segunda-feira, 3 de julho de 2023

Reservas Internacionais: um seguro contra crises externas


 Autor: Rafael Perez (*)

Você já se questionou por que a economia brasileira, apesar de todos os problemas, não sofre tanto com crises externas como no passado?

A resposta envolve muitos fatores, mas um elemento que pode nos ajudar a solucionar essa questão são as Reservas Internacionais. Elas foram um divisor de águas para o país nos últimos vinte anos e se tornaram fundamentais para a estabilidade econômica do Brasil.

Na definição do próprio Banco Central: "As reservas internacionais são os ativos do Brasil em moeda estrangeira e funcionam como uma espécie de seguro para o país fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques de natureza externa, tais como crises cambiais e interrupções nos fluxos de capital para o país."

Vemos por essa definição que as reservas internacionais consistem em um colchão (poupança) em moeda estrangeira.

De um modo geral, quando um país comercializa com o resto do mundo, observa-se um fluxo de entrada ou saída de dólares. Caso o país exporte mais do que importe e/ou tenha uma maior entrada de investimentos do que saída, teremos um fluxo positivo (superávit) de dólares. Quando há uma maior entrada de capital ela é convertida para uma conta chamada reservas internacionais, que está sob a tutela do Banco Central.

Desde o início dos anos 2000, o Brasil vem registrando sucessivos superávits em suas contas externas, muito em função do boom de commodities, que se refletiu em superávits na balança comercial, além de uma forte entrada de capital estrangeiro. O cenário externo mais favorável ao Brasil possibilitou ao país acumular mais de US$ 300 bilhões em reservas internacionais nos últimos vinte anos. Atualmente detém aproximadamente US$ 350 bilhões.

Com isso, o país possui um dos 10 maiores estoques do mundo. Se considerarmos apenas as nações do Ocidente, somos o segundo país que mais detém reservas, atrás apenas da Suíça que possui quase US$ 900 bilhões.

Se, por exemplo, os investidores saírem de forma abrupta do país – por causa de crises financeiras, pandemia, entre outros fatores – em busca de ativos mais seguros, teríamos uma saída de dólares e, por consequência, uma desvalorização cambial acentuada e rápida.

O Banco Central pode utilizar essa poupança em dólares para diminuir a pressão sobre as cotações, aumentando a oferta de dólares e atenuando os efeitos sobre a economia brasileira.

Imaginemos que o Brasil tivesse um pequeno estoque de reservas internacionais. Muito provavelmente teríamos um câmbio mais instável e desvalorizado, o que levaria a uma inflação maior, por conta do repasse de custos de importação das empresas. Além disso, teríamos taxas de juros mais altas para combater a inflação e para amenizar a própria desvalorização da moeda. Neste sentido, as reservas permitem uma menor volatilidade de câmbio, inflação e juros, trazendo um horizonte de maior previsibilidade tanto para as empresas quanto para os investidores.

Quanto maiores forem as reservas internacionais, mais saudável está o país. Contudo, existe um custo de carregamento dessas reservas, logo não é tão simples aumentá-las indefinidamente.

Elas também podem ser consideradas uma espécie de indicador externo, ao sinalizar que o Brasil está preparado para enfrentar turbulências externas. O alto estoque de reservas eleva a confiança do investidor no Brasil, favorecendo uma maior entrada de capitais na bolsa brasileira e no mercado de títulos.

Portanto, ao invés de travarmos batalhas em duas frentes – interna e externa – podemos focar mais nos problemas domésticos que melhorem nossa produtividade e nosso crescimento no longo prazo – as reformas tributária, investimentos em educação, infraestrutura, entre outras.

*RAFAEL DE CASTRO PEREZ


- GRADUAÇÃO em Relações Internacionais pela Unesp (2012);

- GRADUAÇÃO em Economia pela Unicamp (2018);e 

- Mestre em Economia pela USP (2022).

Nota do Editor:


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