domingo, 13 de maio de 2018

Orientação Psicológica Online – Uma Prática que Inclui!





 A RESOLUÇÃO do CFP N° 011/ 2012 finalmente reconhece no Brasil SERVIÇOS PSICOLÓGICOS REALIZADOS POR MEIOS TECNOLÓGICOS DE COMUNICAÇÃO A DISTÂNCIA em 15 de junho do ano de 2012. Dessa data em diante muita discussão e polêmicas foram levantadas em torno da questão e do quão eficaz pode ser o serviço de Orientação psicológica online. 

Os discursos que permeiam tal discussão envolvem questões bastante importantes como o estabelecimento do vínculo terapêutico, a natureza desse vínculo; que como sabemos, consiste em umas das principais premissas de um tratamento psicológico. Grande preocupação por parte da classe de psicólogos foi manifestada e calorosos debates foram levantados acerca dessa temática. No entanto, depois de quase seis anos do estabelecimento da resolução, ainda enfrentamos, no Brasil, resistência por parte dos profissionais da área e também dos usuários. 

Sabemos que em tantos países da Europa assim como nos Estados Unidos a prática já é bastante difundida e então fomos buscar algumas informações que fundamentassem a prática, assim como suas restrições.

Um estudo realizado por uma parceria entre a Universidade de Zurique, na Suíça, e a Universidade de Leipzig, na Alemanha, revelou que o efeito de psicoterapias realizadas pela internet podem ser tão ou mais benéficas que o acompanhamento psicológico presencial tradicional; O estudo não encontrou diferenças significantes nos resultados da terapia tradicional e da terapia online, e ambos os grupos participantes do estudo ficaram muito satisfeitos com o tratamento que receberam. Entre os 62 pacientes analisados, metade participou de terapia no consultório, com tarefas de casa como fazer um diário de seus pensamentos negativos, enquanto a outra metade foi assistida via internet, escrevendo cartas sobre seus sentimentos e recebendo feedback do terapeuta através de texto – nada de vídeo conferência ou chat ao vivo.

Depois de 8 semanas, a depressão já não era diagnosticável em 50% dos pacientes tratados ao vivo e em 53% dos tratados online. Após 3 meses do início do tratamento, os pesquisadores também notaram que o tratamento online era mais duradouro do que o tradicional método ao vivo – 57% dos pacientes tratados pela web mantiveram o quadro de melhora, contra apenas 42% no grupo que fez a terapia convencional. Os estudiosos especulam que a intervenção via web teria mais foco na auto-disciplina, o que evocaria no paciente a responsabilidade de controlar sozinho seus maus pensamentos e evitar o comportamento depressivo. Além disso, pacientes que receberam o tratamento tradicional pioraram após deixarem a terapia, apresentando novamente alguns sintomas depressivos, enquanto que os indivíduos que tiveram o tratamento online estavam mais propensos a manter a redução dos sintomas associados com o tratamento.

A descrição do estudo mencionado acima consiste no resultado de apenas uma pesquisa com uma população bastante reduzida, mas que pode gerar reflexões importantes:

Se um estudo pode demonstrar eficácia no tratamento online, pode ser que a questão não seja o instrumento pelo qual estabelecemos o vínculo, mas na maneira como o psicólogo o faz. Assistimos o continuo crescimento das relações intermediadas por eletrônicos e em hipótese alguma propõe-se uma substituição das relações diretas pelas relações mediadas por esses eletrônicos. No entanto, é inegável que essa mediação pelos computadores e smartphones chegou para ficar e de alguma forma, bastante criteriosa, devemos encontrar meios de nos incluir nessa prática, obviamente de maneira ética, responsável, segura e respeitosa. São muitas as pessoas que alegam não ter tempo para deslocar-se, no mínimo, uma vez por semana, para a realização de um tratamento psicoterápico. Uma outra razão importante consiste no fato de muitas pessoas enfrentarem resistência em iniciar uma orientação com um profissional psicólogo e que muitas vezes, não tendo a “barreira” dos passos entre contatar, marcar, deslocar-se e realizar o atendimento, se beneficiariam do atendimento online. Pessoas que moram fora de seus países de origem e que enfrentam dificuldades em suas adaptações podem ser altamente beneficiadas pela orientação psicológica online, assim como as que sofrem de fobia social e enfrentam dificuldades em sair de seus ambientes rotineiros, em um primeiro momento podem ter o acesso facilitado pela prática. 

Um estudo de mercado realizado por uma empresa privada da capital paulista aponta que uma pessoa gasta no mínimo, em uma cidade de médio/grande porte, de 3 horas e meia e quatro horas por semana entre deslocamento/terapia/tempo de espera/deslocamento para realizar um processo de Orientação Psicológica. Claro que não se trata de ignorar o fato de que essa pessoa esta dedicando tempo a si mesma, e que esse “gasto” de tempo pode ser trabalhado no “setting” terapêutico de maneira benéfica com o paciente, mas trata-se de pensar em quantas pessoas deixam de se beneficiar da orientação por questões tão cotidianas.

Devemos destacar que pessoas com diagnósticos considerados graves não devem se submeter a orientações psicológicas online.

A resolução de 2012 define como Orientação Psicológica atendimento realizado em até 20 encontros ou contatos virtuais, síncronos (ao vivo) ou assíncronos (os que não acontecem em tempo real). São permitidos também os processos prévios de seleção de pessoal; a aplicação de testes devidamente regulamentados por resolução pertinente; a supervisão do trabalho de psicólogos, realizada de forma eventual ou complementar ao processo de sua formação profissional presencial; e o atendimento eventual de clientes em trânsito e/ou de clientes que momentaneamente se encontrem impossibilitados de comparecer ao atendimento presencial. 

O conselho regional de psicologia deve fornecer aos profissionais que estão devidamente habilitados e capacitados a realizar esse tipo de atendimento, um selo que autoriza o funcionamento da plataforma de atendimento. Sabemos que o espaço virtual comporta inúmeros benefícios, mas também, abre espaço para situações que podem colocar usuários bem-intencionados em condição de alta vulnerabilidade. Portanto, não aceite atendimentos que não sejam certificados pelos órgãos competentes.

POR ALINE CARVALHO MONTEIRO









-Psicóloga, 
-Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Campinas;
-Coach, Especialista em Perdas e Luto;
-Psicoterapeuta Clinica há 18 anos;
-Responsável Técnica pela plataforma de Orientação  e
-Psicológica online Mente Criativa.
www.mentecriativaonline.com.br


Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. A Resolução CFP que vigora atualmente sobre o assunto é a de no. 11/2018. Ótima abordagem!

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