sábado, 24 de agosto de 2019

Metodologias Ativas: Isso é Novo?



Autora: Adriana Soeiro(*)


De acordo com Araujo (2015), "entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, que se configurou a metodologia ativa no âmbito do movimento da Escola Nova, a qual provocará uma significativa inflexão entre a teoria e a prática". Estas estão fundadas na experiência sob o signo de Pedagogia Científica inaugurada por Herbart. 

O movimento "Escola Nova" surgiu na Inglaterra, por intermédio da New School em 1889, de onde se disseminou para o continente europeu, com diferenciadas propostas afeitas a construir uma comunidade escolar livre, ou seja, a educação no campo, "a escola de humanidade", a coeducação; eram também concebidas como inovadoras e experimentais, e tinham como perspectiva finalidades educacionais que viessem a superar as escolas tradicionais. 

No Brasil, a metodologia educacional, que propõe ensinar por meio de projetos foi apresentada, inicialmente, por John Dewey e chegou ao Brasil nas traduções de Anísio Teixeira na década de 1930, no início do movimento denominado Escola Nova. Num momento em que se busca direcionar o foco para o aluno, as ideias de Dewey continuam atuais, pois consideram aspectos como necessidades e experiências vivenciadas, num contexto de valorização da motivação para aprender e da efetividade do aprender na prática. 

Trata-se de uma forma de promover o aprendizado sob orientação ou tutoria de um professor, a partir de um problema habilmente colocado. Aprendizagem baseada em projeto é uma abordagem pedagógica de caráter dinâmico, que enfatiza a ação do estudante frente ao conhecimento e tem foco no desenvolvimento de competências e habilidades. Assenta-se sobre a aprendizagem colaborativa e a interdisciplinaridade. Ou seja, constitui uma metodologia de ensino na qual um tema é escolhido para exploração, e, a partir deste, diversos outros são elencados e estudados no sentido de explorar a temática sob uma ou várias óticas disciplinares. 

A abordagem de PBL – project based learning pode ser vista como uma estratégia didático-pedagógica centrada no aluno, apoiada em pressupostos construtivistas que pregam que o conhecimento é por ele construído, especialmente quando há engajamento. O PBL coloca aos alunos a oportunidade não apenas de aprender o conteúdo, mas também de produzir conhecimento de forma contextualizada, cooperativa e prática. Em geral, a terminologia "aprendizagem baseada em projeto" é aplicada a modalidades em que há um produto tangível como resultado. 

O Buck Institute for Education, a aprendizagem por meio de projetos pode ser definida como um método sistemático de aprendizagem que envolve os alunos na aquisição de conhecimentos e habilidades, por intermédio de um processo investigativo e estruturado em torno de questões complexas e autênticas, que culminarão na apresentação de um produto final relevante, que demonstre a aplicabilidade das teorias e conteúdos pesquisados. 

Segundo Moran (2012), vivemos um momento diferenciado do ponto de vista do ensinar e aprender. Aprendemos de várias formas: em redes, sozinhos, por intercâmbios, em grupos etc. Para ele, essa liberdade de tempo e de espaço em processos de aprendizagem configura um novo cenário educacional onde várias situações de aprendizagem são possíveis com a ajuda das Metodologias Ativas - MAs ou Metodologias Inovadoras – MIs. Behrens e José (2011) complementam: "a observação de condições e circunstâncias não basta, é preciso acrescentar a significação que se atribui" para as atividades realizadas. 

Embora a ideia não seja nova e até então não tenha nos rendido resultados melhores, surgem nesse cenário novas estratégias e recursos tecnológicos, que estão sendo utilizados como ferramentas para as metodologias ativas: gameficação e metaverso, simuladores virtuais, realidade aumentada e outros recursos inicialmente destinados à modalidade a distância, que migram para a modalidade presencial. 

Metaverso é a terminologia utilizada para indicar um mundo virtual que tenta replicar a realidade por meio de dispositivos digitais. Este é um espaço coletivo e virtual compartilhado, que tende a extrapolar os limites de simulação do real e é utilizado para descrever os ambientes imersivos 3D, onde os humanos interagem por intermédio de avatares em diversos contextos de ordem social, educacional e econômico. 

Segundo Schlemmer e Backes (2008), a ideia de metaverso, embora descrita com outros termos, surge em 1984, no Neuromance de William Gibson. Entretanto, o termo metaverso, em si, foi criado pelo escritor Neal Stephenson[1], no romance intitulado Snow Crash, também publicado como "Samurai, nome de código" no Brasil em 1992. 

O autor do romance Snow Crash enfatiza que o metaverso tem caráter real, bem como utilidade real pública e privada, pois se trata de uma ampliação do espaço real do mundo físico dentro de um espaço virtual na internet, oportunizando a experienciação numa rede integrante da “inteligência coletiva”, os quais acabam por consolidar o processo social de aquisição de conhecimento, integrante das metodologias ativas. 

Atualmente, existem diversas obras do gênero narrativas digitais, dentre elas "Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço" de Janet H. Murray. Em seu título, existe a fusão da obra de Shakespeare e o Holodeck, retirado da série Start Trek, na qual os passageiros da nave passam momentos de socialização e recreação em uma sala, que possui projeções computacionais, temporariamente materializados fisicamente, onde é possível simular situações reais. Estamos longe de materializarmos um Holodeck, no entanto este pode ser transposto para o Metaverso e, também, fazer parte das metodologias ativas. 

