domingo, 20 de março de 2022

A Educação no beco sem saída da Pandemia



 

Lúcio Lamoglia Panza (*)

Escrevo este artigo no momento em que ainda estamos com a pandemia do Covid-19 (Sars-cov-2) no país e como mestre, convido o leitor a realizar junto comigo uma análise da situação escolar no Brasil nesse panorama.

Tem se discutido desde o ano de 2020 que as escolas precisam reabrir, e precisam mesmo, porém não se discutiu o que precisávamos realizar para que esse retorno aconteça da forma mais segura e com menos danos emocionais possíveis. Fala-se também, que as crianças ficarão com graves atrasos na aprendizagem mas precisamos lembrar que o Brasil não têm sucesso na educação formal, é um problema de desvalorização, sucateamento, descaso e falta de interesse político, que já existiam. A pandemia não tem culpa, só acentua os desafios não enfrentados.

Foram realizados diversos estudos em Institutos de pesquisas brasileiros sobre os procedimentos para uma reabertura segura com protocolos de segurança a serem seguidos. E também poderíamos observar as experiências bem-sucedidas praticadas por outros países que promoveram retorno às aulas utilizando critérios científicos pedagógicos de curva de contaminação descendente e uma política pública focada no ambiente escolar com regras sanitárias claras em relação a transporte público, alimentação e retorno para casa caracterizando um bom controle epidemiológico da doença. O Brasil ficou na inércia. Nem testagem da sua população com monitoramento de casos foi feita a contento, aliado à tudo isso não tivemos forte adesão da sociedade a práticas de prevenção como o uso de máscaras e o distanciamento social.

Um fator preponderante que venho discutindo com muitos colegas no Magistério é sobre a infraestrutura das salas de aulas que pode fazer a diferença a não se tornarem ambientes de contágios. A existência de ventilação cruzada, com porta e janelas que garantam passagem de ar, e não apenas a veneziana, que, muitas vezes, só abre parcialmente. No Rio de Janeiro, em um universo de aproximadamente 1.100 escolas municipais, pouquíssimas delas receberam obras e melhorias para adaptações dos espaços para o enfrentamento ao coronavírus. Continuam com os mesmos problemas de infra- estrutura desde quando as escolas foram fechadas em março de 2020.

Não menos importante, existe o fator tecnológico. Nossas escolas, ainda hoje, não são informatizadas e com conectividade. É impressionante, fala-se em inclusão digital há mais de 20 anos, e a existência de um simples laboratório de Informática ainda é uma realidade distante. Simplesmente não temos. Dados do último Censo da Educação Básica feito em 2019 revelam que no ensino fundamental, 38,5% das escolas municipais não possuem acesso à internet. A pandemia também jogou luz nessa questão. O mundo digital já era para estar dentro das escolas há muito tempo onde realizaríamos as intervenções necessárias para que pudéssemos aproveitar o máximo possível da Revolução tecnológica. Nós, professores e alunos, fomos aviltados de nossos espaços de ensino aprendizagem e tudo partiu para um ambiente virtual, inócuo, e com diversas dificuldades. Nunca foram realizadas, de fato, capacitações de inserção ao longo do tempo para os alunos e nem para os professores. As famílias não têm equipamento para garantir o ensino remoto. Segundo a pesquisa TIC domicílios de 2019, na zona rural brasileira 48% dos domicílios não têm acesso à rede mundial de computadores, sendo que 39% dos indivíduos nunca acessaram a internet. Nas casas das famílias das classes D e E esse percentual sobe para 50% da população, ou seja, a pandemia nos obriga a lançar mão de um modelo que não sabemos ou temos condições de usá-lo e o Governo Federal não articula ações eficazes que valorize a Educação no país ao vetar o projeto de lei (PL 3477/2020) que define que o Governo federal destine 3,5 bilhões de reais para Estados e municípios aplicarem em ações para a garantia do acesso à internet para estudantes e professores da educação básica proposto pela Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

Nesse cenário (exclui o trecho "juntamente com a falta de perspectiva de vacinação da comunidade escolar" dificuldades das unidades para garantir segurança nos seus espaços em um momento de descontrole da epidemia, contribui para o abandono escolar e para beco sem saída que nos encontramos.

Fontes: 
Censo da Educação Básica 2019.

TIC domicílios de 2019.

*LÚCIO LAMOGLIA PANZO










-Pós-graduado em Ensino de Ciências e Biologia pela UFRJ e Biociências e Saúde pela FIOCRUZ;
-Atua como professor regente no magistério público estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro;
-Possui experiência em mediação de exposições científicas em espaços formais e não formais. Elabora projetos de jogos didáticos com foco no aspecto lúdico como instrumento de aprendizagem; 
-Participa de atividades de extensão cultural com projetos pedagógicos desenvolvidos nas Unidades escolares.

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Essa pirâmide da desigualdade precisa acabar, uns com tanto e outros com tão pouco. Parabéns por expor essa triste realidade!

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