, o brasileiro logrou após uma verdadeira década na desinformação, conhecer nomes, vida pessoal, vida acadêmica, jurídica e quiçá, muitas vezes "imbróglios" e "suspeitas", que pairam e pairavam, sobre aquelas e muitas outras Autoridades. 

Conheceu, apesar de muito "trapo sujo" escondido ainda, embaixo de várias camas e travesseiros, algumas verdades e muitas suspeitas que não foram desfeitas, apesar de declarações, notas explicativas e respostas dadas subliminarmente. 

Não se sabia nada de composição de STF, STJ, Justiça Eleitoral, TJs e outros infindáveis aparatos julgadores brasileiros. 

Não se conhecia nomes de Ministros, Juízes, Servidores e componentes do Judiciário. Não sabíamos, nem que todos esses órgãos poderiam e podem ser "questionados", dentro de suas esferas competentes e que existem Órgãos que podem ser acionados pra investigá-los e/ou auditá-los..

O brasileiro, denominado "pobre" era e muitos continuam sendo, verdadeiros analfabetos do Judiciário. Muitos assim como eu, o fui, durante muito tempo, fomos guiados para a efetivação da Justiça, através de uma outra categoria, componente da Justiça, denominada, Advogados. Tudo se resolvia e continua, sendo resolvido pelos Advogados. Tudo que queríamos saber e/ou tínhamos de informação jurídica continua sendo informado pelos Advogados. 

E todo esse desconhecimento, todo este analfabetismo judiciário, jogou-nos num infindável buraco negro cheios de desconfianças e questionamentos. Até porque, essa mesma categoria, outrora possuidora de personagens de incomparável saber e conhecimento jurídico, também, ao longo dos anos se deixou "contaminar", por práticas fora da Ética que a tal representação assim o exigia.

A partir de inúmeras transmissões televisivas, e decisões, muitas das quais polêmicas e questionáveis, passamos e nos acostumamos a acessar livros, sites, reportagens e noticias acerca de quem são os "Homens do Judiciário", bem como seus representantes à nível de Povo. 

Passamos, a saber, que tais "homens de notório saber jurídico", não são tão notáveis, e que, apesar de muitas suspeitas e poucas provas, a chamada reputação ilibada, não é tão ilibada quanto o desejável.

Descobrimos que grande parte daquilo que deveríamos acreditar cegamente, não pode ser feito. 

Começamos a desconfiar que tais "homens" são guiados àquelas funções, não por saber ou reputações, mas sim por interesses escusos muitas vezes, de quem os nomeia ou lhes dá o cargo. Pela imprensa temos o levantamento de suspeitas de que existe um verdadeiro troca-troca de interesses que alcançam até familiares, transformando-os numa casta acima de qualquer suspeita.


Presenciamos e temos conhecimento agora de decisões  aonde vemos que nem todos os Brasileiros são tratados de forma Igual perante o que se chama Justiça.

E o pior acontece no Brasil de hoje – aonde temos, em todas as Instâncias Julgadoras, julgamentos de "homens que praticaram e praticam delitos vários, mas  que se julgam estar acima da lei!" 

Ficou e fica difícil, para o chamado "carente de Justiça", acreditar. 

Fica difícil, para o que chamamos de "povão", acreditar e ver brasileiros carentes de recursos, mas que motivados por mazelas e problemas outros (fome, desespero, e outros delitos maiores e/ou menores, não justificáveis), serem julgados, condenados e reclusos a um Sistema também carente, enquanto que aqueloutros, não pertencentes às mesmas classes sociais, primeiro por possuírem recursos financeiros, depois por serem os "inclusos" da casta dos "acima de qualquer Suspeita e acima da Lei, lograrem êxito em verdadeiras empreitadas de desvios e roubos infindáveis e nunca são ou serão reclusos. Tudo funciona rapidamente para a condenação do carente. Mais condenações do que Benefícios. Chegou-se a conclusão de que a Lei não é para todos. Infindáveis brechas da chamada Lei, são evocadas à todo momento para livrar os "acima da lei". 

