segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Olhar pelas Janelas em Tempos de Coronavírus


Autora: Cristina Bento (*)

Coronavírus, pois é, dizem por aí que começou na China. Penso que por lá, talvez, algum desocupado ou curioso resolveu mexer no que estava quieto. Desconfigurou o tal Corona, que passou a alastrar-se mundo afora. Certeza se foi assim? Bem, ainda não se tem. 

Mas, ele virou o mundo de perna para o ar. As estatísticas chegam a amedrontar pelo nº de mortos e infectados. Temos um pequeno alívio com os índices de curados da COVID-19. Há app para verificar em tempo real como a coisa se verte por aí. Estamos em meio a guerra do inimigo invisível.

Uma senhorinha linda, toda arrumadinha, de coração grande. Em outros dias, ela contava dos tempos da gripe espanhola. Dizia que seu pai morreu com essa gripe. Desde que o pai adoecera ela nunca mais o viu. Soube que havia morrido. Repetia ela, ele morreu e a gente nem pode ver...

Por conta deste Corona, vi os profissionais da saúde criarem folhetos, livros, variados formatos de texto para orientar a população. Alertaram sobre a necessidade do isolamento social, uso de máscaras, água e sabão e o álcool em gel. O povo fez a piada! Os familiares destes profissionais pediram muitas orações a todos os conhecidos, oraram a todos os santos e anjos para a proteção da saúde.

Até o Papa fez alertas a população. Orou sozinho na Praça de São Pedro – evento inédito na história do Vaticano. Ele também disse que é preciso: "Curar as pessoas, não poupar (dinheiro) para ajudar a economia, (é importante) curar as pessoas, que são mais importantes do que a economia."

No começo... fecharam tudo: praça, lanchonete, bar, loja, shopping, loteria, motel, hotel, escola, praia e sei lá mais o quê. Permaneceram com as portas abertas aqueles estabelecimentos que vendem produtos alimentícios, de limpeza e higiene. 

Esse tal Corona desestabilizou muita coisa. Professor deu aula em casa, quase morreu de cansaço de tanto fazer aulas remotas. Mães enlouquecidas com as crianças em casa em período integral. Pior foi mãe tentando arrumar celular, notebook e sei lá mais o quê para os filhos estudarem, isso não foi fácil! Vendedores de todo tipo de produto iniciaram ou melhoraram a tal da venda online. Os motoboys de plantão rodaram mais que ... advogados e demais profissionais da área também tiveram que se render ao trabalho online. Na construção civil a coisa ficou assim, tem din-din toca, sem din-din para. 

Nesse turbilhão na economia o povo descobriu a necessidade de estudar sobre Marketing 4.0, ou seja, não basta vender por meio das redes sociais; carece saber utilizar metodologias, redes, acompanhar para obter resultados diferenciados. 

Depois... mesmo neste tempo vi algumas pessoas na praia, caminhando, pedalando, arrumando desculpa para sair, pois o comércio voltou a funcionar. Há os refugiados no bar da esquina, a turma do skate continuou na rua, os que foram passear no supermercado no final de semana, pois foi o espaço que restou. Festas clandestinas, de todo tipo – aniversários, as só para bebericar, fofocar, comemorar os velhos títulos dos times de futebol, sucedeu até festas promovidas com o auxílio emergencial. 

E o ser humano diz que tem medo da morte! Mas, não parece saber cumprir o isolamento social como orientado. Acho que brinca com a sorte. Parece que tem gente querendo conhecer São Pedro de perto. 

Nas redes sociais o assunto era Corona em todas as áreas: política, economia, educação, saúde... Creio até que há quem tenha a pretensão de estar se tornando especialista em Corona. 

O grupo de risco tentou isolar-se quando deu... quando não deu tornou-se vítima do COVID-19. Há os isolados em suas casas, cumprindo a ordem: Fique em casa! Orando mais do nunca a Deus e a todos os santos e anjos, estes descobriram até a vela virtual.

