sexta-feira, 29 de abril de 2022

A educação é também o caminho


 Autora: Ianny Lima Maia (*)

A educação parece ser um tema gasto e concordamos que está em decadência em nosso país, sobretudo pela forma como a entendemos de maneira geral. Visando uma reflexão mais ampla, é interessante que reflitamos aqui de que maneira temos olhado para a educação fora dos meios acadêmicos e como temos nos relacionado com ela. Será que a educação que recebemos nos basta? A educação é somente aquela que recebemos em casa ou nas escolas?

A princípio devemos nos voltar à origem da palavra educar que vem do latim e que segundo Evandro Silva Martins (2005):

 

 "temos o provérbio e o verbo – ducare, dúcere. No itálico, de onde proveio o latim, dúcere se prende­ à raiz indo - europeia DUK-, grau zero da raiz DEUK- ,cuja acepção primitiva era levar, conduzir, guiar. Educare, no latim, era um verbo­ que tinha o sentido de “criar (uma criança), nutrir, fazer crescer. Etimologicamente, poderíamos afirmar que educação, do verbo educar, significa "trazer à luz a ideia".

 

Pensando que educar é trazer luz à ideia, cabe a ela nos guiar para melhores práticas de vivências coletivas e individuais, não se bastando a concepção de que educar se restringe ao campo escolar. A instituição Escola muitas vezes se torna sobrecarregada pela transferência de responsabilidade do ato de educar. É necessário que vejamos que educação vai muito além de assimilar conteúdos do ensino formal, e devemos compreender que os pais e a sociedade são também fator contribuinte e participativo na construção diária da formação de todos os seres. Devemos nos lembrar que estamos constantemente aprendendo e transmitindo conhecimento uns aos outros.

Compreender qual é a função da escola é um ponto base para que possamos pensar em educação como ação política popular e transformadora. A escola, como instituição, tem seu papel fundamental na formação dos indivíduos usando de instrumentos como os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Todos estes pilares fazem parte de um processo para nos tornarmos não apenas competentes nas áreas de formação, mas como seres mais sociáveis, justos, empáticos, pacíficos e muito mais. É importante que saibamos que a escola pode começar e auxiliar neste processo, porém os pais e toda a sociedade têm por obrigação contribuir e dar continuidade. Afinal, é necessária uma mudança coletiva para formarmos uma geração mais desenvolvida.

Paulo Freire (1967) nos afirma que "não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio", aprender e ensinar transitam em nosso dia a dia e estão em nossa vivência. É fundamental pensarmos em educação como ação social para a transformação de nossos hábitos, visando melhorias de pequenas condutas como jogar lixo no lixo, economizar água, não desperdiçar alimentos, respeitar valores éticos e morais, considerar as individualidades, dentre tantos outros exemplos dos quais melhorariam nossa convivência, afinal educar é fazer crescer.

Assim como é necessário pensar na educação versada na conduta e na formação, é fundamental pensar nela como descoberta ou aperfeiçoamento para diversos âmbitos de nossas vidas, visar a educação política, a educação financeira, a educação emocional, a educação do nosso físico, a educação no trânsito, a educação sexual, a educação de comportamentos, etc. Devemos nos abrir para o diálogo e para troca de experiências, a fim de seguir o desafio de educarmos uns aos outros "a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem" (FREIRE, 1967, p.97). Em resumo só nos tornaremos seres completos na sociabilização e quando a educação for um projeto comum, aí sim resolveremos conflitos e diferenças latentes.

Portanto, o nosso país é de iletrados que ainda não estão dispostos a se dedicar à educação das massas, a fortalecê-la e a pensar em um melhor viver em sociedade. Continuamos jogando a educação de lado, segregando, dispensando, elitizando, deixando-a como uma responsabilidade e projeto para depois, para poucos acessarem, utópica, onerosa e para somente as instituições a proverem.

Simplesmente a educação também é o caminho e a arma para combatermos as desigualdades, o retrocesso, a corrupção, a violência. Afinal, estamos em guerra, não entre nós mesmos, mas contra a ignorância. Saibamos que a educação que recebemos não deve e não deveria nos bastar.

 Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e terra LTDA, 1967.

MARTINS, Evandro Silva. A etimologia de alguns vocábulos referentes à educação. Olhares e trilhas, Uberlândia, ano VI, nº 6, p.31-36, 2005.]

IANNY LIMA MAIA












-Graduada em Letras - Espanhol pela Universidade Estadual de Montes Claros (2013);

-Mestre em Letras/Estudos Literários no Programa de Pós Graduação em Letras/Estudos Literários (PPGL) pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)(2016);

-Fez parte do projeto de pesquisa Representação feminina e relações de gênero na Espanha do Século de Ouro: Tradição e Modernidade nas Novelas Ejemplares, de Cervantes (2011-2013).

-Desenvolve pesquisa sobre a mulher cigana nas literaturas brasileira, espanhola e francesa. 

 Nota do Editor:


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8 comentários:

  1. Excelente Reflexão. Parabéns pelo texto.

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    1. Olá,
      Que bom que gostou do texto e da reflexão. Volte sempre!

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  2. A fórmula da educação é complexa e simples . Professor, ensina, alunos se esforçam e pais educam. Não existe político nesta fórmula!

    Precisamos

    Para

    Para

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    1. Muito obrigada por sua leitura e considerações.
      Abraços,
      Ianny Maia

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  3. Amei o texto, muito bem estrturado, tratando de educação e Brasil as soluções nunca são simples.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Algo curioso, considerando meus 30 anos de vida é que tudo que aprendi na escola foi esquecido com o passar dos anos, no entanto as questões da educação social continuam em constante manutenção na minha cabeça, por exemplo, toda vez que carrego algum lixo em mãos, o guardo no bolso para jogar numa lixeira qualquer. Não sei dizer se isso foi por repetição - seja pela tv ou pelo meus pais - ou se 'apanhei' quando joguei no chão quando criança, mas sei que não foi na escola.

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  6. Parabéns pelo texto! Realmente a educação é o agente transformador dos seres humanos. Sendo portanto, um processo contínuo de aprendizagem.

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