sábado, 3 de novembro de 2018

Reflexões a partir do Conceito de Indústria 4.0 para Educadores






O advento das tecnologias tem transformado velozmente o cotidiano. Os processos deste advento podem ser considerados como indústria 4.0 ou ainda, como é chamada, a 4ª revolução industrial. Mas, de onde vem este termo?

A wikipédia registra que o termo "Indústria 4.0" teve origem em um projeto estratégico de alta tecnologia do Governo Alemão que promove a informatização da manufatura. A primeira revolução industrial mobilizou a mecanização da produção usando água e energia a vapor. A segunda revolução industrial, então, introduziu a produção em massa com a ajuda da energia elétrica. Em seguida veio a revolução digital e o uso de aparelhos e dispositivos eletrônicos, bem como a Tecnologia da Informação para automatizar ainda mais a produção.

Júnior e Saltorato (2018), ancorados em Klaus Schwab (2016, p. 1), afirmam que "trata-se da Indústria 4.0: um novo modelo de produção em que máquinas, ferramentas e processos estarão conectados à internet através de sistemas ciber-físicos, interagindo entre si e com a capacidade de operar, tomar decisões e se corrigir de forma praticamente autônoma." Consideram que há uma revolução que modifica o ser e estar do ser humano.

O documento intitulado "Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros" descreve a indústria 4.0 como: " quarta revolução industrial, que terá um impacto mais profundo e exponencial, se caracteriza, por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico". Esta agenda regista ainda que as principais tecnologias que permitem a fusão dos mundos físico, digital e biológico são a Manufatura Aditiva - 3D, a Inteligência Artificial - IA, a Internet das Coisas - IoT, a Biologia Sintética – SynBios e os Sistemas Ciber Físicos – CPS. 

Vamos compreender melhor alguns conceitos apresentados acima. Consideremos a manufatura aditiva como possibilidade de produzir peças em 3D, atualmente utilizada pelos setores automotivo e aeroespacial. E, como falamos sobre revolução, mudança, metamorfose, o que implica em avanço de estudo e pesquisa, a impressão 3D já conquistou a biomecânica com foco em próteses, órteses e até órgãos humanos. 

Recordo-me quando a primeira impressora 3D chegou no meu local de trabalho, há uns 5 anos. Fui a premiada da turma, a primeira peça produzida foi o símbolo do curso de Pedagogia – uma coruja. Mas, não uma coruja qualquer, os detalhes são perfeitos; amo o mimo ofertado pelos amigos inovadores. 

Atrevo-me a registrar que falta muito pouco para que as impressoras 3D estejam presentes em nossas residências. Sem exageros, os computadores pareciam algo muito distantes de nós, hoje, início do século XXI, melhor explicitando, final de outubro de 2018, temo-os, também, bem pequenos, com mobilidade. Creio que a impressora 3D pode nos ajudar na produção de peças para a solução de tarefas/desafios diários.

Vamos ao segundo termo da fusão das tecnologias – inteligência artificial - IA. Esta é uma forma, utilizada por profissionais da Ciência da Computação, de construir mecanismos que simulem a capacidade do ser humano de pensar, resolver problemas, ou seja, de ser inteligente. Isso não é nada assustador, pelo contrário, nos ajuda e muito no dia-a-dia. 

Na internet encontramos vários sites que apresentam o uso da IA, cito, por exemplo, o site transformação digital - verifiquem o endereço do site, está nas referências deste texto. A Transformação Digital apresenta 4 formas da IA no cotidiano: smartphone, TV, e-mail e indústria. Apresenta ainda a junção da IA com a impressora 3D. Outro site que trata do assunto de forma clara e ampliada é o ITFORM365. Ancorados na ideia de Bento Ribeiro, sócio-fundador da Tevec (não conheço, mas recomendo a leitura), empresa que utiliza inteligência artificial para previsão de comportamento de demanda de produtos, lista exemplos do uso da ferramenta no cotidiano. Há muito mais do que isso.

A internet das coisas consiste na integração do mundo real com o mundo digital. Segundo consta na internet, e esta informação foi copiada do significado.com - em 1999, Kevin Ashton foi o primeiro a utilizar a expressão “internet das coisas” para se referir ao uso de tecnologias que pudessem interconectar diversos aparelhos e objetos diferentes, ajudando a facilitar e organizar a vida das pessoas. Uma das formas de compreender a IoT – em inglês = Internet of Things - é assistir à série Black Mirror do Netflix; a série recebeu uma chuva de críticas, o que não é o nosso objetivo no momento. Chamo a atenção pelo fato da série apresentar como somos vigiados/cuidados/analisados a cada serviço/atividade/postagem realizada por meio da internet. Há sensores e haverão muitos outros para monitorar e identificar os atos do ser humano, proporcionando identificação de gostos, manias, preferências e dissabores, para além de mercado, oferta de produtos.