São inúmeras as possibilidades de materialização e interação, que podem progredir para a aprendizagem efetiva. Basta, no entanto, que haja recursos financeiros disponíveis aplicados no lugar certo: Educação Básica, mas isso é assunto para outro artigo. 

Referências: 

ARAUJO, José Carlos Souza Araujo. Fundamentos da Metodologia de Ensino Ativa (1890-1931) – UNIUBE/UFU 37ª Reunião Nacional da ANPEd – 04 a 08 de outubro de 2015, UFSC – Florianópolis; 
BACKES, L.; SCHLEMMER, E. Metaversos: novos espaços para construção do conhecimento. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 8, n. 24, p. 519-532, maio/ago. 2008. Disponível em: file:///C:/Users/Adriana/Downloads/dialogo-2038%20(3).pdf Acessado em dezembro de 2016; 
BEHRENS, M. A.; JOSÉ E. M. A. Aprendizagem por projetos e os Contratos didáticos. Revista Diálogo Educacional - v. 2 - n.3 - p. 77-96 - jan./jun. 2001; 
JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. Tradução Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph, 2014;
MORAN, José. O que é Educação a Distância? 2012. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/dist.pdf Acessado em maio 2016 
[1] http://www.nealstephenson.com Acessado em maio de 2019.

*ADRIANA SOEIRO

-Graduação em Letras - Português e Inglês pela Universidade Cidade de São Paulo (1989); 
-Graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Guarulhos (1991);
-Mestrado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2012);  e 
-Doutorado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2017). 
-Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação a Distância, tecnologias, linguagens, aprendizagem na era digital, educação em rede e inglês . 
-Atualmente é professora de ensino superior da Faculdade SESI e Gestora e EaD na Universidade Braz Cubas;

Nota do Editor:

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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Território e Soberania

Autor: Ubiratan Machado(*)


O discurso de Jair Bolsonaro proclamando nossa independência em relação às questões que envolvem o meio ambiente desagradou os globalistas, pois sua estrutura de domínio está fundamentada na legislação ambiental imposta ao Brasil nos últimos trinta anos, com a interveniência direta da ONU e seus representantes, que transitam no Congresso Nacional. 

Os ecoterroristas travam o desenvolvimento econômico do país de várias formas. Centenas de obras de saneamento básico e transportes, projetos de agropecuária e indústria, são bloqueados pela ação dos órgãos de controle e fiscalização que agem como soldados dos interesses bilionários escondidos por trás dessas questões falaciosas de defesa da natureza. 

A agressão ao meio ambiente por meio da contaminação por um enorme vazamento de rejeitos tóxicos no município de Barcarena (PA), de responsabilidade da companhia Hydro - a Noruega é a principal acionista dessa empresa que é a maior mineradora da Amazônia - ao se utilizar de uma tubulação clandestina para despejar lixo em um conjunto de nascentes do Rio Muripi, é apenas um exemplo que indica que vários países, que se utilizam de ONGs, já se apoderaram do subsolo amazônico, flora e fauna para obter vantagem econômica direta. 

Por outro lado, mais de 66% do território brasileiro é composto por vegetação nativa, e supera os 90% o total de energia elétrica produzida pelo Brasil por meios que não poluem solo, ar ou água. Segundo o Tribunal de Contas da União, mais de 80% do dinheiro doado pela Alemanha visando ações de proteção da Amazônia, foi direto para ONGs que cuidam de seus próprios interesses. Conclui-se que Noruega e Alemanha, dois dos grandes críticos da política de proteção ambiental do governo brasileiro, têm muito o que aprender com o Brasil. Alguns dos objetivos deles são conhecidos há décadas: biopirataria e exploração de nossos recursos minerais. 

Rússia, China, Cuba e Irã estão por trás da desgraça completa do povo venezuelano, o instrumento utilizado para a conquista integral do poder é devastador, e é conhecido com o nome de socialismo, que acaba degenerando para o sistema de capitalismo de estado. Mas a motivação é a mesma que impulsionam os estrangeiros: trilhões de dólares em riquezas no subsolo, no caso em tela se trata da maior reserva de petróleo do mundo. O mesmo raciocínio se aplica à questão amazônica, é pura cobiça e ambição ilimitadas.

Enfim, esperar honestidade dos europeus, após mais de 500 anos de exploração ilegal de nossas riquezas, é ser cúmplice, ignorante, hipócrita e ingênuo.

* UBIRATAN MACHADO DE OLIVEIRA



- Advogado, engenheiro civil e professor de inglês








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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Gratidão Gera Gratidão


Autora: Águida Barbosa (*)

Gratidão gera gratidão é a máxima que norteia a Igreja Messiânica Mundial – IMM -, pois este pensamento-sentimento constitui a essência humana. 

Mokiti Okada (1.882-1955), cujo nome religioso é Meishu-Sama – Senhor da Luz - fundou a IMM em 01 de janeiro de 1.935, no Japão, visando à construção de uma ultra religião, de natureza universal, capaz de unir todos os povos para a paz mundial. 

