sexta-feira, 7 de junho de 2024

O “Bebê Rena” de todos nós


Autora: Maria Rafaela de Castro(*)


O "Bebê Rena" é uma complexa e angustiante série de 2024 da Netflix que vem arrebatando as audiências nos mais diversos países, suscitando muitos debates sobre as situações não apenas da condição de perseguidores, mas, principalmente, sobre os abusos e como podemos ser instrumentos conscientes ou não dos nossos "algozes" e quanto à capacidade de estabelecermos vínculos.

Além de despertar, no meu caso de jurista, uma série de questões do alcance do Direito, essa crônica revela mais do que isso, pois a série se torna um despertar de depoimentos sobre relações tóxicas humanas. Portanto, a ideia não é discutir sobre os efeitos criminais da perseguição e de todas as consequências de natureza civil.

É fato de que nossa sociedade está adoecida e muitos concordam que os efeitos pandêmicos, meio apocalípticos, tornaram o mundo mais sensível.

Os gatilhos emocionais e as fragilidades com que nos deparamos todos os dias com problemas e pessoas, torna-nos, muitas vezes, refém de nós mesmos quando buscamos a aceitação nos grupos de forma desenfreada, tal como aconteceu com o protagonista da série que tolerou os abusos do outro (da Martha) para fins de validar uma suposta aceitação enquanto ser humano e como profissional.

Quantas vezes nós fazemos isso?

Aceitamos o menos ou nos subjugamos a aceitar o inferior de nossa qualidade de vida para cabermos em algo que não é capaz de nos comportar como seres humanos e individuais em nossas vontades e perspectivas.

Às vezes, suprimimos ou reduzimos nossos sonhos e nosso tamanho pela necessidade angustiante de ter a atenção de alguém. Tentamos entrar em compartimentos sociais que não cabe nossa necessidade e entramos numa ideia de zonas utópicas de conforto que nos enfraquecem progressivamente.

O Bebê Rena, muitas vezes, é que o fazemos com o outro quando temos o poder de formar ou influenciar uma opinião e somos fracos até mesmo para dizer um "não" necessário e fundamental para o crescimento do outro.

Não sou terapeuta, mas faço terapia (felizmente!) e acredito que essa série nos arrebata para discutir as falhas de nossa sociedade sobre como estamos sendo coniventes injustificadamente com erros que deveriam ser consertados em vez de enaltecidos.

Estamos numa sociedade em que se cultivam curtidas frenéticas nas redes sociais em busca de atenção superficial de alguns segundos deixando na berlinda nosso caráter e nossa essência.

Na cena em que o personagem se depara com sua própria fraqueza (e não se trata de spoiler), torna-se quase que uma confissão, no palco, de toda a sociedade de como nos deixamos corromper por amores, amizades, trabalhos e comportamentos falsos e rasos pela simples necessidade de validação que, no interior de nossas angústias, possivelmente não tenham a menor importância.

É uma série para se pensar, discernir e separar sobre nossos monstros e demônios que nos fazem aceitar quase tudo pela validação do outro ou de um determinado grupo social.

Seremos, nesse momento, "Bebês Renas" ou "Marthas"?

Mensagem para você: Que não sejamos ideias "renas" de terceiros e tenhamos a fortaleza de sermos mais do que "Marthas". Eu, assim, desejo a todos vocês boas escolhas. Enviado do meu Iphone (riso irônico).

* MARIA RAFAELA DE CASTRO
















-Graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará(2006);
-Pós -Graduada em Direito do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá (2008);
-Mestrado em Ciências Jurídicas na Universidade do Porto Portugal(2016);
-Doutoranda em Direito na Universidade do Porto/Portugal;
Juíza do Trabalho Substituta da 7a Região; 
-Formadora da Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará;
-Professora de Cursos de Pós Graduação na Universidade de Fortaleza - Unifor;
-Professora de cursos preparatórios para concursos públicos;
-Professora do curso Gran Cursos online;
-Professora convidada da Escola Judicial do TRT 7a Região; Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho; e
-Palestrante.
- Instagram @juizamariarafaela

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Estamos de fato em uma sociedade doente e com inúmeras relações fluidas, líquidas nas palavras do ilustre sociólogo Zigmund Bauman, trocamos as farmacias por shoppings, temos amigos por seguidores , em contatos superficiais em busca de aceitação, de fato, precisamos de restauração interior, para que possamos ver que é preciso um olhar no interior de nós mesmos!

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