sexta-feira, 6 de março de 2020

Capitalismo Vermelho

Autor: Mateus Machado(*)


O Calcanhar de Aquiles

Sabemos que a Esquerda (socialismo/comunismo) nunca conseguiu alcançar aquilo que se propõe como economia na prática; as tentativas foram desastrosas. Por isso ela não conseguiu entender e mudar a maneira de como a riqueza, o trabalho e sua inter-relação, funcionam na sociedade. Nem mesmo trouxe à tona um panorama lúcido e que nos convencesse de sua prática. O seu ponto fraco sempre foi sua política econômica, ao menos que fosse eficaz para a sua prática e desenvolvimento. Ao passo que a Direita sempre se destacou com sua política econômica, interligando privatização, desregulamentação, impostos e fazendo que a roda do sistema girasse.

O socialismo/comunismo nivela a sociedade por baixo, e toda a produção de riqueza é centralizada nas mãos dos seus líderes, longe da população que tem que se contentar com as migalhas do estado.

Embora o capitalismo tenha se fortalecido nas últimas décadas, o sistema também vem apresentando as suas falhas na engrenagem social, mesmo nivelando a riqueza da sociedade para cima, as desigualdades sociais em muitos casos são gritantes, com salários estagnados e boa parte da população em situação de pobreza, em alguns casos, a situação é de miséria, além das crises bancárias e no mercado como um todo.

A questão ambiental, embora controversa, exagerada e alimentada pela desinformação e por narrativas com fins políticos, ela não pode ser desprezada. Sabemos da farsa do aquecimento global tendo o homem como causa do fenômeno. O planeta tem seus recursos naturais e esses recursos são limitados. É preciso mais incentivo e investimento financeiro em tecnologias sustentáveis para que, ao menos, os impactos negativos sejam minimizados. O nosso planeta tem os seus próprios mecanismos de defesa e, considerando a teoria de Gaia de James E. Lovelock, fazemos parte de um corpo vivo com um sistema complexo e profundo.

Não existe prosperidade sustentável e muito menos compartilhada em um sistema de competição. Muito menos quando a desigualdade está presente na própria competição.

Ainda não existe nenhum sistema político-social que seja ambientalmente sustentável.

Segundo um artigo do The Guardian, assinado por Andy Beckett, em uma conferência conservadora o político britânico Philip Hammond admitiu que "uma lacuna se abriu (no Ocidente) entre a teoria de como uma economia de mercado funciona...e a realidade".

Os desafios do capitalismo são imensos e precisamos encarar isso com honestidade para alcançarmos uma sociedade mais justa e equilibrada, aproveitando melhor, de maneira mais positiva, o potencial do que o planeta tem a nos oferecer.

A liberdade baseada na doutrina do liberalismo acaba sendo um contra ponto; se por um lado o liberalismo defende a liberdade individual contra o poder estatal, por outro, ela crê que a Economia tem o poder de regular a sociedade em todas as suas áreas; políticas, religiosas, intelectuais. 

A sociedade, por si só, não se sustenta unicamente pela sua economia, antes ela precisa de uma base cultural, de costumes e tradições. O liberalismo ressalta a importância econômica, mas coloca a base cultural, de tradições e costumes em segundo plano. Assim ela abre caminho para o desmantelamento das tradições, costumes e valores conquistados ao longo da história da civilização, dando suporte favorável para questões como aborto, liberação das drogas, aos ativismos do feminismo, da ideologia de gênero e da pedofilia. Entendendo isso como progresso, evolução social; advindo das liberdades pessoais e acreditando que tais liberdades são capazes de regular a estrutura social.

No entanto, essa postura liberal está intimamente ligada à ideologia de esquerda que, embora ainda não tenha criado um sistema econômico que se mostrasse viável na prática, ela tem se fortalecido com suas pautas revolucionárias para a mudança de valores, costumes e tradições. Ou seja, culturalmente, a esquerda e o liberalismo tem a mesma visão de mundo. Por isso o liberalismo vem pavimentando a tomada de poder de uma nova esquerda que, ao que tudo indica, usará do próprio liberalismo como princípio para se reestruturar economicamente, reformulando assim a ideia de capitalismo, da mesma forma que vem reformulando o conceito de democracia.

Atualmente, a postura econômica é a única barreira que separa o socialismo do liberalismo, barreira que já está sendo derrubada.

Think Tanks

Cientes do fracasso econômico, um grupo de novos intelectuais de esquerda vem surgindo com uma nova proposta de economia. Eles estão se reunindo através dos Think Tanks (laboratório de idéias, gabinetes estratégicos); são instituições que produzem e difundem informações e estratégias sobre determinados assuntos e tem como objetivo influenciar as decisões políticas e as ideias no meio social. A New Economics Foundation é um think tank de Londres que vem servindo para amadurecer ideias do novo movimento.

Thinks tanks existem desde o século 19, ganhando força nos Estados Unidos no final da segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. Segurança internacional e política externa foram temas pesquisados durante esse período. A Rand Corporation estava entre os think tanks mais importantes da época. Mas foi durante a década de 80 que os think tanks ganharam o mundo com o fim da Guerra Fria e a integração global entre os países.

