sábado, 25 de março de 2023

Já dizia Gonzaguinha: Vê se entende meu grito de alerta


 Autor: Marcio Cavalcante (*)

Ser professor tem uma variedade de funções já amplamente conhecidas, chegando a incluir por "osmose" a responsabilidade de cuidar da higiene, segurança e saúde de seus alunos, mas e da sua saúde, higiene e segurança no ambiente escolar? Quem cuida? De certo ele mesmo, mas cuidar de si é algo que pouco vemos quando a questão é dar-se atenção.

Ao contrário de outras ocupações, cujos riscos são inerentes às atividades exercidas, as atividades dos professores não representam riscos iminentes de acidentes, mas há outros riscos, que são as doenças ocupacionais como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbio Osteo-muscular relacionado ao trabalho (DORT), entre outros.

Essas doenças por si só já deveriam soar um alerta, mas os professores de forma geral ainda mostram visão cautelosa ou de desconhecimento sobre segurança, saúde e higiene do trabalho.

Compreender as causas de adoecimento dos professores brasileiros é importante para fortalecer ações preventivas e de promoção da saúde dessa força de trabalho, que também contribuiria para a melhoria da qualidade da educação básica no Brasil.

No Brasil, o Decreto 53.831/64, Art. 2º enquadrou a profissão de professor como "serviço insalubre, perigoso e penoso". Isso revela um problema pra além das questões físicas citadas acima, evidencia o desgaste dos professores diante da sobrecarga trabalho, foram consideradas como principais causas de problemas de saúde o ambiente de trabalho e os fatores psicossociais, podendo-se citar também outras, por exemplo: carga horária, doenças de saúde, clima organizacional, gênero, sedentarismo, carga de trabalho física e/ou mentalmente muito exigentes, etc.

O professor atualmente parece não se sentir em condições de questionar, perguntar, argumentar sobre os aspectos determinantes de seu trabalho cotidiano, por estar afastado ou privado de um acesso ao processo e por conta da "burocracia" que cada vez mais envolve a vida docente.

O absenteísmo é comum nesse meio, licenças por esgotamento mental, o prazer da profissão julgada pela impotência de mudar o pensamento de muita gestão escolar, o fazer o básico, faz com que esse profissional veja a sua identidade questionada.

O que produz passa a ter um destino incerto, não reconhecido ou perdido em registros de memória frágil de alunos e companheiros.

Quando esta situação se prolonga a médio e longo prazo, costuma-se produzir uma reação de inibição no professor, que acaba aceitando a velha rotina escolar, depois de perder a ilusão de uma mudança em sua prática docente que, além de exigir-lhe maior esforço e dedicação, implica a utilização de novos recursos dos quais não dispõe. (Esteve, 1999, p. 48).
"Adoecido, o professor, formador de todos os demais profissionais, se vê sem condições de exercer a profissão que escolheu para a sua vida, deixando também a escola e a sociedade carentes de sua contribuição social (Carlotto, 2010)."
Uma lista simples e objetiva de doenças que atingem os professores está neste site http://sinpro-al.com.br/v2/?p=4897 , publicado em 2017, ela informa que é urgente a percepção e ações quanto a este assunto, pois se não há discussão, não há reconhecimento de casos, não há apoio e os problemas continuarão mascarados , conscientemente ou não, pelo discurso do "amor a profissão".

Eu poderia continuar escrevendo, mas tenho consulta com meu terapeuta pela primeira vez. Demorei muito pra entender o Grito de Alerta....

MÁRCIO CAVALCANTE
















-Graduação com Licenciatura e Bacharelado em História - 2012 - PUC – SP;

-Graduação em Licenciatura em Geografia EAD – Facuminas – MG – 2020;

-Pós-Graduação em História Indígena e Afro Brasileira – Facuminas - MG – 2020; e

-Professor de História F2 e EM Colégio CB/COC – São Roque – SP.

-  Ramo de pesquisa: Trabalho: Saúde, Higiene e Segurança, suas representações e articulações por parte dos trabalhadores.

Instagram @historia.poiesis

Nota do Editor:


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