domingo, 9 de setembro de 2018

Emoções: Sentir é Humano (Parte 2)




Reconhecendo a necessidade de aprendermos a lidar com nossas emoções, optamos por complementar o artigo Emoções: Sentir é Humano  de autoria da colega Sueli Doniseti dos Santos postado nessa seção em 12/08/2018(http://oblogdowerneck.blogspot.com/2018/08/emocoessentir-e-humano.html) a fim de reforçarmos o tema Regulação Emocional. É importante aprender a sentir e a lidar com as emoções de forma saudável, pois não fazer isso é uma das causas do adoecimento de mentes e corpos de milhares de pessoas todos os dias.

Você sabe o que é uma emoção?, para que ela serve?, por que nos emocionamos? Já parou para pensar em como lida com suas emoções?, já perdeu oportunidades na vida por medo? , já teve um acesso de raiva por uma coisa pequena?. Afinal, as emoções ajudam ou atrapalham?. Há quem faça de tudo para evitar as emoções: principalmente as tidas como negativas (tristeza e raiva), mas tem gente que não quer sentir nem mesmo as positivas (alegria) com medo de sofrer depois. No entanto, será que esse é o melhor jeito de lidar com os sentimentos?. Se você leu a primeira parte desse texto já deve saber que não é.

Emoções são reações de padrão complexo a eventos que se desdobram com o tempo. São padrões de reações complexos porque envolvem a ocorrência de uma situação (que pode ser um acontecimento externo ou interno, como uma lembrança, por exemplo), uma avaliação da situação, que vai gerar reações físicas que farão com que você identifique (nomeie) a emoção e, finalmente, tenha uma ação. Por exemplo, se você passa ou se lembra de uma situação que você avalie como perigosa, você vai sentir coração disparado, pupilas dilatadas, nó no estômago, vai saber que está com medo e vai enfrentar ou fugir do perigo (GREEMBEEG, 2002).

As sensações no corpo que as emoções geram são chamadas de experiência emocional; o que as emoções nos levam a fazer é chamado de expressão emocional. Podemos inibir nossa expressão emocional, mas não as sensações que as emoções geram, e é justamente porque não queremos nos sentir mal e por acreditarmos que as emoções nos levam a fazer coisas ruins, que tentamos evitar senti-las. Outras coisas nas quais acreditamos que também fazem com que evitemos as emoções são: pensar que perderemos o controle, que a emoção durará para sempre e que estamos sendo fracos (GREEMBERG, 2002).

Mas, como visto na primeira parte desse artigo, tudo isso em que acreditamos são o que a psicologia chama de mitos emocionais. A verdade é que as emoções fazem parte de nós, já nascemos com a capacidade de sentir alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e susto, e, mais tarde, vamos aprendendo outras, como a vergonha e a culpa. Sem as emoções não sobreviveríamos, afinal, se não fosse o medo não olharíamos para os lados antes de atravessar a rua: se não fosse o nojo, comeríamos comidas estragadas. Já a raiva faz com que afastemos pessoas das quais não gostamos (por causa da cara de poucos amigos que fazemos) ou que nos defendamos e reparemos injustiças; e a tristeza é o que nos leva a superar situações difíceis (LINEHAN, et al. 2007).

Sendo assim, as emoções são formas de nos comunicarmos com os outros e com nós mesmos. Em qualquer parte do mundo, as expressões faciais que representam raiva, tristeza e medo, por exemplo, são as mesmas. Só ficamos tristes quando perdemos algo que é importante para nós. Portanto, as emoções contam para nós e para os outros do que gostamos, com que nos importamos e onde queremos chegar. Mas muitas vezes lidamos com as emoções de maneiras erradas, o que gera mal entendidos entre nós e os outros e entre nós com nós mesmos, pois as emoções podem interferir nas nossas escolhas. Você pode, por exemplo, ficar com medo ao receber uma proposta de trabalho e acabar não aceitando por isso, mas, muito provavelmente, esse medo só quer dizer que essa oportunidade é algo que você quer, pois, caso contrário, você recusaria, sem ter medo nem ficar na dúvida (LEAHY, 2005).

As emoções só querem transmitir para nós suas mensagens para que lidemos com as situações. Não querem nos prejudicar, fazer com que percamos o controle, nem muito menos durar para sempre. Quando ficamos com raiva, isso só significa que nos sentimos injustiçados e que precisamos reparar isso de alguma forma; podemos deixar para lá, mas se isso se repete muitas vezes, a raiva se acumula e acabamos explodindo, o que reforça a crença de que a raiva não deve ser sentida. Mas é na tentativa de não sentir que sentimos mais ainda, pois interrompemos o ciclo dos sentimentos: quanto mais fugimos de algo, mais ele corre atrás de nós, e, às vezes, essa fuga fica tão intensa, que recorremos a estratégias como, usar álcool e drogas, comprar e comer compulsivamente, auto mutilação entre outras (LEAHY, 2005).

O que aprendemos na família, na escola e com a religião também pode prejudicar: "dê a outra face", "perdoe!", "engula o choro", "seja forte", "não tenha medo". Tudo isso, tira nossa humanidade, pois o perdão é um processo ao qual só se chega se antes sentirmos mágoa, raiva e tristeza, sem isso, é da boca para fora; a verdadeira coragem está em sentir e enfrentar o medo; e a verdadeira força está em nos permitir ser quem somos e expressar o que sentimos, sem prejudicar nem aos outros nem a nós mesmos. Assim, da próxima vez que você sentir algo, tente identificar de que emoção se trata, entender o que ela quer comunicar e agir de acordo, pois esse é o ciclo das emoções. Você verá como conseguirá lidar melhor consigo mesmo e com os outros. Só podemos ser quem somos se sentirmos de fato (LINEHAN, et al. 2007).

REFERÊNCIAS:

Greenberg, L. S. (2002). Emotion-focused therapy: Coaching clients to work through their feelings. Washington, DC: American Psychological Association;

Leahy, R. L. (2005). A social-cognitive model of validation. In P. Gilbert (Ed.), Compassion: Conceptualisations, research, and use in psychotherapy; e

Linehan, M. M., Bohus, M., & Lynch, T. R. (2007). Dialectical behavior therapy for pervasive emotion dysregulation: Theoretical and practical underpinnings. In J. Gross (Ed.), Handbook of emotion regulation (pp. 581–605). New York: Guilford Press.

POR RENATA PEREIRA



















-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
-Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;e
Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.
CONTATOS:
Email: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548

NOTA DO EDITOR :

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2 comentários:

  1. Belo texto.
    Mas vou estragar tudo inserindo a política nele😁😁

    Medo! Medo é um dos sentimentos que nossos políticos aprenderam a explorar com eximia expertise.

    Essa emoção atrapalha o brasileiro é o 🇧🇷; ansiedade, essa é a outra emoção pela qual qual pecamos com nosso país. Somos ansiosos em melhorar nossas vidas e prevaricamos em nossas escolhas pessoais e políticas.

    A distância entre segurança e felicidade do caos financeiro, social e moral, estão as nossas escolhas; portanto, emoções atrapalham nosso julgamento 🤔🤔🤔🇧🇷🇧🇷🤗🤗🤗🤗

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  2. E quando a emoção nos atinge tao fortemente que somos incapazes de identificar? Frustração.... impotência..

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