segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O beabá e o femeapá do duelo Bolso-Lula (ou Lula-Bolso?)

Autor: Alberto Schiesari (*)


O que aqui segue é para tentar mostrar ao leitor e à leitora que os dois candidatos à Presidência, que irão disputar o segundo turno, estão mais preocupados com o poder decorrente da vitória, e não com vitória propriamente dita.

E lembremos que o poder só pode ser obtido e mantido se houver um círculo seleto e restrito de pessoas associadas a quem é o dono do poder. Pessoas que de alguma forma se beneficiam, têm privilégios, tratamento diferenciado, deixando o "todos são iguais perante a lei" a ver navios. Não é só na Rússia que há oligarcas, nosso país está infestado deles.

Daqui a pouco eu vou a esse assunto, mas antes quero falar umas palavras sobre o título meio esquisito deste artigo.

A primeira questão: é Bolso-Lula ou é Lula-Bolso? O nome de quem deve ser o primeiro? O segundo referenciado é menos importante do que o primeiro? O primeiro é mais importante do que o segundo?

Há casos na História que mostram esse tipo de preocupação, ao menos entre dois personagens de uma disputa. Houve a guerra da Argentina contra a Inglaterra, ou da Inglaterra contra a Argentina? Cada lado tem sua versão e sua denominação.

Houve a missão espacial Apollo-Soyuz ou a Soyuz-Apollo? Basta ver na Wikipedia que há duas identidades para o mesmo evento.

Não vale falar da guerra entre Rússia e Ucrânia (ou seria Ucrânia e Rússia?) pois a Rússia nem diz que há uma guerra. Aliás, coloca (detesto a expressão "bota") na cadeia quem disser que há uma guerra.

Dúvidas similares fizeram com que muitos séculos atrás se inventasse a távola redonda... Enfim, cabe ao leitor ou leitora usar a combinação de oponentes do jeito que lhes for mais simpático.

Beabá todos sabem o que é: cartilha básica de alguma coisa. É a porta de entrada para conhecimentos, comportamentos, aprofundamentos a respeito de algum assunto. Os dois candidatos leem as suas cartilhas para aprender como conquistar eleitores. Cartilhas essas escritas por marqueteiros sem rédeas, ou por caciques de partidos, que têm a sanha de poder muito mais forte do que qualquer princípio ideológico.

Um detalhe que apimenta estas eleições é que os dois candidatos gostam muito de improvisar em seus discursos, debates e entrevistas. Os dois têm rompantes de temperamento e de verborragia. Improvisam por serem menos formais, e, principalmente, porque ambos têm pavio curto.

E assim vão conquistando confiança ou rejeição entre os eleitores.

Mas o que é femeapá?

Décadas atrás um autor de nome Sérgio Porto (conhecido também pelo nome de seu alter ego, Stanislaw Ponte Preta) batizou alguns livros que publicou como FEBEAPÁ. Esses livros eram coletâneas das crônicas que regularmente ele escrevia para o jornal Última Hora. As crônicas versavam sobre coisas derivadas da política a partir de março de 1964.

FEBEAPÁ é (era) o FEstival de BEsteiras que Assola o PAís. Já naquela época havia muitas besteiras. Elas não são privilégio dos dias atuais.

E FEMEAPÁ? Ah! Não é o que vocês estão pensando! Seria até uma boa ideia, pois é a pura verdade. Mas como não temos tanta intimidade, vou ser mais discreto.

Peguei inspiração, quase plagiei Sérgio Porto, e batizei o FEstival de MEntiras que Assola o País como FEMEAPÁ.

Quais mentiras?

Para começar, quem ainda é tão ingênuo, inocência em pessoa, a ponto de acreditar nos números vergonhosos da grande maioria dos institutos de pesquisa? "Técnicos de alto gabarito"! dessas instituições falam difícil, dizem asneiras enormes para justificar os graves erros dos resultados de suas pesquisas.

