segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Coisa de classe ou de classes


De vez em quando gosto de, como numa propaganda de cosméticos para cabelos, me dar um dia ou momento do “eu mereço”. Minha condição atual não permite grandes produções nem grandes orçamentos, mas afinal de contas a gente quer dinheiro pra quê? Pois sim... em determinados dias, quando “me estressam” ou quando estou precisando de um mimo faço uma extravagância. Como economista a gente vive fazendo contas. E nessas horas não é só a conta em si, mas o que aquele gasto pode proporcionar de bem estar. E com essa equação vou seguindo. 

Hoje fui resolver um problema na hora do almoço e passei num restaurante que tinha entrado lá uma vez só. O Centro de São Paulo tem essa diversidade. No Centro Velho, ao mesmo tempo que o espaço é disputado por ambulantes vendendo todo tipo de produto, há lanchonetes, cafés e restaurantes para todos os gostos... e bolsos. 

Fazia calor intenso. 32 graus de máxima. Então, andando por uma rua que fazia tempo não andava pensei: vou nesse restaurante hoje, porque eu mereço! Esse fica num subsolo de uma galeria, uma rampa me conduziu ao hall e outra ao restaurante em si. De cara já senti o agradável frescor do ar condicionado (paulistano viciou já) e o Buffet dos doces... hummm... até passei rápido pensando em não ceder a tentação. Começo a observar melhor a decoração do restaurante, as luzes indiretas, o relativo silêncio. Olho as pessoas. Muitos homens mais velhos, alguns andando até curvados. Boas roupas, gente diferente da qual vejo nos lugares do dia a dia. Observo seus rostos. Fechados, sérios, sem alegria. A crise do país os ronda como uma nuvem escura no meio das luzes daquele lugar seleto. Um homem com cabelo desgrenhado, terno e gravata, com duas senhoras, entra e cheio de pompa e se auto exige um lugar especial. Roda o restaurante todo até conseguir uma mesa, enquanto as mulheres faziam ar blasé. Uma concentração de pessoas aparentemente classudas num local classudo, mas o entorno popular. Na hora de ir embora, quando saí do restaurante e voltei para a rua - mundo real, pessoas comuns - pensei: de repente, tanta frescura no fundo no fundo não leva a nada. Voltaremos ao pó e pronto. 

Nessa hora sempre lembro da cena do filme com Ava Gardner, A Condessa Descalça. No casamento dela, toda pompa e circunstância, mas tudo aparência, fake, na linguagem de hoje. Ela observa da janela a festa permitida para os criados. Alegria, simplicidade, danças animadas, conversa alta, risadas... quando o Conde nota sua ausência e olha pela janela, eis a Condessa se divertindo, dançando, rindo... não que eu goste de barraco, vulgaridade. Mas ser simples é uma das maiores liberdades que um ser humano pode ter. Talvez eu tenha essa dádiva de poder transitar entre as classes, ver o que de melhor e pior que cada uma delas tem. Por um lado me esbaldo de cultura, boas conversas intelectuais, mas o riso solto sempre acontece com os mais simples. Acepção? Só de quem te faz mal, esse sim você fique longe.

Por ANA PAULA STUCCHI

 

-Economista de formação;
-MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral;e
-Atualmente na área pública

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