domingo, 19 de abril de 2020

O Bem que Vem Depois do Medo


Autora: Rosangela Tavares(*)

E de repente nos vemos diante de um pedido brusco de recolhimento, fechamento de comércios e escolas. 

E tudo o mais que é tão incomum de se viver, principalmente numa cidade maior.

De repente todo mundo fica assustado, pego meio de surpresa e com os piores pensamentos diante da sensação de que perdeu o controle da vida.

De repente uns surtam. Outros entram em pânico.

De repente pais viram professores. Executivos cozinham com as crianças. Pessoas workaholics tiram férias forçadas, se movendo para um extremo: o parar.

E o medo e as fantasias sobre o pior começam a invadir cada cérebro acelerando em altíssimo grau um padrão já tão presente de ansiedade.

É o medo do novo, do desconhecido, do imprevisível fazendo de cada inconsciente emergir conteúdos de pavor relacionados inclusive a antigas heranças. Heranças essas gravadas em nossos genes em arquivos de experiências de guerra, solidão, escassez e lutos.

Daí todo mundo se vê abrigado em casa, sem saber bem por onde começar numa nova rotina, espiando pela janela e esperando os próximos capítulos.

Só que o tempo passa rápido. 

E a realidade, que é uma só, vai mostrando outras facetas.

E aos poucos, embora ainda sob a pré-ocupação com a saída que cada um vai ter que encontrar para honrar com o acerto de suas contas, começa a surgir um pouquinho de confiança.

De repente não são só coisas horríveis que estão ocorrendo.

De repente vemos música nas varandas, doações e mais doações em todos os sentidos. 

E profissionais lindos doando seu trabalho para ajudar quem está menos esperançoso.

E de repente começa a "pintar" comentários de como é bom poder ficar em casa e descansar. Como é bom ficar com os filhos por mais tempo. Como é bom mexer no jardim e conversar pelo muro com o vizinho.

Como é bom limpar o guarda-roupa aproveitando a inspiração dos movimentos positivos lá fora ao separar sacolas com o pensamento de que "quando tudo voltar ao normal eu levo isso para tal instituição". 

Como é boa a sensação de não saber direito o dia da semana e todo o dia estar meio parecido com os domingos dentro de casa.

E a gente pode então deixar um pouco o pavor de lado e olhar para a nossa incrível flexibilidade.

Como no final das contas o medo nos impede de acreditar que podemos nos acostumar com diversos momentos diferentes e que ninguém precisa enlouquecer por causa disso.

Ninguém precisa pirar e padecer em nome do que está difícil lá fora.

Pelo contrário, quem puder estar bem, poderá fazer algo por quem está pior.

É assim, quem tem mais energia puxa quem não tem.

E só não vê oportunidade de ajudar, quem não quiser. Porque até um post carinhoso vai servir como esperança para alguém.

Muito bem, está aí para nós mesmos, entre tantos desafios que esta fase está nos apresentando, a oportunidade de enxergar o quanto somos fortes e como podemos viver de formas diferentes e ir ajustando as coisas, aos poucos. 

Encaixando o que for preciso e desencaixando o que precisar também.

A vida é assim, dinamismo puro. E nós podemos acompanhar. Estamos percebendo que podemos.

E que o medo é apenas parte do instinto, e que mesmo com medo, a gente dá conta.

E viva o lado bom do aprendizado e do exercício de sermos mais humanos.

Que possamos ser muito humanos mesmo. Não só na presença de um elemento novo no planeta.

*ROSANGELA TAVARES













-Psicóloga clínica – CRP 06/64149;
-Formada em psicologia clínica pelo Centro Universitário Unicapital, na Moóca, ano de 2000;
-Atende em consultório particular, na abordagem psicanalítica;
-Atendimento de adultos, adolescentes, casal.
Rua Santa 104 – Vila Mascote – São Paulo – SP
www.rosangelatavarespsicologa.com.br
WhatsApp: 11 985725600

Nota do Editor:
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