Segundo a “Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros” a biologia sintética - SynBios - é a convergência de novos desenvolvimentos tecnológicos nas áreas de química, biologia, ciência da computação e engenharia, permitindo o projeto e construção de novas partes biológicas, tais como: enzimas, células, circuitos genéticos e redesenho de sistemas biológicos existentes.

Sistemas Ciber-Físicos - CPS - sintetizam a fusão entre o mundo físico e digital. Dentro desse conceito, todo o objeto físico (seja uma máquina ou uma linha de produção) e os processos físicos que ocorrem, em função desse objeto, são digitalizados. Ou seja, todos os objetos e processos na fábrica tem um irmão gêmeo digital. (AGENDA BRASILEIRA PARA A INDÚSTRIA 4.0).

A 4ª revolução industrial, ou a indústria 4.0 afligi, também, o processo de educação, é preciso tencionar a sociedade que construímos a partir do ato de educar mediante desta revolução. 

Considerando o conceito do ato de educar pelo Constituição Federal Brasileira (1988), temos que somos todos educadores. Há que considerar ainda que o ato de educar é ambíguo, pode-se educar para a dignidade humana ou não. Educar deve ser entendido como ato de intervenção no mundo (FREIRE, 2005). Este exercício exige de nós, meros humanos, um exercício ético que proporcione a continuidade da dignidade da vida humana.

Imersos em uma sociedade do descaso com a vida; do descuido com os seres humanos, com os diferentes espaços do planeta Terra, e com o advento da indústria 4.0, precisamos refletir sobre o para quê desta 4ª revolução industrial.

Esta reflexão carece estar pauta na perspectiva de que educar é um projeto de vida, de seres humanos que convivem, também, com as coisas. As coisas não podem ser mais importantes, elas devem ajudar/facilitar as diferentes formas de conviver da pessoa.

Entretanto, resta-nos verificar o perfil da pessoa humana que está a refletir sobre o ser e as coisas. Cardoso (1995, p.27) registrou sobre as contribuições do racionalismo cartesiano para o perfil do homem; preferimos dizer ser humano e pessoa humana: "o homem atual separou razão e sentimento, ciência e ética, utilidade e felicidade". Será que com a identidade puída daremos conta de manter a convivência pela óptica da ética do humano?

Alguns estudiosos propõem rever o estar humano; destaco para esta provocação as ideias de Espírito Santo (2002), Guerreiro (2009), Santos Neto (2006), que oferecem questões para um "re-rever", "re-pensar" a educação e espiritualidade, o sagrado e a religiosidade. Os textos desses estudiosos explicitam que podemos resgatar a nossa identidade de Ser Humano a partir do processo de reflexão. Isto posto, o processo de reflexão abarca os fatores que constituem a identidade do ser junto ao advento da indústria 4.0, considera que deve ser uma intersecção. 

O processo de reflexão, pela vertente que hora se apresenta, agrega o ser e o outro ser propondo atitude e cuidado. Para Boff (2008, p34), cuidado compreende-se como uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo como o outro. Ainda em Boff, mesma obra, encontramos que o cuidado é a raiz primeira do ser humano e que se o negarmos podemos prejudicar a nós e ao outro ser humano.

Então, o "compromisso ético do educador" nos leva a refletir sobre: ética, espiritualidade e educação, sobre o comprometimento ético do educador em uma cultura desvalorizada pela lógica do desejo (SANDRINI, 2007).

Os avanços da indústria 4.0 poderão, digo, estão auxiliando na melhoria da qualidade de vida do ser humano, e podem contribuir muito mais, desde que não se perca a identidade e ética humana, caso contrário...


