segunda-feira, 10 de julho de 2017

A Era do Preconceito



Participo de vários grupos em redes sociais e neles tenho lido muita coisa contra os imigrantes que começam a chegar ao Brasil, especialmente os muçulmanos. Uma campanha insidiosa, cruel, que usa o medo que todos temos dos atentados sangrentos de grupos extremistas para disseminar a xenofobia.

É fácil julgar o Outro quando se está sentado no conforto do sofá de casa, assistindo pela TV à cabo enquanto barcos lotados de refugiados afundam como bigornas no Mediterrâneo. Não são nossos os filhos que dormem nas praias afogados, ou se arriscam a cair nas mãos de traficantes ao tentar a travessia desacompanhados, como fizeram as 300 mil crianças refugiadas que migraram sozinhas em 2016.

Quem pede refúgio não o faz por gosto e sim por necessidade, por correr risco de vida. Por perseguição religiosa, étnica, de raça, pensamento político ou ideias. Não é fácil fechar a porta de casa sabendo que é para sempre – quando há porta a ser fechada. Quem migra deixa para trás tudo: família, amigos, bens, cultura e identidade, para chegar ao país que o acolhe desprovido de qualquer noção de individualidade; Se conseguir sobreviver.

Em 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado, a ACNUR divulgou que chegamos ao número de 65,6 milhões de refugiados e deslocados por conflitos no mundo, um recorde desde a criação da ONU, em 1945. A cada minuto os conflitos do planeta produzem 24 novos refugiados e essas migrações não irão parar, a menos que as guerras e perseguições cessem.

Culpar os muçulmanos, a maioria dos migrantes da vez, pelos atos dos fundamentalistas islâmicos é injusto para com um povo que historicamente sempre foi conhecido pela tolerância com que acolhia judeus em suas cidades medievais, nos períodos negros da Inquisição Católica.

O Brasil, embora com pouca tradição no acolhimento a refugiados, dobrou o número de migrantes nos últimos cinco anos, mas isso não basta. É preciso que governo e população estejam preparados para receber essas pessoas que chegam até nós depois de tanto sofrimento, para que possam ter a chance de realmente começar uma nova vida.

Não há porque fechar portas, não somos donos de nada. Todos usufruímos do mesmo planeta, por empréstimo. A dor do Outro nos diz respeito sim, porque é o sofrimento extremo que o está expulsando de suas terras. Desviar o olhar não impedirá que cheguem, é bom se acostumar e aprender a conviver com eles.

E o que tem o preconceito a ver com a meia-idade, dona desta seção? Nada, embora muitos o associem ao envelhecimento. Por isso o escolhi como tema desta crônica. Não há coisa pior do que se deixar cristalizar em um pensamento arrogante e ultrapassado, seja em que ponto da vida a gente esteja. É hora de abrir os olhos e perceber que quem passa fome na fronteira poderia ser seu filho, ou sua mãe, e agir de acordo.

POR BEATRIZ RAMOS












-Cronista; e
Publicitária 
Trabalha com mídias sociais 

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