segunda-feira, 29 de maio de 2023

Etarismo

                                                                            
Autora: Maria Elizabeth Candio (*)

 

Vamos falar de preconceito? Para começar, considerações acerca do Etarismo.

Não bastasse o machismo, o racismo e a homofobia, destaca-se agora um preconceito já bastante antigo, que mudou de nome e cuja evidência voltou a se acentuar: o Etarismo, que consiste na discriminação baseada na idade de determinada pessoa. Em outras palavras, trata-se do preconceito contra a velhice. Como se não fosse o envelhecimento um evento digno, negado a muitos, e que é uma dádiva, uma bênção.

Todavia, a sociedade não perdoa quem envelhece. Como não perdoa a pele preta. A aparência disforme, em face do excesso de peso, as rugas, o vitiligo. Não perdoa a deficiência física, seja qual for. Olha torto para quem anda torto, de cadeira de rodas, de muletas ou de carrinho de rolimã. Discrimina o que considera feio e fora dos padrões de beleza física. Porque a sociedade vive de aparências, negando a essência. E, infelizmente, sempre foi assim. Mas não deveria tê-lo sido. E ainda sê-lo.

A fim de discorrer acerca do etarismo, comecemos por provar a falta de lógica que ele representa, através de fatos. Por meio de histórias reais sobre grandes iniciativas industriais e internacionais de homens que tinham, quando de suas descobertas, mais de cinquenta anos de idade.

De início, vejamos a saga de Henri Nestlé, que inventou a farinha láctea aos 52 anos. Farmacêutico, ele passou a observar os problemas da desnutrição infantil em algumas famílias suíças. Na intenção de resolver a questão, Henri criou uma mistura em pó, a qual complementava a alimentação das crianças. Sendo assim, em 1867 ele criou a Nestlé, que hoje conta com mais de trinta mil funcionários em cento e cinquenta países, tendo ampliado consideravelmente sua produção e destacando-se, sobremaneira, com a fabricação de chocolates.

Joseph Campbell, por sua vez, abriu sua primeira fábrica de caldos, as famosas sopas Campbell`s, também aos 52 anos. O comerciante americano inaugurou a linha de produção da empresa em 1869, em Nova Jersey. A primeira sopa enlatada, no entanto, foi lançada apenas em 1895, no sabor tomate, dando início a uma bem-sucedida empreitada.

E o que falar da invenção da bebida mais famosa do mundo em todos os tempos, a famigerada Coca-Cola? Pois bem: John Pemberton inventou-a aos 55 anos, sendo que a marca e a patente foram registradas em 1886. Pemberton, que era farmacêutico, descobriu a fórmula enquanto testava medicamentos para dores de estômago.

Por conseguinte, Charles Flint criou o grupo de tecnologia IBM aos 61 anos, em 1911, enquanto Harland Sanders, criador da KFC e de sua famosa receita de frango frito, vendeu sua primeira franquia aos 62 anos de idade. Tendo nascido em uma comunidade rural, no sul dos Estados Unidos, o coronel Sanders deixou como legado uma operação que reúne vinte mil lojas pelo mundo todo.

Em se tratando da maior rede de lanchonetes de que se tem notícia, o McDonald´s, Ray Kroc iniciou a rede de fast-food aos 52 anos. Em 1955, o representante de vendas conheceu o McDonalds, na época uma pequena lanchonete californiana e, impressionado com a eficiência da operação, ele decidiu levar a bandeira de fast-food a outras cidades. Sob o seu comando, a empresa levou apenas três anos para atingir a marca de cem milhões de hambúrgueres vendidos.

Por conta de todos esses exemplos, fica claro o fato de que, em se tratando de competência, eficiência e criatividade, a experiência adquirida através dos muitos anos ajuda, e muito. Afinal, é preciso ter vivido muito tempo para aprender a discernir melhor, tendo mais clareza nos pensamentos e ações. Por que então ter preconceito mesmo?

* MARIA ELIZABETH CANDIO


-Graduada em Letras e Tradutor & Intérprete pela Faculdade Ibero -Americana (1982);

-Pós -graduada em Literatura Brasileira (1985);

-Mestre em Literatura Comparada pela USP, Universidade de São Paulo ( 2007);

-Professora de ensino superior, médio e fundamental I durante 40 anos;

- Escritora e poeta, tendo publicado os livros Canção Necessária (1986) e Ávida Vida (2020);

- Revisora ; e

- Membro da Academia Contemporânea de Letras, desde 2020, tendo como patronesse a escritora Clarice Lispector.

 Nota do Editor:

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