Sufoco foi quando as coisas começaram a estragar no período do fique em casa. Quebrou o chuveiro, a torneira, o vaso entupiu, a lâmpada queimou, o gás acabou, o cano de água vazando. Quando o fulano morava em prédio ficou fácil, sobrou para o síndico, mas quando era em casa... manda mensagem para pedir indicação de profissional, depois liga pro cara pra ver se pode vir, combinar os cuidados, etc., etc. 

No início, o povo foi ficando em casa de pijama, homens barbudos, a mulherada com a tinta do cabelo pelo meio, engordando, alguns até deprimidos por conta de tanta informação e pouco conhecimento. Isso também gerou contratempos entre familiares, pois informação, conhecimento e fé se misturaram em desavenças online, às vezes presencias e sabe-se lá se também com pelo menos 1 metro de distância... 

Essa coisa da distância implicou, do mesmo modo, nas relações sexuais. Inicialmente, as dúvidas. Pode? Não pode? Pode assim? Assim não pode? Por fim, virou piada a ponto de ser criada a lista para os filhos geridos ou nascidos neste período, a saber: Maria Clorokyna, Fakenilson, Covidy, Pandemira e por aí a lista vai até onde manda a criatividade. 

Mas, pasmem...quem muito trabalhou durante a pandemia de corona vírus, claro, depois dos heróis de branco - PROFISSIONAIS DA SAÚDE, foi o celular e seus app. 

Foi um tal de fofocar pelas redes sociais, a falar pela boca miúda sobre os convidados-19, criar estatísticas de mortos e curados. Pais que chamaram os avós para cuidarem das crianças e esqueceram do isolamento e que os avós pertencem ao grupo de risco; inúmeras ligações e mensagens para pedir um celular para os estudos; para o trabalho; muitas outras mensagens e ligações para combinar enviar o link da reunião. Teve reunião da empresa, da escola, de pais, de amigos de 40 anos ou mais. Uso de App para pedir comida, comprar qualquer coisa já que o povo não podia sair para gastar. A família que precisava se reunir para decidir como fazer com a mamãe no dia das mães. Já que era proibido reunião de toda e qualquer espécie.

Imprudente mesmo foi o ser humano esquecer-se como ser humano. Adicionou-se a este período de tormenta o aumento do descaso com o ser humano. Agressões e morte houveram porque o povo acabou desaprendendo a conviver em tempo integral, esqueceu que negro, amarelo, índio, branco, criança, jovem, ancião, são humanos e possuem direitos consolidados pela lei divina e pela lei dos homens. 

Pois, será mesmo o Coronavírus uma metamorfose que se deu na China ou será Deus tentando colocar um empecilho ao ser humano racional e calculista? 

Por outro ângulo, este tempo pode ser percebido/sentido/lido como um tempo de recuperação do meio ambiente. O planeta Terra parece estar respirando melhor, fato observado pelos estudiosos de plantão; casos a serem constatados pelo mar e algumas de suas criaturas. Tem um amigo que desafiou o isolamento social e foi registrar a presença de um Tapicuru – uma ave já não tão comum no centro da cidade. Ganhei uns amigos diferentes no quintal, um deles bem verdinho; o famoso grilo que segundo a lenda traz prosperidade, alegria e boa sorte. 

Boa sorte a todos para um pós pandemia. Mais saúde, mais alegria, mais confiança, por mais perdão, mais compreensão e mais força para superar desafios. 

*MARIA CRISTINA MARCELINO BENTO

- Graduada em Pedagogia; 
- Mestre em Educação pela UMESP-SBC; 
-Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital;
- Atuou na Educação Básica por 22 anos;
Atualmente é Professora titular da FATEA nos cursos de graduação e pós-graduação e
-Professora Coordenadora do Curso de Pedagogia da Fatea

Nota do Editor:

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