segunda-feira, 29 de maio de 2023

Junho e suas festas


 Autor: Elismar Santos (*)

Junho já bate às portas, mas o frio por estas bandas veio antes. Já faz uns dez dias que retiramos os casacos do guarda-roupas e andamos a soltar fumaça pela boca – e isso é observado e decantado por todos até que nos acostumemos e que as festas juninas comecem; então, mudamos o foco para as danças, as comidas e os quentões.

Os ensaios de quadrilha já começaram e, em meio ao silêncio da noite, entrecortado pelos latidos longínquos dos cachorros que veem os gatos desfilarem sobre os muros em busca de alguma namorada perdida, já se ouvem os gritos de "Olha a Cobra!"... "Anarriê!"”... "Tuuu!"...

Os rapazes já saíram em busca dos remendos para colocar nos rasgados das calças; já estão se esbaforindo em busca de camisas xadrezes com algibeira para colocar o velho lenço e as palhas secas que foram escondidas debaixo do colchão; sem falar nas botinas, que foram compradas há algum tempo e dormem ao relento para envelhecerem ao natural.

As mocinhas não mais se contentam com os esfarrapados vestidos de chita e, por isso, as pobres mães, economizam todo o dinheiro das futilidades para satisfazerem os caprichos adolescentes das belas caipirinhas, enquanto os pais já perdem o sono imaginando as quermesses, as danças e os namoricos regrados a Maçã do Amor.

As festas juninas não tardam com todo o seu alvoroço; mas as crianças, em meio aos joguinhos dos celulares só pensam nas canjicas com bastante leite condensado e amendoim, os pés de moleque enormes, que mal cabem na boca em uma mordida, os bolos de fubá deliciosos que são servidos com café preto nas festas de roça; sem esquecerem dos traques, estalos e bombinhas que fazem a festa da garotada no meio do terreiro.

O frio veio antes; talvez para avisar que já é hora de começarem as arrumações, que se limpem os quintais, busquem os bambus, as palhas, alinhem as sanfonas, os triângulos e os violões; que se aqueçam os corações e as lenhas, pois a fogueira já irá se acender; sem que nada disso seja mentira neste junino caminho da roça. "Anavã!".

*ELISMAR SANTOS

















-Professor de Língua Portuguesa;
-Poeta, Escritor e Locutor;
-Mora em São João da Lagoa, Norte de Minas Gerais; 
-Possui quatro livros publicados: Sanharó (Romance),
Mutação (Poesia), e
A Pá Lavra (Poesia e O Poeta e Suas Lavras (Poesia). 
Seus textos podem ser lidos também em www.elismarsantoss.blogspot.com

Nota do Editor:

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