sábado, 3 de novembro de 2018

Reflexões a partir do Conceito de Indústria 4.0 para Educadores






O advento das tecnologias tem transformado velozmente o cotidiano. Os processos deste advento podem ser considerados como indústria 4.0 ou ainda, como é chamada, a 4ª revolução industrial. Mas, de onde vem este termo?

A wikipédia registra que o termo "Indústria 4.0" teve origem em um projeto estratégico de alta tecnologia do Governo Alemão que promove a informatização da manufatura. A primeira revolução industrial mobilizou a mecanização da produção usando água e energia a vapor. A segunda revolução industrial, então, introduziu a produção em massa com a ajuda da energia elétrica. Em seguida veio a revolução digital e o uso de aparelhos e dispositivos eletrônicos, bem como a Tecnologia da Informação para automatizar ainda mais a produção.

Júnior e Saltorato (2018), ancorados em Klaus Schwab (2016, p. 1), afirmam que "trata-se da Indústria 4.0: um novo modelo de produção em que máquinas, ferramentas e processos estarão conectados à internet através de sistemas ciber-físicos, interagindo entre si e com a capacidade de operar, tomar decisões e se corrigir de forma praticamente autônoma." Consideram que há uma revolução que modifica o ser e estar do ser humano.

O documento intitulado "Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros" descreve a indústria 4.0 como: " quarta revolução industrial, que terá um impacto mais profundo e exponencial, se caracteriza, por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico". Esta agenda regista ainda que as principais tecnologias que permitem a fusão dos mundos físico, digital e biológico são a Manufatura Aditiva - 3D, a Inteligência Artificial - IA, a Internet das Coisas - IoT, a Biologia Sintética – SynBios e os Sistemas Ciber Físicos – CPS. 

Vamos compreender melhor alguns conceitos apresentados acima. Consideremos a manufatura aditiva como possibilidade de produzir peças em 3D, atualmente utilizada pelos setores automotivo e aeroespacial. E, como falamos sobre revolução, mudança, metamorfose, o que implica em avanço de estudo e pesquisa, a impressão 3D já conquistou a biomecânica com foco em próteses, órteses e até órgãos humanos. 

Recordo-me quando a primeira impressora 3D chegou no meu local de trabalho, há uns 5 anos. Fui a premiada da turma, a primeira peça produzida foi o símbolo do curso de Pedagogia – uma coruja. Mas, não uma coruja qualquer, os detalhes são perfeitos; amo o mimo ofertado pelos amigos inovadores. 

Atrevo-me a registrar que falta muito pouco para que as impressoras 3D estejam presentes em nossas residências. Sem exageros, os computadores pareciam algo muito distantes de nós, hoje, início do século XXI, melhor explicitando, final de outubro de 2018, temo-os, também, bem pequenos, com mobilidade. Creio que a impressora 3D pode nos ajudar na produção de peças para a solução de tarefas/desafios diários.

Vamos ao segundo termo da fusão das tecnologias – inteligência artificial - IA. Esta é uma forma, utilizada por profissionais da Ciência da Computação, de construir mecanismos que simulem a capacidade do ser humano de pensar, resolver problemas, ou seja, de ser inteligente. Isso não é nada assustador, pelo contrário, nos ajuda e muito no dia-a-dia. 

Na internet encontramos vários sites que apresentam o uso da IA, cito, por exemplo, o site transformação digital - verifiquem o endereço do site, está nas referências deste texto. A Transformação Digital apresenta 4 formas da IA no cotidiano: smartphone, TV, e-mail e indústria. Apresenta ainda a junção da IA com a impressora 3D. Outro site que trata do assunto de forma clara e ampliada é o ITFORM365. Ancorados na ideia de Bento Ribeiro, sócio-fundador da Tevec (não conheço, mas recomendo a leitura), empresa que utiliza inteligência artificial para previsão de comportamento de demanda de produtos, lista exemplos do uso da ferramenta no cotidiano. Há muito mais do que isso.

