sexta-feira, 24 de março de 2023

O Fazer e o Engajamento


 Autor: João Luiz Corbett(*)

Arte, literatura, musica e tudo mais que possa nos abrir caminhos para o conhecimento, a cultura, nos enlevar e propiciar crescimento intelectual e pessoal parece ter parado no tempo. Em algum lugar do passado, parece até nome de filme, o engajamento ideológico se tornou obrigatório. A massificação da informação engajada levou não somente ao termino da imprensa escrita como também ao fim da publicação de histórias e estórias.

Qualquer livro publicado tem sido imediatamente criticado e analisado por quem não leu e não gostou. Revistas e periódicos perderam o glamour, sites de fofocas, youtubers e os famigerados influencers surgiram como novas fontes de (des) informação.

O engajamento ideológico passou a ser o fundamento da notícia, dos livros, da pintura, fotografia e de qualquer forma de arte. Exposições de arte se tornaram presas das patrulhas ideológicas vigilantes sobre cores, texturas e formas. A música para sobreviver teve que se basear no máximo em três acordes, com letras que não podem superar quatro míseras frases (não versos!!!).

A sensação é que estamos vivendo dentro do Gullag e não nos demos conta. Livros de aventuras e romance são atualmente taxados de racistas, sexistas, imperialistas e retrógrados. Como se todos aqueles que leram livros publicados até a década de 90 tivessem se tornado iluminados imbecis.

A sanha avassaladora da censura ideológica atingiu até mesmos os livros da pré-escola às universidades. Não há livros, apenas apostilas editadas de acordo com o pensar do professor, e que ninguém ouse duvidar de seu conteúdo para não ser expulso do curso. Quem tem filho ou netos em escola e não ouviu a famosa frase "se não der uma esquerdada não passa".

Atingimos os píncaros idealizados por Huxley e Orwell, vivemos a liberdade onde tudo podemos fazer, desde que nos seja permitido ou atenda o coletivo. Qual coletivo? Com certeza o determinado pelo mandatário de plantão.

Imagino como seria tratado se hoje fosse pego lendo as histórias das cruzadas de Doyle ou a vida na China nos romances de Pearl. Com certeza iria para as masmorras de Dumas ou algum campo de reeducação de Mao. Lendo Wallace com certeza não teria sete minutos para ser escorraçado na internet como sexistas homofóbico e sei lá mais o que.

As livrarias estão acabando não por falta de autores mas por falta de conteúdo livre de perseguições. O texto que leva ao desenvolvimento de uma ideia, o descobrir da razão, a emoção do final, não se coaduna com a total falta de capacidade intelectual daqueles que hoje querem respostas imediatas e super-heróis que resolvem tudo na força. Já que também não tem capacidade de raciocínio.

Outro dia ouvi pela milésima ou milionésima vez The Logical Song, do Supertramp. Nada mais atual. E foi composta há 44 anos. Esta música me trouxe a comparação de atitudes dos que ao longo da história da humanidade se propuseram a criar e trabalhar de acordo com suas competências.

Ivan conquistou a Sibéria, Chin Shi unificou a China e até hoje não ouvi nenhum ideólogo reclamar de seus expansionismos. Corday assassinou Marat e nunca foi chamada de revolucionaria. Mandela impediu que dessem fim ao clube de rugby formado exclusivamente por brancos e não foi chamado de traidor. Curie a primeira mulher a receber o Nobel de Física não faz parte de nenhum panteão das mulheres.

Porém Assis, Lobato e Dickens, entre outros, são execrados como imperialistas escravagistas!!!!!! Isto é o mesmo que acender a fogueira para queima de livros. Temo o dia em que o Ministério da Verdade ouvir falar de Blainey e seus livros sobre a humanidade.

A perseverança em suas capacidades e por acreditarem que estavam lutando por seu reconhecimento fez com que Johnson, Jackson e Vaughan três cientistas negras, entre outras que trabalharam no centro de pesquisa da NASA em Langley, se tornassem referência no cálculo matemático. Em 1949 Vaughan se tornou a primeira mulher negra a chefiar um departamento da NASA. Seus méritos levaram à produção de um filme sobre seus trabalhos.

Podemos continuar a lembrar de pessoas até os dias atuais que trabalham e lutam para vencer por sua própria competência. A subserviência continua sendo o maior empecilho para a liberdade de pensamento, que por sua vez impede a criatividade e o empreendedorismo.

Os grupos atuantes nas mídias sociais estão mais preocupados em que ninguém empreenda, descubra ou proponha algo novo do que realmente defender minorias. Aliás, defender minorias é incentivar sua capacidade e criatividade e não os apresentando como pobres eternos sofredores.

Antes que me esqueça, Decourcelle dirigia um taxi em Paris em 1909 e nunca foi chamada de empoderada.

*JOÃO LUIZ CORBETT






















-Economista com carreira construída em empresas dos segmentos de açúcar, álcool, biocombustíveis, frigorífico, exportação, energia elétrica e serviços, com plantas em diversas regiões do país;

-Atuação em planejamento estratégico empresarial, reorganização de empresas, aprimoramento de competências, elaboração de planos de negócios com definição de estratégias, estrutura societária e empresarial, com desenvolvimento e recuperação de negócios e

- Atuação em empresas de grande e médio porte nas áreas de planejamento estratégico, orçamento, planejamento e gestão financeira, tesouraria, controladoria, fiscal e tributária. 

Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário: