sábado, 9 de setembro de 2017

Caminhos para uma Adolescência Livre da Depressão



Autora: Christiane Pereira(*)
No século XXI, a sociedade inseriu-se em um mundo no qual a conectividade com tudo e com todos permitiu com que o ser humano estivesse disponível em 100% do tempo. Sendo assim, a vida cotidiana tornou-se mais exigente e as pessoas sentem-se cobradas a responderem instantaneamente a todas as demandas. O convívio familiar, dentre tantas outras situações, foi extremamente comprometido, haja vista que, mesmo em casa após o horário do expediente, os pais são solicitados a resolverem situações de trabalho. Os filhos, por sua vez, mergulham no mundo virtual iludidos com todo aquele universo de amigos cibernéticos. 

A relação familiar foi duramente impactada por esse novo cenário, pois, apesar de juntos dentro de casa, cada elemento da família está envolvido com o seu mundo individual e virtual e já não há mais tanto espaço para o diálogo que proporciona o conhecimento e a percepção de mudança no comportamento dos filhos, principalmente os adolescentes. A escola, no que lhe concerne, está envolvida demais com o desenvolvimento de seus conteúdos e aplicações de seus simulados que garantirão o ingresso dos estudantes às universidades de grande porte, elevando o prestígio do colégio que poderá captar mais alunos. 

O adolescente, em sua fase mais complexa da vida, experimenta esse mundo e suas exigências sem as ferramentas necessárias para enfrentá-lo. Ele se vê em um momento de transição em que já não tem mais a segurança e a proteção da infância, mas também não desenvolveu a autoconfiança, a força e a determinação de um adulto. Enfrenta um turbilhão de mudanças biológicas e psicológicas inserido em um universo de obrigações dentro do ambiente escolar, familiar e social. O jovem exige que já não o tratem mais como criança e os adultos que se relacionam com ele, tanto na família quanto na escola, também ficam perdidos sem saber como lidar com a situação já que também saíram de sua zona de conforto do tempo em que o jovem era menor e a relação era mais fácil. 

Em busca do seu lugar ao sol, o adolescente procura se adequar aos padrões estabelecidos seja pelo grupo de amigos e de familiares ou pela mídia que insiste em idealizar a perfeição como algo que pode ser fácil e obrigatoriamente conquistado. Com sua visão distorcida da realidade, o jovem avalia que precisa ser popular e admirado para atingir a felicidade plena. Nem sempre os adolescentes conseguem lidar com essa avalanche de informações, exigências, necessidades... A partir daí, o caminho para a depressão está aberto. A sensação de ser incapaz de conquistar a popularidade, o padrão de beleza, a admiração, somados a situações de stress que envolvem estudos, aprendizagem, bom desempenho em todas as áreas de atuação, escolher a profissão – que muitas vezes é influenciada pelo desejo dos pais - , passar no vestibular de uma universidade de peso, trilhar o caminho do mercado de trabalho almejando o sucesso emocional e financeiro. 

As facetas desse momento da vida são muitas e os sintomas de uma depressão podem ser confundidos com sentimentos característicos da adolescência. Os pais, ávidos por garantir que seus filhos conquistem o sucesso na vida adulta, cobram resultados e, muitas vezes, entendem a fadiga – característica da depressão – como preguiça ou falta de comprometimento com as novas responsabilidades. O adolescente, envolvido em seu emaranhado de emoções, não consegue expressar que precisa de ajuda. Nesse momento, as atitudes tanto dos familiares quanto dos profissionais que lidam com ele na escola serão determinantes para identificar o problema e buscar a ajuda necessária. 

Para o adolescente, notar que os adultos de seu convívio e também seus amigos estão preocupados e abarcados na missão de ajudá-lo a enfrentar esse momento será fator determinante para o sucesso do tratamento. Terapia individual com apoio e orientação aos familiares, medicamentos, atividade física e envolvimento com hobbies escolhidos pelo próprio jovem poderão exercer grande influência na evolução para a cura. A escola pode proporcionar momentos de convivência com o grupo de amigos incentivando-os a compartilharem angústias, incertezas e, principalmente, histórias de superação dessas situações tão comuns nessa fase. Muitas vezes, o fato de constatar que existem muitos outros adolescentes enfrentando as mesmas dificuldades auxilia na aceitação do problema que é o passo mais significativo para a busca da ajuda necessária. 

Posto que a adolescência é a fase mais complexa por que passa um indivíduo, o alicerce familiar e o sustentáculo por parte de professores, de orientadores e de coordenadores acarretarão grandes possibilidades de sucesso no enfrentamento das dificuldades peculiares da etapa, sejam elas acompanhadas de depressão ou não. O olhar atento desses adultos que convivem com os adolescentes será determinante para auxiliar esses jovens na busca de uma nova identidade porquanto é saudável que a antiga seja superada para que eles se tornem adultos autoconfiantes, determinados e fortes de maneira que carreguem a certeza de que nada é fácil nessa vida, mas nos momentos de maiores aflições eles saberão onde encontrar um porto seguro. 

POR CHRISTIANE PEREIRA













-Formada em Artes Plásticas, Pedagogia e Magistério com especialização em Educação Infantil;
Arte Educadora e Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental; e 
Atuou como Orientadora Pedagógica e Educacional
Twitter: @Chris_PPereira

Nota do Editor:

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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A Galinha Voa




Causa espécie a afirmação do Presidente do Banco Central, veiculada no sábado 26/08, de que a recuperação da atividade econômica será dada pelo aumento no consumo. Mesmo a tênue recuperação do consumo verificada nos dois trimestres últimos, tem a sua origem em fatores aleatórios e episódicos, tais como a queda da inflação e o volume extra de recursos injetados no mercado pela liberação dos recursos do FGTS que adormeciam em contas inativas sub remuneradas.

Na realidade, a recuperação da atividade com lastro no aumento do consumo somente será sustentável quando alicerçada em crescimento da renda nacional, o que não está ocorrendo no presente momento.

Além do mais, em o consumo aumentando (hipótese elencada pelo banqueiro central), o mesmo somente seria sustentável se viesse acompanhado de investimentos de médio e longo prazo, por parte dos ofertantes, que geraria aumento no produto e consequente recuperação na renda, mesmo sendo o país caracterizado como um grande concentrador na distribuição da renda. Os indicadores referentes a Formação Bruta de Capital Fixo, acompanhados pelo IPEADATA, indicam algo em torno de 15% do PIB para o ano em curso, sendo este resultado o menor verificado nos últimos 20 anos. Por óbvio, em não havendo aumento substancial do investimento, não haverá aumento do produto que geraria impacto positivo na renda tornando os índices do consumo insustentáveis no médio e longo prazo.

Na prática, quando existe uma recuperação no consumo opera-se, num primeiro momento, uma redução na ociosidade da economia. Ato contínuo, o "transbordamento" da capacidade instalada leva o ofertante a movimentar o setor de bens de produção para aumentar a oferta com encomendas ao setor de bens de capital. Em seguida movimenta-se o setor de serviços e inicia-se um ciclo virtuoso na economia com reflexos positivos na renda nacional.

Para que ocorra uma mudança desta natureza, o fator principal seria uma "virada" nas expectativas dos agentes econômicos que, na presente conjuntura, ostentam níveis assaz baixos. A razão principal das "baixas expectativas" está claramente situada no caos político/institucional em que está mergulhada a nação. Este estado de coisas impede que reformas estruturais sejam feitas de forma adequada e tecnicamente consistentes. O que se verifica é que, na ânsia de apresentar algum resultado no quesito "reformas", o governo de plantão procura "reformar" o mínimo que sua "base de sustentação" aceita, dada a sua fragilidade política. Estes mínimos atendem, apenas e tão somente, os ditames que o capital rentista determina para que não retire o seu "apoio" e mantenha a economia em níveis de "banho maria", para usar uma expressão dos tempos dos nossos avós.

No período do lulopetismo, o país apresentou um crescimento com base no consumo via aumento do crédito e não com base em aumento substancial na renda, em que pese a pirotecnia que a marketagem oficial veiculava, chegando-se a absurdos do tipo "nova classe média", esta com renda de R$ 1.000,00! Saliente-se que a conjuntura mundial apresentava-se como amplamente favorável e, mesmo assim, o crescimento da nossa economia ficava muito aquém dos resultados verificados em âmbito mundial.