A internet das coisas consiste na integração do mundo real com o mundo digital. Segundo consta na internet, e esta informação foi copiada do significado.com - em 1999, Kevin Ashton foi o primeiro a utilizar a expressão “internet das coisas” para se referir ao uso de tecnologias que pudessem interconectar diversos aparelhos e objetos diferentes, ajudando a facilitar e organizar a vida das pessoas. Uma das formas de compreender a IoT – em inglês = Internet of Things - é assistir à série Black Mirror do Netflix; a série recebeu uma chuva de críticas, o que não é o nosso objetivo no momento. Chamo a atenção pelo fato da série apresentar como somos vigiados/cuidados/analisados a cada serviço/atividade/postagem realizada por meio da internet. Há sensores e haverão muitos outros para monitorar e identificar os atos do ser humano, proporcionando identificação de gostos, manias, preferências e dissabores, para além de mercado, oferta de produtos.

Segundo a “Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros” a biologia sintética - SynBios - é a convergência de novos desenvolvimentos tecnológicos nas áreas de química, biologia, ciência da computação e engenharia, permitindo o projeto e construção de novas partes biológicas, tais como: enzimas, células, circuitos genéticos e redesenho de sistemas biológicos existentes.

Sistemas Ciber-Físicos - CPS - sintetizam a fusão entre o mundo físico e digital. Dentro desse conceito, todo o objeto físico (seja uma máquina ou uma linha de produção) e os processos físicos que ocorrem, em função desse objeto, são digitalizados. Ou seja, todos os objetos e processos na fábrica tem um irmão gêmeo digital. (AGENDA BRASILEIRA PARA A INDÚSTRIA 4.0).

A 4ª revolução industrial, ou a indústria 4.0 afligi, também, o processo de educação, é preciso tencionar a sociedade que construímos a partir do ato de educar mediante desta revolução. 

Considerando o conceito do ato de educar pelo Constituição Federal Brasileira (1988), temos que somos todos educadores. Há que considerar ainda que o ato de educar é ambíguo, pode-se educar para a dignidade humana ou não. Educar deve ser entendido como ato de intervenção no mundo (FREIRE, 2005). Este exercício exige de nós, meros humanos, um exercício ético que proporcione a continuidade da dignidade da vida humana.

Imersos em uma sociedade do descaso com a vida; do descuido com os seres humanos, com os diferentes espaços do planeta Terra, e com o advento da indústria 4.0, precisamos refletir sobre o para quê desta 4ª revolução industrial.

Esta reflexão carece estar pauta na perspectiva de que educar é um projeto de vida, de seres humanos que convivem, também, com as coisas. As coisas não podem ser mais importantes, elas devem ajudar/facilitar as diferentes formas de conviver da pessoa.

Entretanto, resta-nos verificar o perfil da pessoa humana que está a refletir sobre o ser e as coisas. Cardoso (1995, p.27) registrou sobre as contribuições do racionalismo cartesiano para o perfil do homem; preferimos dizer ser humano e pessoa humana: "o homem atual separou razão e sentimento, ciência e ética, utilidade e felicidade". Será que com a identidade puída daremos conta de manter a convivência pela óptica da ética do humano?

Alguns estudiosos propõem rever o estar humano; destaco para esta provocação as ideias de Espírito Santo (2002), Guerreiro (2009), Santos Neto (2006), que oferecem questões para um "re-rever", "re-pensar" a educação e espiritualidade, o sagrado e a religiosidade. Os textos desses estudiosos explicitam que podemos resgatar a nossa identidade de Ser Humano a partir do processo de reflexão. Isto posto, o processo de reflexão abarca os fatores que constituem a identidade do ser junto ao advento da indústria 4.0, considera que deve ser uma intersecção. 

O processo de reflexão, pela vertente que hora se apresenta, agrega o ser e o outro ser propondo atitude e cuidado. Para Boff (2008, p34), cuidado compreende-se como uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo como o outro. Ainda em Boff, mesma obra, encontramos que o cuidado é a raiz primeira do ser humano e que se o negarmos podemos prejudicar a nós e ao outro ser humano.

Então, o "compromisso ético do educador" nos leva a refletir sobre: ética, espiritualidade e educação, sobre o comprometimento ético do educador em uma cultura desvalorizada pela lógica do desejo (SANDRINI, 2007).

Os avanços da indústria 4.0 poderão, digo, estão auxiliando na melhoria da qualidade de vida do ser humano, e podem contribuir muito mais, desde que não se perca a identidade e ética humana, caso contrário...


