terça-feira, 30 de maio de 2017

O Ato Ilícito do Outro é Corrupção, Já O Meu...



Na década de 70, com a propaganda do cigarro Vila Rica estrelada pelo tricampeão da Seleção Brasileira de Futebol Gérson, estabeleceu-se uma nova regra que ficou conhecida posteriormente como a Lei de Gérson devido à frase proferida pelo protagonista do comercial: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”. De lá para cá, o jeitinho brasileiro foi conquistando fama e adeptos. Essa parecia ser a forma mais adequada para solucionar os problemas que se apresentavam no nosso cotidiano. Ao passar por uma autoestrada, por exemplo, em alta velocidade e ser parado pelo policial rodoviário que adverte sobre a infração e comunica a multa é comum que o indivíduo reaja: “Mas não dá pra gente dar um jeitinho?”. 

O jeitinho brasileiro, com o tempo, foi maquiado com uma falsa ingenuidade que poderia justificar atos como estacionar no shopping em uma vaga de deficiente já que existem tantas e, possivelmente, não serão preenchidas, ou ainda aceitar o desconto atrelado à omissão da nota fiscal oferecido pelo comerciante, afinal de contas já pagamos tantos impostos! Parte da rotina, esses e tantos outros atos jamais poderiam ser considerados ilícitos pelos cidadãos que acaloradamente indignam-se com corruptos e corruptores revelados pelas investigações da Operação Lava Jato. 

Por meio das mais diversas manifestações, a população revela sua indignação com os políticos brasileiros envolvidos em uma corrupção sistêmica e bilionária. Bradam palavras de ordem, promovem greves e passeatas, vociferam pelas redes sociais. Em algum momento essa convulsão social precisará dar espaço à reflexão que nos conduzirá a uma mudança de comportamento. Afinal de contas, de que adianta toda essa mobilização se não for para mudar essas atitudes que culturalmente são aceitas como inofensivas, mas que, no final das contas, serve de berço para todo esse sistema corrupto? 

Mario Sergio Cortella defende uma versão mais otimista do jeitinho brasileiro quando este designa uma flexibilidade do indivíduo que se adapta às situações adversas da vida e desafia: “Quer terminar com a corrupção? Não corrompa!”, certo de que, ao quebrarmos esse paradigma que se estabelece como se fosse algo inerente à condição do ser humano, poderemos evoluir enquanto sociedade. Fazer o que é certo nem sempre é fácil, mas com certeza é mais reconfortante.

Há um ditado que diz: “A ocasião faz o ladrão”. Discordo dessa máxima, pois, na minha opinião, o ladrão faz a ocasião, haja vista que a ausência do senso ético e moral faz com que esse ser busque meios para atingir seus objetivos de prosperidade sem se importar com a legalidade de seus atos. Nesse caso, o fim justifica os meios já que enriquecer a qualquer custo torna-se o propósito de vida dessa pessoa. Já a honestidade é algo que independe do ambiente ou da oportunidade porque está intrínseca ao caráter do ser humano, ou seja, é um fator interno que determina as ações corretas do sujeito que assim o faz como consequência de sua consciência ética. 

É certo que a corrupção pode ser uma opção, entretanto jamais será uma obrigação. Seguir por esse caminho é uma escolha que encerra a ética pessoal do cidadão. Estar inserido em um ambiente corrupto não corrompe o indivíduo possuidor de ética e de caráter suficientes para identificar o ilícito, julgá-lo de acordo com seus valores morais e afastar-se daquilo priorizando o compromisso que tem consigo mesmo independentemente da existência das instituições que regulam, vigiam e punem transgressões. Esse sujeito age guiado por uma consciência ética interior que o ajuda a discernir o certo do errado e não porque há uma possibilidade de ser pego no ato ilícito.

POR CHRISTIANE PEREIRA




















-Formada em Artes Plásticas, Pedagogia e Magistério com especialização em Educação Infantil;
-Arte Educadora e Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental; e
-Atuou como Orientadora Pedagógica e Educacional
Twitter: @Chris_PPereira

Nota do Editor:
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3 comentários:

  1. No Brasil só existem duas leis que estão em pleno funcionamento, a Lei de Gerson, o qual aborda o tema e a Lei de Murph:
    "Se alguma coisa pode dar errado, dará". Edward Murphy.

    E, dará mais errado ainda porque seria infantil observar que nós como povo prevaricamos em tudo que está à nossa volta? No trânsito, no cuidado de nossa saúde, no abandono da educação para nossos filhos, na fila do supermercado, na forma que votamos?

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  2. Ótimo texto... excelente proposta para reflexão. Abraço!

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  3. Bom dia Cris. Um General, carioca democrata ( não é paradoxo rs), amigo de meus pais, dizia: "o ladrão nasce feito, a ocasião faz o furto, o roubo". Por isso penso como é importante a transversalidade de temas como ética e moral na escola. Meu próximo texto é sobre isso. 🤗

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