Neste período, de triste memória (juízo de valor pessoal do autor), houve um crescimento substancial no chamado "consumo primário", causado pela disseminação de programas sociais distribuídos em espécie a populações à margem do mercado de consumo, elogiáveis sob qualquer parâmetro, mesmo que tenha sido utilizado com fins de aliciamento eleitoral e eivado de desvios criminosos que as circunstâncias estão a comprovar.

Para que fosse atendida esta nova demanda, verificou-se o crescimento da importação de produtos finais com estagnação do investimento, de vez que os agentes da oferta mantiveram uma posição clara de "oferta oportunista", ao invés de promoverem os investimentos necessários à sustentabilidade no processo de crescimento. O mercado reagia com as devidas cautelas, de vez que não existiam indicadores que apontassem para a sustentabilidade da política econômica adotada, que de resto resultou no desastre cujos custos estamos a amargar.

Em face disso, verifica-se a inocuidade das afirmações do Presidente do Banco Central, no que diz respeito a recuperação da economia, dado que sua base de sustentação é um verdadeiro "castelo de areia" se analisado, seriamente, à luz da teoria econômica. Assim sendo, estamos diante de uma afirmação tecnicamente irresponsável e destinada ao engodo dos agentes econômicos, posicionamento este que corrobora um ambiente de incertezas característico da corrupção sistêmica que prolifera no país.

Resta, sob esta apreciação, a confirmação de que a política econômica do governo resume-se ao "ajuste fiscal" como um fim em si mesmo e não como um dos pilares para a recuperação econômica do país. Com este desiderato, continuam-se a tomar medidas equivocadas tais como o congelamento das despesas da união por 20 anos, quando o correto seria um projeto de longo prazo de "deficit nominal zero". Por outro lado, nunca se ouviu , pelo menos uma menção, ao necessário "ajuste estrutural da máquina pública" com o objetivo de torná-la mais ágil e eficiente, diante do quadro atual de ineficiência, gigantismo e refém de um corporativismo deletério e que, não raras vezes, opera contra os interesses da nação.

Estamos, portanto, diante de um novo "voo de galinha" no que diz respeito ao crescimento econômico brasileiro, em que pese as manifestações ufanistas daquela autoridade monetária, comportamento este não condizente com a postura que se espera do titular da autoridade monetária de uma nação.

POR FLÁVIO JOSÉ CARPES SANTOS













- Economista e Professor Universitário;
- Graduação em Economia, Mestrado em Desenvolvimento Econômico e Doutorado em Economia Social;
- Economista da Carpes dos Santos Assessores Econômicos E Gestão de Crise.

Nota do Editor:

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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Whatsapp – Uso como meio de prova no Direito de Família

É inegável que os avanços tecnológicos e as facilidades implementadas pela comunicação móvel causam efeitos nas relações familiares. 

Nos dias de hoje, é difícil encontrar uma pessoa que não possua acesso às redes sociais e aplicativos de mensagem instantânea via celular. Muitas dessas ferramentas são utilizadas para comprovar alegações no âmbito do direito de família. Muitos magistrados estão sempre se adaptando a essas modificações, permitindo até o uso de conteúdos do whatsapp como meio de prova.

As mensagens do aplicativos estão servindo para caracterizar descumprimento de ordens judiciais, agressões, alienação parental entre outros, substituindo a conhecida Ata Notarial.

Cediço que a Ata Notarial é o instrumento público hábil que formaliza a constatação dos fatos existentes nas redes sociais ou aplicativos de mensagens instantâneas, transformando-os em prova aptas a serem apresentadas em processo judicial. Entretanto, sabemos que os custos para sua confecção são muito elevados, impossibilitando a produção dessas provas para aquelas pessoas hipossuficientes. Ressalta-se que a maioria dos litígios na esfera do Direito de Família, envolvem pessoas carentes de recursos para lavratura de uma Ata Notarial.

Assim, caso não houvesse essa flexibilização por parte dos magistrados, o direito de muitos pereceriam. É natural que os envolvidos em conflitos judiciais queiram valer-se desses registros para comprovar suas alegações.