Referências

BRASIL. Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros. Disponível em: < http://www.industria40.gov.br > Acesso em: 15 ago.2018;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Automonia – saberes necessários à prática educativa. 31ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2005;

SANDRINI, Marcos. Para sempre! O Compromisso Ético do Educador.Petropolis, RJ: Vozes, 2007;

SANTOS NETO, Elydio. O encontro Educador – Educando – tensões, angústias...e fundamentos para possíveis resposta.IN: ALMEIDA, Jane Soares de (org.). Educação e Prática docente - as interfaces do saber. Franca: Unifram, 2005.p.54-66;

https://www.significados.com.br/internet-das-coisas/

https://transformacaodigital.com/4-aplicacoes-da-inteligencia-artificial-em-nosso-dia-dia/

https://www.itforum365.com.br/tecnologia/11-formas-como-a-inteligencia-artificial-ja-faz-parte-do-cotidiano/

POR MARIA CRISTINA MARCELINO BENTO



- Graduada em Pedagogia; 
- Mestre em Educação pela UMESP-SBC; 
- Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital 
- Atuou na Educação Básica por 22 anos
Atualmente é:
- Professora titular da FATEA nos cursos de graduação e pós-graduação;
-Professora Coordenadora do Curso de Pedagogia da Fatea; e
- Professora Coordenadora de Área do Subprojeto PIBID - Pedagogia-FATEA-SP (2012/2013 - 2014/2017).

Nota do Editor:

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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A Educação Agoniza na UTI de um Hospital em Obras!








Educai as crianças, para que não 
seja necessário punir os adultos. 



Quem vaticinou anos atrás que o Brasil seria o "País do futuro", de tanto esperar em vão deve ter cometido suicídio. Principalmente ao notar que em pleno Século XXI o nosso país está muito distante da realização de sua profecia. 

O futuro do Brasil está pendurado nas mãos nem sempre hábeis de políticos e partidos perversos, corruptos e sem alma, deixando seu maior patrimônio que é a sua gente sem qualquer cuidado e zelo. 

Neste sentido nota-se que a educação e os educadores, cientistas, pesquisadores ficam em terceiro plano, jogados às traças sem qualquer reconhecimento, investimento e cuidado, mesmo sendo parte das mais importantes de uma Nação.

Não é difícil apurarmos o quão distante estamos do futuro em relação aos demais países do nosso planeta. O último apontamento do Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF em 2018 apontou que três em cada dez brasileiros com idade entre 15 a 64 anos no País – 29% do total, o equivalente a cerca de 38 milhões de pessoas – são considerados analfabetos funcionais. 

Esse grupo tem muita dificuldade de entender e se expressar por meio de letras e números em situações cotidianas, como fazer contas de uma pequena compra ou identificar as principais informações em um cartaz de vacinação. Há dez anos, a taxa de brasileiros nessa situação está estagnada, como mostram os dados do Indicador do Alfabetismo Funcional - INAF 2018. 

Se considerarmos que temos 8% da população completamente analfabeta, teremos um quadro assustador onde quase cinquenta milhões de brasileiros não sabem ler e escrever ou são analfabetos funcionais. 

O indicador tem como objetivo medir o quanto o brasileiro consegue entender e se fazer entendido em uma sociedade letrada. Infelizmente, estamos estagnados há muitos anos em patamar muito preocupante, diz Ana Lucia Lima, coordenadora do INAF. 

Com estes dados atuais e sem que tenhamos qualquer movimento por parte do governo federal e dos futuros candidatos à presidência em outubro próximo, como esperar uma revolução na educação e um futuro digno para nossa Nação? 

Estamos caminhando celeremente para sermos o "País do Passado", pois já tivemos educação de boa qualidade no ensino público, já tivemos bons professores bem remunerados e motivados, e agora vivemos uma época de incertezas rondando a educação pública nacional. 

Não podemos perder a esperança, porém, caberá à sociedade mudar este estado de coisas que afetam e comprometem o futuro do nosso sistema educacional. Não podemos aceitar que alunos saiam do ciclo inicial sem a menor condição de progredir na sua vida escolar nem tampouco de integrar o mercado profissional que é cada dia mais exigente. 