Enfim, o Povo descobre e descobriu tardiamente que Justiça não é para pobres e carentes. Justiça é para quem pode financeiramente. Chegou à triste conclusão que se o poder financeiro for muito grande, a escada que os levará à futuras condenações poderá ser acrescida de muitos degraus e infindáveis recursos, antes da derrocada final rumo ao buraco da Reclusão. 

Ouso, repetir Rui Barbosa, "De tanto ver triunfar as Nulidades; de tanto ver prosperar a Desonra, de tanto ver crescer a Injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos Maus, o homem chega a desanimar-se da Virtude, a rir-se da Honra e a ter vergonha de ser Honesto." 

Peço somente desculpas, aos meus colegas e amigos interlocutores, deste sitio da Internet e que sabedores de todos os problemas vivenciados dentro do Sistema Justiça, ainda tentam de forma hercúlea, combater mazelas, promoverem esforços e se agigantam, ainda, contra os poderes dos Maus. 

É opinião minha, filho de família pobre, que ousou um dia meter-se em estudos, galgar um degrau social, com esforço e sacrifícios mil , mas que ousa afirmar com todas as letras não há Justiça no Brasil.

*GUARDIÃO VERDE













A justificativa de seu anonimato é feita assim por ele:"Apenas um cidadão simples, com cinquenta e tantos anos de idade, revoltado com as bandalheiras, desmandos e roubalheiras patrocinadas pelo governo brasileiro. Não filiado a nenhum partido político e sem pretensões de concorrer a qualquer cargo público, diga-se cargo político, mas que sofre e revolta-se ,como tantos outros brasileiros, quando observa e sente na pele, o que tanto outros sentem.
É vedado o anonimato. Sim, mas no entanto, o próprio governo se vale deste “mecanismo”, para apurar delitos. Então...Viva todos os cidadãos anônimos que vivem indignados, mas que não podem, até por questões profissionais ou força de conjunto normas que regem suas vidas, declararem abertamente suas Indignações e Anseios!"

Nota do Editor:

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quinta-feira, 28 de março de 2019

Todos querem direitos, mas deveres... o que a Bíblia diz?



Autora: Ana Paula Stucchi(*)



Muito se fala em direitos, mas deveres... quem fala? Quem quer? Quase ninguém, nessa nossa cultura de paternalismo, se preocupa em ser respeitador de cumprir seus deveres, mas direitos todo mundo quer... Mas... como isso começou?

Em Gênesis 2 Deus deu ao homem um jardim para cuidar. Um lugar perfeito. Recebeu ordem para dar nome aos animais. E deu-lhe direitos deveres:
"E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.
E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: 
De toda a árvore do jardim comerás livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás". Gênesis 2:15-17

A árvore do conhecimento do bem e do mal; não importa qual o tipo de fruto, mas o importante é ressaltar que: 1 - essa árvore pertence ao SENHOR, e não ao homem; 2 - Deus estava simplesmente, como Pai, guardando o ser humano do mal, já que eles conheciam apenas a perfeição daquele jardim maravilhoso. 

Já pensou? Não ter que lavar, passar, cozinhar? Sempre arrumada, sem ter que passar por dor de depilação, horas no salão... e o chá das cinco? Não foi Rainha Elizabeth que inventou, mas sim o SENHOR: "E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia" Gênesis 3:8a. Ou seja, Todos os dias, pelo fim da tarde, o próprio Deus vinha pessoalmente, olhos nos olhos, conversar com Adão e Eva.   

Então, mesmo na perfeição (não é o lugar, mas o que está dentro do nosso coração, pois fomos criados com livre arbítrio) veio a serpente e torceu a Palavra dizendo que não iriam morrer, e iriam ser iguais a Deus (Gênesis 3:4-5). Então podemos entender e concluir que, ao reparar no fruto (nunca tinham reparado) não se ativeram ao DEVER de não tocar nem na árvore nem no fruto. 

