segunda-feira, 18 de julho de 2016

Brasil 2016 – Mais complicado que a crise de 1929?



Olá,

Grande responsabilidade inaugurar esta seção neste blog tão qualificado. Vamos explicar (tentar) descomplicadamente assuntos de economia. Começando com uma definição aparentemente incompreensível, mas que ilustra bem o conceito:

Numa cidade, muito frio, a cidade parece deserta…

Os habitantes, endividados e vivendo à custa de crédito. Por sorte chega um viajante rico e entra num pequeno hotel. 

O mesmo saca uma nota de R$ 100,00, põe no balcão e pede para ver as instalações. Enquanto isso, o gerente do hotel sai correndo com a nota de R$ 100,00 e vai até o açougue pagar suas dívidas com o açougueiro.

Este, pega a nota e vai até um criador de suínos a quem deve e paga tudo.

O criador, por sua vez, pega também a nota e corre ao veterinário para liquidar sua dívida.

O veterinário, com a nota em mãos, vai até a zona pagar o que devia a uma prostituta (em tempos de crise essa classe também trabalha a crédito).

A prostituta sai com o dinheiro em direção ao hotel, lugar onde, às vezes, levava seus clientes e que ultimamente não havia pago pelas acomodações, e paga a conta.

Nesse momento, o gringo chega novamente ao balcão, pede a nota de volta, agradece, mas diz não ser o que esperava e sai do hotel e da cidade.

Ninguém ganhou nenhum vintém, porém agora toda a cidade vive em PAZ!

Moral da história: Economia é fácil de entender, mas difícil de aceitar... 

Uma definição simplista de Economia é a ciência que estuda (e tenta concatenar) a escassez de recursos tanto para consumir quanto para produzir. Consumo que atenda as necessidades humanas (ilimitadas) versus produção de bens e serviços. Sempre que se pensa em dinheiro, no que compra, sempre, por mais que seja rica uma pessoa, sempre haverá insatisfação. O céu é o limite para as necessidades do ser humano.

Depois dessas definições (que sempre geram reflexão e dialética) vamos ao tema de hoje: 

Brasil 2016 – Mais complicado que a crise de 1929?

A declaração foi do Ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Quando em maio último em entrevistas foi feita essa declaração, muitos se debruçaram a ver semelhanças e diferenças nos dois momentos históricos econômicos.

Comparativo entre a crise de 1929 e 2016:



1929
2016

Cenário comparativo
Economia em pleno desenvolvimento nos EUA e Europa se recuperando da 1ª Guerra mundial
Mundo patinando, saindo da crise de 2008
Excesso de produção sem ter para quem vender
Exportações prejudicadas por crise na Europa e China

Alta do dólar
Desemprego
Desemprego
Queda brusca no preço das ações
Queda brusca nos preços de ações de estatais que movem o Mercado: Petrobrás, Eletrobrás, entre outras


No quadro acima vemos o que basicamente semelhante aconteceu e acontece. Nos EUA havia superprodução, mas não tinha para quem vender, pois a Europa estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial e voltou a produzir industrialmente, enquanto que no Brasil a produção que era escoada para Europa, em crise, deixou de ser exportada, junto com a alta do dólar que prejudicou todo um setor que dependia de importações pra produzir no país. Nos dois períodos gerou forte desemprego, e o setor de investimentos a longo prazo retraiu-se (Mercado Financeiro). 

Comparativo New Deal (1929) e Plano Temer


1929
2016

Cenário comparativo
Medidas corretivas
Investimento em Infraestrutura, incentivos ao agronegócio,
PEC que limita gastos do governo
Modificação nos sistemas Financeiro e bancário
Extinção do Fundo Soberano;
Realocação de recursos do BNDES para o Tesouro;

Controle de preços

Instituição de benefícios sociais
Subsídios
Continuação dos Programas Sociais

Ponto divergente entre 1929 e 2016 é que num cenário onde a economia está em retração, os gastos do governo devem aumentar, investimentos em infraestrutura como hospitais, malha viária, isso gera empregos e melhora a atividade econômica. Os EUA aumentaram os gastos enquanto que o governo brasileiro, sem reservas, é praticamente obrigado a estancar gastos provocando um efeito perigoso. O risco no Brasil pensa-se diminuído ao cortar gastos quando realoca recursos do Fundo Soberano e do BNDES para o Tesouro, assim possibilitando pelo menos manter os benefícios sociais, que nesse período de crise se faz mais que necessário.

No Brasil, o Sistema Financeiro Nacional é um dos mais seguros do mundo contra fraudes, pois quando foi instituído, já foi feito pós crise de 1929. Por essa razão que muitos investidores internacionais colocam suas divisas em títulos do Mercado brasileiro.

Em 1929 os preços estavam acima do mercado. Como nas bolhas imobiliárias que vimos no Brasil por exemplo. Lá era carvão, petróleo, entre outros. Naquele momento deu certo o governo intervir no controle de preços. Mas no Brasil na década de 1990 mostrou que aqui pode ser desatroso, aumentou mais ainda a inflação. Um detalhe: com menos atividade econômica, a inflação até cresce, mas fracamente. É o que temos como ponto positivo para o momento delicado que estamos passando.

Concluindo: as medidas tomadas são suficientes? No caso da Crise de 1929 os efeitos dessas medidas só foram realmente sentidos em 10 anos. Pergunto: temos a paciência de esperar? Já se fala na volta da famigerada CPMF para o próximo ano, pois agora os efeitos da crise serão mais aparentes. No imaginário do eleitor médio, Temer e equipe tem 90 dias para fazer um “milagre”. O que tirou os EUA da crise foi muito trabalho, confiança nas Instituições e visão de médio e longo prazo dos governantes (planejamento estratégico).  Que o brasileiro continue trabalhando e não desistindo nunca.

Por ANA PAULA STUCCHI















-Economista de formação;
-MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral;
-Atualmente na área pública
Twitter:@stucchiana

2 comentários:

  1. Muito bom precisamos cada vez mais, simplificar para que pessoal comece raciocinar e entender as políticas adotadas pelo governo, criando a capacidade de discutir e criticar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Thiago, quase ninguém se atenta, mas a política pública de educação produz maus professores nas áreas de exatas justamente para que o brasileiro médio não faça contas, não atente para a visão de longo prazo na vida pessoal, familiar e coletiva. Espero que essa contribuição seja um trabalho de formiguinha mas que seja uma semente que gere frutos. Cada um fazendo sua parte. Qualquer sugestão de tema que queira que seja esclarecido fique a vontade para nos contatar.
      Abraços

      Excluir