Esse quadro não pode simplesmente ser atribuído ao fato econômico de sermos uma Nação subdesenvolvida, pois países recém-saídos de uma guerra tiveram desempenhos muito maiores que os nossos, como a Coréia do Sul, por exemplo. É preciso um esforço gigantesco para que possamos enfim começar a caminhar na direção certa no que tange ao alcance de resultados satisfatórios no âmbito da educação.

POR RAFAEL MOIA FILHO










- Administrador de Empresas;
-Especialista em Recursos Humanos;
-Escritor das seguintes obras:
 - "O tempo na Varanda"–  2012;
 - "O Humor no Trabalho"– Histórias engraçadas - 2013; e
 - "De Sarney a Temer – Nossa incipiente democracia"- 2018; 

- Radialista:
 - Colunista da Rádio Auriverde – AM 760 Bauru;
 - Comentarista do Programa Ligado na Cidade – Rádio FM 97,5 - Jovem Pan News Bauru e
  -Apresentador do Programa Bauru Fala – TVC Bauru; e
- Administrador e escritor do Blog Falando um monte (https://falandoummonte.blogspot.com/)

Nota do Editor:


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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O Ciclo da Dívida de Consumo: Da Origem À Extinção da Obrigação




Caro consumidor, concordem comigo ou não, o fato é que não há nada pior do que ter uma dívida e não conseguir cumpri-la, pois intimamente uma dívida não cumprida incomoda os sentimentos de muita gente, tanto do devedor como do credor, inclusive têm pessoas que chegam a ficar doentes quando estão no estado de inadimplência por não poder consumir e outras adoecidas por não receber o seu crédito. 

Igualmente, há consumidores que não dão importância para dívida e agem como se ela não existisse amparados naquele velho provérbio "devo e não nego, pago quando puder", ocorre que a dívida vive em um ciclo constante como a moeda que circula várias vezes durante o dia, o consumidor pode até não perceber, mas o devedor de hoje é o credor de amanhã e vice-versa. 

Neste ponto, imaginemos uma dívida em grande escala, se por exemplo, um grupo de consumidores adquirem produtos ou serviços e não pagam, os fornecedores que dependem do crédito deixarão de pagar seus funcionários, que por consequência, sem salário deixarão de pagar seus aluguéis. 

Ainda no exemplo, os proprietários destes imóveis que não receberam os seus aluguéis deixarão de pagar seus credores, ou deixarão de comprar um bem de consumo ou comprarão menos o que afetará o negócio de terceiros e por estar na região socioeconômica daquele grupo de consumidores mencionados no início do ciclo, estes serão afetados em algum momento pela dívida não paga, pois no ciclo do consumo a posição de credor e devedor constantemente se inverte, ou seja, é preciso ter muita consciência no consumo para não ficar refém da dívida e afetar o seu próprio crédito. 

A melhor maneira de se conscientizar e analisar a realidade, vejam que, segundo as informações da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua do IBGE, divulgada em julho de 2018, o rendimento mensal médio do brasileiro está na importância de R$ 2.225,00[1], e, quando se fala em média é preciso ter muito cuidado, pois a média nem sempre reflete a realidade de muitos, pois se realizarmos uma pesquisa com 19 pessoas e uma delas tivesse a remuneração de R$ 22.250,00 e as outras 18 pessoas tivessem uma remuneração de R$ 1.112,50, teríamos uma média sem ponderação de R$ 2.225,00, que seria o dobro da remuneração das 18 entre as 19 pesquisadas. 

Desse modo, ciente da realidade brasileira e da sua própria realidade o consumidor deverá tomar muito cuidado ao contrair dívidas devendo sempre se pautar na sua capacidade econômica e financeira aumentando ou diminuindo o consumo de acordo com a sua possibilidade de pagamento.

Por fim, é importante destacar que em termos jurídicos uma dívida legalmente constituída e reconhecida pelas partes se extingue via de regra pelo pagamento, pela satisfação do crédito, sendo a conduta mais prudente para o consumidor brasileiro manter o equilíbrio do ciclo de consumo, já que constantemente o consumidor acorda credor e dorme devedor, aliás, sei que isso não é fácil, mas para achar o equilíbrio existem dois caminhos:
 (1) O consumidor aumenta a sua renda e/ou 
 (2) O consumidor diminui o seu consumo, a escolha é sua. 