Os números talvez até estejam certos, mas a metodologia parece coisa de amadores. Parece, mas não é. São profissionais muito competentes que "sem querer querendo" elaboram questões com viés, estabelecem universo de amostras de forma errada. Essa última escorregada já foi confirmada por alguns institutos, ao assumirem que vão ajustar alguns métodos nas pesquisas para o segundo turno. Ajustar é um termo muito polido para suavizar o que, de fato, é corrigir erros inaceitáveis.

É uma lástima terrível que nossas eleições sejam norteadas por esse tipo de instituição.

Quem é o ingênuo que ainda acredita em alguma coisa que é dita nas propagandas eleitorais e nos discursos dos dois oponentes que concorrem ao cargo máximo da República? Palavras cuja autoria é de marqueteiros interessados em lucros enormes, que têm compromisso com o candidato, e não com os cidadãos. São pagos para maquiar coisas, fatos e pessoas.

Muitas coisas que os candidatos afirmam são frutos de improvisação deles próprios. Citam números a respeito de crescimento econômico setorial ou nacional, que eles inventam ao discursar, com o objetivo de impressionar os ouvintes. Quem nos lê já tentou alguma vez verificar a validade de alguns números que os dois candidatos citam? Algumas percentagens? Alguns índices?

"Chutes". Melhor dizendo, são produtos de geração espontânea nascida no calor dos discursos. Mas, infelizmente, cumprem sua maldita função de impressionar eleitores incautos.

A maior parte do tempo dos candidatos durante debates e entrevistas é usada para ambos se atacarem mutuamente, e nada de concreto é apresentado a respeito do norte de seus futuros governos.

Pensando bem, até que esse comportamento é interessante. Se falassem algo a respeito de seus respectivos programas de governo, simplesmente mentiriam, ou omitiriam, como já fizeram anteriormente.

Em sua campanha de 2018 Bolsonaro disse um monte de coisas a respeito do que faria se fosse Presidente. Mas não disse absolutamente nada sobre sua aversão a vacinas, sobre sua paixão pela cloroquina. Você, em sã consciência, votaria em alguém que não é médico, mas faz coisas que só competem a médicos?

Bolsonaro também não falou nenhuma palavra sobre a fritura de Moro que fez desde o início do mandato. Mas ganhou muitos votos por prometer que Moro seria o Ministro da Justiça. Ingratidão.

O Presidente, na verdade, não estava preocupado com o combate à corrupção, ele tinha outras prioridades. Mas nada disse sobre elas. Nem antes e nem depois de eleito.

Nas campanhas para se eleger e reeleger nas quais saiu vitorioso, Lula nunca disse que era um ser tão casto e ingênuo a ponto de não perceber nadica de nada a respeito do imenso roubo que depauperou a Petrobrás sob suas barbas. Não se pode votar em gente tão inocente, tão desprendida da realidade, principalmente para o cargo máximo da nação. Note que eu disse inocente no sentido de ingenuidade.

Os dois candidatos omitiram vergonhosamente o esforço que fariam para travar e impedir qualquer medida de controle à corrupção. Falaram, mas não acabaram – e nem se esforçaram para diminuir – com a corrupção.

Ambos também não disseram nenhuma palavra a respeito do tratamento diferenciado que eles próprios, seus descendentes e asseclas tiveram por parte de instituições públicas. Nada disseram sobre qual a razão pela qual privilegiaram vergonhosamente determinados setores da sociedade e da economia, em detrimento de ações destinadas a diminuir a injustiça social.

Os dois senhores em questão calaram-se vergonhosamente sobre a falência da educação em seus respectivos governos. Fecharam a boca sobre os milhões de desempregados e subempregados que as estatísticas não mostram.

A quantidade, a intensidade e a idiotice das mentiras que são ditas durante as campanhas eleitorais no Brasil, com a maior cara-de-pau, são imbatíveis.

Não são só mentiras. São absurdos: FEABAPÁ.

São idiotices sem tamanho: FEIDAPÁ.

São asneiras imperdoáveis: FEASAPÀ.

E assim por diante.

