domingo, 31 de maio de 2020

Alcoólicos Influencers


Autora: Bruna Araújo(*)

No meu último ano de faculdade um dos meus estágios foi num CAPS ad (Centro de Atenção Psicossocial — Álcool e outras drogas). Lá eu participei, junto com outro psicólogo, de um Grupo Terapêutico de homens entre 20 e 60 anos de idade, que faziam uso abusivo de álcool e outras drogas. 

Uma das coisas que o psicólogo sempre falava era sobre a influência dos "amigos" dos pacientes sobre o uso das substâncias. Dizia como era importante, para superar o uso abusivo, se afastar de antigos hábitos e amigos. O famoso "para ter resultados diferentes é preciso ter atitudes diferentes". 

O que acontecia era que muitos desses "amigos" diziam para os pacientes, quando estes negavam o uso da substância, para eles usarem mesmo assim, que não faria diferença e que não era nada de mais. 

O álcool, droga lícita em nosso país, está em quase todas (para não dizer todas) as mesas das famílias brasileiras. Seja em festas, em reuniões, ou até mesmo no dia a dia. É aceito por todos, não há quem fique chocado ou espantado ao saber que o outro bebe. 

Este fato dá ao álcool uma conotação de maior aceitação ainda. E na realidade, o que causa estranheza em muitas situações, é quando a pessoa não bebe. 

"Como assim, não quer nem um pouquinho?", "não acredito que você não vai beber. Você vem pra festa e não vai beber?", "tem certeza que você não quer mesmo beber? Está perdendo hein…"

Me diz você, quantas vezes já escutou essas frases e muitas outras com esta mesma intenção? Isso é algo tão comum, está presente em TODA confraternização, festa, reunião, balada, bar, enfim… Sempre que o álcool está presente estes questionamentos incisivos também estão. 

Ano passado, me deparei com o termo "Alcoólico Influencer" (Obrigada Leo) e achei o máximo. Pois o que acontece é exatamente isso, sempre tem alguém que vai, ao menos tentar, influenciar o uso do álcool ou de outra substância. É como se aquele que escolhesse não beber fosse visto como um "ET". "Como assim você não vai beber?", "O que, você não bebe? Você não vai usar nadinha?" ….

Voltando ao assunto do CAPS, imagina agora, pessoas que tem dificuldades com o uso de álcool, pessoas que enfrentam diversos problemas pessoais pelo uso abusivo. O objetivo dela é diminuir o uso, ou até mesmo parar. Como que ela fica nessa situação, em que dizer "não" já é difícil, e agora com pessoas ao seu redor insistindo para ela beber. Como que fica? É óbvio que fica mais difícil ainda né?

Negar nossos vícios, eu diria que é uma das coisas mais difíceis que temos que fazer. Sabemos das consequências daquele ato, mas mesmo assim não conseguimos simplesmente dizer não, é bem difícil, pois temos que superar nossas vontades. Pensamos "será? só dessa vez não vai fazer mal… amanhã eu tento de novo" e assim vai. 

Agora, eu queria propor que você pensasse quantas vezes já fez isso. "Como assim, você veio pro role e não vai beber????" 

Gente, eu queria que vocês soubessem o quanto é sério isso! Isso está baseado em não saber ouvir o não. É negar os motivos do próximo e se importar apenas com a sua vontade de que o outro faça aquilo que você quer. 

O que quero dizer é, tendo problema ou não com álcool ou outras substâncias, nós DEVEMOS respeitar a vontade do OUTRO. É um DEVER. Respeite quando o outro disser que não quer beber, não quer usar tal coisa, enfim. Não é não. 

"Não" não é "ah talvez" ou "sim, mas insiste mais um pouco". Não é não. A pessoa que tem dificuldade de dizer não, já está numa luta interna, por que então piorar a situação dela? Mais fácil e melhor, muito melhor é respeitar a vontade do outro. Ninguém vale menos por não beber. Ninguém tem menos direito de se divertir se está sóbrio. Se trata de uma decisão pessoal.

Na verdade, eu ouso dizer, que talvez quem tenha mais problema é esse que insiste. Por que será tão difícil para esta pessoa ouvir "não"? 

Meu objetivo principal com esse texto é gerar reflexão. Você é aquela pessoa que insiste para seus amigos, conhecidos e familiares beberem? …. Que tal repensar essa atitude?
 
Nós temos que respeitar o próximo, ainda mais quando esse próximo tem dificuldade de dizer não ou está enfrentando problemas relacionados a isso. Não é porque a pessoa não quer beber ou usar qualquer substância que ela não se diverte, que ela não merece estar ali naquele ambiente. Ela dizer não significa que ela não quer e ponto final. É mais simples do que parece. 

Vamos respeitar o próximo? Eu tenho certeza que os resultados disso serão positivos!! 

Ah, e só mais uma coisa, da próxima vez que estiver nessa situação, perceba como isso acontece.

*BRUNA SILVA DE ARAÚJO

-Psicóloga graduada pela Universidade Anhembi Morumbi (2017);
-Atualmente estuda
a abordagem Fenomenológica Existencial;  
-Realiza atendimentos clínicos na Estrada do Capuava, 4421, sala 210 – Vintage Offices / Cotia 
Tel/WhatsApp:(11)966104949

Nota do Editor:

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