REFERÊNCIAS


POR FELIPE OLIVEIRA DE JESUS













Advogado inscrito na OAB/SP sob nº 330.434;
-Atua principalmente nas áreas do Direito do Consumidor, Cível e Trabalhista e
- É escritor de artigos para sites e blogs jurídicos. 

CONTATOS: 
TEL.: (11) 3104-6485 - CELULAR/WHATSAPP: (11) 98729-1969 
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Nota do Editor:
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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Qual o Valor do Imóvel a Declarar na Escritura Pública?




Em transações imobiliárias já é habitual o costume de declarar na matrícula do imóvel valor inferior ao que de fato foi transacionado entre as partes. Muitas vezes o valor utilizado é o venal, que normalmente é muito menor do que o valor de mercado do bem. Entretanto essa prática pode gerar uma série de problemas para todos os envolvidos na relação jurídica, tanto em âmbito cível, tributário e até mesmo criminal.



O valor venal de um imóvel é utilizado como piso, o valor mínimo que ele poderia ser vendido, caso contrário se poderia facilmente alegar a nulidade deste contrato por evidente fraude ou vantagem excessiva de uma das partes ao levar o vendedor ao erro.

Este valor é obtido através de um cálculo complexo realizado pelo município que utiliza como fatores área da edificação; valor unitário padrão residencial de acordo com a Planta de Valores do Município; idade do imóvel; localização do imóvel em relação ao logradouro; e características construtivas do imóvel, consideradas as suas reformas, acréscimos e modificações. 

Como este é o valor mínimo que é permitido de venda do imóvel, muitas pessoas o usam na escritura pública do bem. A razão disso é simples: quanto maior o valor do bem, maior será o imposto a ser pago na transação.

O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) é um tributo municipal que deve ser pago na aquisição do imóvel e a oficialização do processo de compra e venda só será feita após o seu acerto. Sem a confirmação de pagamento do ITBI, o imóvel não pode ser transferido e a documentação não é liberada. Ele está previsto na Constituição Federal e deve ser regulado pelo Município.

A alíquota do ITBI pode ser diferente de cidade para cidade e os valores do cartório obedecem a uma escala de valores disponíveis nos cartórios, mas costuma girar em torno de 2% sob o valor da venda do imóvel declarado na escritura pública. Justamente por isso as pessoas costumam declara o valor venal do bem como se fosse o valor da venda. Entretanto, esta é uma economia que não vale a pena ser feita pois gera vários problemas como serão abordados a seguir.

Primeiramente, continuando no mesmo raciocínio patrimonial, é pertinente começarmos com o problema na esfera tributária que esta venda possa gerar.

Declarar o valor venal do imóvel de fato fará com que o comprador pague uma quantia menor de ITBI, mas se ele for vender o bem terá que pegar um alto valor de Imposto de Renda sobre o lucro com a venda do bem cuja alíquota é de 15%. 

Desta forma, caso o comprador compre um imóvel por 250 mil reais mas informa na escritura publica que seu valor é de 50 mil reais, futuramente, mesmo vendendo esse imóvel pelos mesmos 250 mil, sem obter lucro nenhum de fato, terá que pagar 15% sobre os 200 mil que lucrou tecnicamente com a venda. Essa quantia é muito superior ao valor economizado de ITBI.

Além do mais, os cartórios informam, de forma detalhada, o Estado sobre todas as transações imobiliárias realizadas na região. O artigo 20 do Lei Federal 7.713/1988 determina que:
"A autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará o valor ou preço, sempre que não mereça fé, por notoriamente diferente do de mercado, o valor ou preço informado pelo contribuinte, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial."
Ao realizar esta analise e constatando a fraude, o Estado pode aplicar a norma tipificada no artigo 957 do Decreto Federal nº 3.000/1999, que assim anota:
"Art. 957. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de imposto:
I - de setenta e cinco por cento nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte;
II - de cento e cinquenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis.”
Já na esfera criminal, o art. 299 do Código Penal é bem claro ao tipificar a seguinte Ação: 
"Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante."
A pena para este ato ilícito é de reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

Conforme os artigos 29 e 62 do Código Penal, respondem pelo crime todas as pessoas que diretamente participem do ato (Compradores, Vendedores, Doadores, Donatários etc), ou que induzam as partes no ato criminoso, mesmo que não tenham assinado o documento (Corretores ou qualquer outra pessoa que participe ou induza as partes contratantes, ainda que indiretamente, mesmo sem ter assinado o documento).