Pense! Tinha uma infinidade de árvores de frutas maravilhosas. Uma variedade! e mesmo assim, escolheram tocar no que não era deles. O que a serpente disse foi tudo mentira: eles não ficaram iguais a Deus e morreram. Tudo que Deus disse aconteceu. Ou seja, quiseram o que era de direito, e não cumprindo o dever, acabaram sofrendo as consequências de suas próprias escolhas (infelizmente ainda hoje fazemos isso). Quando não cumprimos nossos deveres, óbvio que tem consequências. Mas o ser humano mimizento desde o início já é cheio de jogar nas costas do outro. Porque, quando o SENHOR, em Gênesis 3:11 faz a pergunta: "Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses"? Gênesis 3:11, Adão tem a pachorra/capacidade/folga/imaturidade/meninice de responder ao próprio Deus:  "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi". Gênesis 3:12. Ou seja, Adão, ao ser confrontado sobre a responsabilidade, o único dever que ele deveria cumprir e não cumpriu, além de não assumir a responsabilidade dos seus atos, colocou a culpa em Deus (!!!!! tipo: tava sossegado e o SENHOR me arrumou essa aí...) e na mulher. E se você observar, até hoje assim procedem as pessoas.

Mas você (vai fazer a pergunta de delinquente) vai dizer: mas eles não morreram na hora. Sim, e sabe por quê? Graça. Favor imerecido. Deus esperou um arrependimento, uma confissão. Assim como o rei Davi fez ao ser confrontado pelo profeta Natã.  "Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor2 Samuel 12:13a. Por isso Davi é considerado como "segundo o coração de Deus". Adão não se arrependeu, e morreu. E a humanidade seguiu sem a glória de Deus. E então Deus fez com que cabesse agora a nós ESCOLHERMOS ser DEle. Assim diz a Escritura sobre recuperarmos a Aliança quebrada no Éden:
"Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido". Romanos 10:8-1

"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim". João 14:6

Que a sua escolha seja vir ao Pai através de Jesus Cristo! E que você faça as escolhas certas, cumpra com seus deveres diante do SENHOR e seja grandemente abençoado! 

*ANA PAULA STUCCHI














- Pastora Ana Paula Stucchi, Resgatada e Redimida por Jesus Cristo, aprendendo a cada dia no Conhecimento do Deus Altíssimo. 
Nota do Editor:

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quarta-feira, 27 de março de 2019

Seguro de Proteção Financeira e a Liberdade de Contratar



Autor: Ellcio Dias dos Santos(*)

No sentido denotativo, seguro remete, dentre outras, a expressão de firmeza, segurança, liberdade do perigo, dentre outras. Nas relações negociais, em verdade, trata-se de um contrato privado na qual as partes, segurado e segurador firmam um acordo oneroso estipulando cláusulas de responsabilidade objetivando a cobertura de possíveis sinistros que possam refletir na relação contratual de outrora. 

Historicamente, no Brasil, o seguro tem seu nascedouro com a chegada da Realeza Portuguesa e a conseqüente abertura dos portos no ano de 1808, face ao pujante sistema de navegação da época. 

O primeiro molde de seguro aparece somente em 1850, com a promulgação do "Código Comercial Brasileiro" (Lei n°. 556, de 25 de junho de 1850), o seguro marítimo foi pela primeira vez estudado e regulado, em todos os seus aspectos, desta premissa "nasce" o seguro que vislumbramos nos dias de hoje. 

Nesta mesma senda, o Código Comercial Brasileiro foi de fundamental importância para o desenvolvimento do sistema de seguros no Brasil, impulsionando o surgimento de diversas modalidades de seguro e inúmeras seguradoras, que passaram a operar não só com o seguro marítimo, expressamente previsto na legislação, mas, também, com o seguro terrestre, dentre outros. Logo, proibições como a exploração de contratos de seguro de vida, passaram a receber autorização do Estado. 

No decorrer da história, destaca-se o ano de 1939, em que foi criado pelo Governo Vargas o Instituto de Resseguro do Brasil (Atual, IRB Brasil Re), com a atribuição de exercer o monopólio do resseguro no país, posteriormente quebrado. Já no ano de 1966 surgiu a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), empenhada em substituir o Departamento Nacional de Seguros Privados da época e capitalizar, como órgão oficial fiscalizador das operações de seguro, o Sistema Nacional de Seguros Privados

Isto posto, considerando o introito histórico e toda permissividade legal até então, surge em nosso país seguros de toda ordem, contra: roubos, agrícola, incêndio, vida, saúde, viagem, e dentre vários o seguro proteção financeira (prestamista), precipuamente das instituições financeiras. Logo, emerge questionamentos de legalidade com reflexo na esfera do consumidor. 