Mas, infelizmente, os eleitores delas se esquecem facilmente. São palavras, frases e discursos de causar vergonha à nossa nação.

Os eleitores estão sendo bombardeados com fake news, fake olds e fake futuras. Nem vou usar fontes em itálico. As fake news já se incorporaram ao vocabulário do português brasileiro e à metodologia política marqueteira. E, por extensão, vou supor que fake olds e fakes futuras também já fazem parte de nossos dicionários e das cartilhas de leitura obrigatória para muitos políticos.

Perdoem-me, Aurélio e Houaiss.

As fake news, como todos sabem, são obras de espertalhões que as espalham pela internet cobrando caro para realizar esse "trabalho". Assim fazem, pois há quem não tenha escrúpulos suficientes, e paga o preço que os espertalhões cobram.

São informações falsas criadas por mentes criminosas, e pagas por quem? Pelos cidadãos como nós, que pagam os impostos, parte dos quais é direcionada para bancar o todo dos fundos partidários, o Bolsa-Família dos partidos políticos.

Uma vergonha sem tamanho. Pagamos preço de ouro para alguém espalhar mentiras.

E as fake olds?

Ah! Essas são de chorar de rir, ou, melhor dizendo, são de rir para não chorar. Elas chegam sorrateiras, e assumem diversas formas e personalidades, para evitar serem desmascaradas.

Quer alguns exemplos?

As tardias medidas que sempre só são tomadas no último ano de governo, em tentativas escandalosas que cada candidato faz para se perpetuar no poder. Por que somente no último ano de seu mandato? Não é apenas vergonhoso. É odioso, tal o descaramento com que certos decretos são promulgados às vésperas das eleições.

O objetivo não é beneficiar os cidadãos. É se reeleger. Quem não percebe isso é ruim da cabeça ou doente do pé.

Da mesma forma como ocorre com a aproximação nitidamente falsa e encenada dos candidatos com os seguidores de tal ou qual religião. Os candidatos colocam a cenoura da "liberdade religiosa" e do "respeito às diferenças", como atrativo. Mas só se lembram desses eleitores nas vésperas das eleições.

Fake olds são também, as referências históricas totalmente inverídicas, deturpadas, distorcidas, inventadas pelos candidatos para tirar proveito eleitoreiro como lhes for mais conveniente.

Também são fake olds coisas que os candidatos dizem que fizeram por este país, e que consideram obras-primas, “fatos” totalmente fictícios, conquistas cuja autoria é apropriada pelos candidatos sem nenhuma razão, "obras minhas' que são, na verdade, obras de outrem.

Fake olds podem estar disfarçadas nos relatos de coisas que os candidatos dizem que fizeram, que são erradas e imorais, mas que são travestidas e apresentadas como benefícios à sociedade, ou bondades de alguém com coração.

O negacionismo transformado em método corajoso para não diminuir o desenvolvimento econômico.

A institucionalização de pagamentos duvidosos – na sua essência ou finalidade – que são referenciados como tática política e método vitorioso para dialogar com a dita "oposição".

Fake old é o brilho de miseráveis Bolsas para ofuscar os sombrios aumentos de impostos. É o falso brioche que tem a impossível função de substituir o pão que falta na mesa dos miseráveis. Esses mesmos miseráveis que os dois oponentes da disputa presidencial dizem que extinguiram do Brasil...

As fake olds são, principalmente, a omissão e a ocultação das coisas más que os oponentes fizeram. Ou então são frases pomposas de pessoas arrogantes, que se atribuem conquistas que não se devem a eles.

Fake olds são, inclusive, discursos de quem já se disse salvador dessa pátria, mas que quando esteve no poder, muito fez para salvar a si próprio, seus familiares e cupinchas.

E as referidas fakes futuras?

Essas constituem o ápice da desfaçatez dos candidatos ao fazer declarações e promessas para o caso de serem eleitos. Prometem o mundo, e entregam uma ilhotazinha. Prometem justiça social, mas privilegiam quem já tem privilégios. Prometem cumprir a Constituição, mas usam de todos os artifícios possíveis para contorná-la, muda-la e até desrespeitá-la. O futuro do qual eles apresentam as maquetes são obras irrealizáveis (por eles), pois suas prioridades e ações são em outras direções.

