sábado, 12 de abril de 2025

De volta aos canteiros


 


Autora: Jacqueline Figueiredo Caixeta (*)

Por muitos anos a educação infantil teve a nomenclatura de "Jardim de Infância". Ah, como amo essa expressão! Ela traduz exatamente o que o espaço de educação infantil é: um verdadeiro jardim, um lindo canteiro onde tudo que semeamos, brota! A infância é como terra fofa, prontinha para o cultivo. O cérebro infantil é canteiro fértil!

Todas as atividades desenvolvidas neste espaço, dizem de produtividade, criatividade e liberdade de expressão. São nos canteiros da infância, que brotam as maiores oportunidades para a construção do conhecimento. Nestes jardins, as sementes jogadas, são garantias de boa colheita.

As crianças crescem e a escola começa a achar que não precisa mais daqueles canteiros de terra fértil. Começamos a estragar tudo! É bem assim que vejo muitas práticas da educação pós o período da infância. A escola, com suas infinitas matrizes, que aprisionam a criatividade, vão, aos poucos, matando a ideia de terra fértil, de canteiro. Vamos, pensando que estamos fazendo o melhor, amordaçando nossos alunos e prendendo-os em grades curriculares que pouco sabem do encanto que é o ato de aprender.

Já me debrucei muito sobre como estender o encanto dos canteiros da educação infantil para as práticas dos anos a seguir. Muitas ações ainda nos prendem em currículos fechados, no entanto, contudo, todavia, podemos ousar sair um pouco dessa matriz que tenta formatar e reproduzir estudantes em grande escala, como se fossem peças de fábricas.

Estou propondo uma revolução? Calma, ainda não..(rsrsrs). Estou trazendo essa discussão para que a escola possa pensar um pouco sobre práticas da educação infantil que poderão ser muito bem vindas às salas de aulas de nossos alunos adolescentes e os jovens adultos em seus bancos de faculdade.

Será que o aprendizado realmente se dá apenas dentro do formato de provas? Não quero abolir as provas ( já quis muito), mas entendo que a sociedade vai trazer exames formais para que nossos alunos ingressem no mercado de trabalho e não temos muito como correr deste padrão, no entanto, podemos ter práticas mais libertadoras, criativas, coletivas, que se aproximam e se assemelham com aquelas práticas dos jardins de infância.

Já pensaram que delicia seria se nossos adolescentes pudessem começar um dia fazendo uma rodinha pra contar o que quiser? Quantos assuntos iriam surgir! E quantas oportunidades de se colocarem, uns para os outros, de maneira mais leve e transparente? A rodinha, nada mais é do que a oportunidade da socialização acontecer, fazendo brotar a empatia, o respeito, a solidariedade e tantos outros valores esquecidos, adormecidos por não termos "tempo" para esse tipo de prática, porque o conteúdo, o livro didático, a prova, o simulado, enfim, a escola gritando por mais competência técnica e esquecendo do antigo olho no olho de uma rodinha.

Ah, de volta aos canteiros dos jardins de infância... Como eu queria resgatar as práticas que permeavam os dias da escola enquanto esta, de fato, estava educando para o afeto, criatividade e construção de saberes que surgiam em pequenas brincadeiras e se consolidavam , entre risos e empurrões, em conhecimentos científicos que jamais seriam esquecidos, pois foram experimentados com o corpo, o coração e com muita brincadeira.

Acho que podemos pensar um pouco sobre tais coisas. Coisas simples, atitudes bobas, que possam resgatar nossos alunos e levá-los para um aprendizado com tanto saber, quanto sabor. Experimentar a vida acadêmica com o olhar voltado para as práticas dos velhos canteiros da infância, é um pedido de socorro para uma educação que está, cada vez mais, distante de ações que permitam que a criatividade brote e produza e reproduza um conhecimento de maneira mais libertadora e livre.

A educação precisa respirar um pouco dos canteiros dos jardins de infância e buscar significados para suas ações, muitas vezes automáticas, que acabam não alcançando seus objetivos e pouco criam memorias afetivas em seus alunos. Precisamos dizer aos nossos estudantes que estudar só é garantia de aprendizado se é feito com significado e, ressignificar nossas ações, é o primeiro passo. O segundo pode ser fazer um convite que se desarmem e se permitam sentar no chão, numa grande rodinha, professores e alunos, e debaterem a vida. Sim, debaterem a vida, porque esta não está desvinculada da escola.

Ações coletivas como trabalhos de campos, seminários, projetos que promovam discussões e produção de conhecimento além do livro didático, que permitam um protagonismos maior dos estudantes, são extremamente libertadoras para que a escola volte a ser um eterno canteiro de terra fértil para que dela brotem pessoas melhores, não só em competências acadêmicas, mas melhores como seres humanos uns para os outros.

Com afeto,

*JACQUELINE FIGUEIREDO CAIXETA





















Pedagoga
-Especialista em Educação
 Autora do capítulo do livro Educação Semeadora: "A Escola é a mesma, o aluno não! "- Editora Conhecimento.

Nota do Editor:

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