@ Paulo Roberto Silva Santos
Um sonho que pode se tornar um grande pesadelo para o mutuário da casa própria. Costumo dizer, no sentido figurado: "Minha Casa, Minha Vida: Um Sonho ou Pesadelo?"
Nos últimos anos, temos percebido no bolso a sensação de que nosso dinheiro não está valendo nada, ou seja, estamos vivenciando a perda do valor da moeda. Mas o que isso tem a ver com as taxas de juros da casa própria? Infelizmente, tem tudo a ver. Primeiro, vamos entender o que é inflação.
Inflação é a perda do valor da moeda em termos simples. No conceito econômico, é definida como "o aumento generalizado e sustentado dos preços de bens e serviços, o que resulta na diminuição do poder de compra da moeda" (Google).
Exemplo prático:
Se hoje, com R$ 100,00, é possível comprar quatro pacotes de arroz a R$ 25,00 cada, no mês seguinte, os mesmos R$ 100,00 podem comprar apenas três pacotes. Ou seja, a mesma quantia de dinheiro compra menos produtos, refletindo uma inflação de 33,33%. O pacote de arroz que custava R$ 25,00 passa a custar R$ 33,33.
Com o aumento da inflação, o Banco Central do Brasil tem a responsabilidade de elevar a Taxa Selic para conter os aumentos futuros. Esse mecanismo é chamado de Política Monetária, uma das ferramentas utilizadas para conter o aumento generalizado dos preços. A consequência direta disso é o aumento da Taxa Selic, que afeta tanto os empréstimos de curto prazo quanto os de longo prazo. Um exemplo de empréstimo de longo prazo é o financiamento da casa própria.
O impacto da Taxa Selic no financiamento imobiliário
Em março de 2022, um mutuário que decidiu comprar um imóvel financiado pela Caixa Econômica Federal contratou um financiamento pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).
O SBPE é uma linha de crédito com recursos oriundos dos depósitos em poupança. Geralmente, suas taxas de juros são mais altas que as do financiamento via FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), conhecido como Pró-Quotista. Infelizmente, essa linha de crédito é de difícil acesso, pois os bancos raramente a oferecem devido à sua menor rentabilidade tanto para a instituição quanto para seus gerentes.
Simulação do impacto do aumento da Taxa Selic
Contrato SBPE:
• Data: 22/03/2022
• Valor financiado: R$ 300.000,00
• Taxa de juros: 8,37% a.a.
• Prazo do financiamento: 420 meses
• Valor da 1ª parcela: R$ 2.806,79
Cenário da Taxa Selic:
• Março de 2022: 13,75% a.a.
• Março de 2025 (previsão): 14,25% a.a., podendo chegar a 16% a.a.
• Diferença: 0,50 ponto percentual
Um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa média de financiamento representa um acréscimo de cerca de R$ 27.891,25 em juros em um financiamento de R$ 300.000,00 pelo prazo de 35 anos (tabela SAC).
Agora, vejamos o impacto do aumento acumulado da taxa de juros do SBPE entre 2022 e 2025:
• Março de 2022: 8,37% a.a.
• Atualmente: 10,74% a.a.
• Aumento: 2,37 pontos percentuais
Este acréscimo de 2,37 p.p. representa um impacto significativo no saldo devedor do mutuário. Com esse aumento, o valor total pago em juros durante o período de financiamento sobe em R$ 124.721,25. Esses valores referem-se somente aos 2,37pp, incluído os 8,37%aa. Pois, é! Um absurdo de juros a serem pagos. Ou seja, a bagatela de R$ 565.192,50 só de juros.
Conclusão
O aumento das taxas de juros tem inibido a busca por financiamentos para a compra da casa própria. Nesse cenário, o aluguel pode ser a opção mais vantajosa no curto prazo. Com o financiamento caro e o aluguel relativamente mais barato, uma estratégia inteligente é economizar a diferença entre a prestação de um financiamento e o valor do aluguel. Dessa forma, no futuro, será possível dar uma entrada maior e reduzir significativamente os juros pagos ao banco na aquisição do imóvel.
PAULO ROBERTO SILVA SANTOS
-Graduado em Economia pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo (1989);
-Pós-graduado em Finanças pela FECAP (1994);
.-Coordenador dos Cursos de Administração - Comércio Exterior e Tecnólogo em Logística no UNIFIEO - Centro Universitário;
-Professor do MBA Internacional IPT/USP em Gestão de Tecnologia e Inovação, ministrando a disciplina "Gestión Emprendedora y de la Creatividad";
-Economista-Chefe da Um Ótimo Empreendedor Consultoria Empresarial;
-Perito Econômico-Financeiro e Economista habilitado para projetos de desenvolvimento junto à Nossa Caixa Desenvolvimento;
-Professor selecionado pela B3 e pela CVM Educacional para disseminar o livro TOP Planejamento Financeiro Pessoal. • Orientador do Telecurso 2000;
- Especialista em Elaboração de Planos de Negócios, com mais de 140 planos desenvolvidos, dos quais 35 a 40 resultar
Nota do Editor:
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