Desta forma, notamos que cada vez mais serão utilizadas as conversas feitas pelo aplicativo Whatsapp como meio de prova no âmbito do Direito de Família.

POR SARAH MAYUMI SHIKASHO













-Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; 
-Atuante nas áreas Cível, Família, Imobiliário, Consumidor e Criminal em Curitiba/PR; 
-Advogada do Escritório Batista, Shikasho e Cardoso – Advocacia e Consultoria
Rua Presidente Faria, 421, sala 17, Centro, Curitiba/PR 
Telefone: (41) 4101-0884 
Nota do Editor:
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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Vizinho Reclamão pode ser punido?


Quem mora em condomínio sabe o quão corriqueiro são reclamações envolvendo condôminos, especialmente quando o assunto é barulho e uso de vaga na garagem, cujas reclamações normalmente são registradas no livro de ocorrência e pode culminar com advertência e/ou multa ao infrator, conforme a regra de cada nicho condominial.

Porém, tão certa quanto a existência de condôminos que constantemente e/ou esporadicamente infringem as regras condominiais, é a existência do condômino “reclamão”, que é aquela pessoa que reclama de tudo e de todos, que realiza reclamações constantes no livro de ocorrência, questiona – sem razão – todas as deliberações da assembleia, não aceita ser derrotada em votações e inúmeras outras características que aqueles que moram em condomínio conseguem identificar facilmente quem é o “reclamão”.

No entanto, ao analisarmos as convenções condominiais, verificamos ser perceptível mais facilmente descrição das ações que são passiveis de punição por infração, mas, ao aprofundarmos as regras condominiais, e utilizarmos como suporte o Código Civil, Constituição e em alguns casos até mesmo o Código Penal verificamos ser plenamente legal, cabível e necessário punir o “reclamão”.

E nada mais justo, pois a conduta do “reclamão” pode ser enquadrada como antissocial e consequentemente encontra o respaldo nas regras condominiais e no Código Civil, pois todos que convivem com um vizinho assim sabem o quão perturbador para o sossego, privacidade, intimidade, honra e à própria gestão condominial são os atos praticados pelo "reclamão”.

Entretanto, até pelo fato de que o “reclamão” sempre acredita ter a razão, pelo subjetivismo do que é uma conduta antissocial e pelo fato de que, salvo raras exceções, pessoas com tais características raramente mudam sua percepção, o procedimento judicial é cabível e até mesmo necessário, e podemos exemplificar:

  • Condômino é a vítima.
Quando um condômino é o alvo do “reclamão”, ao analisarmos o livro de ocorrência do condomínio ou outro meio de registro de reclamação é possível identificar a existência de relatos constantes que fogem da normalidade. Ou seja, não é anormal que vez ou outra uma unidade condominial seja alvo de reclamação por barulhos em sua unidade, ocasião em que a simples ligação do porteiro consegue solucionar o problema e quando isso não resolver a advertência e/ou multa é aplicada. Porém, é normal que exista mais de um condômino reclamado do barulho e da mesma unidade e/ou a constatação da infração pelo funcionário ou síndico.

Porém, há casos em que o condômino relata que frequentemente é questionado pela administração sindical para prestar informações sobre barulho, recebe ligações constantes do porteiro e no livro de ocorrência há sempre reclamações sobre os mais diversos problemas que partem de sua unidade, porém, em todas essas situações é comum ter como reclamante vários registros do “reclamão” e inexistir qualquer infração condominial constatada pela administração. Ou seja, o condômino que enfrenta tal situação está tendo seu sossego lesado e sua honra violada, pois quem é que gosta de frequentar o livro de ocorrência sem nada fazer e que ainda precisa se defender constantemente do que não faz?

Destarte, inegável que situações análogas, desde que devidamente comprovadas, possibilitam ao lesado interpor ação judicial em face do “reclamão” em razão da violação ao direito do sossego, honra, difamação e inúmeras outras lesões que podem existir e depende da análise correta do caso em concreto.

Na ação judicial o lesado poderá pleitear indenização por danos morais e a obtenção de decisão judicial visando inibir a continuidade de reclamações, sem que esteja lastreada em justificativa real, sob pena do “reclamão” pagar multa ou outra punição, tudo realmente dependerá do procedimento judicial adotado e do caso concreto.