O seguro de proteção financeira oferece cobertura para os eventos morte e invalidez do segurado, garantindo a quitação do contrato em caso de sinistro. Todavia, na prática, as instituições financeiras de forma impositiva condicionam a realização do contrato à aquisição de um seguro garantia que está ligado diretamente com a instituição financeira pertencente ao mesmo grupo econômico, o que pode ser considerando como venda casada. 

Tal prática abusiva está prevista no Código de Defesa do Consumidor, precisamente no inciso I do artigo 39, com a inferência de que venda casada na prática é caracterizada pela presença de condicionantes quando da celebração de um contrato, que vincula a venda de bem ou a prestação de um serviço à compra de outros itens, mesmo que em instrumentos distintos, no caso seguro. Segunda o aludido Código, vejamos: 

"Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
I - Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. (grifo nosso) "
Neste sentido, por exemplo, referenciamos o consumidor mutuário do Sistema Financeiro de Habitação – SFH, que carente de proteção buscou de certa forma, amparo no Tribunal da Cidadania, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, que mediante Súmula, assentou que: 
"O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada." (Súmula 473, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/06/2012, DJe 19/06/2012). 
Assim, é cediço o entendimento no Tribunal da cidadania de se manter a coerência dos precedentes que ensejaram a edição da Súmula 473.

De outro lado, os Tribunais em julgados recentes entendem ser válido o contrato prestamista, desde que apresentado de forma clara e inequívoca ao consumidor, deixando margem para que o mesmo possa contratar outra seguradora, que não acontece conforme, entendimento contido no REsp 1.639.259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 12/12/2018, DJe 17/12/2018 (Tema 972). 

"O seguro de proteção financeira é uma ampliação do conhecido seguro prestamista, o qual oferece cobertura para os eventos morte e invalidez do segurado, garantindo a quitação do contrato em caso de sinistro, fato que interessa tanto ao segurado (ou a seus dependentes) quanto à instituição financeira Nessa espécie de seguro, oferece-se uma cobertura adicional, referente ao evento despedida involuntária do segurado que possui vínculo empregatício, ou perda de renda para o segurado autônomo. A inclusão desse seguro nos contratos bancários não é vedada pela regulação bancária, até porque não se trata de um serviço financeiro, conforme já manifestou o Banco Central do Brasil. Apesar dessa liberdade de contratar, uma vez optando o consumidor pelo seguro, a cláusula contratual já condiciona a contratação da seguradora integrante do mesmo grupo econômico da instituição financeira, não havendo ressalva quanto à possibilidade de contratação de outra seguradora, à escolha do consumidor. (...)" (grifo nosso) 
Logo, observa-se que a liberdade de contratar encontra limitação quando da formalização do contrato prestamista. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Conclui-se, por tudo que fora exposto, que nos contratos de seguro de proteção financeira as evidências flagrantes da espécie de venda casada já foram enfrentadas por nossos Juízes e Tribunais na tentativa de uniformiza os ditames prescritos no Código de Defesa do Consumidor, com o enquadramento nas relações privadas objetivando firmar uma relação jurídica eficaz e dirimente de possíveis celeumas constantes e apresentadas nos diversos contratos. 

No entanto, ainda que compreendida a relevância do sistema de seguros, observada às situações apresentadas nas relações contratuais hodiernamente, bem como a manifestação da justiça, ainda assim, não podemos nos furtar a trazer a baila proposições acerca da temática para que não esqueçamos que indubitavelmente a parte vulnerável é, e sempre será, o consumidor. 

Entendemos, assim, que só produziremos justiça social se não esquecermos as injustiças em sociedade, ainda que haja, em alguns casos, liberdades de pactuação, pois na forma da Lei, o direito do consumidor persiste. 