Em decorrência da universalidade dos fundamentos da IMM, estes podem ser definidos como uma filosofia e estão insertos nos ensinamentos deixados pelo fundador, dentre os quais o ensinamento O Homem Depende de seu Pensamento[1], no qual exalta o valor da gratidão. 

Um recorte do ensinamento em comento comporta uma extensa reflexão: "É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria [...]". 

Gratidão e lamúria são dois pensamentos-sentimentos antagônicos, que denotam uma atitude positiva ou negativa, perante a vida. 

Gratidão é uma atitude humana alinhada à lei da ordem do universo - DEUS - sem desvios ou atalhos, produzindo seratonina e outros hormônios responsáveis pela sensação de alegria e bem-estar.

A lamúria é uma atitude humana decorrente do desvio da lei da ordem do universo, tendo em vista o padrão vibratório acionado pelo pensamento pessimista, de natureza egoísta. Esta atitude produz os hormônios do estresse – cortisol e adrenalina. 

Tanto a gratidão como a lamúria contagiam, afinal, há um encontro de ondas magnéticas que se entrelaçam, ou se rejeitam. Há um impulso natural em repetir o comportamento do outro, de acordo com a faixa vibratória da pessoa influenciada. 

Portanto, enquanto gratidão gera gratidão, seguramente, pode-se afirmar que lamúria gera lamúria.

A prática da gratidão faz parte de muitas religiões, a exemplo daquelas oriundas do xintoísmo, como a IMM, constituídas de materialização financeira, ou atividades que visam levar conforto a pessoas em sofrimento, como o voluntariado, capelania, assistência religiosa em hospitais, prisões, clínicas, orfanatos e asilos. 

A oração sincera, também constitui prática de gratidão, mesmo à distância, produzindo efeitos imediatos, como frequentes relatos de médicos e enfermeiros, que testemunham melhoras inesperadas em doentes que recebem preces. 

No judaísmo há a tradição do tsedacá, palavra do hebraico que se traduz como integridade, justiça. Enfim, se há alguém que precisa de recursos materiais para viver, para ter a vida salva, reserva-se a décima parte dos ganhos para esta atividade de integrar, completar. 

O dízimo é uma atitude altruísta, símbolo da gratidão por ter trabalho e saúde que garantiram o ganho capaz de prover a família e, ainda, destacar a décima parte para esta ação de completude, de justiça e de desapego. 

Portanto, tsedacá não pode ser traduzido por esmola, pois seu fundamento está no fato de que somos meros depositários dos bens, não somos donos de nada. Trata-se de ato de harmonia, de completude do todo, do integral. 

A festa da colheita, descrita nas estórias antigas, como sagradas, constitui a narrativa da gratidão. Os súditos ofereciam ao rei a primeira colheita, aquela que vem com o esplendor da vida, com a força vital capaz de produzir muitas outras colheitas. E o rei agradecia oferendo do seu vinho a todos os súditos, que tinham a permissão de bebê-lo somente naquela festa. 

A gratidão é um pensamento-sentimento que contém reciprocidade, pois aquele que oferece seu dízimo sente a alegria do alinhamento à lei da ordem, e aquele que recebe a décima parte emite o mesmo sentimento, porque passa a se sentir pertencente ao todo, à completude. 

A IMM, no Brasil, recolhe experiências de fé de seus membros e, em relação à prática da gratidão, há inúmeros relatos de mudanças, demonstrando o pragmatismo possível a ser alcançado. 

Na experiência de fé apresentada no Culto Mensal de Agradecimento de agosto de 2019[2], uma mãe relata a difícil trajetória de cuidar de um filho autista, marcada pela lamúria e a desesperança. 

Merece um recorte a emocionante declaração constante da experiência: "Conforme Meishu-Sama orienta "Gratidão gera Gratidão", quando aprendi a agradecer pela permissão de ser mãe e a entender que a purificação do meu filho não deveria nunca ser maior do que minha fé, tudo mudou".

Um bom exercício para avaliar a prática da gratidão:ao sair de casa observar se consegue receber, ao menos,dez "obrigado".Porém, é preciso ter o sentimento correspondente, conscientemente, afinal, sua atitude lhe permite o alinhamento à lei da ordem, despido de apego, e de modo altruísta, permitindo que o outro desperte sua capacidade de ativar o pensamento-sentimento de gratidão.

E, com certeza, vai constatar que gratidão gera gratidão. 

REFERÊNCIAS

[1] Meishu-Sama. O homem depende de seu pensamento. Alicerce do Paraíso, volume 4, pág. 41, edição revisada.;
[2] www.messianica.org.br

*ÁGUIDA ARRUDA BARBOSA



Teóloga Messiânica
-Professora da Faculdade Messiânica de Teologia








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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O Fornecedor é Obrigado a Trocar um Produto?


Autora: Marcella Daibert(*)

Sábado à tarde estava eu em casa, quando recebo uma ligação: "amiga, desculpa, sei que é sábado, mas estou com um problema urgente: estou na loja, a Maria Clara ganhou uma calça jeans, não coube, vim trocar e a loja não troca. Já briguei aqui, falei que é meu direito, que ia acionar minha advogada e eles não cederam. Daí estou ligando pra você me ajudar."