Condomínio/síndico como vítima

Em outros momentos o alvo do “reclamão” pode ser o condomínio/síndico, ocasião em que analisando o livro de ocorrência é possível observar as mais diversas reclamações, sobre os mais diversos temas, em uma intensidade muito acima do socialmente aceitável, e sem qualquer analogia com apontamentos realizados por outros condôminos.

Não bastassem os registros no livro, é extremamente comum ouvir relatos de que o “reclamão” sempre que encontra com outro condômino, funcionário etc. possui o hábito de criticar; postura que fica mais evidente quando da realização das assembleias condominiais, pois o “reclamão” possui o habito de contestar tudo, rebater tudo, pedir constantemente a palavra, alegar que é possuidor das idéias mais mirabolantes e conhecedor aprofundado de todos os assuntos. E, quando a assembléia aprova deliberações opostas aos seus desejos, passa a interpor recursos em cima de recursos, questiona aprovações, solicita revisão de atas, ou seja, demonstra que não consegue conviver amistosamente com a derrota e cria um clima desarmônico constantemente.

Contudo, vale destacar que o “reclamão” não deve ser confundido com aquele condômino que, ainda que realize reclamações constantes, as mesmas são fundadas e refletem no salutar e necessário direito de participação e proteção de seus direitos.

E o “reclamão” também possui como característica a de questionar todas seus descontentamentos administrativamente, sendo raríssimos os casos em que suas reclamações são questionadas pela via judicial, postura que colide com a quantidade de relatos, afinal é pouco normal um condômino aceitar pacificamente tamanha quantidade de violações em seu direito sem questionar o assunto judicialmente.

Dessa forma, a atitude do “reclamão” pode também violar direitos do condomínio/síndico, que ao se sentir lesado poderá questionar a legalidade de tal postura judicialmente.

Portanto, é possível afirmar que, não apenas o condômino que viola as regras de garagem, uso da área comum, barulho, etc. deve ser punido, o condômino “reclamão” da mesma sorte precisa ser punido, pois seus atos também violam a tranquilidade, o sossego, a vida harmoniosa e a convivência saudável e necessária no nicho condominial.

Conclui-se, portanto que o síndico, condomínio, condômino ou qualquer outra pessoa que se sentir lesada pelos atos praticados pelo “reclamão” poderá questionar o assunto judicialmente, interpondo ações indenizatórias e/ou objetivando que o Poder Judiciário conceda ordem inibitória de atos, sob pena do “reclamão” pagar multa, procedimento que muitas vezes é necessário para garantia do sossego e tranquilidade dos lesados.

POR ALEXANDRE BERTHE PINTO













-Advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil Secção de São Paulo;
-Membro da Associação dos Advogados de São Paulo;
- Membro da Comissão de Direito Condominial da OAB-SP;
- Pós Graduação em Direito das Famílias e das Sucessões (EPD);e
- Pós Graduando em Direito Aplicado aos Serviços de Saúde

Nota do Editor:

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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A Cláusula de Barreira e a Democracia

          
         
A democracia é apenas uma das formas possíveis aos povos para a organização e alimentação de seu sistema político. A ideia principal é conglobar matizes doutrinários e de entendimentos, sobre os mais diversos temas.

A Democracia não mede espaços, ela os cede. Dentro de suas fronteiras, os temas de borbulho social podem e devem ser livremente debatidos, de modo a privilegiar o reflexo da sociedade.

Para essa complexa construção, necessário que o ser humano entenda que a cultura social é composta por aqueles que se agregam, em suas semelhanças.

Desses agrupamentos sociais e a consonância de suas ideias e seus ideais, destacam-se, no campo de propósitos, a segmentação social, o que se faz em partidos políticos.

Os partidos políticos encerram a perseguição pela diversidade, possibilitando a todos a busca, defesa e proposição de seus ideais à sociedade. Ou seja, no mundo ideal, partidos políticos representam uma fração da sociedade com pensamento assemelhado. 

A liberdade e a democracia andam de mãos dadas. Contudo, toda liberdade em excesso consubstancia abusos. 

