sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Efeito Joker – Além da Superfície

Autora: Neusa Andrade(*)

Parece mesmo que o mundo virou uma piada de mau-gosto? De modo difuso, a sensação que se tem é que há um descontentamento com os governos em diversos países (Bolívia, Chile, Espanha, Equador, Líbano, Haiti, Iraque e Hong Kong) que acaba se transformando em protestos violentos, inclusive com vandalismo e mortes. As queixas comuns entre eles são combate a corrupção, desemprego, decadência e a ineficiência dos serviços públicos, autoritarismo e a desigualdade de renda.

Mas o que existe por trás dessa movimentação em países com regimes tão diferentes? Porque mesmo quando o governo recua (como nos casos do Chile, na Hong Kong, ou Líbano) aparecem novas pautas e reivindicações que lotam ainda mais as ruas? O que está alimentando esse espírito de rebeldia? São ações espontâneas ou programadas? o certo é que ninguém ainda sabe com precisão o que levou, e onde vai levar essa "segunda onda da Primavera Árabe".

No filme Joker, uma das muitas mensagens é de que o Coringa é um palhaço estilizado, que se transforma em instrumento de vazão ao sentimento do povo, que se sente apenas o bobo da corte. As injustiças silenciosas, e o lixo acumulado que a Sociedade tenta jogar para debaixo do tapete, um dia virão à tona.

No universo das tatuagens e grupos de criminosos, o significado do Coringa está ligado à etimologia do termo quimbundo "kuringa" que significa "matar". A simbologia é mostrada no filme através das atitudes e dilemas do personagem Arthur/Coringa (mentiras, desprezo social, luta pela sobrevivência, doença mental, necessidade de se usar uma máscara, etc). Pela densidade da interpretação de Joaquim Phoenix, Joker poderá ser um futuro ganhador de diversas estatuetas no próximo Oscar.

No baralho, sem indicação numérica, o coringa pode indicar o zero, ou a carta que pode substituir qualquer outra, e que se usada com inteligência pode até "virar o jogo". A classe política deveria se conscientizar das muitas mensagens cifradas no filme, indicando que o que a princípio poderia ser apenas um sentimento difuso, uma insatisfação que corrompe lentamente, pode virar um pesadelo sem controle, basta um revólver carregado, ou um meme nas redes sociais.

No filme e na vida real esse "silêncio " acaba explodindo em manifestações com violência, como resultado da insatisfação da população com a situação, o descontentamento com uma classe política que ocupa o poder em todo planeta, gente que não é coerente ou cumpre suas promessas de campanha, e que vivem na bolha e proteção de seus palácios, carros blindados, pagos com impostos escorchantes. A população ou "as pessoas do andar debaixo" estão bastante cansadas de promessas e calvário de subir e descer escadas, tomar trens lotados e viver uma "vida lixo". 

A arte do cinema cumpre então seu papel ao retratar os dilemas de uma sociedade doente, numa belíssima metáfora de subidas e descidas das escadarias do Bronx, um bairro pobre de Nova York, longe do glamour e da bolha da Times Square.

REFERÊNCIAS


*NEUSA MARIA ANDRADE

Paulista da gema;
-CEO da Divisão GO.neCTING AGENCIA WEB;

-Doutoranda em Engenharia de Produção;
-Mestre em Administração de Empesas;
-MBA em Tecnologiapela POLI-USP e
Minhas ideias e ideais podem ser acompanhados no Twitter: @neusamandrade




Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

6 comentários:

  1. Neusa.
    Parabéns pela comparação do filme, que também vi, com a convulsão estabelecida em alguns países.

    ResponderExcluir
  2. Gostei! O texto traz a reflexão necessária aos dias de hoje. O paralelo com as diversas nuances do "Kuringa" é acertado!

    Parabéns pelo trabalho!

    ResponderExcluir
  3. "A classe política deveria se conscientizar das muitas mensagens cifradas no filme, indicando que o que a princípio poderia ser apenas um sentimento difuso, uma insatisfação que corrompe lentamente, pode virar um pesadelo sem controle, basta um revólver carregado, ou um meme nas redes sociais." Ocorre que as pessoas parecem não perceber o óbvio: a indiferença da "classe política" em quase TODOS os países membros da ONU não é questão de "se conscientizar". Eles - congressistas, juízes, Poder Executivo (ministérios, agências) estão plenamente conscientes do que estão fazendo e há décadas, não trabalham para o povo que os sustenta. Os políticos, hoje, são marionetes, agentes apátridas que trabalham para corporações e para os grandes bancos que mantêm reféns as nações trabalhando com a agiotagem institucionalizada com os juros aplicados às dividas daqueles países. Para completar, somente os sujos chegam aos poderes porque estes estão sujeitos a todo tipo de chantagem que emerge dos dossiês de seus negócios escusos. Quando aparece um corajoso honesto, "o avião cai".

    ResponderExcluir
  4. Neste momento da agenda globalista, o descontentamento do povo é a colheita de políticas nas quais a ONU, suas "agências" e parceiros têm empenhado por décadas. Um dos primeiros passos foi a corrupção (a compra) dos agentes políticos/instituições de cada nação. É precisamente o resultado desejado depois de tanto empenho na implantação de leis absurdas (PNDH1-2-3) em nível mundial promovendo a perversão dos costumes, instabilidade social, insegurança jurídica, extermínio das soberanias, das nações, das forças armadas nacionais em benefício de uma NOVA ORDEM POLÍTICA E ECONÔMICA GLOBAL, sob a gerência de um só poder, um só governo - nos moldes da governança global, como, por exemplo, o bispo Bergóglio (que se meteu no Vaticano) tem pregado abertamente.
    A convulsão social é desejável! Será a desculpa perfeita para a implantação de regimes mais fechados de controle das populações abertamente inspirados no modelo chinês. A tecnologia e a legislação própria já está quase pronta para ser implementada em todos os países-chave, entre eles, o Brasil.

    ResponderExcluir
  5. Parabéns, esse artigo mostra a revolta popular contra os excessos que os políticos, guindados ao Parlamento pelo voto popular, traem as esperanças neles depositadas pelos que acabam os sustentando com os impostos pagos

    ResponderExcluir