quarta-feira, 5 de abril de 2023

O que são dados, e porque você consumidor deveria se preocupar com isso


 Autor: Ricardo Ramalho Jr(*)



Os conceitos mais rudimentares de internet remontam à década de 60, se tornando amplamente utilizável pela população geral na década de 90.

De lá para cá, a abrangência da internet foi se expandindo, sendo possível hoje interagirmos com nossos amigos a quilômetros de distância, assistir transmissões ao vivo e, por que não, aproveitar uma boa liquidação de alguma loja online.

E é aí que mora o problema e o motivo deste texto. Primeiro, vamos entender melhor o que são dados.

De forma mais ampla e em um contexto não tecnológico, dados são a menor partícula da informação, de modo que esta se obtém através da manipulação daqueles.

Em setembro de 2020 entrou em vigência a Lei n.º 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados), trazendo para o cotidiano implementações que causam impacto direto no relacionamento das empresas com os consumidores.

O artigo 5º, I, da Lei Geral de Proteção de Dados define como "dado pessoal" a informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável. Ou seja, quando você faz cadastro junto a alguma loja online, buscando ratificar esta relação, você informa os seus dados pessoais, como nome, endereço, CPF, telefone, entre outros dados que permitam te identificar. E seus dados são extremamente valiosos.

A Lei Geral de Proteção de Dados é expressa em afirmar que a quantidade de dados necessária deve ser mínima fornecida para a finalidade específica. Se você comprou um fogão em uma loja online, não há a menor necessidade, por exemplo, da empresa solicitar o número de seu título de eleitor, pois não é informação mínima necessária para realização da finalidade. Entretanto, não é raro que, ao proceder com seu cadastro em lojas online, você ser surpreendido com solicitações de informações que não ajudam em nada ao cumprimento da finalidade específica pela qual você iniciou o seu cadastro.

Ocorre que, na sociedade multi conectada em que vivemos, os dados são o novo petróleo, pois valem muito.

Para fins de exemplificação, lá nos Estados Unidos, um caso muito emblemático envolvendo a loja de departamentos "Target" foi notícia[1], pois observando os dados do padrão de compra de determinados produtos, conseguia encaminhar aos compradores ofertas e cupons de desconto de produtos ligados a maternidade. Ou seja, pela simples observância de padrões de compra conseguia identificar que uma cliente estava grávida, e, em alguns casos, estimar até mesmo o tempo de gravidez.

Mas essa é a parte apenas curiosa, pois o buraco é ainda mais embaixo.

Isso porque, de forma intencional, a empresa a qual você oferece seus dados consegue saber muito sobre você. Agora imagine o que pode ser feito ao usarem estes dados com má-fé?

Óbvio que uma mercadoria tão valiosa quanto seus dados não deixariam de ser alvo de criminosos.

No primeiro trimestre de 2022, de acordo com a empresa especializada em privacidade SurfShark, o Brasil ocupava o espantoso 12º país que mais sofreu com vazamento de dados[2], o que é extremamente preocupante.

Em posse de seus dados, o criminoso pode realizar operações que você desconhece, pode comprometer o acesso de seus cadastros, utilizar indevidamente suas contas bancárias, abrir outras contas para aplicar golpes e alcançar outras pessoas, causando prejuízos enormes em efeito cascata.

É óbvio que não se espera do cidadão médio o conhecimento prático pareado com o de um cibercriminoso, mas diversas medidas simples podem auxiliar a aumentar sua segurança no ambiente digital e garantir que o produto desejado e visto com um preço ótimo na internet seja comprado com um bom desconto e chegue na sua casa sem maiores dores de cabeça. É melhor sofrer com uma demora na entrega do que perder seu suado dinheiro (mas se demorar demais para entregarem, acione um advogado. Porém isso é papo para outro momento).

Um conselho muito prático para proteger seus dados na internet é: use senhas complexas e alternadas. "Ah, mas eu vivo esquecendo minhas senhas". Acredite, eu também. Nada pior do que tentar fazer seu login em um site que você usa com frequência e não lembrar a senha (ok, há coisa pior, como tentar alterar a senha por não lembrar e receber a informação que a senha não pode ser igual a anterior). Mas para contornar isso, existem aplicativos hoje voltados para segurança que armazenam senhas para isso não mais ocorrer. Ajuda bastante. Neste seguimento existem, por exemplo, o Nordpass, o Roboform, o 1Password, entre diversos outros.

