domingo, 17 de maio de 2015

Seleção de Artigos do Domingo

Neste domingo voltamos à Seleção de Artigos do Domingo.

Como esclareci quando iniciei a alternatividade de postagem das seções de domingo estes artigos podem ter como tema o  direito, a política ou qualquer outro assunto interessante ou de interesse público publicado hoje nos jornais, revistas e blogs. 

Semana que vem teremos novamente os Editoriais Políticos do Domingo!!

Conteúdo frágil
Há inúmeros cemitérios de empresas e distritos industriais que foram criados com subsídios
Celso Ming -Economista
17 Maio 2015 | 03h 00
O Estado de S. Paulo


Na cerimônia de inauguração de dois navios petroleiros em Pernambuco, realizada na última quinta-feira, a presidente Dilma bateu o pé na defesa da política que exige conteúdo local mínimo em equipamentos de petróleo.

Tromba, assim, com o que vêm recomendando o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e a própria Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ainda no último dia 5, a diretora Magda Chambriard anunciou em, Houston, Texas, onde se realizava a Offshore Technology Conference, a maior feira de petróleo do mundo, que ao menos alguma parte das mudanças na política de conteúdo local deve ser adotada já na 13.ª rodada de concessão de petróleo. Deverá fazer parte do pré-edital, previsto para sair dentro de algumas semanas. Alguma coisa deve ter acontecido para que a presidente Dilma, que antes havia sugerido “aperfeiçoamentos na política de conteúdo local”, tivesse essa recaída.

Em princípio, é louvável uma política que favoreça a indústria nacional, desde que não prejudique programas mais importantes, como o da recuperação da Petrobrás e o fortalecimento de todo o setor do petróleo, especialmente numa situação de mercado em que os preços de plataformas, sondas, embarcações e dutos estão em queda, na cola da derrubada dos preços do petróleo.

Uma política de conteúdo nacional não pode ser rígida. Tem de ser flexível, para que possa ser adaptada às circunstâncias e não acabe por produzir práticas insustentáveis.

No Brasil há inúmeros cemitérios de empresas e distritos industriais que no passado foram criados com subsídios. A Sudene e a Sudam não são os únicos. O da indústria de informática foi o caso mais comentado. O Brasil já viveu pelo menos duas fases em que a construção naval foi amplamente incentivada. As duas primeiras, a do Plano de Metas do governo Kubitschek e a do governo Geisel, conduziram à desativação de estaleiros e ao desemprego, porque descambaram para o incompatível. A terceira é a atual que não tem mais de seis anos, mas já produziu naufrágios logo à primeira crise da Petrobrás.

O Brasil não pode mais dar-se ao luxo de retomar programas que, no passado, fizeram parte de políticas de substituição de importações. O mundo gira, a Lusitana roda, a economia se globalizou, a prioridade é inserir a atividade econômica – e não só a indústria – nas cadeias internacionais de produção e distribuição e não seguir criando reservas de mercado para produtos com os quais o Brasil não consegue competir.

Parte do sucesso da Embraer se deve ao fato de não ser obrigada a queimar recursos do seu caixa em programas de sustentação de componentes para a indústria aeronáutica. Nenhum país exige que uma grande indústria de aparelhos eletrônicos só se abasteça de componentes dentro de suas próprias fronteiras. 

Tanto os governos Lula como o governo Dilma fizeram pouco-caso em garantir acesso prioritário ao mercado externo. Desestimularam uma a uma as negociações comerciais sem se incomodar com a desidratação da indústria, mas seguem praticando políticas artificiais que atrasam o desenvolvimento de todos e, muitas vezes, definham como mudas de árvores frutíferas largadas em terreno pedregoso.

Mulheres e álcool

Mulheres bem-sucedidas profissionalmente estão bebendo mais e de forma perigosa, conclui estudo

Jairo Bouer- Psquiatra
17 Maio 2015 | 03h 00
O Estado de São Paulo

Um dilema pode estar ganhando espaço na vida das mulheres bem-sucedidas profissionalmente: elas estão bebendo mais e de forma perigosa. Essa é uma das principais conclusões de um novo relatório divulgado na última semana pelo jornal britânico Daily Mail. 

Segundo estudo inédito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade internacional que congrega 34 países da Europa, América, Ásia e Oceania, a geração de mulheres que mais estudou e galgou postos no mercado de trabalho é a que mais tem problemas com álcool. 

Para os pesquisadores, a principal razão para esse comportamento está relacionada à necessidade feminina de adotar hábitos sociais semelhantes aos colegas do sexo masculino na sua rotina de trabalho. Segundo o relatório, esse seria o “lado oculto da igualdade”.

Mas muitas mulheres que se destacam em sua vida profissional discordam dessa conclusão. Para elas, o beber de forma exagerada não acontece pelas pressões no ambiente de trabalho, mas pode ser uma tentativa de aliviar os impactos provocados pela carreira em sua vida pessoal, como a solidão.

Na corrida para crescer profissionalmente, muitas adiaram seu projeto de casamento e maternidade, chegando sozinhas à maturidade. Hoje, uma em cada quatro mulheres britânicas acima dos 40 anos não tem filhos. Outras beberiam para lidar com as dificuldades resultantes do divórcio, como tristeza e depressão. No Reino Unido, 40% dos casamentos resultam em divórcio. Nos EUA, um terço dos casamentos acaba antes dos 10 anos e, no Brasil, de 20% a 25% deles se desfazem na primeira década após a união.