Prometem democracia e tentam tudo para censurar a imprensa. Exceto, é óbvio, os órgãos de imprensa que estão a seu favor. Em paralelo, e em contradição, declaram-se defensores da liberdade de expressão.

Fingem que brigam com os segmentos mais abastados da sociedade, mas fazem acordos indizíveis com eles, visto que ambos têm apoio desses grupos.

Sabe o que o Bolsonaro vai fazer se não ganhar a eleição?

Se ele for moderado – e há inúmeros indícios de que não o seja – Bolsonaro vai se recolher em algum entre as dezenas de imóveis que tem, e curtir a vida como pouquíssimos brasileiros podem. Comendo picanha nos fins de semana, da mesma forma como o Lula gosta de fazer.

Sob esse prisma, Bolsonaro pouco se importa se vai ser eleito ou não. Ele tem recursos para viver tranquilamente sua velhice. Não precisa se preocupar em contar as moedas que sua aposentadoria pode lhe proporcionar. Coisa que a maioria esmagadora dos brasileiros aposentados é obrigada a fazer todo santo dia.

Mesmo que Bolsonaro não tivesse recursos para isso, tudo indica que seus filhos, parentes e chegados têm recursos mais do que suficientes para dar tranquilidade financeira a seu benfeitor.

Uma última observação quanto a Bolsonaro. Ele insiste, com veemência, em dizer que respeitará o resultado do pleito. Mas sempre acrescenta a fatídica frase final a esse parágrafo: "SE as eleições forem limpas".

Esse finalzinho deixa uma ameaça velada a respeito do que ele fará se sua cabeça (a dele, não a sua, leitor/leitora) chegar à conclusão de que a eleição não é limpa.

E o que Lula vai fazer se não ganhar a eleição?

Da mesma forma que Bolsonaro, Lula provavelmente vai se recolher num imóvel. Só que provavelmente não é um imóvel dele próprio. É algum imóvel de algum amigo, entre os inúmeros amigos que ele tem, que o deixam usar quantos e quais imóveis ele queira durante a vida inteira.

Que amizade linda!

Já imaginou quantos usuários do Bolsa Família sonham em ter amigos desse calibre?

Lula também pouco se importa se vai ser eleito ou não.

Ele tem como obter recursos para ter a vida tranquila até o fim de seus dias. E mesmo que não os tivesse, da mesma forma que seu concorrente, tudo indica que os filhos, parentes e chegados de Lula têm recursos mais do que suficientes para dar tranquilidade financeira a seu benfeitor.

Déjà vu! Bingo!

Dois personagens, mas a história é exatamente a mesma! Apenas roteiros copiados um do outro, na base do "muda as palavras para não parecer que é cola".

Enfim, os eleitores precisam escolher entre esses dois figurões.

Qualquer que seja o resultado do segundo turno, uma coisa parece certa: vamos ter muitos problemas.

*ALBERTO ROMANO SCHIESARI























-Economista;
-Pós-graduado em Docência do Ensino Superior;
-Especialista em Tecnologia da Informação, Exploração Espacial e Educação STEM; 
-Professor universitário por mais de 30 anos;
-Consultor e Palestrante.

Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. Muito bom o artigo. Parabéns! Batuira Lino

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    1. É lamentável que os tribunais eleitorais se calem, façam ouvidos moucos e tapem os olhos ao FEMEAPÁ. Que permitam que institutos de pesquisa deem as cartas das eleições.
      É vergonhoso que os donos de partido (sim, os há!) decidam quem vai ser candidato ou não.
      Tudo isso faz florescer candidaturas de incompetentes. E impede que nosso destino seja conduzido por quem tem mérito, vontade e capacidade para levar o Brasil a um destino decente. Rapidamente.
      Triste destino o nosso.

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