Outro auxílio bastante prático é: cheque bem o site que você está acessando para garantir que não está em um site falso. Isso porque criminosos na internet possuem a prática de "clonar" sites confiáveis, que num olhar sem atenção podem parecer de fato que o site acessado é o verdadeiro. Desconfie de preços muito baixos. Se você achar um anúncio no site das Lojas Americanas de um Playstation 5 por R$ 2.000,00, pode ter total certeza de que é golpe. Uma boa dica também é conferir os preços pelo aplicativo da determinada loja, pois baixado pelas lojas de aplicativos oficiais dos sistemas operacionais dos aparelhos há mais segurança.

Cuidado também com e-mails encaminhados supostamente pelas lojas que você possui cadastro. O comprometimento da base de dados destas empresas não é nenhuma novidade. Aconteceu inclusive com esse que vos escreve em tempos recentes. Fiz uma compra no site da Leroy Merlin, recebendo um e-mail de confirmação de compra:


Como é possível observar, o endereço de e-mail oficial está correto e as informações contidas nele estão de acordo com minha compra.

Porém, pouco tempo depois, recebi outros dois e-mails, me pedindo para complementar o frete pois havia ocorrido um erro de cálculo, me causando estranheza. Não cliquei em link algum (JAMAIS CLIQUE EM LINKS SEM ANTES CHECAR A ORIGEM), mas reparei logo que os e-mails enviados vieram pelos endereços Leroy_Merlin.sac_vendas1@proton.me e Leroy_Merlin2Financeiro@gmx.com, totalmente diversos do padrão observado pelo e-mail oficial. Ou seja, isso é preocupante, pois os golpes são cada vez mais engenhosos.

 A internet trouxe diversos avanços sociais, e isso é inegável. Nossa vida se tornou muito mais prática. Porém, toda novidade traz novas possibilidades para criminosos também, que se tornam cada vez mais engenhosos em suas práticas. Cabe a nós, consumidores, dificultarmos a vida desse pessoal para garantir um ambiente digital mais seguro para nós e para os nossos.

REFERÊNCIAS

[2] https://surfshark.com/blog/data-breach-statistics-by-country acessado em 28/02/2023 às 07h

*RICARDO RAMALHO LUIZ JUNIOR












-Advogado graduado  pela Universidade Estácio de Sá(2017);

-Pós-graduando em Direito Digital pela Universidade Paulista de Direito; e

Músico frustrado, nerd de carteirinha, apaixonado por tecnologia e em reconciliação com o Direito.

Nota do Editor:


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terça-feira, 4 de abril de 2023

A regularização de imóveis através do Direito Real de Laje


 Autora: Beatriz Mastrange(*)

A era da industrialização prometeu atrair a migração de pessoas em busca de empregos e melhores condições de vida. É inegável que esse fato colaborou para a verticalização das cidades de modo irregular. 

A construção de "puxadinhos", ou melhor, de lajes é comum em áreas de comunidades e subúrbio. As famílias se perpetuam em terrenos, que anos antes abrigavam apenas uma casa simples composta por um pavimento. 

Nesse sentido, ao apontar o fenômeno da verticalização se entende que não se trata de um condomínio edilício, mas sim de construções compostas por acessos independentes, bem como água, esgoto e luz individualizados para cada residente. 

Desse modo, sob um ponto de vista particular, o "puxadinho" é uma característica cultural suburbana que ganhou força na voz do povo e foi aceita goela abaixo pelo Estado, uma vez que esse tem o poder para a regularização urbana e cobrança de impostos. 

Sendo assim, o Direito Real de Laje foi reconhecido pela Medida Provisória 759/2016 e, posteriormente, inserido pela Lei 13.465/2017 no Código Civil. O legislativo foi forçado a reconhecer essa forte cultura suburbana em uma tentativa de cumprir o disposto no Art. 6º, caput da Constituição Federal, que estabelece que o ser humano tem direito a moradia.

No que pese a edição não mais recente do dispositivo que versa sobre o Direito Real de Laje, a prática ainda se traduz em passos lentos para reconhecimento e declaração desse direito de propriedade. 

O povo de nacionalidade brasileira possui um costume passado de geração em geração de construir patrimônio para que se perpetuem a filhos e netos. Assim, cada vez mais tem sido uma realidade a regularização dessas construções junto ao Ofício de Registro de Imóveis, afinal, a máxima é "só é dono quem registra". 

