sexta-feira, 3 de junho de 2016

A mentira e a política



Há um ditado popular que diz que a mentira tem pernas curtas. E o que isto quer nos dizer senão, que a mentira não vai longe. Um dia, alguém poderá descobrir toda a verdade por ela encoberta.

Algumas pessoas mentem por medo de ser castigadas por algum erro cometido. Outras mentem por compulsão. E há até aquelas que mentem, por educação. Por exemplo, quando questionadas se gostaram de um determinado jantar que não lhes caiu bem e para não frustrar quem o fez, respondem: “estava ótimo”!

Uma psicopatologia chamada Transtorno de Personalidade Borderline, é, muitas vezes misturada, ou confundida com a mentira, chegando o indivíduo a ser visto como mentiroso pelas pessoas que o cercam. O individuo com esse transtorno, está sempre na linha divisória entre a realidade e o delírio, entre a neurose e a psicose. Em alguns momentos, pode vivenciar intensamente uma fantasia delirante e colorida por alucinações variadas. E pode questionar se tudo aquilo vivido realmente aconteceu, pois, necessita testar a realidade, chegando a perguntar ao seu interlocutor: “você disse isso, ou aquilo para mim, ontem?”. Dependendo do grau de ansiedade frente a uma determinada tarefa, ele poderá criar um enredo mental, onde a tarefa por vir, realiza-se antecipadamente, numa fantasia delirante e alucinatória. Se alguém lhe pergunta se já a realizou, ele poderá dizer que sim. Um sim real para seu mundo interno, mas uma mentira para um interlocutor que desconheça as características desta psicopatologia.

O psicanalista inglês, Donald D. Winnicott, em seu livro “Privação e Delinquência”**, descreve a mentira e o roubo como tendências antissociais.

E a mentira e o roubo têm sido desnudados na operação Lava-Jato, que a cada dia aclara a forma criminosa como recursos pertencentes ao Estado, desapareceram nas mãos de políticos e empresários que fizeram do Estado brasileiro, sua morada, onde ainda se abrigam e dele querem se alimentar com fartura.

Tais recursos do Estado foram oferecidos como um grande banquete, a cujos convidados, foi dada a senha para entrar nesta festa pagã. Um banquete para o qual, o povo não foi chamado, e, como na música de Cazuza, ficou “na porta estacionando os carros”.

E o suor da sua testa sustentando aquela festa.

Uma festa que não possui cores partidárias, como diz o Dr. Sérgio Moro.

As bandeiras de variados partidos enfileiram-se, hoje, umas atrás das outras, podendo ser chamadas ONU, não aquela instituição baseada em Nova Iorque, mas a Organização Nacional dos Usurpadores do dinheiro do povo.

Políticos são eleitos a partir de projetos e promessas apresentadas a nós, o povo. Bandeiras como saúde, educação, minorias, segurança, transportes, emprego são as mais comuns. E ano após ano, eleição após eleição, buscamos escolher nossos representantes, acreditando que estes nos representarão. É como se disséssemos: “Agora vai!”.

Mas para nosso desencanto, na maioria das vezes, tais políticos representam não a nós, o povo, mas sim a uma empresa x, do setor y, para a qual eles trabalham em troca de polpudas mesadas e apoio a uma nova candidatura nas próximas eleições, à revelia do bem, ou do mal que esta associação público-privada fará ao povo e ao país.

A cada nova fase da Lava-Jato, descobrimos mais políticos, partidos e empresas que receberam a senha para esta festa, que, durante todo o seu curso, deixou a Casa do Estado brasileiro de pernas para o ar. 

Escolas sem carteiras, sem giz, sem lousa, sem merenda, sem ensino, professores mal remunerados e com baixa qualificação. 

Hospitais superlotados, sem esparadrapos, sem leitos, sem remédios e com aparelhos quebrados. Médicos que precisam escolher entre o paciente que irá morrer e aquele com maior chance de sobreviver.

Ruas e estradas esburacadas, cujos recapeamentos de baixa qualidade denunciam algum conluio entre o poder público e o privado para que sempre haja buracos a serem tampados. Redes de água e esgoto arrebentadas nas ruas, permitindo o desperdício de milhões de litros de água potável, bem como o aparecimento de inúmeras doenças.

Bairros e cidades inteiras sem saneamento básico, cujo esgoto fétido a céu aberto expõe a ferida do descaso com a qualidade de vida do povo, impedindo que o aroma suave da esperança seja aspirado por este povo já tão sofrido.

Ruas mal iluminadas, mato e lixo se acumulando nos terrenos. Uma verdadeira “zica”.

Meios de transporte abarrotados, onde o povo se confunde com sardinhas enlatadas.

Casas trancadas, cercas elétricas e ruas vazias, pois, a qualquer momento poderá aparecer um ladrão para fazer a sua festa, desta vez, no andar de baixo.

Milhares de jovens zumbis, sem confiança em si, cuja esperança de mudança está naquela cocaína que os traficantes lhes dizem ser da boa, são bombardeados por carregamentos e mais carregamentos de drogas que entram em nosso país por suas fronteiras abertas, trazendo a destruição de mentes do ponto de vista neurológico, psicológico e social. Casqueiros, como são chamados os viciados em crack, formam uma legião de lesados neurológicos vagando pelas cidades, em busca de alguns reais para mais uma pedra.

Dezenas de milhares de assassinatos ao ano, bem como de estupros de mulheres, crianças e também de homens, sejam brancos, negros, índios, homoeróticos, ou não.

Uma guerra descomunal entre a polícia e bandidos, cujos corpos tombados de um lado e de outro, nos faz questionar: é uma guerra civil?

Mais de uma dezena de milhão de desempregados e milhares de empresas falidas.

Pessoas deprimidas e ansiosas, pois, o palhaço, ao retirar sua máscara se revela triste e sem esperança.

E o povo brasileiro visto, mundialmente, como um povo alegre, hoje chora a destruição em massa causada pela incompetência, corrupção, o roubo e a mentira. E está de luto. Um luto doloroso e difícil de elaborar.

Afinal, a confiança nos políticos, que estava há anos na UTI, foi a óbito.

Bibliografia

Winnicot, D.D. “Privação e Delinquência”. A tendência antissocial. 127-138. Martins Fontes, 1987.

Por CLEUZA BEATRIZ BAPTISTA



Segundo suas próprias palavras essa imagem me representa

-Psicóloga formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP (1982);
-Mestre e Doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo- IPUSP (1996);
-Formação em Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo (1994);
- Foi Educadora de rua, setor de carentes e abandonados e Supervisora Técnica egional do Projeto SOS Criança;
-Cordenadora Técnica da Casa Abrigo Aeroporto, da antiga Secretaria do Menor, gestão Alda Marco Antonio e delegada Rosemary Correa, em São Paulo;
- Professora da Faculdade de Educação da UNESP de Araraquara, de 1986 a 1988; Professora da Faculdade de Psicologia de Jundiaí, de 1998 a 1990;
-Presidente do Instituto de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto - IEPRP, de 2007 a 2009; e
-Atualmente, com consultório particular, professora do IEPRP e “tuiteira”.

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