domingo, 23 de junho de 2024

O que o espelho não te mostra


Autora: Juliana Silva (*)

 


Autoestima - O que é

Quando questionadas sobre a autoestima é comum as pessoas que não se consideram bonitas e/ou atraentes, responderem: "não tenho autoestima" ou "tenho baixa estima", certamente por acreditarem que o termo além de estar unicamente relacionado à autoimagem, diz respeito ao tamanho da estima. Assim, é de suma importância falarmos sobre a etimologia da palavra, ou seja, a sua origem.

AUTO deriva da palavra grega "AUTÓS" que significa ‘a si mesmo’; ESTIMA deriva do latim "AESTIMARE" que significa ‘apreciar, avaliar’. Logo, temos: AUTO = a si mesmo e ESTIMA = AVALIAR, ou seja, autoestima é a avaliação que se tem de si mesmo. Sendo assim, é possível afirmar que todos têm autoestima, uma vez que todos têm alguma avaliação de si mesmos, seja ela negativa ou positiva.

Essa avaliação é do autoconceito, do amor próprio e da autoimagem. O autoconceito é a opinião que se tem de si mesmo, o que o indivíduo pensa sobre suas capacidades, habilidades, qualidades e imperfeições. O amor próprio é o sentimento que se tem de si, como a pessoa se sente sobre ela mesma. Já a autoimagem vai além do que vemos no espelho, ela é o reflexo do autoconceito e do amor próprio; isso quer dizer que é possível uma pessoa se sentir inferior devido à sua aparência física porque ela tem um autoconceito e amor próprio, negativos. 

Autoestima - Como se forma

Agora que você já sabe o que é autoestima, talvez esteja se perguntando: "em que momento comecei me autoavaliar? Quando comecei olhar para minhas capacidades?". Muitos pensam que é na fase adulta que a autoestima começa, porque já crescidos, conseguimos identificar os pontos negativos e os pontos positivos. Outros pensam que ela começa antes disso e nessa fase apenas se consolida, sem risco de alterações. Será?

Estudos mostram que o bebê intrauterino é influenciado pelas emoções da mãe, pois há indicativos de que os comportamentos e as expressões do feto e do recém-nascido prematuro, são afetados pelas interações com a mãe durante a fase gestacional. Assim, podemos dizer que ao absorver as sensações da mãe nessa primeira interação, inicia-se a ideia de ser ou não amado(a), querido(a), desejado(a) e então o autoconceito começa a se formar. Ao nascer o indivíduo começa a se relacionar com o mundo e com o que nele há, e a autoestima que já está em andamento vai sendo fortalecida ou enfraquecida durante a infância e adolescência.

Talvez você se pergunte agora: "então depois da adolescência a autoestima ficará consolidada?"; e a resposta é NÃO. A autoestima seguirá um determinado padrão depois dessa fase, mas poderá oscilar no decorrer da vida, pois momentos significativos são capazes de afetar a autoestima alterando o padrão anteriormente "estabelecido". Por exemplo: uma pessoa com boa autoestima pode oscilar para baixa autoestima ao perder um emprego ou após o término de um relacionamento.

Tipos de autoestima, particularidades e tendências

Acredito que agora, o seu questionamento seja: "padrão de autoestima? O que é isso?". Vamos lá! Como você viu, desde a fase intrauterina recebemos da mãe as sensações dela e começamos a tecer a forma como nos vemos. Aí, no decorrer da infância e adolescência, por meio das interações, essas sensações são ou não confirmadas e assim, teremos um padrão de autoavaliação que norteará as nossas ações.

Para entender melhor pense na seguinte situação: a mãe fica triste a maior parte do tempo de gestação por achar que engravidou no momento errado. A criança nasce e alguns anos depois chega da escola e diz para os pais ou responsáveis que tirou 10 em determinada matéria. Então ela ouve: "não fez mais do que sua obrigação, só estuda". Essa fala por si só e/ou o comportamento da mãe durante a gravidez, não serão capazes de determinar um padrão de autoestima, mas pense se essa criança sempre ouve falas que invalidam o seu esforço, a sua inteligência, a sua conquista. Provavelmente ela começará a não ver importância em seus ganhos e se não se sentir valorizada em outras relações, desenvolverá uma autoestima baixa, que será o seu padrão.