Diante disso, o procedimento para regularização da laje se performa com a averbação da construção sobreposta ou sotoposta na matrícula do imóvel principal e, após, com a abertura de nova matrícula e remissão da construção-base, consoante dispõe o Art. 176, §9º da Lei de Registros Públicos.

Por conseguinte, a lei é clara ao afirmar que a laje somente poderá ser reconhecida se a construção principal estiver devidamente regular junto ao Cartório de Registro de Imóveis competente.

Desse modo, se considerar que esses imóveis estão localizados em áreas em que a renda é baixa, a informação acerca da segurança jurídica é precária e os custos para regularização são elevados, é evidente que tampouco a construção principal estará regular, o que demanda uma declaração da propriedade de forma conjunta.

No entanto, a laje possui uma forma de aquisição derivada, uma vez que se trata de um contrato bilateral; porém, pelos fatores acima relacionados, a maior parte desses contratos são realizados de modo verbal, o que não descaracteriza a validade do negócio.

E, muito embora seja inequívoca a validade, a regularização da propriedade judicial ou extrajudicial são absolutamente formais e exigem o mínimo de comprovação acerca do acordo celebrado, o que é, sem dúvida, um obstáculo para o procedimento de regularização. 

Considerando esse óbice, os juristas editaram o Enunciado 627 da VIII Jornada de Direito Civil para declarar a possibilidade de Usucapião para o Direito Real de Laje, em uma certeira tentativa de tornar a regularização da construção independente da prévia regularização do imóvel principal. 

Acontece que, na prática, o juízo ainda é cético quanto a essa possibilidade e vem impedindo que a regularização da laje e da construção principal sejam distribuídas em conjunto e, tampouco entendem que existe um interesse de agir e legitimidade se o sujeito pretende distribuir uma ação para regularização somente da laje, alegando que por ser uma forma de aquisição derivada, uma Cessão de Direitos seria a solução. 

Ora, um instrumento de Cessão de Direitos Aquisitivos claramente não possui a segurança jurídica que o posseiro deseja alcançar quando ele manifesta o interesse em ajuizar uma ação para ter o seu direito de propriedade garantido.

E esse obstáculo prático apenas perpetua um problema que já existe em nossa sociedade há anos acerca da irregularidade urbanística e também se traduz em prejuízo aos Municípios, que não possuem controle acerca do crescimento das cidades; da segurança na construção nas mais diversas áreas; e da possibilidade de cobrança de imposto. 

Por fim, o Direito Real de Laje merece ser mais explorado por atuantes e militantes do Direito Civil para que o acesso à justiça seja possível àqueles que desejam obter o direito de propriedade e, assim, desenvolva ainda mais as cidades e a habilitação urbanística. 

Referências:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/1210

* BEATRIZ ANTUNES MASTRANGE BASTOS

























Advogada inscrita na OAB/RJ 226.047, 
Graduada 
Pós- graduação em
  -Direito do Consumidor pela UNESA(2020); 
   -Direito de Família e Sucessões pela UNISC,
(2021) e 
   -Direito Imobiliário, Registral e Notarial pela UNISC(2020) 

Site: www.beatrizmastrange.com

Instagram: @beatriz_mastrange

Nota do Editor:

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A Desestruturação Estrutural do Direito e a Inteligência artificial


Autor:  Batuíra Lino (*)


Dentre os pilares sobre os quais se assenta a garantia do cumprimento da Lei e das determinações judiciais que atendam ao justo anseio daqueles que recorrem ao Judiciário a fim de ver assegurado o seu Direito subjetivo está o instituto da coisa julgada material.

Esse instituto garante que uma questão definitivamente decidida pelo Judiciário seja imutável, ressalvada sua desconstituição por meio de ação rescisória, que prescreve dois anos após o trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.

Nas chamadas obrigações de "trato sucessivo", a decisão judicial, em princípio, vale para aquelas abrangidas pelo processo, não se aplicando àquelas posteriores ao trânsito em julgado. Trata-se de matéria complexa, que não pode ser analisada com profundidade, nesse curto espaço de que dispomos.

Porém, releva notar que recente decisão do STF, causa de grandes debates públicos, tem a ver com a eficácia e alcance da coisa julgada. A razão está em que a Suprema Corte decidiu reformar o entendimento sobre a inconstitucionalidade da CSLL, passando a considerá-la legal.

