domingo, 17 de março de 2019

O Preço de Não Fazer Nada



Autora: Renata Pereira(*)


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Atualmente, cresce a olhos vistos, no mundo inteiro, o numero de pessoas com doenças crônicas, tais como diabetes, hipertensão e obesidade. Para ter uma dimensão de como isso é verdade, pense nas pessoas que você conhece, amigos ou familiares, por exemplo, quantas delas têm alguma dessas doenças?. E, mais preocupante ainda, é pensar que essas patologias estão chegando cada vez mais cedo na vida das pessoas, não poupando nem as crianças. Muitas pesquisas científicas estão alertando para a triste realidade de que, se continuarmos assim, daqui a poucos anos, essas doenças vão diminuir significativamente nossa expectativa de vida(1).

Você já parou para pensar sobre por que isso está acontecendo?. Segundo os cientistas, um dos principais fatores é nosso estilo de vida, que é o conjunto de nossos hábitos: a forma como comemos, como dormimos, se fazemos ou não exercícios, se fumamos, bebemos, usamos outras drogas, e até mesmo como nos relacionamos com as pessoas e o tipo de lazer que escolhemos. Vivemos em um piloto automático no qual dormimos pouco, trabalhamos muito, nos alimentamos mal, temos dificuldade de sermos quem somos por querermos agradar e nos adequarmos aos padrões, não fazemos coisas que realmente gostamos, e assim, vamos nos sentindo cada vez pior. E seguimos assim, até uma doença nos fazer parar (2).

E é só então, que paramos para pensar sobre o verdadeiro sentido das coisas, sobre o que realmente importa, quem realmente somos e qual é nosso propósito, e aí, mudamos algumas coisas por algum tempo, até o susto passar e podermos voltar ao normal. Poucos são os que mudam de verdade. Mas, quantas chances teremos para fazer diferente?. Por que precisamos chegar nesse limite e, às vezes, nem isso basta para fazer com que deixemos hábitos que sabemos que fazem mal?, afinal, hoje em dia, informação é o que não falta.

A doença não pode nem deve ser a razão para pensarmos no que é importante para nós, quais nossos valores e como estamos levando nossas vidas. Deveríamos ter isso em mente a todo momento, parar para pensar e nos conectarmos com essas coisas todos os dias. Esse é o primeiro hábito que precisamos mudar, porque ele vai trazer motivação para fazermos as outras mudanças necessárias (3).

Mas, como vamos achar brechas em nosso dia-a-dia para nos conectarmos com nossos valores, se vivemos sempre apressados e bombardeados de informações e afazeres?. Trabalhando para adquirir um segundo hábito, que é o de fazer coisas simples que geralmente fazemos sem pensar, como tomar banho, escovar os dentes, comer e lavar a louça, por exemplo, devagar e prestando atenção. Esse comportamento, se for praticado com frequência, vai nos fazer ficarmos mais em contato com o presente, mais conscientes da forma como fazemos as coisas (4).

Assim, começamos a sair do piloto automático e conseguimos achar espaço em nossas vidas para enriquecê-las com coisas que nos dão prazer e que permitam que entremos em contato com nossas qualidades, tais como hobbies, por exemplo. Ter conversas íntimas com pessoas importantes também é algo que atende a uma necessidade que é fortemente presente em nós, mas para a qual não damos atenção, já que achamos que a suprimos, conversando com muitas pessoas ao mesmo tempo. Mas, quantas dessas conversas são realmente úteis (4).

Tirar um tempo para relaxar, fazer exercícios espontâneos (usar a escada em vez da escada rolante, por exemplo) e exercícios planejados (ir à academia, fazer um esporte) estão entre os hábitos mais mencionados entre todos os profissionais da área da saúde. Nem é preciso falar dos benefícios deles (5).

Outro hábito que devemos nos esforçar para adquirir tem a ver com a forma como lidamos com pensamentos e sentimentos difíceis, ou seja, o que fazemos quando temos um problema ou nos sentimos mal? Tentamos aliviar a dor comprando, comendo, bebendo... Ou lidamos com o problema, pedimos ajuda a um amigo, familiar, profissional, qualquer coisa que não nos traga prejuízo nem culpa depois (6).

O autoelogio é, ainda, mais um hábito que, a princípio, pode parecer bobo, mas ao experimentarmos elogiar-nos depois de fazermos algo legal, vamos perceber que isso vai trazer uma sensação boa, pois ativa áreas de recompensa do cérebro, e serve, também, para nos ajudar a construir nossa autoconfiança (6).

Fazer tudo isso não é fácil: requer disciplina, planejamento, foco, força de vontade, autonomia e protagonismo. É assumir as rédeas da própria vida, sem ligar para o que as pessoas pensam. Comece tentando incorporar em sua vida um desses hábitos por vez. Você vai sentir a diferença!!! E o melhor, não vai precisar pagar o preço de não fazer nada, pois já existem evidências científicas de que um estilo de vida mais saudável diminui muito o uso de remédios, por exemplo. Essa é apenas uma das vantagens. Mudar o estilo de vida traz tantos benefícios que, muitos países, incluindo o Brasil, já estão incluindo-o em suas políticas de saúde pública, como formas de prevenção e promoção de saúde, pois diminuem gastos, já que diminui o número de pessoas doentes (7).

REFERÊNCIAS:

1. World Health Organization. A Glossary of Terms for Community Health Care and Services for Older Persons. WHO: Geneva; 2004;

2. World Health Organization. Noncommunicable diseases progress monitor. WHO: Genebra, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/CMGwnc>. Acesso em: 18 jan. 2019;

3. Miller WR, Rollnick S. Motivational Interviewing – Preparing People For Change. New York: Guildford Press, 2002;

4. Williams, M., & Penman, D. Atenção Plena: como encontrar a paz em um mundo frenético. Rio de Janeiro: Sextante, 2015;

5. Assumpção, L. O. T.; Golin, C. H. Reflexões sociológica sobre o conceito de habitus relacionado à prática de atividade física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, DF, v. 24, n. 3, p. 158-166, 2016;

6. Moore M B, Highstein G. Principles Of Behavioral Psychology In Wellness Coaching ACSM Indiana abr-jun 2005; 15(2) 5-9; e

7. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Brasília, DF: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2006. v. 7.

*RENATA PEREIRA


-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
-Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;e
Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.
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Email: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548

NOTA DO EDITOR :

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