Uma Nova Visão de Mundo

Muitos desses novos economistas já estão pautando um projeto altamente ambicioso para trazer uma transformação fundamental na relação entre o capitalismo e o Estado, trabalhadores e empregadores, economia local e global.

Para a jovem acadêmica Christine Berry não se trata simplesmente de uma economia, mas de “uma nova visão de mundo”. A proposta dessa nova economia de esquerda é pautada na redistribuição do poder econômico que seja mantido por todos, da mesma forma que o poder político é mantido em uma democracia que de fato busque a justiça e a igualdade.

Essa redistribuição de poder visa a tomada de posse de parte das empresas pelos seus funcionários, abrindo caminhos para uma maior participação de lucros e de sua administração. Da mesma forma como políticos locais possam reformular a economia de sua cidade e assim favorecer negócios locais em vez de favorecer grandes corporações.

O cooperativismo será reformulado e desenvolvido, aliado às tecnologias de ponta para atender a nova estratégia econômica.

Parte dessa “economia democrática” já está sendo estruturada nos EUA e na Grã-Bretanha. Um dos argumentos mais usados por esses novos economistas é que a democracia se tornará inviável em breve, caso a desigualdade continue crescendo por causa do atual poder econômico.

Defensores da nova economia esquerdista como Joe Guinan, membro sênior do Democracy Collaborative e diretor executivo do Next System Project, argumentam que as comunidades moldem suas economias locais. Joe vem escrevendo artigos sobre o tema para o Instituto de Políticas Públicas, um think tank que era associado ao Novo Trabalhismo.

Abro um parêntese aqui; para Karl Marx a revolução se daria através dos meios de produção, partindo de um pressuposto de mudança econômica, com a luta de classes, e que depois, de maneira natural, os indivíduos mudariam os valores e rejeitariam as tradições e costumes em favor de uma nova cultura revolucionária. O marxismo não funcionou. E hoje temos uma Nova Esquerda, que traz em seu bojo um novo marxismo, mais preocupado com as ideias e com uma revolução cultural. A nova esquerda, ao que parece, está fazendo o caminho inverso de Marx, buscando primeiramente uma mudança nas pautas de costumes para depois investir em uma revolução no sistema econômico. 

Os governos britânicos de centro-esquerda já tentaram praticar um novo modelo de economia através de impostos e substituindo uma elite gerencial do setor privado por uma estatal. Porém os novos economistas buscam por mudanças mais profundas, mais sistêmicas. Está na natureza o radicalismo da nova economia que tem como meta transformar ou acabar com o capitalismo como nós o conhecemos; há divergências entre os próprios economistas em reformular o capitalismo vigente ou reiniciar do ponto zero.

Seja como for, trata-se de um movimento que está deixando de lado a oposição, para abordar a questão econômica, se apresentando como uma nova proposta.

Creio ser mais provável uma mudança, uma nova roupagem entre um Capitalismo com os tons de Vermelho e Verde; um capitalismo verde-rubro. Isso porque, dada a nova estratégia esquerdista de engajamento do ambientalismo radical, tal mudança nasce mais orgânica, aberta, como se já esperasse uma nova proposta econômica que pudesse trazer em seu bojo uma prática ambientalmente sustentável.

Essa mudança precisa ocorrer parcialmente supervisionada pelo estado, e não controlada por ele, como propõe alguns dos novos economistas. Será então uma economia que possa se adaptar à sociedade, em vez de uma sociedade passiva e submissa à economia vigente, como ocorre atualmente.

Creio que se trata de uma mudança mais orgânica, nascida dentro do próprio sistema capitalista através do liberalismo que, aliás, sempre foi duramente confrontado pela ideologia esquerdista o que, penso, pode não ter passado da mais pura Estratégia das Tesouras.

O liberalismo tem tudo para, de uma lagarta, se transformar em uma borboleta. Ou antes, e creio que seja mais assertivo dizer que, do ponto de vista econômico, o liberalismo será dominado por um corpo estranho à sua biologia. Tendo em vista que a ideologia esquerdista é como um vírus em mutação, se desenvolvendo em um ambiente severo para se adaptar. Isso acontecerá porque o liberalismo será engolido por essa nova economia. Como um parasita procurando um hospedeiro para germinar e se desenvolver silenciosamente. O liberalismo será engolido de dentro para fora por essa nova economia esquerdista, como o parasita que devora a carne do seu hospedeiro.

* MATEUS  MELO MACHADO
















-Poeta, escritor e crítico literário;
-Vencedor de Prêmios Literários, entre eles Ocho Venado (México), e um dos finalistas do Mapa Cultural Paulista (edição 2002);
-Autor dos livros: “Origami de Metal” – Poemas – 2005 (Editora Pontes);
A Mulher Vestida de Sol” – Poemas – 2007 (Editora Íbis Líbris);
“Pandora” – Romance em parceria com Nadia Greco – 2009 (Editora Íbis Líbris);
“As Hienas de Rimbaud” – Romance -2018 (Editora Desconcertos),“
Contatos: mateusmachadoescritor@gmail.com
Cel/whats app (11) 940560885



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