Já desconfiada do banzé que a "amiga/cliente" estava causando, lamentei por dentro ter que dar a tal triste notícia, mas achei por bem ser curta e rápida: "eles não tem que trocar. Estão certos."

O silêncio tomou conta daquela ligação. Depois de segundos intermináveis sem saber se ela havia desmaiado de raiva, ou a ligação havia sido interrompida, continuei: "alô?"

E ela me respondeu, e pelo tom de voz imaginei a cara que fazia naquele momento, no balcão da loja: "como assim? Não tem que trocar? Mas a roupa não cabe! Mas ela ganhou! Mas o que eu vou fazer com a calça?".

É aqui que recebo a "deixa"  e lhes digo que  o ensinar sobre direito do Consumidor deveria ser introduzido nos bancos escolares, bem como a matemática, o português, e o direito constitucional.

Não dá pra somente usar o bom senso nas questões legais.

Muitas vezes, acreditamos verdadeiramente que algo é de uma maneira e somos surpreendidos pela letra da lei, oposta aos nossos "achismos".

A calça não estava com defeito. Ela somente não cabia. E o fato de não caber, não é defeito.

Acontece que a lei do consumidor diz que a empresa só é obrigada a efetivar a troca de um produto, quando ele é defeituoso, e, ASSIM MESMO, somente depois de não ter tido sucesso no reparo.

Assim, se o consumidor entrou na loja, teve a oportunidade de escolher, experimentar, e decidiu por comprar, deverá saber que contratou com a loja em retirar aquele produto de circulação, deixando que outras pessoas o comprem. Sendo assim, ele não pode simplesmente devolvê-lo, ou substituí-lo sem razão.

Acontece que na empolgação o consumidor sequer pergunta claramente as regras deste contrato: posso trocar? Por qual motivo? Em quanto tempo? 

É pra presente? Deixe claro com a empresa se há possibilidade de troca por insatisfação do presenteado.

Algumas lojas permitem a troca, em limitado prazo, por qualquer razão. Outras, permitem a troca, mas não a devolução do produto e retomada dos valores pagos. Já algumas, só trocam mercadorias que não estão em promoção. E por aí vai. A regra é da empresa, e não da lei.

Pela lei, troca só por defeito, depois de ter tentado o conserto e ponto final.

Como toda regra tem sua exceção, apague tudo que digitei até agora, se tratarmos de compras FORA DOS AMBIENTES FÍSICOS de comércio. 

Se a compra foi feita por telefone, internet, vendedor ambulante, ou qualquer outro meio que não loja física, tudo dito acima não vale: neste caso – e somente neste caso - você pode trocar o produto sem qualquer justificativa ou até mesmo devolver o produto que comprou recebendo o dinheiro de volta. 

Fique somente atento para o prazo: SETE dias depois de receber o produto, sem choro nem vela. E para não sair desta situação no prejuízo, mande e-mail para a empresa, anote protocolos, datas, orientações, e remeta o produto de volta de preferência pelo mesmo modo que foi remetido à você, ou pelos Correios mesmo. Guarde o comprovante. Se proteja, desta vez, apoiado pela Lei do Consumidor. 

*MARCELLA DAIBERT


-Advogada graduada pela Fundação André Arcoverde -Valença - RJ - 2004;
-Responsável pela abertura de 3 Procons em cidades do RJ; e
-Atuante em diversas áreas do direito com ênfase na de Direito do Consumidor












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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Justiça, Valor e Obscurantismo


Autora: Mônica Ventura(*)

"E vós que desejais compreender a justiça, como a compreendereis sem examinar todas as ações na plenitude da luz?
Somente então sabereis que o ereto e o caído são um mesmo homem, vagueando no crepúsculo entre a noite de seu Eu-pigmeu e o dia de seu Eu-divino,
E que a pedra angular do templo não supera a pedra mais baixa de suas fundações."
                                                                                                                              Gibran Khalil Gibran

Valor, na significância rigorosa do termo, filosoficamente, é o caráter daquilo que, seja de modo relativo ou absoluto, é desejado, tido e havido como objeto de estima ou de desejo. Se se trata do valor de uma criatura humana e não de um valor venal, mobiliário ou qualquer outro, o valor é a qualidade de quem tem audácia, coragem, valentia, vigor. Umas tantas vezes, esse valor da criatura é confundido com arrebatamento, arrojo de improviso e até mesmo com a intrepidez. Outras tantas vezes, pessoas insensatas ou temerárias, arrivistas, inescrupulosas e anarquistas, são tidas como valorosas, porém, mais não são do que irresponsáveis vítimas de desmandos mentais.
 
Sem qualquer demérito para quem quer que seja, encontram-se nos anais da historiografia mundial, homens e mulheres que, por exemplo, salvaram vidas em circunstâncias difíceis e especiais e que, talvez, não hajam refletido antes de tomar a decisão que culminou por notabilizá-las.
 
Da mesma forma, outros, heróis de façanhas guerreiras, podem ter agido impulsionados pelas alucinações da ira, do ódio ou da ferocidade interior que lhes consumia porque eram incapazes de vivenciar uma experiência pacífica longe das pelejas e das brigas nas labutas e fainas cotidianas.
 
