segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Perspectivas 2017


Muito se fala em perspectivas na economia no começo de ano. Muitos olham pra bacia de água, outros põem o chapéu de Nostradamus, outros apenas se debruçam sobre planilhas e gráficos.

Mas o que podemos esperar? Obviamente que há muitas opiniões, mas muitas que divergem. Vamos tentar compilar numa lógica para que você, caro leitor possa (tentar) entender:

2013, 2014 e 2015 foram os anos da “maquiagem”. Onde os balanços da União fecharam com receitas que na verdade não eram “arrecadação”. Explico: a previsão da receita (em tributos) era sabido ser menor que as despesas. Mas não podia-se parar com a política pública vigente de distribuição de benesses, seja #BolsaFamília, seja #BolsaEmpresário (nesse caso Eike Batista o maior “beneficiário”). Então, para “fechar as contas”, usava-se, ou receita de dividendos dos fundos, ou “empréstimos camuflados” e colocado no balanço em forma de “receita”. Em 2014 essa maquiagem já não cobria as rugas das “pedaladas fiscais”. Em 2015 e 2016 os anos foram horríveis, sofríveis. Então agora o leite derramou, a sujeira tentaram limpar através da PEC de corte de gastos... enfim, o Ministro Meirelles fez a parte dele, onde põe freio nos gastos, onde mostra que a “raiz do problema fiscal do Governo Federal está no crescimento acelerado da despesa pública primária. No período 2008-2015, essa despesa cresceu 51% acima da inflação, enquanto a receita evoluiu apenas 14,5%. Torna-se, portanto, necessário estabilizar o crescimento da despesa primária, como instrumento para conter a expansão da dívida pública. Esse é o objetivo desta Proposta de Emenda à Constituição”. (texto completo aqui)

Então o que esperar de 2017? 

1 – Nada de pessimismo. O Mercado vive de expectativa. Quanto maior o índice de expectativa boa do Mercado, a população segue a tendência. Mesmo que RJ, ES, RS estejam periclitantes a hora é de manter a calma para recalcular novas rotas e metas. O lado bom de ter acontecido essas calamidades é que os políticos perceberam que o saco tem fundo. E pode rasgar se ficar raspando muito. 

2 – Inflação baixa é boa? O lado bom é que não permite disparada de preços. Assim o Governo tem um fôlego para repensar as políticas fiscais, mesmo que haja menos arrecadação, por outro lado, pode-se renegociar os contratos para reduzir gastos.

3 – Crise é econômica ou política? Mais política. Muitos setores estão relativamente aquecidos. O problema é que o investidor estrangeiro perdeu um pouco a confiança, mas depois desse início de governo Temer, as perspectivas do Mercado estão mais animadoras. Prevê-se que no terceiro trimestre de 2017 a atividade econômica aqueça mais, mas o desemprego ainda é uma incógnita. Temos boas notícias na exportação de produtos não manufaturados (não industrializados), mas queda significativa de produtos industrializados. Isso significa que exportamos grandes volumes, mas o valor agregado é pequeno. Precisamos melhorar.

4 – Temos boas perspectivas? Sim, com a inflação mais baixa o Banco Central vai tendenciar cortar a taxa de juros básica, a SELIC. Com isso qualquer financiamento fica mais barato, assim criando perspectiva de investimentos e aquecimento de vendas a crédito. O dólar vai ficar relativamente estável, isso é bom para tanto o mercado interno quanto externo.

5 – A Reforma da Previdência ajuda? Sim, porque se pensarmos em termos reais, quem trabalha hoje tem salários menores em média de quem contribuiu no passado. Antes a perspectiva média de vida de um aposentado era de dez anos (aposentava em média com 60, expectativa de vida segundo IBGE, 70 anos), agora subiu pra quinze anos (expectativa de vida segundo IBGE, 74,5 anos). Ou a pessoa se aposenta mais tarde e contribui/recebe mais, ou a pessoa se aposenta mais cedo e recebe beeeem menos. Não há milagre. Alternativa é fazer uma poupança/investimento de longo prazo para garantir uma previdência complementar. Depositar os 11% e achar que o Governo vai fazer milagre, já foi o tempo. Precisamos amadurecer como país. Mesmo que existam “superaposentadorias” hoje, essas pessoas não são eternas. E quem se aposentar depois da Reforma se aposenta nas novas regras. O Temerário reside na verdade no tempo de sobrevida após a aposentadoria. Esse é o foco a se pensar individualmente, pois em 2050 (veja gráfico abaixo)


A perspectiva da população Economicamente Ativa é de 54,6% enquanto que 18% são de aposentados. Antes esse número em 2011 era de 63,05. Fazendo uma analogia infame, os trabalhadores de hoje que vão sustentar sua aposentadoria estão jogando videogame ou caçando Pokémon. Temerário. Por isso a Reforma Previdenciária também é um “mal necessário”.

POR ANA PAULA STUCCHI


















-Economista de formação;
-MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral;
-Atualmente na área pública

Twitter:@stucchiana


Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. Credibilidade. Este era o fundamento que a que saudava mandioca não tinha para o mercado financeiro.
    Não que Temer a tenha em quantidade suficiente, mas sua capacidade de dizer e fazer besteiras que afetem o humor de mercado é menor.
    Sem credibilidade nem vendedor de cachorros quente investe...

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  2. Muito bom. Impressionante é que nem a crise refreou o ímpeto arrecadatório do Estado, que "evoluiu apenas 14,5%" (acima da inflação). É a social-democracia tupiniquim: mais Estado para menos serviços.
    Simon Salama

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