sábado, 19 de novembro de 2022

Novo Ensino Médio: Benefícios ou mais do mesmo?




 Autora: Mariana Casoni(*)


No ano de 2017, o governo Temer sancionou a lei do Novo Ensino Médio, (lei nº 13.415/2017) que entrou em vigor este ano de 2022 e tem até o ano de 2024 para ser totalmente implementada. Esta lei prevê uma mudança na carga horária, além da substituição de disciplinas por outras, como é o caso de filosofia, sociologia, artes e educação física que deixam de ser obrigatórias.

A lei segue a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e adiciona outras disciplinas no currículo como itinerários formativos, projeto de vida, eletivas e tecnologia e educação. Desta maneira, observa-se a seguinte estrutura: Linguagens e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Inglês, Artes e Educação Física); Matemática e suas Tecnologias (Matemática); Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Química e Física); Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia).

De acordo com o site do MEC (Ministério da Educação) os itinerários formativos:
[...] são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher no ensino médio. Os itinerários formativos podem se aprofundar nos conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e profissional (FTP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da FTP. As redes de ensino terão autonomia para definir quais os itinerários formativos irão ofertar, considerando um processo que envolva a participação de toda a comunidade escolar. [1]
Assim, cada unidade escolar tem autonomia para escolher as disciplinas, na prática os alunos dos anos anteriores fazem uma votação para decidir as disciplinas que mais lhes agradam para o ano subsequente. Aparentemente esta mudança pode parecer muito benéfica para os estudantes do ensino médio, mas ao constatarmos a realidade muitos desafios se revelam ao longo do caminho, como o ensino voltado para a tecnologia. Não se pode negar que vivemos em uma era digital, na qual as pessoas vivem conectadas aos seus aparelhos celulares, i-pads, e afins, no entanto, o ensino estruturado em suas bases tradicionais é fundamental para um desenvolvimento integral do estudante, e infelizmente não é isto que é observado nas escolas, ao menos na rede estadual de ensino do estado de São Paulo.

Os alunos estão cada vez mais envolvidos com a tecnologia, mas são incapazes de interpretar um texto básico ou de identificar o humor em uma charge, mal sabem conjugar a tabuada ou fazer cálculos com números de casas decimais. Na vida prática os estudantes têm muita dificuldade em inserir-se no mundo do trabalho, justamente porque a base educacional está em defasagem. Muitos especialistas em educação que elogiam o Novo Ensino Médio são pessoas que estão nos bastidores, lidam com papel e não com os estudantes no dia a dia, por isso não têm a real dimensão do problema.

Outro agravante desta mudança é que com esta nova carga horária (de 800 para 1000 horas semanais) o aluno fica sobrecarregado com as disciplinas, que muito provavelmente não serão úteis para sua vida e acaba prejudicando aqueles que desejam entrar nas universidades públicas, já que os vestibulares continuam cobrando as disciplinas tradicionais.

Nas próximas décadas a população descobrirá de fato se estas mudanças no ensino médio foram benéficas para a sociedade ou não, se realmente trará jovens qualificados para o mercado de trabalho ou se continuará mantendo este ciclo improdutivo que perdura há anos.

REFERÊNCIA


*MARIANA CASONI

-Graduada em Letras  pela UNESP- Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"(2010);
- Mestre em Literatura Comparada pela UNESP (2013);
-Doutora em Literatura Comparada pela UNESP (2019) e
- Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Currículo em: http://lattes.cnpq.br/4705890322409799


Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário:

  1. Bom dia! O tema é preocupante. A Rede Estadual de Ensino têm por prioridade ofertar aos jovens a conclusão do Ensino Médio.No entanto, ainda precisa atender demandas de competēncia da Rede Municipal de Ensino, ou seja, classes de Ensino Fundamental. Então, até mesmo o espaço físico para a criação de ambientes necessários ao Programa de Período Integral fica comprometido. Nåo há Disciplinas como Música tåo solicitada por jovens. Desde 2017 Pais de alunos e alunos foram excluídos do Conselho Municipal de Educação e seus membros, como um
    todo, não mais são eleitos entre seus pares, mas indicados pelo Executivo. Com o atual Secretãrio da Educação para SP, indicado por Freitas ainda teremos a militarização avançando nas escolas. Muito triste. Profa Marina Franco.

    ResponderExcluir