São vários os fatores decorrentes da emotividade estimulada que podem conduzir a criatura a uma situação arrojada ou, ao inverso, a uma situação de fuga porque o valor de uma pessoa não se revela apenas num momento crítico, numa situação opcional ou no instante de um gesto audaz. O valor é sim, um estado de ânimo brioso, altivo, garboso que se prolonga, paulatinamente a cada experiência vivida, com a firmeza no ideal do bem, a despeito das dificuldades que se opõem para serem vencidas, assim como, dos óbices a transpor.
 
Portanto, o valor é uma disposição íntima, conscientemente adotada pela criatura para o sacrifício enquanto, renúncia, abnegação, desprendimento de si mesma e do apego aos bens materiais. Esse sacrifício é o "ofício sagrado" de se fazer algo sagrado. É a coragem de vencer a si mesmo antes de pretender vencer a outrem. É a audácia de desculpar antes de esperar as desculpas alheias. É a força de conviver entre ideias e ideais opostos e, apesar dos desaires e desencantos, manter-se íntegro, legítimo homem de valor.

Esse legítimo homem ou mulher de valor, sabe atuar mediante a firmeza nos atos de austeridade moral em quaisquer lugares ou circunstâncias onde, no convívio, são arregimentadas e exteriorizadas paixões. Paixões essas, familiares, sociais, religiosas, políticas e ideológicas, em cujas esferas se cruzam interesses nem sempre elevados, porém, o homem de valor, sabe manter a disciplina e a continência, a fraternidade e a serenidade, sem se deixar contaminar pelos melindres, pelas tricas e futricas mui comuns nas relações sociais e que nada mais fazem do que perturbar o ambiente gerando infelizes processos de desgastes de forças e energias nas criaturas como nas instituições onde atuem com a desagregação do trabalho a realizar em prol da coletividade.
 
Reflexionando nas palavras do sábio Poeta do Oriente, anotadas em epígrafe neste artigo, quando ensina que para compreender a justiça é preciso examinar todas as ações na plenitude da luz, após avaliar a disposição de ânimo para encontrar o legítimo homem de valor, é mister avaliar também o obscurantismo na índole das criaturas.

O obscurantismo é a condição daquele que vive na escuridão, na ausência de conhecimento, portanto, na ignorância. Ou por outra via, seja de boa ou má-fé, pode ser caracterizado também pela reprovação ou oposição ao esclarecimento da maioria das pessoas que mantêm entre si, certa coesão de caráter social, cultural, político, religioso, econômico. Por fim, nota-se o obscurantismo, cotidianamente, naquelas situações políticas, enquanto habilidade no trato das relações humanas, de se fazer alguma coisa, utilizando-se de meios com o fito de impedir o esclarecimento da massa por considerá-lo um "perigo" para a sociedade.

Nesse quesito, o obscurantismo é uma tentação ao mal porque envenena facilmente, dilui os sentimentos e anestesia os deveres, dilacerando a responsabilidade, deixando inermes os valores morais que exornam o caráter da criatura.