A Democracia demanda custos, estrutura, pessoas e ideias. Partindo desse pressuposto básico, tem-se que o seu desenvolvimento demanda um esforço coletivo, o qual é levado a efeito e cria fundo partidário, tempo de televisão e todas as outras medidas que conhecemos para poder levar a propaganda de suas ideias ao público em geral.

Sem embargos à liberdade atinente à Democracia, entende-se que, para qualquer tema, os excessos devem ser decotados.

Neste artigo, por sua ideia básica, a limitação aos partidos não representa limitação à livre Democracia, mas sim uma medida salutar à continuidade do sistema.

No Brasil, a população tem representantes eleitos, pelo sufrágio universal, sem qualquer distinção de renda ou por gênero, no sistema, um homem, um voto. Só serão eleitos aqueles devidamente filiados a agremiações político-partidárias.

Atualmente, cumpridas as exigências protocolares e burocráticas se cria um partido político. Até como forma de não se limitar a Democracia, ao partido não é dada uma moldura ideológica para que se enquadre, com o propósito de que a população pudesse se identificar ou repelir os seus ideais.

Sendo assim, apenas por suas nomenclaturas os partidos são identificados. A ideologia partidária é volúvel e nada garante a fidelidade à temática, nem programaticamente, nem em alianças. 

Isso significa dizer que, não obstante o ideal extremado de um partido político, absolutamente nada, nada mesmo, o impede de se coligar, por exemplo, a um partido antagonista. 

Na construção da Democracia e a representação de ideias, necessariamente, feita em eleições, exige-se que os ideais e seus candidatos amealhem voz, por intermédio de seus votos. Essa é a ideia de representatividade. A legitimidade da representação se dá pelos votos que recebe. Ou seja, pelo sistema, os candidatos recebem votos pelas ideias que defendam.

A Democracia tupiniquim, além de não limitar a criação de partidos, também não limita ideologicamente as coligações. Efeito disso, diretamente, é a criação de um número sem fim de partidos, e, outras agremiações que pretendem se ver inscritas como tal, perante o Tribunal Superior Eleitoral.

Criado o partido político, em tese, ele carrega seu ideal em sua bandeira e em seu lema. Já se faz possível participar do processo democrático, tendo acesso para tanto ao fundo partidário – necessário à manutenção das organizações partidárias -, e, ao tempo de televisão, por exemplo.

Ocorre que a representação partidária se faz com base em votos recebidos, entretanto, o acesso aos exemplificados elementos anteriormente citados, não depende disso. A simples criação dos partidos já faz com que estes tenham acesso, mesmo que não possuam representatividade qualquer. 

Não obstante a grandeza que o propósito inarredável da liberdade na Democracia traz, tem-se que os partidos políticos recebem benefícios, sem qualquer tipo de comprovação de representatividade, faltando alicerce à sua razão de existir, qual seja a de representar ideais políticos.

A cláusula de barreira busca oxigenar a Democracia e sua representatividade. 

Lembrando que a Democracia é levada a frente por ideias e ideais, e, sendo assim, a representatividade é destas junto ao órgão que represente o povo. 

A cláusula de barreira busca limitar o acesso às benesses da representatividade para apenas aqueles que representam ideias em número suficiente para levar a discussão a efeito. A edificação de ideias pela maioria, junto ao parlamento, passa pela negociação junto a aqueles que se assemelham, bem como por aqueles que repelem a ideia. Esse óbice ao acesso às prerrogativas dos partidos políticos se dá com base na representatividade amealhada pela agremiação partidária.

A construção do tecido social exige a mínima razoabilidade nos nortes eleitos. A estrutura democrática que um partido tem acesso lhe dá garantias de que sua participação nas negociações é necessária e sem ela, estaríamos perante um desfalque à Democracia. Ou seja, basicamente, a ideia é a de que qualquer construção deve passar por todos os representantes do povo, para que decidam por sua maioria.

Provoca-se o seguinte questionamento, quantos ideais sobre um tema podem existir? Seja por qualquer espectro, ilimitados são os ideais quanto a qualquer tema, entretanto, não faz o menor sentido que dois ou mais partidos políticos defendam o mesmo ideal e que tenham a mesma bandeira. Pior ainda são os partidos que tem ideal nenhum.