Ainda para outras profissionais, o abuso de bebida poderia ter outras causas. O álcool poderia funcionar como conforto e compensação para “fantasmas” que ainda povoam o universo feminino, apesar das sólidas conquistas no trabalho. Elas tenderiam muito mais a internalizar críticas e enfrentar emoções como culpa, vergonha e autoestima. No momento da confraternização da happy hour, ao lado de colegas homens, mesmo com tolerância mais baixa aos efeitos do álcool, elas beberiam de forma semelhante, tendo impactos mais drásticos em sua saúde e comportamento. 

Uma dose a menos, por favor. Ainda segundo o relatório da OCDE, quatro em cada cinco pessoas poderiam viver mais se reduzissem o consumo de álcool em apenas uma unidade por semana (por exemplo, meia taça de vinho ou um copo de cerveja a menos). 

Dois terços da população inglesa bebem hoje pela menos uma vez por semana, e metade deles excede a quantidade de álcool recomendada pelas autoridades de saúde. O consumo de álcool subiu 10% no Reino Unido nos últimos 30 anos, enquanto em boa parte da Europa ele tem diminuído. 

Beber no começo da gravidez. Outro trabalho divulgado na última semana pelo jornal Daily Mail, realizado pela Universidade de Helsinque (Finlândia), mostra que mulheres que bebem nas primeiras seis semanas de gestação (muitas ainda sem saber que estão grávidas) podem prejudicar a saúde dos seus filhos. 

Entre os principais problemas estariam a hiperatividade e o retardo no crescimento. O impacto pode ser permanente. Estudos anteriores já apontavam que o consumo de álcool na gestação poderia estar relacionado a dificuldades cognitivas nas crianças. 

A pesquisa sugere que o álcool pode interferir no funcionamento do epigenoma do DNA (processos e reações químicas que regulam a expressão do nosso material genético) das células do sistema nervoso central, principalmente no hipocampo, área do cérebro envolvida com memória e aprendizagem. 

Sabe, mas não sabe que sabe

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Tostão - Médico e Ex jogador de futebol
17/05/2015 02h00
Folha de São Paulo

No futebol e em todas as atividades, profissionais, mesmo os mais bem preparados cientificamente, às vezes, agem, principalmente nas decisões rápidas, mais de acordo com seus desejos, intuições, observações no momento e experiências anteriores do que baseado em atuais conhecimentos técnicos. Umas das razões é a onipotência do pensamento, de achar que o que penso e quero está acima da realidade.

Isso pode ser bom ou ruim. A capacidade de observar e de deduzir é uma virtude, pois diminui os excessivos pré-conceitos e pré-julgamentos. A pessoa se torna mais criativa. Por outro lado, há o risco de contrariar o conhecimento. A experiência pessoal não pode estar também à frente da ciência, que aproveita as experiências de milhares de pessoas sobre o mesmo assunto.

Como há dezenas de fatores envolvidos no resultado de uma partida, os técnicos, com frequência, erram acertando e acertam errando. Iludem-se, repetem o que fizeram errado e esquecem o que fizeram certo. Outras vezes, mesmo conhecendo a evolução da técnica, preferem repetir a mudar, por superstição, por compulsão ou por motivos ignorados.

Não se deve confundir a capacidade de observar, improvisar, com o desconhecimento técnico. A ignorância está próxima da irresponsabilidade e da pilantragem. Intuição não é palpite. É o conhecimento que ainda não foi racionalizado pela consciência e que surge de repente. A pessoa sabe, mas não sabe que sabe.

Na Copa de 1970, Zagallo me impressionou porque, pela primeira vez, vi um técnico dar, diariamente, treinamentos táticos, com detalhes. Porém, no Mundial de 1998, assisti a todos os treinos da seleção, que eram os mesmos da Copa de 1970. Apesar de conhecer a evolução dos treinamentos, Zagallo acreditava mais na repetição do que um dia estava correto e que deu certo.

Na Copa de 2014, Felipão acreditou que tudo o que tinha feito na Copa das Confederações deveria ser repetido, mesmo que as evidências mostrassem o contrário.

O excelente treinador Carlo Ancelotti, do Real Madrid, não tinha nenhuma razão técnica para colocar, contra a Juventus, no meio do segundo tempo, o centroavante Chicharito em lugar de Benzema, que era o melhor atacante do Real no jogo, mesmo cansado, após uma longa ausência. Acreditava que Chicharito repetiria o gol salvador contra o Atlético de Madri.

Atletas e treinadores, mesmo os mais estudiosos e sensatos, como Tite, também se iludem com o excesso de elogios. O Corinthians se achou muito melhor do que era. A soberba é uma fraqueza humana. Somos todos soberbos, uns mais que os outros.

Gravíssima é a estupidez humana que assola o mundo. Na Sicília, antes de chegarem, morrem milhares de imigrantes, por causa do tráfico criminoso de pessoas. Na Argentina, foi um horror o jogo entre Boca e River. Não aguento mais ver os noticiários, com tanta violência, de todos os tipos, no Brasil e no mundo. Nosso país é líder em mortes relacionadas ao futebol. O ser humano regrediu. Quase só conversa por 140 caracteres. Alguém já disse que o futuro é o grunhido. 

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