REFERENCIAL 

BRASIL. Lei nº 8.078/1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm. Acesso em: 03/03/2019; 

Seguro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Seguro. Acesso em: 12/02/2019;

BRASIL. Lei nº LEI Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm. Acesso em: 20/02/2019; 

STJ. RECURSO REPETITIVO. Repetitivo discute tarifa de gravame eletrônico e seguro de proteção financeira http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Repetitivo-discute-tarifa-de-gravame-eletr%C3%B4nico-e-seguro-de-prote%C3%A7%C3%A3o-financeira. Acesso em: 19/02/2019. 

* ELLCIO DIAS DOS SANTOS




















-Advogado graduado pelo Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste - UNIDESC, Luziânia/GO; 

 -Especialista em Direito do Consumidor e Responsabilidade Civil pela AVM/Universidade Cândido Mendes; Graduado em Ciîencias com habilitação em Matemática, São Luis/MA pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; e

- Servidor Público Federal.

-Mora em Brasília/DF.

Nota do Editor:
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terça-feira, 26 de março de 2019

O que Advogados e Médicos tem em Comum?


Autora: Luciana Wiegand Cabral(*)
Para começar, os dois profissionais tem que passar por uma universidade , e formar-se na profissão.

O médico cuida da saúde física e mental das pessoas.
O advogado cuida dos problemas pessoais e sociais das pessoas. 

Ambos tentar resolver problemas, ou preveni-los, cada um em sua especialidade. 

Como um advogado previne um problema ? Por exemplo, elaborando um contrato para um cliente , para que assim, este possa se precaver de possíveis processos.

Outro exemplo bem comum, elaborando contrato pré nupcial, ou testamento. 

Com o auxílio do advogado, em um caso de divórcio futuro, grande parte dos problemas que poderiam vir a surgir , podem ser amenizados quando há uma preocupação prévia com tais questões. 

Como pode -se observar, há diversos aspectos comuns quando tratamos de resolução de problemas e necessidades profissionais. 

É raro que alguém passe uma vida toda sem necessitar de um ou outro. 

Agora, há uma diferença entre esses profissionais bem grande , uma grande questão: 

Por que TODOS os médicos cobram consulta e A MAIORIA dos advogados não cobra ? 

A consultoria jurídica gratuita sempre ocorreu, assim como amigos e parentes de médicos que tentam consultas e Orientações médicas gratuitas também. 

Com o advento do nosso querido WhatsApp, as pessoas acreditam que os profissionais estão disponíveis 24h por dia, todos os dias da semana. 

O profissional que tem a felicidade de conseguir separar sua vida pessoal da profissional e atender seus clientes somente em determinados horários, também é cobrado como os outros. 

O cliente acredita que segunda feira no primeiro horário o advogado responderá aquela mensagem que ele enviou sexta as 23 hs da noite. 

Ocorre que no sábado,mais 10 clientes deixaram mensagens , áudios infindáveis no WhatsApp, e-mails , festival de imagens e dúvidas. 

Imagina se um médico acordasse segunda -feira com 150 imagens de ressonância magnética pra analisar , áudios de enfermeiros e pacientes de 4min cada , estudo de casos complexos de pacientes internado em UTIs, e TUDO DE GRAÇA ! 

Pois é , não existe. Mas infelizmente a nossa classe jurídica não soube manter o louvor da profissão, a importância e a beleza de ser um profissional que preza pela JUSTIÇA. 

Passamos a ser meros instrumentos para retirada de dúvidas. Houve um empobrecimento da profissão, o respeito aos advogados está cada vez menor , o Código de Ética da OAB mal é conhecido pelos profissionais. 

Uma enxurrada de sites, aplicativos e redes sociais misturam formas de captação duvidosas, procedimentos que afrontam o código de ética e disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil , denegrindo cada vez mais a figura do profissional de advocacia. 

Felizes os que cobram consulta jurídica, são respeitados, agendam horário e conseguem realizar o mais importante: PREZAR PELA JUSTIÇA, usando os instrumentos jurídicos hábeis para melhor atender o interesse de seus clientes .