Até aí nada de anormal; o problema está em que em sede de Embargos de Declaração, nos quais se propunha a modulação  dos efeitos daquela decisão, ficou estabelecido (sete anos depois e pela estreita maioria de 6 x 5) que o julgado se aplica não só aos casos que ainda pendiam de decisão definitiva e estavam com andamento suspenso, mas também aos que, já decididos em favor do contribuinte, haviam transitado em julgado, sem que houvesse ação rescisória proposta.

Não bastasse o inusitado da decisão, que abala profundamente um dos pilares do Direito, houve a declaração de um Ministro da Corte Suprema, comparando o resultado de processos a um jogo de loteria, o que dispensa maiores comentários.

A essa decisão, a nosso ver teratológica, vêm se juntando outras do mesmo jaez, em razão desse esgarçamento das instituições jurídicas, fruto do cada vez mais desleixado ensino do Direito no Brasil.

Mas, como reza o dito popular: "nada é tão ruim que não possa piorar". Vem aí, a passos largos, a aplicação da Inteligência Artificial aos processos.

Aplicativos já disponíveis no mercado (1) oferecem "modelos" de petição, alguns destacando que as peças não conterão erros de português, como se isso não fora o mínimo exigível.

Enfim, chegamos à era da robotização, provavelmente sem volta. Ao contrário, creio firmemente que, em menos de um século, não haverá, sequer, juízes e tribunais (2)

Quem viver, verá!

* * *
E por aqui encerro minha participação neste fabuloso Blog, criado e administrado por meu querido confrade das Arcadas do Largo de São Francisco, Raphael Werneck, que muito me honrou com o convite feito para escrevinhar por aqui.

REFERÊNCIAS

(1)https://blog.jusbrasil.com.br/artigos/1229188591/otimize-seu-tempo-commodelos-de-pecas-juridicasprontas#:~:text=Por%20isso%2C%20conhe%C3%A7a%20a%20ferramenta,contesta%C3%A7%C3%B5es%2C%20peti%C3%A7%C3%B5es%20iniciais%20e%20recursos.
https://corejur.com.br/sistema-de-automacao-de-peticoes/

(2) a respeito, fabulosa entrevista com o Eng. Demi Getschko, no programa “Provoca” da TV CULTURA, que assisti após ter escrito o artigo - https://youtu.be/jcI0p48UtoI

* BATUIRA ROGÉRIO MENEGHESSO LINO

Advogado em São Paulo;

Graduado em 1972 pela USP;

-Atuando na área de consultivo e contencioso cível;

-É sócio do escritório Lino, Beraldi e Belluzzo Advogados. 






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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Arcabouço Fiscal: Dívida x PIB


 Autora: Tamara Mármore (*)

O Ministério da Fazenda apresentou recentemente (30 de março de 2023), a proposta de arcabouço fiscal do país como lei complementar, visando substituir o regime de teto de gastos. O projeto corresponde a uma série de regras que têm como intuito o controle do endividamento público. Na teoria, há três possibilidades para evitar o descontrole das contas públicas: controle dos gastos, aumento das receitas ou alterar o PIB.

Segundo o professor, economista e diretor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), André Biancarelli, o principal ponto considerado neste projeto é estabilizar a relação entre a dívida líquida e o PIB. "A maior parte do raciocínio só olha pelo lado do gasto, sendo que o tanto que o governo gasta ou deixa de gastar também influencia no PIB, ou seja, é muito mais fácil você controlar o endividamento público com o nível de crescimento econômico maior.", afirma André.

A proposta prevê a variação de despesa sempre menor do que a variação da receita, com a limitação de gastos de 70% das receitas primárias e para o crescimento real das despesas, piso de 0,6% e teto de 2,5%. Sendo que, não limita despesas como o fundo da educação básica (Fundeb) e o piso da enfermagem já aprovado no Congresso.

Apesar da crítica de economistas de um possível engessamento da economia a médio e longo prazo, possibilidade de aumento da inflação e afetar o crescimento, acredita-se que o projeto passará a atrair a confiança de investidores, como foi possível ver com a repercussão de crescimento na bolsa brasileira (1,89%) e a queda do dólar (0,73%) no mesmo dia em que o projeto foi apresentado.


* TAMARA MÁRMORE


-Bacharel em Estatística pela UNESP/SP (2018) e
-Analista de Economia e Estatística 
WhatsApp: (11)9 1616-0250










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domingo, 2 de abril de 2023

Como diminuir a ansiedade durante a transição de carreira?