Então agora vamos conhecer quais são os padrões. Embora cada um tenha uma maneira única de olhar para si, estudos apontam que há 4 tipos de autoestima, a saber:

Autoestima Baixa – é caracterizada por um autoconceito e amor próprio negativos. Geralmente a pessoa com baixa autoestima não se sente digna de amor e respeito; se considera incapaz, incompetente e cheia de defeitos; acredita que não merece coisas boas; não confia em si mesma e por isso evita desafios; não reconhece as próprias qualidades; atribui seus êxitos à sorte ou a terceiros; tem medo de rejeição, dificuldade de aceitar elogios e sentimento de inferioridade; costuma procrastinar; é perfeccionista e não tem habilidade para lidar com críticas. Na vida pessoal a tendência é permanecer em relações tóxicas e/ou abusivas. Já no campo profissional a tendência é não se destacar por evitar se expor e assim, perder boas oportunidades e na esfera social a tendência é se isolar das outras pessoas;

Autoestima Frágil – é caracterizada por um autoconceito e amor próprio positivos, mas que são invalidados perante críticas, cobranças ou pressão. Quem tem autoestima frágil normalmente se magoa facilmente; tem baixa tolerância à frustração; reage mal às críticas, mas se envaidece com elogios; sempre quer agradar (ou não desagradar) a todos; depende emocionalmente dos outros; lida mal com rejeição, exclusão ou abandono; fica remoendo horas ou dias depois de um conflito; busca constantemente a aprovação dos outros; se culpa demais e tem dificuldade em dizer não. Na vida pessoal a pessoa tende a duvidar dos sentimentos do(a) parceiro(a) e criar/prolongar conflitos. Na área profissional tende a se magoar com feedbacks e não desenvolver os pontos apresentados e no campo social, tende a dizer sim para tudo e todos, traindo muitas vezes seus próprios desejos;

Autoestima Alta/Inflada – é caracterizada por um autoconceito supervalorizado, mas que esconde uma baixa autoestima. Talvez aqui você se pergunte: "como a autoestima baixa pode se camuflar a ponto de parecer que a pessoa está bem consigo mesma?". A resposta é simples: o indivíduo que foi constantemente invalidado na infância/adolescência pode optar (inconscientemente) por exagerar sua autoconfiança e assim se proteger da probabilidade de alguém lhe machucar com críticas que apontem falhas. Geralmente a pessoa com autoestima alta/inflada é orgulhosa e arrogante; busca ter poder; precisa ser admirada; se considera invejada e superespecial (muito acima da média); não reconhece seus defeitos, falhas e limitações; gosta de se exibir e exaltar seus talentos; acredita ter mais qualidades do que os outros e saber mais sobre tudo do que todos; costuma fazer piadas e comentários para rebaixar terceiros e tem o hábito de se comparar com os outros, mas estes sempre são considerados inferiores. Na vida pessoal a pessoa tende a enaltecer os erros do(a) parceiro(a) ou justificar os próprios pelo comportamento do outro. No campo profissional tende a ser arrogante, menosprezar os colegas e não aceitar feedbacks. Na vida social tende a ter dificuldades de estabelecer relações sólidas, pois enxerga os outros como concorrentes e acaba afastando as pessoas; e

Autoestima Boa – é caracterizada por um autoconceito equilibrado entre o reconhecimento de qualidades e pontos de melhoria, que faz com que a pessoa não se abale com críticas, mas as avalie e quando necessário as use para o próprio aprimoramento. A pessoa com autoestima boa geralmente é autoconfiante; se sente bem sendo quem é; é aberta a críticas; gosta de si, mas sem se considerar superespecial; reconhece os próprios defeitos e os aceita tentando melhorar o que é possível; não culpa os outros pelos seus erros; não se sente superior e nem inferior aos outros; busca se compreender quando erra e não fica tentando provar o seu valor, pois não precisa da aprovação do outro. Na vida pessoal a tendência é não estabelecer uma relação de poder sobre o outro e não permanecer em relações tóxicas/abusivas. No campo profissional a tendência é aproveitar as oportunidades e aceitar feedbacks, sabendo defender seu ponto de vista sem ser arrogante. E no campo social a tendência é estabelecer boas relações sabendo impor limites ao outro sem rebaixar a pessoa e reconhecendo seus limites, sem se anular.