*LUCIANA WIEGAND CABRAL















Advogada graduada em 2003 pela Universidade Estácio de Sá -RJ ;
-Autônoma, com escritório na Barra da Tijuca-RJ atende causas de Direito de Família e Consumidor;
Site de seu escritório:https://wradvocacia.wixsite.com/wradvocacia
 e
Contatos pelo WhatsaApp (21) 9 8118-4673



Nota do Editor:

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segunda-feira, 25 de março de 2019

A Nuca do Povo


Autor: Rafael Canto(*)


Quando fiz doze anos eu comecei a sair sozinho, tinha a permissão dos meus pais, e não era para ir ao centro da cidade onde eu resido até hoje, era para ir ao centro do Rio de Janeiro, Central do Brasil. Curso para a escola militar, todos os sábados, bem em frente a Central, quase duas horas dentro do ônibus, lendo ou estudando, estudava 4 horas e voltava para casa, sem desvios, sem aventuras, exceto a que eu já estava vivendo de poder transitar sem supervisão de um adulto. 

Como não queria perder essa confiança eu me ative as regras estabelecidas anteriormente, sempre na hora, sempre em tempo e quando dei por mim eu transitava para todos os lugares da cidade sozinho, na casa de meus tios e tias e isso prosseguiu por todos os meus anos até minha idade adulta sem nenhum problema ou incidente. 

Eu atrasava 2 horas para buscar farinha na esquina, mas nunca fazia isso com as saídas para longe, fosse visita a familiares ou compromissos de estudo. Isso tudo antes de celulares com contato e supervisão digital constante. A rua nunca me assustou, mas as pessoas, ah elas me fascinavam e espantavam.

A cada nova forma de me locomover pela cidade ao longo dos anos eu observava o movimento das pessoas, suas variedades, cores, sons e roupas. Como milhões de formigas se movendo sem as ordens de uma rainha, algumas seguindo o fluxo de outras, engrossando e afinando linhas de seres humanos, brevemente observáveis por mim em seus momentos de confinamento temporário no transporte público.

Pequenos hábitos, atitudes, estados de humor e parafernálias das mais diversas. Gente correndo apressada de um lado para o outro passando por pessoas de ritmo mais calmo e relaxado, mas ainda assim no fluxo desse oceano de gente. Conforme fui crescendo, cada vez mais passei a me integrar nesse mar de gente, e por mais que as observasse milhares de pessoas, descreverei apenas meus comportamentos e hábitos enquanto usuário de transporte público. 

Quando mais novo eu me imaginava mais velho, com carro, vida resolvida, uma família para cuidar, rotinas e outras preocupações...

Eu estava bem errado, e por conta disso eu rodei pelo estado inteiro de ônibus, trem, metrô, barcas e a pé. Uma bicicleta ou outra ocasionalmente. Ônibus, o primeiro de todos, me criou o hábito de saber os horários que eles passavam e imediatamente eu aprendi que tudo se trata de tempo. 

Tempo para chegar, para sair, para me arrumar, para economizar e me distrair, mas como organizar isso na minha vida? Sempre adorei ler, e desde minha primeira saída eu carreguei um livro comigo, e aí veio a distração, seguido pelo "eu acho que se eu encostar aqui eu durmo meia hora"; músicas então, cada uma me levando para um momento distante e diferente do que eu me encontrava. Passei a fazer tudo que me fosse possível fazer dentro de um ônibus: escrever, ler, dormir, jogar, conversar e relaxar. Carrego essas sensações e atitudes até hoje, como um script que chega a me irritar quando não é seguido, isso tudo antes dos smartphones e ar-condicionado obrigatório na maioria da frota. 

Das barcas eu gostava e ouvia música sempre em pé, na parte da frente da embarcação, sentindo o cheiro do mar e sentindo o vento no rosto e considero a melhor forma de chegar em Niterói.

Mas nos trens foi onde mais passei por situações inusitadas, a começar por entrar. Isso, apenas entrar já era uma atividade extenuante. 