 Autora: Caroline Bezerra Morais (*)


O trabalho costuma ser uma parte central da vida cotidiana. A escolha profissional afeta amplamente a rotina, as experiências ao longo da vida e a noção de identidade de cada pessoa. Pode-se dizer que uma parcela importante da vida na sociedade atual gira em torno do trabalho, o que mostra a importância da escolha profissional como um determinante de como será a vida.

Geralmente, a primeira escolha profissional acontece no final da adolescência ou no início da vida adulta, quando a personalidade ainda está em formação. Nesse período, o cérebro humano ainda encontra-se em desenvolvimento até por volta dos 25 anos de idade. A parte frontal do cérebro, que é aquela responsável pelo raciocínio, planejamento e controle emocional, é a última parte do cérebro a estar completamente formada. Isso leva a algumas dificuldades na capacidade de tomar decisões e torna a pessoa mais suscetível a influências ambientais.

Olhando por esse lado, não é incomum que a primeira escolha profissional precise ser revisitada em algum momento da vida. Você pode ter escolhido a sua primeira profissão por influência de outras pessoas ou até mesmo por falta de uma análise adequada sobre você mesmo e sobre a área de trabalho. Em muitos casos, falta autoconhecimento para entender sobre os seus valores e sobre os seus critérios para uma escolha profissional.

Ao ingressar em uma área profissional, você pode começar a crescer, destacar-se e até mesmo atingir o sucesso profissional, ainda que você não se sinta realizado em sua área de atuação. Diante disso, é difícil partir para o novo e recomeçar, você pode ter pensamentos de que "está andando para trás" ou que você "perdeu tempo demais" e "agora já não dá mais para mudar". Isso pode ter efeitos danosos para a saúde mental, gerando maior estresse, baixa autoestima e ansiedade.

Para que você consiga fazer uma transição de carreira bem-sucedida você precisará saber lidar com os pensamentos e sentimentos supracitados. Eles podem te impedir de dar passos importantes na direção do seu objetivo mesmo após você já ter tomado a decisão de seguir com a transição de carreira.

O processo de transição de carreira significa deixar a sua área de trabalho primária e iniciar em uma nova área. Isso pode ocorrer gradativamente ou de uma vez. Naturalmente, a pessoa que está passando por uma transição de carreira atravessa mais sentimentos de ansiedade e insegurança em meio às incertezas de estar iniciando em um terreno completamente desconhecido. Afinal, mudar de carreira representa uma profunda mudança na rotina e até mesmo na identidade daquela pessoa.

Todos nós carregamos crenças sobre nós mesmos, o mundo e o futuro. Nós começamos a construir essas crenças desde a nossa infância. Determinadas situações na nossa vida podem evidenciar tais crenças, tornando-as mais fortes, sendo necessário ter uma atenção especial àquelas que são disfuncionais e que te levam a mais sofrimento. A transição de carreira pode ser um contexto que evidencia crenças que você construiu sobre você mesmo ao longo da sua vida.

Por exemplo, alguns pensamentos que podem aparecer são: "Eu não vou conseguir", "E se eu fracassar na nova área?", "E se as outras pessoas me criticarem?". Ao analisar cuidadosamente esses pensamentos, podemos chegar a crenças como: "Eu sou incompetente”, "Eu sou um fracasso", “Eu sou incapaz”, “Eu sou insuficiente” e entre tantas outras.

O ser humano funciona da seguinte forma: Diante de uma situação, surgem os pensamentos, as emoções e os comportamentos, que se retroalimentam entre si. Ou seja, um fortalece o outro. Por isso, para que você consiga diminuir a ansiedade você precisará aprender a observar os seus pensamentos e comportamentos. Ao perceber a sua ansiedade aumentando, questione-se: "Quais pensamentos estavam passando pela minha cabeça? E como eu ajo diante desses pensamentos?".

Vamos analisar um pensamento em conjunto? Vamos supor que você estava pensando: "E se eu fracassar na nova área?". O seu comportamento diante desse pensamento é paralisar e continuar na sua atual área. Em tese, quanto mais você mantiver o seu comportamento de paralisar e permanecer no mesmo local, mais forte será o seu pensamento relacionado ao fracasso na nova área, o que também aumentará o seu nível de ansiedade. Perceba que trata-se de um ciclo, que começa no seu pensamento.

