sábado, 4 de junho de 2016

Ser Professor



Ser professor é exercer o papel de condutor do pensamento reflexivo. A sala de aula pode ser um local de discussão e pesquisa, de produzir e melhorar as ideias de valor e não de reprodução fiel de conteúdos transmitidos.

Ser professor é ser um estrategista. É está preparado e disposto para adaptar e contextualizar suas ações às necessidades cognitivas do aluno. A sala de aula pode ser um local de promoção do pensamento crítico e criativo.

Ser professor é refletir sobre a sua prática buscando melhoria do processo de ensino-aprendizagem. É ser capaz de questionar suas próprias ações e compreender a importância da relação teoria-prática.

Ser professor é saber trabalhar em equipe, sabendo responder às diversidades. A sala de aula pode constituir-se num ambiente de troca de experiências, inovações e também dificuldades.

Ser professor é ser um agente de mudança. É ser um agente da inclusão. É enfrentar a insegurança, o despreparo e a desinformação para sustentar esse processo. É ser agente transformador em um espaço onde todas as formas de saberes são fundamentais para o desenvolvimento do homem.

Ser professor é estar preparado para algo grande e desafiador diariamente. É viver no agora e nas oportunidades que surgem a todo instante.

Ser professor é trabalhar com pessoas. Pessoas que são capazes de interrogar e elaborar juízos sobre uma relação interpessoal na sala de aula. É cultivar uma relação saudável e baseada em confiança e admiração com seus alunos. É ser capaz de justificar e defender sua posição.

Ser professor é estar comprometido eticamente com sua profissão, diante da complexidade e da incerteza da era contemporânea pluralista e multipartidária. É ter uma postura ética, pois o tempo todo é criticado frente a um objetivo que proponha alcançar ou um método que decida aplicar. É enfrentar sentimentos de monotonia e desilusão na prática de ensino. É ser uma ponte entre o aluno e o mundo na transmissão de saberes éticos, apesar do desprestigio social de ser mal tratado e escassamente valorizado.

Ser professor é exigir direitos e não “jeitinhos”; é não roubar a coisa pública; é não ter gosto de fumar em um local proibido; é não aceitar a relação dar para receber; é lutar para que a lei da transparência funcione. É discutir a ética da sua profissão.

Ser professor é ser um profissional que encontra uma dura realidade a sua frente: violência, desinteresse, dificuldade de controlar uma classe, de avaliar justamente, insegurança, depressão, fobias, estresse, finanças etc. Pois é preciso assegurar que as interações favoreçam a reflexão, a troca e a construção de conhecimentos a respeito da prática docente.

Ser professor é ser respeitado com um uma remuneração digna, com um amplo investimento na formação iniciada e continuada por parte do Estado, focada no processo de ensino e aprendizagem e na garantia de condições de trabalho adequadas. É ser respeitado com planos de carreira em diferentes níveis, que reconheçam tempo de serviço e formação docente.

Ser professor é ser respeitado. É ser reconhecido como tal. Pelo aluno, pois educação começa em casa e a escola é “um dos centros da vida na comunidade” onde este se encontra; que o mesmo perceba o professor “como a principal categoria de trabalhadores da sociedade do conhecimento e da economia do saber”. Pelos pais, pois estes são “responsáveis por valorizar e acompanhar a educação de seus filhos, tanto em casa quanto na escola”. Pela sociedade, pois “a educação é direito de todos e dever do Estado”. É respeitar a si mesmo. É respeitar sua própria classe de profissionais da educação.

Ser professor é ser mestre e não tio, tia ou anjo, pois a educação é o único jeito de garantir o crescimento econômico da nação e propiciar a construção de uma sociedade mais justa. É ser professor de fato e não apenas alguém ocupante de um espaço porque não se deu bem na vida.

Ser professor é exercer “uma profissão que constitui a espinha dorsal da sociedade do futuro”. Mas quanto tempo será necessário para que o Brasil atinja o nível de compreensão da importância do professor na sociedade? O professor está cansado de ser feito bobo.

Ser professor é singularmente difícil.

Por FERNANDO MARTINS


-Formado em Ciências Sociais e Teologia;
-Pós graduação em Metodologia do Ensino de História;
-Escritor, Palestrante e Professor de História na Rede Pública Estadual
Twitter: @filosonando

5 comentários:

  1. Acho que os professores não deveriam exercer militância política em sala de aula, fortalecer a sua classe através da própria entidade e não misturada a movimentos sociais ou centrais de trabalhadores. Minha visão é que foram perdendo identidade ao longo de lutas que não são suas. Esqueceram seus papéis para militar por causas, que mesmo justas, não são suas. Esqueceram de continuar a exercer seus próprios papéis. Penso que deveriam enrolar bandeiras partidárias e levantar bandeira própria. Só assim conseguirão ser comprometidos eticamente com sua profissão, com a educação. Deveriam assumir uma postura de luta em causa própria para ajudar na formação de um povo livre e consciente de suas escolhas. Penso que um professor ao colocar a ideologia de seu partido em destaque nos seus ensinamentos, esquece a identidade, a verdade, a importância e a dignidade de sua profissão.

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  2. Prezada Sandra Ghilardi. Interessante o seu comentário. O que você expõe foi abordado no primeiro artigo sobre "a formação da identidade do professor e sua prática social". Contudo, defendemos que o ensino constitui-se em um fenômeno complexo enquanto prática social, realizada pelos sujeitos situados num contexto histórico – professor e aluno. Sendo assim, podemos considerar a construção da identidade do professor sempre num contexto histórico. A profissão de professor é dinâmica assim como a sociedade. A nossa identidade é construída quando damos significados à nossa prática como atores e autores. É também construída a partir do significado social que damos à educação.O professor ressignifica o seu tempo e o seu espaço junto com o aluno, ambos trabalham na construção e na reconstrução de um projeto de mudança na prática social,

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  3. Mas isso não lhes dá o direito de mudar a opinião dos alunos, apartir do que ele defende,porque somos formadores de opinião e ardilosamente os envolvemos em nossos objetivos políticos afim de que indiretamente , o aluno se transforme até que se cumpra a união dos meus pensamentos aos dele. Quando na verdade deveríamos usar essa perspicácia para ensiná-lo o essêncial na sua faixa etária, com disposição para adaptar e contextualizar suas ações às necessidades cognitivas do aluno. ''Cada cabeça é um mundo'', dizia meu velho pai! Temos que pedir licença pra entrar em mundos alheios...

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  4. Parabéns pela iniciativa! Falar de professor é sempre bom... Tem muita coisa por aí, que o professor faz, que pode estar certo ou errado,ele não se culpa nunca,porque ele acha na verdade que o grande vilão da estrutura do Ensino é o SISTEMA... Somos formadores de opinião e por isso não podemos exorcizar a mente de nossos alunos..

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  5. Prezada Jomara Alves. A ideia é que este espaço seja um lugar para conversar, trocar experiências e saberes, repensar a nossa formação e prática e "revisitar" o conceito que se tem sobre o que é ser professor. Como disse, errando e acertando, mas persistindo diante dos desafios "gigantes" que temos todos os momentos.

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