domingo, 6 de agosto de 2017

Perda Gestacional


          

A perda gestacional é um problema que ocorre em até 15% das gestações, porém o assunto não é muito abordado. 

A literatura apresenta várias dificuldades no processo de luto do aborto espontâneo, entre elas: ausência de uma memória concreta do feto, sentimento de culpa da mulher e risco de transtornos psicológicos (Boyce, Condon, Ellwood, 2002) como a depressão, que segundo Veiga (2009) é o prevalente nesta situação.

É necessário reconhecer a perda gestacional como sendo algo doloroso para a família e para a mulher que havia engravidado.

O modo como cada mulher sente esta dor é um processo individualizado, porém a culpa e a vergonha são sentimentos recorrentes neste caso. 

A partir da perda fetal, segundo Bartilotti (1998) a mulher percebe a impossibilidade da maternidade e tem um sentimento de fracasso, ela se vê sozinha diante de suas dúvidas, temores e lamentos.

Segundo Benute et.al. (2009) em estudo com mulheres que realizaram abortamento espontâneo ou provocado, a mulher faz um movimento para buscar responsáveis a fim de não lidar com a angústia vivida pelo abortamento e, se ela consegue achar um culpado, sua angústia é projetada no outro, impossibilitando assim a reflexão e a elaboração do processo vivido. Porém quando não é possível responsabilizar alguém, “a angústia gera conflito e este possibilita a compreensão e a integração do significado do abortamento” (p. 326). 

De acordo com Duarte e Turato (2009) é comum para a mulher a sensação de viver um sonho após a perda fetal. 

A perda gestacional representa uma ruptura na vida das mulheres, na qual há a reconstrução de sua identidade, fazendo com que a mulher tenha que lidar com sentimentos de impotência e incapacidade, causando grande impacto em sua feminilidade (Quayle, 1997; Santos, Rosenburg, Burallli, 2004; Veiga, 2009).

Diante de uma perda a presença do psicólogo é muito importante, pois ele ajudará a lidar com o processo de luto. Além disso, quando falamos de uma perda gestacional, estamos trabalhando não só com o luto físico (que já é doloroso), mas o luto da fantasia de um bebê, de uma família e de um ente querido, que por mais que não tivesse estado em seus braços, muitas vezes, já estava em seu coração. 

Referências Bibliográficas

Bartilotti, M. R. M. B. (1998). Obstetrícia e Ginecologia: urgências psicológicas. In: Angerami-Camon (Org.), V. A. Urgências psicológicas no Hospital (pp.193 - 206). São Paulo: Pioneira; 

Benute, G. R. G.; Nomura, R. M. Y.; Pereira, P. P.; Lucia, M. C. S. de; Zugaib, M. (2009). Abortamento espontâneo e provocado: ansiedade, depressão e culpa. Rev. Assoc. Med. Bras., 55(3);

Boyce, P.; Condon, J. T.; Ellwood, D. A (2002). Pregnancy Loss: a major life event affecting emotional health and well- being. Medical Journals Association, 176;e

Duarte, C. A. M.; Turato, E. R. (2009). Sentimentos presentes nas mulheres diante da perda fetal: uma revisão. Rev. Psicol. em estudo, 14 (3).

POR CARINE FRANCESCHI SAITO











-Psicóloga formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie;
- Especialista em Gestalt-terapia pelo Instituto Sedes Sapientiae;
- Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;
- Realizou aprimoramento em Psicologia Hospitalar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;
- Aperfeiçoamento em Psicossomática no Instituto Sedes Sapientiae.
- Além da vasta experiência em consultório, possui vivências em grupo terapêutico em Hospital Psiquiátrico, brinquedoteca em hospital e atendimento a leitos de enfermarias, ambulatórios e Unidade de terapia intensiva. Participou da equipe na Unidade de Psiquiatria da infância e adolescência da UNIFESP como assistente de avaliação neuropsicológica. Realizou diversos cursos de extensão em Gestalt-terapia além de grupos de estudo na área assim como de psicologia hospitalar.

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