Referências

BRASIL. Agenda brasileira para a indústria 4.0 – o Brasil preparado para os desafios futuros. Disponível em: < http://www.industria40.gov.br > Acesso em: 15 ago.2018;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Automonia – saberes necessários à prática educativa. 31ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2005;

SANDRINI, Marcos. Para sempre! O Compromisso Ético do Educador.Petropolis, RJ: Vozes, 2007;

SANTOS NETO, Elydio. O encontro Educador – Educando – tensões, angústias...e fundamentos para possíveis resposta.IN: ALMEIDA, Jane Soares de (org.). Educação e Prática docente - as interfaces do saber. Franca: Unifram, 2005.p.54-66;

https://www.significados.com.br/internet-das-coisas/

https://transformacaodigital.com/4-aplicacoes-da-inteligencia-artificial-em-nosso-dia-dia/

https://www.itforum365.com.br/tecnologia/11-formas-como-a-inteligencia-artificial-ja-faz-parte-do-cotidiano/

POR MARIA CRISTINA MARCELINO BENTO



- Graduada em Pedagogia; 
- Mestre em Educação pela UMESP-SBC; 
- Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital 
- Atuou na Educação Básica por 22 anos
Atualmente é:
- Professora titular da FATEA nos cursos de graduação e pós-graduação;
-Professora Coordenadora do Curso de Pedagogia da Fatea; e
- Professora Coordenadora de Área do Subprojeto PIBID - Pedagogia-FATEA-SP (2012/2013 - 2014/2017).

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. O avanço da tecnologia vem ocorrendo muito rápido nos dias atuais, e isso me lembra bastante sobre o quanto somos monitorados, o tempo todo, um campo inclusive que a própria inteligência virtual assumiu em anos recentes.

    Veja bem, tudo o que fazemos nas redes ou aplicativos e serviços, não apenas é registrado, como depois é utilizado para que um algoritmo se comporte de determinada maneira ao interagir conosco, isso foi até tema da redação do Enem 2018, porém com o viés na influência de comportamento. Porém, quanto ao que fazemos em rede primeiro, você ouve uma música em no Spotify, ou mesmo um album inteiro de um autor e com o tempo o serviço vai moldando as sugestões de músicas e artistas que estão mais de acordo com o que você ouviu recentemente, partindo do pressuposto de que se você gostou de Stellardrome (por exemplo), irá gostar de Telomere ou Deepspace, que são artistas do mesmo gênero e estilo musical que Stellardrome; esse tipo de comportamento por parte das AIs acontece por toda a internet hoje em dia, o Facebook é outro exemplo disso, me ouso dizer que lemos mais do que nunca ultimamente, vale ressaltar que não é o mesmo tipo de leitura que seria pegar um livro e sentar para o ler, porém ainda sim é leitura. Contudo, a AI por trás do Facebook começa a filtrar o que a mesma considera relevante ao usuário, colocando determinados posts em posição de maior destaque, ao mesmo tempo que outros começam a ficar mais escondidos.

    Me pergunto até que ponto isso é bom? Já não se dá mais para evitar a AI, ela está em toda parte, até mesmo nos celulares, computadores domésticos, e consoles de vídeo game, além de estar chegando ao restante do lar por meio dos avanços da IoT, pense, hoje em dia existem geladeiras inteligentes que podem até checar a dispensa e realizar a encomenda de algo que esteja em falta, por um lado isso é incrível, porém por outro chega a ser assustador!

    De toda forma penso que o conceito que tínhamos sobre privacidade em décadas anteriores, hoje em dia se transforma em algo mais líquido, o avanço da IoT para o lar, e mesmo para o nosso corpo (roupas inteligentes já são algo muito discutido há tempos), fará com que o que entendíamos por privacidade comece a se tornar cada vez mais transparente, as implicações disso ainda são imprevisíveis ao meu ver, porém de certa forma preocupantes, penso que é muito plausível que a qualquer momento, em qualquer lugar, alguma AI saberá onde estamos.

    Por fim, alguns especialistas definem nosso atual período como "A Era da Informação", onde o mundo todo torna-se integrado e conectado, os sistemas informatizados, e a dita "Informação" passa a ser um dos maiores poderes do século, é neste campo onde a AI começa a crescer, e não é por menos, a AI atualmente é considerada como a tecnologia mais poderosa do planeta, embora ainda esteja em seus passos iniciais, a mesma vem evoluindo mais e mais a cada dia. Por outro lado, apesar dos surpreendentes avanços, me questiono se a ética e moral humanas vem avançando ao mesmo passo do campo técnico-científico, visto que para mim, de nada adiantaria o pleno avanço dos meios tecnológicos, se não temos a ética necessária para tirar proveito de maneira que seja benéfica para a humanidade enquanto espécie.

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