Os três primeiros tipos de autoestima apresentados costumam trazer grande tristeza. perda de energia e isolamento soicial, o que pode comprometer a saúde mental do indivíduo e desencandear distúrbios alimentares ou transtornos, tais como a depressão e ansiedade.

Talvez você tenha se identificado com um dos padrões citados e acredite que só saber as principais particularidades de cada é o suficiente para definir se você tem uma autoestima baixa, frágil, alta/inflada ou boa, mas não é. Conhecer algumas características é bom porque nos dá uma ideia sobre nós mesmos, mas há comportamentos que temos sem perceber e a falta dessa percepção pode nos levar a ter uma visão equivocada da autoestima. Assim, para saber o seu tipo de autoestima é necessário investir no autoconhecimento.

 Autoconhecimento

Se conhecer é um processo trabalhoso, pois não é fácil reconhecer e aceitar características adequadas e inadequadas. Ao mesmo tempo é um processo satisfatório, pois somente tendo consciência de tais características é possível aperfeiçoar potencialidades e mudar e/ou gerenciar da melhor forma as questões negativas. Sem autoconhecimento você pode ter autoestima baixa, frágil ou alta/inflada, uma vez que não saberá diferenciar a forma como foi visto(a) e tratado(a) – durante a formação da sua autoestima – do que você realmente é.

Existem diversos exercícios práticos que todos podem fazer para aumentar o autoconhecimento, mas em se tratando de identificar o tipo de autoestima o que recomendo é investir na psicoterapia com psicólogos, pois você contará com um profissional que te ajudará a refletir, entender como as coisas acontecem e pensar sobre o que fazer a respeito. O processo te permitirá saber o que controla seus comportamentos, entender como o comportamento dos outros influencia o seu, mensurar a importância da opinião dos outros para suas decisões, dentre outros benefícios que ajudarão a identificar o seu tipo de autoestima.

Talvez você se pergunte agora: "por que preciso de ajuda para refletir?" e a resposta será baseada na minha experiência com atendimento clínico. Muitos pacientes chegam no consultório com muitas certezas sobre si mesmos, acreditando por exemplo, que têm boa autoestima porque reconhecem que são bons profissionais e têm ótimas entregas ou que têm baixa autoestima porque estremecem diante de uma crítica. No decorrer do processo muitos se percebem de uma forma que não tinham sequer cogitado. Há quem busque, de forma inconsciente, a aprovação dos outros. Há quem não perceba o quanto se desmerece. Há quem não perceba que desmerece os outros. Há quem não perceba que é tão aberto a críticas que aceita todas sem as avaliar. 

O que quero dizer é que o(a) psicólogo(a) poderá te ajudar a identificar manifestações de conteúdos que estavam inconscientes para entender o que norteia suas ações e isso te ajudará a se conhecer melhor. Como disse uma professora minha certa vez durante uma aula "o psicólogo servirá como o segundo espelho, aquele que o cabelereiro usa para nos mostrar como ficou o corte na parte de trás".

Agora que você conhece um pouco mais sobre autoestima, eu te pergunto: será que você se conhece tão bem quanto pensa? Que tal investir no autoconhecimento para identificar seu tipo de autoestima e melhorar se for preciso? Se apresente a você e veja o que o espelho não mostra.


*JULIANA SILVA










- Formada em psicologia pela Universidade Paulista – UNIP (2015) ; 

- Psicóloga clínica sob abordagem Sistêmica / CRP: 06/127380; 

- Atendimento online: adulto – individual, família e casal; 

- Coordenadora do programa Bem-estar da clínica A&B; 

- Coautora do livro “Vida bem vivida – motivação e bem-estar”. 

Contatos: WhatsApp: +55 (11) 99812-7167 

E-mail: julianasilva.psico@gmail.com 

Instagram: @psi_julianasilva

Nota do Editor:

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