sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Preconceito & Bullying



 Autora: Maria Cristina de Oliveira(*)

 

            

Se no ano de 2020 os sentimentos dos brasileiros que mais sobressaíram foram da solidariedade, da empatia, já em 2022 foram o da intolerância, da agressividade. Um garotinho de 9 anos contou para sua mãe que dois coleguinhas de sua classe se rolaram no chão, brigando devido a escolha por diferentes políticos. Em uma escola em Valinhos/SP, jovens entre 15 a 17 anos formaram um grupo no WhatsApp e em determinado momento começaram a publicar mensagens ofensivas aos colegas, frases xenofóbicas, gordofóbicas, além de referências de exaltação ao nazismo e ao fascismo.

Freud, o grande psicanalista, na obra "Mal-Estar na Civilização"- 1930, avalia que a estrutura da sociedade, mais a formação subjetiva das pessoas se refletem nos vários âmbitos da sociedade, como é no caso da escola, que reproduz o que acontece na sociedade. Ele destaca que boa parte das pessoas não desenvolvem a consciência moral, aquela que leva o cidadão agir, por exemplo, na frente de um policial, ou do seu chefe, da mesma forma que agiria se estivesse sozinho, sem qualquer vigilância.

Theodoro W. Adorno em sua obra "Educação Após Auschwitz" — 1967, diz que, embora tenhamos pouca probabilidade de alterar as condições objetivas que leva à violência, o ideal para se combater a violência é investir no indivíduo. Se o agressor tivesse a capacidade, a instrução de se colocar no lugar do outro, ele se identificaria e nessa identificação o outro é humanizado, deixando de ser alvo de destruição.

Por isso é importante um trabalho de esclarecimento aos educadores, aos alunos dos fatores psíquicos que levam ao preconceito, ao bullying, porque o conhecimento dos motivos que levam uma pessoa a agredir a outra, ajuda na autorreflexão e o conhecimento, a reflexão do assunto pode combater a violência.

O preconceito é uma atitude que antecede à ação de discriminação que marginaliza e segrega as pessoas. Ele abrange a dimensão cognitiva (estereótipos culturais), por exemplo, os judeus são de uma maneira, os japoneses são de outra, etc. O preconceito também engloba a dimensão afetiva que integra casos de hostilidade, ou afeição exagerada, ou a indiferença. A terceira atitude é a tendência para a ação de discriminação. As vítimas do preconceito são delimitadas pelo grupo ao qual pertencem. Os preconceituosos perdem a oportunidade de viver uma relação com a realidade, porque precisam de um objeto de imaginação, que não tem vida própria.

Se no preconceito a agressividade envolvida é a necessidade de projetar no outro algo que não se aguenta em si próprio, no caso do bullying o que está envolvido é o poder de destruir a vontade do outro.

O bullying começou a ser identificado em 1970, na Noruega, depois da morte de 4 jovens, em que um pesquisador descobriu porque eles se suicidaram e a causa foram os colegas. Enquanto o preconceito é uma atitude, o bullying é uma ação já direta do intimidador com o outro mais frágil. O alvo do bullying é aquele que não consegue se defender suficientemente.

Nos casos em que ocorre o preconceito o autor tem a personalidade autoritária e nos casos de bullying o autor tem a personalidade de manipulador, de psicopata. O objeto da violência no preconceito é algo já definido, mas no bullying é qualquer um que suporta sem resistir a agressão do autor da violência.

Vale comentar que no início da humanidade quem dominava era a natureza, a partir do conhecimento, o homem passou a dominar a natureza e deveria na sequência gozar desta liberdade, porém permaneceu no lugar de dominado. Devido ao desejo dominação, a humanidade foi construindo formas de sociedade dominadoras, ou seja, as sociedades formadas ao invés de ser donas do seu próprio destino, passa a construir formas de dominação, por exemplo, como a sociedade socialista que passa a dominar pela intensa burocracia. Na sociedade capitalista a forma de dominação é pela exploração. Na sociedade sob o domínio do nazismo, fascismo identifica-se o totalitarismo. Portanto, a dominação está presente nestas 3 formas de sociedade e ainda não superamos, não avança, os para construímos uma sociedade liberal, liberta desse domínio.

A Democracia vai ao encontro de uma sociedade livre, mas no momento goza de uma relativa liberdade, ficando presa pela ausência desta mesma liberdade. Indico para maior esclarecimento a leitura do trabalho de Adorno e Horkheimer, em "Dialética do Esclarecimento".

* MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA




 

-Graduada em Letras pela PUC Campinas (1996);

- MBA em Gestão Escolar pela USP/ESALQ (2022)

-Atualmente é funcionária pública federal.


Nota do Editor:

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