A ignorância ou obscurantismo, tanto pode estar presente na ira e conviver no ódio vingativo dos sentimentos como pode também estar presente no ciúme e se alimentar na vingança. Pode viger na ambição de qualquer porte e respirar no clima da usura. É uma tentação que agride outrem na traição e sempre ressurge na hipocrisia. Entretanto, não é fácil identificar sem se observar os aspectos negativos nas situações porque ela, a "escuridão", surge mais cruel e poderosa quando se apresenta disfarçada na mentira falaciosa ou no suborno da ilusão. Vem no tempero amargo da censura, ou, com habilidade no açodar dos instintos, envolvendo outros na bajulação.
Infortunadamente, não é menor o obscurantismo nos veios políticos, na posição ideológica, no proselitismo partidário e nem mesmo, nos veios da justiça quando, por exemplo, nada obstante, tendo sido eliminado o nepotismo na magistratura pelo CNJ – Conselho Nacional de Justiça, vê-se nos dias presentes, a criação da figura nefasta do nepotismo processual, quando a Corte Suprema da Nação, despende recursos financeiros e humanos para "abrir inquéritos" para apurar denúncias contra parentes de seus próprios ministros, utilizando-se de um auto-poder de polícia investigativa que, absolutamente, não lhe compete.
Vale lembrar que o regimento do STF concede sim, ao seu presidente, cargo aliás, diga-se de passagem, temporário e não vitalício, o direito de defender o Tribunal contra "infrações à Lei Penal ocorridas na sede ou dependências da Corte". Trata-se assim, de um poder de polícia majorado por um limite físico, ou seja, ocorrência na sede ou dependência física da instituição o que, por si só, caracteriza limitação ao poder absoluto de quem exerce o cargo.
Ao contrário do que deveria ser, houve por equívoco de interpretação ou por obscurantismo, um viés tortuoso pelo qual a limitação ao auto-poder absoluto foi confundida com ilimitado poder jurisdicional. Assim, em decisão comprometedora da segurança jurídica, foi alongada a sede da Corte na extensão territorial do País e a Nação foi subjugada a ser uma "dependência" da Suprema corte com aquele malfadado nepotismo processual.
Que fazer, além de rezar, quando a sociedade se sente subjugada a um poder supremo no País que, tendo o dever de respeitar, cumprir e fazer cumprir a Constituição, Carta Magna da Nação, a viola sem pudores?
A mais alta instância do poder judiciário brasileiro, o STF, acumula competências de Tribunal de última instância e Tribunal Constitucional. Os cidadãos brasileiros desejam se orgulhar da Suprema Corte da Nação, mas, como?! Se a Corte tem sido permeada por decisões que além de julgar o que lhe compete, também se arvora no poder de investigar, de legislar, de "mandar abastecer navios", de atuar como se poder executivo fosse, quando impede a extinção de "Conselhos" que somente lutam por posição ideológica em detrimento da Nação, quando impede o legítimo poder executivo eleito democraticamente pelo voto popular de enxugar as engrenagens do Estado, de extinguir cargos comissionados e nomeações, de realocar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras no Ministério que aprouver ao Governo, enfim, tudo isso, num verdadeiro golpe de estado perante os olhos estarrecidos dos cidadãos e, quem deve e pode tomar providências não o faz porque, quiçá, esteja também comprometido?!
"Investigar o STF é proibido pelo STF. Assim decidiu o STF". Mas, não se trata de criticar a Instituição Suprema Corte, que deve ser preservada a qualquer custo, dizem alguns. Sim, a crítica é ao comportamento individual de alguns membros que compõem o quadro atual da Instituição. Afinal, quem são os beneficiados com a "usina de mordomias" da Itaipu Binacional com patrocínio oculto a passeios ao velho Continente?!
Não será necessário enumerarmos ainda outros tantos vieses como o da “imparcialidade do devido processo legal”, ou da "insegurança jurídica" causada por determinadas decisões, ou ainda do descumprimento e da politização dos prazos processuais que ferem o Regimento interno da própria Instituição, ou das decisões monocráticas e da ministrocracia e do ativismo judicial, porque, como bem anotou Gibran Khalil Gibran, para compreender a justiça, ao examinar todas as ações na plenitude da luz, nos depararemos com os homens, e então saberemos que "o ereto e o caído, são a mesma criatura, vagueando no crepúsculo entre a noite de seu Eu-pigmeu e o dia de seu Eu-divino".
Que fazer?! – Persiste a inquirição, enquanto o obscurantismo está a desserviço da justiça em oposição ao valor que se quer a serviço da mesma justiça.
Então, finalmente se compreende que é preciso trazer o Cristo redivivo de há dois mil anos – "Vigiai e orai para não cairdes em tentação" – Evangelho Segundo são Marcos: 14-38.
É necessário "vigiar" as entradas do coração e permanecer no posto da prece, pois, somente a vigilância disciplinada e persistente será o antídoto valoroso e incorruptível da qual ninguém, supremos ou criaturas comuns, poderá prescindir para objetivar e alcançar êxito seja, nos relevantes empreendimentos da Justiça e ou nos trabalhos do BEM.
Quando a criatura compreender, como exalta o Profeta do Oriente, que "a pedra angular do templo não supera a pedra mais baixa de suas fundações", estará também, pronto para perceber que a Nação como as suas Instituições, serão o que delas fizerem os homens. 
Assim, que cada criatura, faça luz na escuridão da ignorância para, em examinando as próprias fragilidades, não permitir que a presunção lhe crie quimeras que impeçam que o legítimo homem de valor, eleve a razão à altura da paixão, para que ambas, razão e paixão, caminhem a par e passo, permitindo-o renascer a cada dia, tal qual a fênix, das próprias cinzas. 
Referências Bibliográficas - Obras e Livros consultados:
Evangelho Segundo São Marcos;
O Profeta – Gibran Khalil Gibran – Tradução de Mansour Challita – 1974;
Obras da Literatura Espírita / Allan Kardec/ Chico Xavier / Diversos Espíritos;
Elucidações Psicológicas À Luz do Espiritismo – Joanna de Ângelis/ Divaldo P. Franco. – Organização: Geraldo Campetti Sobrinho e Paulo Ricardo A. Pedrosa – LEAL/3ª Edição - 2018;
Memórias do Cárcere – Graciliano Ramos – José Olympio Editora – 1ª Edição- 1953;
Um Pilar de Ferro – Taylor Caldwell – Editora Record – 2008.
Direito e Justiça – Ana Elizabeth Neirão Reymão e Karla Azevedo Cebolão – Editora Lumen Juris – 1ª Edição – 2018; e
Justiça – O Que é Fazer a Coisa Certa – Michel J. Sandel – Ed. Civilização Brasileira – Tradução de Heloísa Matias e Maria Alice Máximo – Copyright 2009.
*MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO


- Advogada. Especialidades:
- Direito de Família e Sucessões,
- Direito Internacional Público,
- Direito Administrativo;
- Lato Sensu em Linguística e Letras Neolatinas;
- Degree in English by Edwards Language School – London - Accredited by the British Council, a member of English UK and a Centre for Cambridge Examinations;
- Escreve artigos sobre Direito; Política; Sociologia; Cidadania; Educação e Psicologia.






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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A Luta pelo Poder e seus Reflexos na Economia Nacional



Autor: Flávio Santos(*)

Estamos vivenciando um período de intensa luta pelo poder onde, de um lado, encontra-se o Poder Executivo e, de outro, uma "aliança" dos poderes Legislativo e Judiciário. O resultado deste "confronto", hoje aberto, tem causado entraves de toda a ordem aos projetos intentados pelo Executivo, no sentido de implementar a sua plataforma que, de resto, foi a vencedora do último pleito nacional e, portanto, expressa a vontade soberana da maioria do eleitorado brasileiro, vale dizer: tem a chancela do "poder originário". 