Corrida seguida de luta-livre e no fim uma dança da cadeira com as maiores e esquisitas crianças que você já viu. E cada brincadeira da minha infância passou ser uma lembrança de um treinamento de aquecimento para a vida adulta. Sentou? Vai dormir e descansar um pouco. Perdeu? Vai em pé para casa segurando o peso do corpo com uma mão e um livro entre os dedos da outra, apertado entre todos, suando, esquivando dos ambulantes que providenciavam imensa sorte de petiscos, bebidas, picolés, revistas, elásticos, linhas de costura, balões, brinquedos, ralo de cozinha, laticínios, embutidos, remédios, cachorrinhos e tartarugas; claro, tudo por um preço módico. 

O caminhão que virou a promoção chegou. Pedintes, rodas de carteado e eu, dormindo no bagageiro das mochilas(aquelas grades acimas dos bancos) por uma aposta de 10 reais. Ganhei a aposta. O Rio é uma festa! 

Os anos passaram e a necessidade diária do metrô se fez presente na minha rotina e aí foi quando meus anos de experiência no trem já estava à todo vapor, várias coisas poderiam dar errado, logo andava sempre com mochila e ela passou a ser parte de mim, sinto-me nu sem ela, estranho e desengonçado. 

Carregava junto de mim sempre diversos itens: carteira(xerox autenticada em cartório, afinal moro no Rio de Janeiro), lenço, camisa e cueca extra, toalha de rosto, escova de dentes, fio dental, pasta dental, preservativo, aspirinas, estojo com todo o tipo de material de escritório, garrafa d'água, carregadores de baterias, papéis de faculdade, guarda-chuva e sempre um livro.

 Se vai para mais de 50 kilometros longe de sua casa leve o que vai precisar, o excesso nós cortamos e o que falta nem sempre podemos comprar ou criar no meio da rua. E faça com esse peso o triathlon do povo: se arrume, corra para o ponto, 45 minutos até o metrô, 10 minutos comprando passagem e andando apressadamente até a plataforma, 40 minutos de viagem, se posicione em frente a porta do meio do quarto vagão por que vai abrir na frente escada-rolante(que vou subir correndo de dois em dois degraus), mais 10 minutos mudando de plataforma se apressando para chegar primeiro, para entrar primeiro. 

9hs em ponto, trabalho, almoço, trabalho, agora vamos para a casa com calma... ERRADO! Eu tenho um recorde para quebrar! O tempo passa, minutos e horas contadas que não voltam, então corra para viver lá fora ou perca tempo esperando aqui dentro. 

Correndo para retornar para namorada, familiares, amigos, respirar fora desse ambiente em que sou obrigado a me distrair com um livro enquanto os gritos de um vocalista de power metal abafam todos os sons do ambiente que me cerca, de seres humanos espremidos sem precisar se esforçar em estar de pé, pois são uma massa única de gente e meu livro segue semi-apoiado nas costas de um senhor de 40 e poucos anos que parece nem mais ligar. Na volta terceiro vagão, porta do meio, escadas à frente, corra e pule, primeiro vagão, porta do meio, evite lugares reservados mas ceda o lugar a quem precisar. Durma se estiver sentado, leia se permanecer em pé. Música sempre. São leis não escritas e sagradas. 

Na maioria dos dias eu conseguia e chegava em casa com meia hora mais cedo para ter um pouco mais de controle sobre a minha vida, e nos melhores dias conseguia 50 minutos de volta resgatados pela minha pressa e meus tiques no trânsito. Encaixava cursos, trabalhos extras, uma saída ocasional, um encontro, um cinema; ou apenas ficava em casa e relaxava. Tirava o máximo que eu podia de cada momento da melhor maneira que eu podia. 

E haviam os outros dias, em que simplesmente eu perdia, que cansava, e no mar de trabalhadores, estudantes turistas e transeuntes aleatórios que se empurravam para correr ou apenas se deixavam levar pela inundação da turba cansada nas escadas, e eu olhava para cima e entendia pela primeira vez do que eu fugia e falhava em escapar, mesmo que corresse o máximo e fosse o primeiro... Eu também fazia parte da nuca do povo. O movimento das cabeças subindo e retornando ao lar, cada um com suas manias, aparatos, planejamentos, querendo o mesmo: descanso e um pouco mais de tempo. Um entre milhares. Todos dias. Sempre.

* RAFAEL CANTO













-Fotógrafo e escritor:
-Estudou biblioteconomia na UNIRIO.

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