Se uma das partes for pessoa jurídica, também pode configurar ocorrência do ato ilícito de distribuição disfarçada de lucros se for assinado por pessoa jurídica (Decreto Federal nº 3.000/1999, o nosso RIR):
 "Art. 464. Presume-se distribuição disfarçada de lucros no negócio pelo qual a pessoa jurídica: I - aliena, por valor notoriamente inferior ao de mercado, bem do seu ativo a pessoa ligada".
Por fim, no âmbito cível, a venda do imóvel pode ser declarada nula, uma vez que a transação pode ser considerada como simulada. Neste sentido tipifica o Código Civil em seu artigo 167:
"Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
[...]
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
[...]"
Portanto, após todo o exposto é possível chegar a clara conclusão de que a pequena economia do ITBI não vale o risco e as despesas que surgirão futuramente, além dos riscos na esfera criminal e cível. É mais um caso daqueles onde o barato pode sair muito caro.

Para mais informações, busque um advogado especialista em Direito Imobiliário.

POR THALES BARBOSA DE MENEZES






















-Graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás;
-Pós graduação em Direito Imobiliário pela AVM- Faculdade Integrada;e
E-mail:thalesadv39709@hotmail.com
Sites: www.advocaciaimobiliariagoias.com e
 www.escritoriomensur.com 

Nota do Editor:

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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Nosso Amor foi uma Cena





― Para Ondina  ―


Quem nunca amou, não vai me entender. E quem nunca sofreu por amor, então, é que jamais poderá me entender. É com essas assertivas, a segunda principalmente, que eu me disponho a levantar um pouquinho a cortina que tanto teima em esconder o que restou de nós. Dos nossos momentos.

De imediato, a plateia vai perceber que o cenário mostra que nos encontramos em plena primavera. Há um jardim no fundo do palco. Nele, vê-se um banco um tanto tosco, é verdade, mas com toques de encantamento. Vê-se, obviamente por ser primavera, flores, muitas flores, . em profusão. Centenas de canteiros com violetas, jasmins, cravos, orquídeas, margaridas, cravinas, girassóis, azaléas, tulipas, begônias, jacintos, magnólias, rosas... E, obviamente, uma torrente de perfumes e cores.

É primavera, volto a repetir, e a plateia vai perceber, indubitavelmente. Na primavera o céu é meio diáfano; obnubilado, melhor seria classificá-lo, assim. E isso, (pobre coitado!) por buscar esconder-se pelo retraimento em presenciar tantos namoros, tantos risos, tantas alegrias, tantos suspiros, tantos gemidos de amor.

Assim como o céu, a brisa se faz translúcida, transparente de tanto acanhamento. E passa célere por entre as pétalas das flores; as agudezas dos espinhos; as asperezas dos pedregulhos nos canteiros. Afinal, é primavera.

Contidos nesta cena, estamos eu e você. Nossas mãos haviam se achado. Nós nos olhávamos, sem dizermos nada. O silêncio que havia invadido a cena só não era sepulcral devido as batidas imensuráveis dos descompassados tambores dentro do peito de cada um de nós.

Por um tempo que nunca pudemos e nem ousamos medir, nos tornamos a razão de viver. Éramos um só: revelávamos nossos amores pela mesma boca, enxergávamos os raios do desejo pelos mesmos olhos, e ouvíamos os gemidos do prazer pelos mesmos ouvidos. 

Vendo tanta paixão transbordante, caudalosa, arrebatadora como uma imensa onda a envolver, com suas espumas, a nudez da incauta e indefesa praia; vendo tanta paixão assim desvairada, como fora a nossa naquela primavera, a plateia decerto ficará muda, findo o último ato do tosco teatro que foi a nossa vida.

E o que restou de nós.

POR LUÍS LAGO





















-Acriano (por criação); cearense (por paixão); ​paulista (por adoção);
-Psicólogo / Jornalista/  Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")

Nota do Editor:

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domingo, 28 de outubro de 2018

Comunicação Não-Violenta




Em tempos de grande tensão social e política se faz necessário pensar sobre maneiras mais empáticas de se comunicar buscando preservar a boas relações entre colegas, amigos e familiares.