As chamadas legendas de aluguel trazem consequências à Democracia. Servem para albergar tempo de televisão, acesso ao fundo partidário, estruturas de representação nos órgãos legislativos e inchar a já obesa estrutura partidária. No momento eleitoral, sobram em negociatas acerca do tempo de televisão e apoio a candidatos que tem maior representatividade. Quando eleitos em coligação, buscam por seus meios, nem sempre contributivos à Democracia, fazer parte do Governo, seja com ministérios ou secretarias, a fim de devotar apoio ao governante eleito, ou apenas apadrinhar seu séquito. 

A cláusula de barreira serve, justamente, para limitar, apenas a aqueles que detêm representação legítima e suficiente, as estruturas democráticas. 

Limitação para que a Democracia não seja instrumento de políticos e sim um meio para a política. 

Para a construção dos ideais pretendidos pela sociedade se faz necessário que as ideias prevaleçam sobre quem as carrega.

Limitar acesso aos benefícios e estruturas próprios da Democracia apenas aos que detém votos suficientes, e, portanto, representatividade real, a fim de que participem da discussão aqueles que realmente têm interesse no ideal, ao invés de serem interessados apenas no poder discutir.

Para que o órgão representativo do povo possa exercer sua função precípua é necessário que ali se reúnam, apenas, os representantes de ideias e ideais do povo. 

Com a Cláusula de barreira entendemos que a Democracia se fortalece, pois os partidos políticos têm de necessariamente se fortalecer ideologicamente, sob pena de perder seus seguidores. A confusão de ideias e ideais faz com que aqueles partidos políticos que têm Norte se sobreponham e ganhem espaço democrático junto aos órgãos representativos. 

Prerrogativas dos partidos políticos não podem representar apenas privilégios à casta dos políticos. São elementos necessários à construção da sociedade, de modo a abranger as necessidades da totalidade e os ideais das maiorias constituídas legitimamente. 

Para arrematar, pensemos! 

Quantos partidos seriam necessários para o desenvolvimento da Democracia? Para responder essa pergunta, necessário que se elejam prioridades. Estas nortearão os temas a serem agregados. 

Para facilitar a assimilação, pelos ideais norteados, você acredita que as pessoas que os defendem estariam juntos no mesmo propósito, como os partidos fazem, ou preferiram defender cada grupo à sua maneira? 

Quanto maior o grupo, maior sua representatividade, maior a chance de levar a efeito o seu propósito, construindo com aquelas agremiações outras que têm propósitos semelhantes. Atingida a maioria para tanto, atendem à legitimidade que lhes é entregue.

Isso é Democracia!

POR DOUGLAS BORGES FLORES












- Graduado em Direito(2008) pelo UNICEUB- Centro de Ensino Unificado de Brasília;
- Pós Graduado em Direito Público Material(2009) pela Universidade Gama Filho;
 Extensão em Licitações e Contratos com a Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas(2010);
-Membro Julgador do TED – OAB/DF; -Secretário-Geral da Comissão de Direito Sindical e Associativo da OAB/DF;e
- Membro das Comissões de Direito Eleitoral, Direito Previdenciário e de Assuntos Legislativos da OAB/DF.


Nota do Editor:
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domingo, 3 de setembro de 2017

Timidez - Medo do Mundo


Todas as pessoas têm traços de timidez.
Até as mais extrovertidas podem ficar tímidas em situações específicas. A isto chamamos de timidez situacional.

Mas há os que sofrem com a timidez crônica, que é a constante, ou seja, a pessoa experimenta essa dificuldade em praticamente todas as áreas de convívio.

Vou falar aqui da timidez em seu estado mais intenso.

Timidez pode ser definida como um estado de acanhamento excessivo.
E pode trazer um sofrimento maior do que sonha quem não experimenta esta realidade.

Ser tímido é ter vergonha de dançar naquela festa, quando é na verdade sua maior vontade, mas, mesmo desejando muito, ficar paralisado.

Timidez é ter pavor só de imaginar vários rostos se voltando para si, esperando um discurso ou manifestação de sua parte.
É querer sumir, virar fumaça para não ter que se destacar entre um grupo.
É sofrer com a ansiedade no conflito entre desejar, mas não conseguir se integrar.
É viver o impedimento de um sonho, de uma conversa com aquela pessoa por quem está apaixonado.
Ou mesmo viver a incapacidade diante de uma atitude tão simples como fazer uma pergunta ao professor diante da sala.