Na órbita do poder legislativo, a expressiva renovação das casas não foi suficiente para neutralizar as forças que impedem as mudanças propostas na campanha e aprovadas pelo eleitorado. A condução das duas casas legislativas representa o extrato do "ancien régime" que teima impedir ou desfigurar as mudanças propostas pelo executivo visando a mantença do modelo vencido, que nada mais são do que o programa apresentado ao eleitorado durante a campanha eleitoral. A base de sustentação dos entraves situa-se no chamado "centrão" e nos oportunistas ditos da esquerda que tão somente apostam no caos, eis que não sobrevivem sem ele. 

Os interesses nada republicanos dos grupos que comandam as duas principais casas legislativas e os privilégios mantidos pelas corporações que contribuíram, decisivamente, para a "desidratação" da proposta de reforma da previdência aprovada pela Câmara recentemente, representa um quadro real do esforço deste poder que está a engessar a ação do executivo no sentido de implementar sua proposta original de mudança do país. 

Já o poder judiciário (leia-se Tribunais Superiores) atuam como disseminadores da insegurança jurídica que hoje já permeia, inclusive, as instâncias inferiores de primeiro e segundo graus, implementando a relativização da lei, cuja interpretação é feita com objetivos factuais e ao bel sabor das conveniências do momento a exemplo do "modelo bolivariano" que desgraçou a Venezuela. A atuação do STF, outrora baluarte da nação, que deveria ser o "guardião constitucional” opera visivelmente subvertendo a ordem jurídica com decisões que suprimem instâncias legais, em autêntico movimento ditatorial, como demonstra a última decisão de mantença do "status quo" no cumprimento da pena do condenado de Curitiba, em flagrante "atropelamento" ao TRF4 e STJ, com a conivência da PGR. 

O poder judiciário que tradicionalmente sempre foi o garantidor da estabilidade jurídica, da garantia da ordem institucional e promotor da pacificação social, tornou-se, ele mesmo, um fator de insegurança jurídica ao ferir a ordem legal com ações de legislador e, pasmem, de investigador como os recentes "inquéritos" onde o STF atua como investigador, acusador e julgador! 

A raiz da atuação dos poderes legislativo e judiciário está fundada, sem sombra de dúvidas, no receituário gramsciano que sustentou o aparelhamento do Estado no último quarto de século. Entre outras "ações", o ideário gramsciano adotado pregava a "desmoralização das instituições" como etapa ´preparatória para a tomada definitiva do poder. 

Ora, a atuação orquestrada dos poderes legislativo e judiciário, amparados por algumas "entidades" do tipo OAB, ABI e a chamada "grande mídia" estão implementando, de forma absolutamente clara, a completa desmoralização das instituições. Não é sem motivos que a popularidade e o respeito ao STF, Câmara e Senado, apenas para citar os principais, encontra-se nos piores níveis históricos. 

Todo este quadro resulta em insegurança jurídica e institucional que representa o que de pior existe para o capital de investimento. Os atores do lado da oferta não se movimentam no sentido de empreender onde não exista níveis aceitáveis de confiança, aliás base da vida em sociedade. Com fundamento na confiança as relações sociais se tornam sólidas, a economia cresce e as nações se desenvolvem. 

O empreendedor necessita poder antecipar as consequências de suas ações, sentir-se seguro dos resultados buscados e vislumbrar um ambiente de previsibilidade, o que não acontece na conjuntura atual. 

Em face disso, a sensação existente é de que as instituições não estão funcionando republicanamente o que inibe, irremediavelmente, o investimento e o consequente crescimento econômico. 

*FLÁVIO JOSÉ CARPES SANTOS



-Economista e Professor Universitário;
- Graduação em Economia, Mestrado em Desenvolvimento Econômico e Doutorado em Economia Social;
- Economista da Carpes dos Santos Assessores Econômicos e Gestão de Crise.






Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

domingo, 18 de agosto de 2019

Umas Pinceladas sobre a Mentira

Autor: Luis Lago(*)




A mentira faz parte da vida.Mas, de uns tempos para cá, ela explodiu!! Dados mostram que as pessoas estão mentindo cada vez mais. Ela é um comportamento ancestral que atualmente tem se notabilizado até  em nossos governantes. 

A mentira nasceu junto com a sociedade. O ser humano começou a mentir assim que se juntou em grupos, e nunca mais parou. Uma experiência da Universidade de Massachusetts mostrou que, quando duas pessoas se conhecem, cada uma conta em média três mentiras – nos primeiros dez minutos de conversa. E pessoas que compartilham a vida toda (cônjuges, parentes, amigos) também mentem entre si, às vezes de forma terrível.

Todo mundo mente. Tem gente que mente para levar vantagem, conseguir o que quer. Alguns mentem para não contrariar ou magoar outras pessoas. Tem quem minta para parecer mais legal e ser aceito socialmente. Existem infinitas maneiras de mentir, e elas nos acompanham o tempo todo. Sempre foi assim. A novidade é que está piorando, e muito. Nunca se mentiu tanto. Estudos controlados por pesquisadores comportamentais, na Universidade de Havard, indicam que as pessoas passaram a mentir de três a cinco vezes mais na última década. 

