sexta-feira, 24 de abril de 2015

Opinião de 3ºs

Nesta 6ª feira como prometido quando criei esta seção (17.04)teremos a postagem "Opinião de 3ºs" com um artigo de um(a) amigo(a) deste blogueiro. Na 6ª feira que vem, teremos novamente um artigo meu.

Hoje, para  apreciação de vocês posto o artigo de Beatriz Mesquita,cronista brasiliense. Obrigado Bia. Este espaço estará sempre aberto para você!!

Beatriz Ramos

 A memória de um povo


Eu tinha 27 anos quando morreu Tancredo Neves. Havia acabado de parir meu segundo filho e mudar para Brasília. Minha vida mudou no mesmo ritmo que a do Brasil. No ano anterior morava no Rio, trabalhava no Palácio Guanabara, profundamente engajada na Campanha das Diretas Já e, em um piscar de olhos, me vi no Planalto Central acompanhando, pela tela fria da televisão, a frustração dos brasileiros no velório de Tancredo.

Trinta anos depois é impossível deixar de imaginar o que seria o Brasil, se o primeiro presidente do período pós-ditadura militar não houvesse morrido. Embora se diga que os dezesseis anos do golpe nos privaram de uma geração de bons políticos, a verdade é que, duas gerações após seu término, não vejo despontar ninguém que se compare aos que brilhavam, então.

Onde os Ulysses Guimarães, Mários Covas,Tancredos Neves, Fernandos Henriques, Brizolas e tantos outros que não vou citar para não cometer a injustiça do esquecimento? Basta resgatar as fotos dos palanques dos comícios das Diretas Já para ver quem são. Em que leitos dormem distraídos os estadistas, os políticos vocacionados, realmente interessados em trabalhar pelo bem do povo, não em busca de enriquecimento pessoal, em detrimento do país?

No momento mesmo em que escrevo, o relator do Orçamento no Congresso, senador Romero Jucá, triplicou a verba prevista para o fundo partidário, estabelecendo um valor recorde de R$ 867,5 milhões, devidamente sancionado pela presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo em que socorrem os partidos atingidos pelo fim das doações das empreiteiras envolvidas na Lava-Jato,  pedem à população que pague ainda mais impostos para sanar o rombo deixado pela corrupção e pela inépcia.

A concepção grega do político como homem nascido livre e igual, com direito a falar na Ágora e discutir sobre o que a cidade poderia ou não fazer; nos autoriza a inferir que, em sua origem, o político era a voz dos que não a tinham. Quanta diferença de hoje, em que políticos ignoram a voz das ruas e somos governados por uma administração reprovada por 60% da população, segundo a última pesquisa Datafolha, e considerada apenas regular por mais 27%. Quem nos representa? Quem fala por nós? Não há democracia sem representação popular.

Vivemos um momento tão especial neste abril de 2015 quanto o foi o distante abril de 1985. Há trinta anos éramos um povo cheio de esperança e sonhos de um futuro melhor. Sem tortura, sem injustiça social, sem privilégios, sem mordaças, sem a censura personificada na figura da Dona Solange, imortalizada pela irreverência do Pasquim. Pessoas que não se conheciam sorriam, cúmplices, na rua; um novo mundo estava nascendo.

Hoje somos uma nação desolada, cabisbaixa. Não há mais sonho; fomos vencidos por quem jurou nos defender. Uma sucessão de péssimos administradores e políticos de ocasião, com a devida exceção para os dois governos Fernando Henrique Cardoso - um político sério, apesar dos erros que cometeu -, nos levou tudo: esperança, saúde, educação, segurança, teto, dignidade, economia estável e, principalmente, memória.

As novas gerações, educadas por professores aparelhados e criminosamente tendenciosos, passaram por um condicionamento tal que não conseguem mais distinguir a verdade da fantasia. Em um país onde já não há partido de direita no poder há anos, chamam de reacionário a quem está um pouco menos à esquerda do que eles e reinventam a História recente sem pudor. Por que não?

Aqui se pode tudo. De “pedaladas” fiscais a mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal no apagar das luzes de 2014, para evitar que a presidente Dilma Rousseff fosse enquadrada por ela. De fazer o diabo para se reeleger, destruindo reputações, mentindo sem corar, até fazer exatamente tudo o que prometeu não fazer, antes mesmo de tomar posse no segundo mandato.

Acontece, como já dizia Karl Marx, que o PT deveria ler até por obrigação...digamos...profissional: que “A História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa ...”. Assim como nas Diretas Já e no impeachment do Collor, o povo está nas ruas. Por vontade própria, convocado por redes sociais que não existiam naquela época.

Conseguimos o impeachment de Collor graças a um Fiat Elba. Os bilhões de reais, contabilizados até agora, no que é chamado no exterior como “O Maior Escândalo do Mundo”, ainda não comoveram Parlamento e Judiciário, o povo ainda está só; nas ruas e em seu desejo de ver o governo petista fora do Planalto – somos 63%, como mostra a pesquisa Datafolha.

Não vamos nos render, como disse o então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro: “o que o povo quer, esta casa acaba querendo”. E o povo quer um governo mais enxuto; transparente; quer saber o que fizeram com o dinheiro de seus impostos, altíssimos, aliás; quer abrir a caixa-preta dos empréstimos do BNDES e dos fundos de pensão; quer contas de luz mais baixas e comida mais barata. O povo definitivamente não quer pagar a conta da corrupção de um governo que desaprova.

O povo quer ser ouvido. O momento é delicado e espera-se dos políticos que estejam à altura dele.






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