A timidez, conforme o grau, pode causar enorme impacto no desenvolvimento de alguém, já que limita, desanima, causa um mal-estar terrível, fazendo com que a pessoa se retire, se esconda, se proteja demais, e o pior, acabe por se classificar como inferior.

Há inclusive que se considerar a real possibilidade do caminho para uma depressão em quem é tímido demais.

Timidez pode ser tanto uma condição, como um traço de personalidade. 
Mas traz na verdade medo.
Medo de ser julgado inadequado.

De onde vem a timidez?

Por que há pessoas tão extrovertidas, que não tem o menor problema em se exibir, enquanto outras fugiriam do mundo se pudessem?

Por um lado, podemos falar de característica pessoal, já que desde cedo se pode observar, por exemplo, que num grupo de crianças já existem aquelas que são mais soltas, e as que são mais recatadas, mesmo que muito pequenas.

No mais, podemos pensar que situações experimentadas durante a vida podem ter acarretado ou reforçado a condição da timidez.

Nesse sentido podemos imaginar alguém que viveu num lar sob severa repressão, por exemplo. Onde não podia se manifestar, nem colocar opiniões. Um ambiente onde soava a ideia de que não era aceito, de que não podia existir, de que sua presença não fazia diferença.
Situações assim são mais comuns do que podemos imaginar.

Porque timidez também tem a ver com autoestima, com se achar importante, com se sentir livre para achar-se, para pronunciar-se, para ser querido e amado.

Muitas pessoas são tímidas por não se enquadrarem nos padrões físicos de perfeição, ou porque têm alguma deficiência, ou qualquer outro detalhe que lhes faça desigual, que lhes cause a sensação de desencaixe.

Muitas vezes o que é considerado como ponto de inadequação é potencializado pela fase da idade.
Os adolescentes, por exemplo, vivem essa fase tão delicada e frágil com relação à sua autoimagem e importância, estão formando sua identidade e estruturando a autoconfiança. Precisam se sentir fazendo parte, sendo aceito pelo grupo.

Se a pessoa que já carrega esta vulnerabilidade, se deparar com o dissabor de um processo de bullying, então, pode ser o fim da sua vida, literalmente.

O tímido tem medo da crítica, da desaprovação. Seu maior pesadelo seria escutar algo que viesse a confirmar seu estado de inconveniência, e viver uma humilhação.
Então, se aprofundarmos, chegaremos na essência desse medo, que é o do desacolhimento, do desprezo, da rejeição.
É o medo de ser censurado, reprovado, negado.
E ser enjeitado vai de encontro com parte de um instinto de vida, sobrevida.
Porque não participar de um grupo é como morrer, na leitura inconsciente ancestral de que ser excluído seria não poder obter parte da caça, alimento conseguido com organização de equipe, mesmo que fosse nos tempos da pedra.

Além disso, como um Ser complexo que somos, trazemos a necessidade natural do afago, da proteção, significado de que seremos cuidados, que não faleceremos diante do menosprezo.

A timidez excessiva requer tratamento, intervenção, já que impede o desenvolvimento do indivíduo, que pode sofrer as consequências pela alienação, tristeza e solidão.

No fundo as pessoas tímidas podem ser mais inteligentes, sensíveis e especiais, pois são mais analíticas, observadoras, sempre escutam mais do que falam. Podem ser verdadeiros artistas.

Ao adentrar no processo de autoconhecimento precisará entender que a timidez não é um defeito, mas que pode ser um traço de personalidade que precisa ser resignificado à medida que o trabalho psicoterapêutico progride no sentido de ajudá-la a reconhecer o seu valor, identificando seus medos e prováveis origens.
E poderá descobrir que ser uma pessoa tímida não inclui necessariamente o sofrimento, e que é possível aprender a se amar e ter o controle para lidar com as situações. 

“Antes eu achava que minha timidez era o problema. Agora eu vejo que o problema é usar minha timidez como desculpa para não viver. ” Helen Rowland.

POR ROSANGELA TAVARES












- Psicóloga Clínica;
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