sábado, 25 de fevereiro de 2023

Vamos brincar de pesquisar com nossas crianças?


 Autora: Márcia Stochi (*)

Nossas crianças precisam vivenciar situações que envolvam estatística!

Vivemos em uma era que gera uma profusão de dados sobre uma diversidade de temas. A cada inserção na internet, nosso perfil é analisado para que se detecte gostos e costumes, buscando definir possíveis padrões de consumo. Daí, recebemos uma enxurrada de anúncios. Isso significa que a estatística está presente em várias situações cotidianas, mesmo sem que se perceba. Assim, se torna imprescindível compreendermos o significado e a relevância dos indicadores estatísticos. Essa compreensão é necessária para todo tipo de profissional, e não apenas para quem está em postos de comando. É preciso compreender essas situações, e ter consciência das possíveis casualidades que podem ocorrer em nossas vidas profissionais e particulares, favorecendo nossa organização financeira e profissional. Porque deixar para aprender temas relacionados à estatística apenas ao final da educação básica, ou na graduação?

Essa área da matemática não fornece resultados determinísticos, ela detecta tendências e possibilidades, para que em situações de incertezas possamos tomar decisões com maiores chances de acerto. Esse é um dos aspectos que os alunos mais apresentam dificuldades em sua compreensão. Há adultos que não compreendem que não há receita para ganhar na loteria se iludindo com pseudos manuais que afirmam que isso é possível. Outras pessoas não entendem que em uma apuração eleitoral, um candidato que tenha tido inicialmente uma vantagem, não necessariamente irá vencer a eleição. Há várias superstições e crença que surgem por falta de conhecimento do conceito de evento aleatório que levam as pessoas a acreditarem que eventos desagradáveis são um castigo divino.

Desde a década de 1980, que professores nos Estados Unidos, afirmam que é necessário o estudo de conceitos de probabilidade e estatística já nos anos iniciais da Educação Básica. No Brasil, essa proposta foi feita em 1997, nomeando esse eixo como tratamento da informação e indicando a necessidade de, desde os primeiros anos escolares, trabalhar com coletas de dados e sua organização. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (1997), afirmam que:
Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão "tratar" as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando ideias relativas à probabilidade e à combinatória (Brasil, 1997, p.53).

A Base Nacional de Conteúdos Curriculares BNCC (2017) também defende o ensino de probabilidade e estatística desde o início da Educação Básica. Sobre as habilidades e competências que devem ser trabalhadas o documento propõe que:

[...] todos os cidadãos precisam desenvolver habilidades para coletar, organizar, representar, interpretar e analisar dados em uma variedade de contextos, de maneira a fazer julgamentos bem fundamentados e tomar decisões adequadas. Isso inclui raciocinar e utilizar conceitos, representações e índices estatísticos para descrever, explicar e predizer fenômenos (Brasil, 2017, p. 274).

Esses conceitos estatísticos podem ser vivenciados pelas crianças, em seu ambiente familiar e escolar. Esse tipo de atividade costuma ser motivadora. Podemos iniciar uma pesquisa coletando dados, fazendo medições ou fazendo perguntas às pessoas em nosso entorno. Pode ser divertido fazer uma variedade de perguntas para os membros da família, vizinhos e amigos, como: esporte preferido, números de moradores nas residências, quanto tempo a pessoa se dedica aos estudos, por dia, dentre várias situações. É interessante verificar que dependendo para quem se pergunta, familiares, vizinhos, colegas da escola, o resultado será diferente, mas podendo apresentar resultados próximos.

Brincadeiras com o jogo de dominó também são interessantes, pois podemos observar que nem sempre a maior peça do jogo vai cair com uma mesma pessoa. Isso reforça a compreensão da questão do evento aleatório.

Atividades comuns podem ser interessantes para análises estatísticas. Podemos estudar um trajeto, que é feito repetidamente com as crianças, em diferentes ocasiões. Nessas situações, podemos anotar o tempo gasto para o trajeto e calcular uma média. Isso leva a percepção de que o tempo gasto varia, sendo que há situações em que se demora mais tempo do que em outras. Quando ocorrer um gasto de tempo maior, ou menor do que o previsto devemos elencar motivos, ou seja, fazer hipóteses, para que se busque justificativas para essa diferença, a análise dos resultados é uma atividade valiosa de reflexão.

Esses são apenas alguns exemplos de situação corriqueiras que podem ser trabalhadas com base em conceitos da estatística. O importante é perceber que para realizar uma pesquisa precisamos fazer escolhas sobre o que pesquisar, como colher os dados, como organizá-los, analisá-los, e como apresentar os resultados. Essa vivência é rica para que as crianças se familiarizem com as diferentes etapas de uma pesquisa e reconheçam a estatística como um caminho para se obter mais informações sobre determinadas situações.

Referências:

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Matemática. Brasília: MECSEF, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017.

* MÁRCIA STOCHI
















-Atua há 20 anos na docência em vários níveis: Educação Básica; Graduação e Pós-graduação;
- Bacharel e Licenciatura em Matemática Pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993);
- Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo  (2003) ; e
- Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2016).

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