A mentira nunca foi tão corriqueira e tolerada, e por isso ganhou um poder avassalador – hoje tem papel determinante na economia, na política, na imprensa, na propaganda, no consumo, nas relações humanas. Se você acha que o mundo está mentindo para você, está certo. O que você nem imagina é quanto.

"ATÉ TU, BRUTUS?"

Nós não somos os únicos a tentar enganar os outros. O besouro se finge de morto para despistar os predadores, os macacos enganam uns aos outros para conseguir mais comida. 

Até os robôs mentem – como mostrou, em 2009, um estudo da Universidade de Lausanne (Suíça). Os cientistas criaram mil robozinhos, programados para procurar "comida" (representada por um sinal eletromagnético) num labirinto. A comida era insuficiente para todos os robôs. Mas, quando um encontrava alimento, deveria automaticamente avisar os outros, acendendo uma luz. A cada rodada, os robozinhos eram reprogramados – e o software dos vencedores, que tinham achado a comida mais rápido, era instalado em alguns dos outros. É como se os líderes estivessem tendo filhos, e espalhando seus genes. Seleção natural – só que artificial.

Depois de nove gerações, a maioria dos robozinhos estava craque em encontrar comida. Mas aí alguns deles descobriram, sozinhos, que não precisavam avisar os outros. Podiam guardar tudo para si. Esse comportamento foi se espalhando – e, depois de 500 gerações, 60% dos indivíduos tinham aprendido a mentir. "Os robôs estavam competindo por comida, e por isso evoluíram para esconder a informação [dos outros]", concluíram os autores do estudo.
Aprender a mentir parece ser uma consequência natural, e inevitável, da luta pela sobrevivência.

AS REDES SOCIAIS ― ONDE NADA É O QUE É


Uma febre patológica de mais do que 50 graus ― que nenhum estudo do médico-psicológico é capaz de classificar ― acometem um número imaginável de pessoas para as quais (notoriamente os Presidentes TRUMP e BOLSONARO) é refresco ingerido em suas masturbações doidivanas. 

Quando se comunicam via mensagens de texto, as pessoas mentem três vezes mais, em média, do que falando cara a cara. Usando e-mail, cinco vezes mais. 

Além da distância física entre as pessoas, a tecnologia proporciona uma distância psicológica, que torna mais fácil mentir.  Foi o que concluíram os psicólogos Drs. Robert Feldman e Mattityahu Zimbler, da Universidade de Massachusetts Amherst, num estudo, controlado, com 110 pares de estudantes. Em seguida, os cientistas revisaram as conversas e entrevistaram novamente cada voluntário, para detectar as inverdades. E o festival de mentiras virtuais veio à tona. "Quando você está online, fica menos contido. Os seus sinais faciais e comportamentos verbais não podem te delatar – e por isso é mais fácil ser enganoso", explica o Dr. Feldman.  “As pessoas preferem enviar mensagens em vez de falar porque assim elas se escondem das outras, mesmo estando conectadas o tempo todo".
A velocidade da internet também é uma grande aliada na propagação de mentiras. (Que o digam os falastrões presidentes citados anteriormente).

Um estudo da Universidade Columbia analisou 100 boatos e informações falsas que se propagaram pela rede entre agosto e dezembro de 2014 – e 1.500 reportagens, posts e artigos que foram escritos a respeito delas. 

Concluiu esse estudo que notícias falsas tendem a se espalhar mais rápido e com mais força do que as verdadeiras, e recebem dez vezes mais cliques do que eventuais desmentidos: porque a mentira, quase sempre, é mais espetacular (e, portanto, mais chamativa) do que a verdade.

Continua o estudo que  mecanismo de propagação da mentira  costuma ser sempre o mesmo. Primeiro alguém posta um boato numa rede social. Sites então replicam a "notícia", incentivando os leitores a compartilhar e curtir. Alguns endossam a informação, enquanto outros lavam as mãos usando termos como "supostamente" ou títulos na forma de pergunta ("Uma mulher implantou um terceiro seio?"). "Essa falta de verificação torna os sites de notícia alvos fáceis para o embuste", diz o jornalista Craig Silverman, autor do estudo. E, com eles, os leitores. 

Quando você está online, está sempre sujeito a mentiras – tanto as que os seus amigos e conhecidos praticam, quanto aquelas escritas em sites e blogs. E vivendo desse jeito, com pequenas mentiras entranhadas no dia a dia, abre-se espaço para mentiras cada vez maiores.

O fato é que a mentira continuará conosco para sempre. E é inevitável que, daqui a alguns minutos, horas ou dias, você conte a sua próxima. Resta tentar usá-la para o bem. Como dizia o poeta Noel Rosa: "Saber mentir é prova de nobreza / Mentira não é crime / É um bem sublime que se diz / para fazer alguém feliz".

*LUIS LAGO

-Psicólogo graduado pela Universidade Santo Amaro(1981);
- Especialização  em Terapia Comportamental; e 
- Atuação clínica por 15 anos. 
-Atualmente é Jornalista e  Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")



Nota do Editor:

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