Marshall Rosenberg foi um psicólogo americano, estudioso de novas formas de comunicação e preocupou-se ao longo de seus últimos anos em desenvolver estudos sobre formas de comunicação mais pacíficas, e diálogos que amenizam o clima de violência. O autor criou uma teoria chamada Comunicação não-violenta que nos ajuda a nos ligarmos uns aos outros e a nós mesmos, possibilitando que nossa compaixão natural floresça.


A CNV consiste num processo de reformular nossa maneira de nos expressarmos e sobretudo de como escutamos o outro. 

Rosenberg propôs que nos concentremos em quatro áreas de comunicação: 

-o que observamos enquanto nos comunicamos com o outro, -como nos sentimos frente ao interlocutor, 
-do que necessitamos, e o 
-que pedimos a fim de enriquecer nossas vidas.

Refletindo a partir das leituras do autor podemos entender que a comunicação que bloqueia a compaixão nasce de nossas necessidades de fazer julgamentos moralizadores, classificando as pessoas de acordo com as expressões de nossos valores e necessidades.


Quando expressamos, na comunicação, nossos valores e necessidades, reforçamos uma postura defensiva e a resistência às nossas ideias. 


Classificar e julgar as pessoas estimula a violência. "Na raiz de grande parte ou talvez de toda violência – verbal, psicológica ou física, entre familiares, tribos ou nações -, está um tipo de pensamento que atribuiu a causa do conflito ao fato de os adversários estarem errados, e está, a correspondente incapacidade de pensar nos outros em termos de vulnerabilidade, ou o que a pessoa pode estar sentindo, temendo, ansiando, do que pode estar sentindo falta, e assim por diante."

Sendo assim, acredita-se que uma das saídas mais inteligentes e eficazes consiste em estabelecer uma comunicação repleta de empatia, ou seja, esforçar-se sempre para tentar colocar-se no lugar do outro, tentando fazer a leitura para além de suas palavras, tentando captar o sentimento contido em sua expressão. 

Um exemplo comum pode ser uma breve discussão entre um adulto e uma criança, onde a criança solicita enquanto a mãe almoça, que a mesma procure um seu brinquedo. A mãe solicita que essa criança aguarde, a criança por sua vez entra em um continuo de insistências e birras até que a mãe perde a paciência e em alto tom acusa a criança de ser egoísta e dispara ameaças. 

À Luz da comunicação não violenta a mãe chamaria a criança e explicaria que entende o quanto ela gostaria de ter seu desejo de encontrar o brinquedo satisfeito naquele momento, mas a mãe se sente muito compreendida e satisfeita quando consegue realizar suas refeições sem ser interrompida, pois é um momento importante do seu dia e que assim que possível, ajudará a criança a encontrar o que deseja.

Como pode-se observar no exemplo acima, o sentimento da criança foi reconhecido, os sentimentos da mãe foram comunicados, tornando a comunicação mais empática e assim, aumentando a probabilidade de se tornar eficaz.

Faz-se necessário observar se parte ou toda a comunicação está baseada em suas próprias necessidades e não no enriquecimento mútuo entre duas pessoas. 

Muitas vezes observamos duas pessoas construindo monólogos, não há escuta ativa e interessada no outro e sim uma violenta necessidade de afirmar suas convicções revelando necessidade de ser aprovado. 

Portanto se não há crescimento mútuo, interação e troca na comunicação, mais interessante seria conversar com o espelho. 

Vale lembrar que o outro por ser diferente, por ser único e dispor de sentimentos, experiências e ideias diferentes, consiste sempre em um novo universo que pode nos trazer crescimento e riqueza, mas para isso precisamos estar abertos e desenvolver nossa escuta empática. Temos só a ganhar desenvolvendo tal atitude! 

POR ALINE CARVALHO MONTEIRO - CRP 06/62886







-Mestre em Psicologia Clinica pela PUC-Campinas;
-Especialista em Perdas e Luto pelo Instituto Quatro Estações – SP;
-Colaboradora da Accademia di Psicoterapia Della Famiglia Maurizio Andolfi – Roma – IT e
-Sócia Fundadora da Clinica de Psicologia Online Mente Criativa Online. 

Nota do Editor:

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