sábado, 12 de janeiro de 2019

Férias, Dúvidas e Incertezas para a Educação





Autor:Lúcio Panza(*)

Caros colegas de profissão, entramos em janeiro, mês no qual gozamos de nossas férias coletivas. O merecido descanso, necessário e reparador para mestres e alunos.

Atualmente, levamos junto ao nosso tempo de repouso as incertezas que assolam a Educação. Seria muito gratificante poder relaxar e aproveitar os prazeres dessa temporada sabendo que ao regresso de nossas atividades laborais estaríamos diante de um quadro promissor para a área, porém em pesquisas realizadas a respeito das propostas do novo Governo do presidente eleito Jair Bolsonaro para a Educação percebe-se um alinhamento com o liberalismo econômico na medida que defende a concentração do financiamento dos serviços em parceria com a gestão da iniciativa privada preservando o poder de decisão dos cidadãos através da implementação de vouchers (destinados aos pais para escolherem a escola que desejam matricular seus filhos) e escolas comunitárias. 

O plano de governo é pouco detalhado, segundo a tese dos defensores do modelo é economizar dinheiro com a manutenção de escolas e folha de pagamento de professores. 

As dúvidas que surgem são as seguintes: Os pais poderão, de fato, escolher ou apenas entregar um pedido de matrícula? O voucher irá garantir que o aluno seja aceito em uma Instituição de ensino subsidiada? Ou acabarão relegados às piores escolas no caso das famílias que não dispuserem de poder aquisitivo para bancarem valores superiores aos do voucher? O que se viu foi um aumento da segregação escolar e uma estagnação da qualidade do ensino no lugares em que esse mecanismo foi adotado como no Chile, na ditadura de Pinochet, na décadas de 80. 

Outra questão preocupante é a ampliação do ensino à distância principalmente no ensino fundamental já que a modalidade limita a socialização em uma fase de aprendizado onde o vínculo com o professor é extremamente importante, motivador e agregador. E muitos estudantes com idades mais avançadas, geralmente alunos do turno da noite, também necessitam desse aporte junto ao professor capacitando-os com ritmos de estudos e auxiliando-os nas dificuldades com as novas tecnologias.

A possibilidade de cobrar mensalidades em universidades públicas também é uma lacuna. Que faixas de rendas seriam isentas do pagamento e que parâmetros serão utilizados para esta definição? 

Outra questão de extrema relevância diz respeito à qualificação e remuneração dos mestres pois nossos salários equivalem à metade da média dos países avaliados pela OCDE. São previstos investimentos para valorizá-los mas o plano não explica de que forma isso será feito. Contraditoriamente, a inspiração se baseia nos modelos de países asiáticos, a exemplo de Japão e Coreia do Sul, no entanto, esses dois países conduzem a educação básica por meio de escolas públicas. 

A ampliação do financiamento para terceirização das escolas promovem a precarização das relações de trabalho e destrói o sistema público de Educação, já tão combalido. É desanimador, mas retornaremos entre dúvidas e incertezas.

*LÚCIO PANZA 

















-Pós-graduado em Ensino de Ciências e Biologia pela UFRJ e Biociências e Saúde pela FIOCRUZ. Atua como professor regente no magistério público estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro;
-Possui experiência em mediação de exposições científicas em espaços formais e não-formais. Elabora projetos de jogos didáticos com foco no aspecto lúdico como instrumento de aprendizagem; 
-Participa de atividades de extensão cultural com projetos pedagógicos desenvolvidos nas Unidades escolares.
-Escritor com poemas publicados em diversas coletâneas e vencedor de diversos prêmios literários. Autor do livro de poesias “O tempo não existe: Catraio-tamborim no Morro-Aquarela”. 

Nota do Editor:

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