Para que você consiga pular fora desse ciclo, nós teremos que nos tornar peritos em analisar nossos próprios pensamentos, percebendo-os como hipóteses sobre o mundo e não como verdades absolutas. O problema está em enxergar o seu pensamento como uma verdade absoluta sobre o mundo, sendo importante aprender a flexibilizar tais pensamentos, entendendo que eles podem ser parcialmente verdadeiros ou não-verdadeiros.

Analise seus pensamentos como sendo apenas pensamentos. Então, busque as evidências, quais indícios você tem de que irá fracassar? E quais indícios você tem de que você pode não fracassar? Talvez você chegará a indícios para os dois lados, demonstrando que existem possibilidades reais de sucesso ou de fracasso na nova área.

A ansiedade é um sentimento que está relacionado a possibilidade de prever ameaças futuras, sejam reais ou imaginadas. Isso tem um papel importante desde o início da nossa espécie. Prever os perigos foi de extrema importância para a nossa sobrevivência. Logo, esse sentimento permanece até os dias de hoje.

Nesse sentido, a ansiedade leva a diversos pensamentos improdutivos e catastróficos sobre as possibilidades futuras. O pensamento improdutivo é aquele em que você fica apenas pensando sobre o problema, sem a proposição de qualquer solução. Já o pensamento catastrófico é aquele em que você amplia o problema, enxergando-o como um problema que está além das suas capacidades de lidar.

Ao invés disso, a ideia é começar a exercitar um pensamento mais de resolução de problemas daqui para a frente. Experimente olhar para esses problemas e identificar a probabilidade que eles realmente ocorram e como você poderia lidar com essas possibilidades futuras. Algumas situações você vai perceber que não estão no seu controle e outras você perceberá que dependem mais diretamente dos seus comportamentos.

Há dois caminhos para enfrentar a ansiedade de modo que ela diminua: o questionamento de pensamentos ansiosos e continuar seu caminho apesar da ansiedade. Aprenda a guiar-se por seus valores e pelo que você considera importante. Quando identificar algo importante, não deixe de buscar apesar das incertezas. Esse é o tal do enfrentamento. É fazer apesar do medo. É fazer apesar dos pensamentos que te dizem que você vai fracassar. Na dúvida, vá na direção dos seus valores.

Caso você não esteja conseguindo ultrapassar as dificuldades sozinho, então não deixe de procurar ajuda especializada. Busque psicoterapia.

Em resumo, anote esse passo a passo e execute:

1- Observe os pensamentos que aparecem nos momentos de ansiedade. Se possível, anote-os;

2- Verifique quais são os pensamentos produtivos e improdutivos. Os produtivos são aqueles relacionados à resolução de algum problema, já os improdutivos somente ocupam seu tempo sem te encaminhar para uma resolução;

3- Os pensamentos improdutivos devem ser questionados ou transformados em pensamentos mais produtivos. Por exemplo, no caso do pensamento: "E se eu fracassar?", tente pensar sobre o que seria fracassar para você? Qual seria a pior parte em fracassar? Como você poderia lidar com isso?;

4- Identifique a probabilidade real do que você está imaginando acontecer. Analise seus pensamentos como hipóteses e perceba se tem alguma evidência que comprova ou que refuta aquele pensamento;

5- Aceite o que você não pode controlar. Não tente estar no controle de tudo. Quanto mais você tentar controlar, maior ficará a sua ansiedade;

6- Construa um pensamento alternativo que possa te auxiliar a diminuir a ansiedade nos momentos difíceis. Transforme isso em um cartão de enfrentamento. Anote em algum local e tenha esse pensamento alternativo com você; e

7. Os pensamentos ansiosos costumam ter origem em crenças que você construiu sobre você mesmo. Busque psicoterapia cognitivo-comportamental para abordar essas crenças de uma forma mais profunda.

CAROLINE BEZERRA MORAIS CRP 11/12158



 

 

 


-Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (2017);

- Atuação como Psicóloga Clínica;

-Formação em Raciocínio Clínico em Psicoterapia - Psiconegócios (2021);

-Capacitação e aperfeiçoamento em Terapia Cognitivo Comportamental: Teoria e Prática - Otimiza Psi (2022);

-Formação em Neurociência e Comportamento - Eslen (2022); 

-Formação em Terapia Cognitivo Comportamental para obesidade e emagrecimento - Fernanda Landeiro (2022) e

-Formação em andamento em Terapia Cognitivo Comportamental, Fernanda Landeiro.

INSTAGRAM: @psicologacarolmorais

CONTATO: 85 997896588

Nota do Editor:


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