Autor: Roberto Bassi Ribeiro Soares (*)
Introdução
O objetivo deste ensaio é tentar transmitir aos leitores, alguns dos impactos da política monetária praticada pelo Banco Central do Brasil (BACEN), sobretudo acerca de sua política anti-inflacionária, cujo principal instrumento é sua interferência nas taxas básicas de juros.
Então, faremos uma breve análise dos impactos das variações nas taxas de juros, não apenas sobre a inflação, mas também sobre os investimentos (financeiros e produtivos), e, por fim sobre os níveis de preços na economia e poder de compra da população.
1. O Banco Central do Brasil e sua Política de Juros
Dentre o ferramental econômico à disposição do BACEN, a taxa básica de juros, ou se preferirem, a tal da taxa Selic, é a ferramenta mais utilizada na tentativa de se controlar os níveis de inflação.
Mas, além de influenciar os níveis de inflação, quais são os outros efeitos econômicos dessa atuação sobre a taxa Selic? Vamos tentar responder a essa pergunta, analisando seus impactos sobre a produção, bem como sobre os preços das mercadorias e poder de compra da população.
1.1. O Sistema de Metas de Inflação
Desde 1999, o Brasil adota o chamado sistema de metas de inflação, consubstanciado na atuação do BACEN, com o intuito de controlar a inflação no país.
Controlar a inflação é importante porque com a inflação em patamares baixos, há mais estabilidade econômica, menor risco e melhores condições para o planejamento financeiro das famílias e das empresas.
Definidas as metas de inflação para um determinado período, o Banco Central adota medidas na busca pelo controle inflacionário, ou, em momentos de inflação controlada, destinadas a incentivar o crescimento econômico.
Em geral, no Brasil, o instrumento de política monetária colocada em prática no combate à inflação é a política relacionada à taxa Selic, determinada pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central.
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, mas que influencia as demais taxas de juros, sobretudo aquelas relacionadas a empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. É ela, por exemplo, que determina a rentabilidade paga pelos títulos públicos, vendidos no mercado financeiro pelo governo, com o objetivo de custear suas políticas públicas.
1.2. Os Impactos das Variações da Selic na Economia
Alguns dos impactos mais significativos das variações da Selic podem ser observados sobre a inflação e sobre os investimentos, sejam eles produtivos ou especulativos, bem como sobre os preços das mercadorias.
Então, que tal refletirmos um pouco sobre esses efeitos?
1.2.1. Sobre a inflação
De fato, assim como pretende o Banco Central, com sua política monetária, as variações nas taxas de juros têm impacto direto sobre a inflação, sobretudo nos casos de inflação de demanda. Funciona mais ou menos assim: se o intuito for comprar algum bem a prazo, juros em alta tornam o crédito mais caro, encarecendo, também, a mercadoria desejada. Encarecendo o dinheiro, ou melhor, elevando-se os preços das mercadorias, se consegue reprimir o consumo, e, consequentemente, reduzir as pressões sobre a oferta. Dessa forma, busca-se equilibrar a relação entre a oferta e a demanda por mercadorias, trazendo, novamente, os preços a patamares adequados à realidade econômica.
Na via contrária, as quedas nos juros incentivam o consumo, pois o crédito se torna mais barato e acessível a um maior número de tomadores (incluindo, aí, tanto pessoas físicas, quanto jurídicas), que poderão, então, "ir às compras".
1.2.2. Sobre os Investimentos
Em mercados com elevada concorrência entre as empresas, a queda nos juros incentivará os empresários a investirem no aumento da produção, adquirindo mais insumos, matérias-primas, máquinas e equipamentos, e a contratarem um maior número de trabalhadores, gerando mais empregos e renda entre a população, e aquecendo a economia. Já os investimentos no chamado mercado financeiro, em momentos de queda nos juros, tendem a cair, sobretudo os investimentos, cuja rentabilidade está atrelada à Selic, como, por exemplo, títulos do governo.
Por outro lado, em momentos de alta na inflação, e, consequentemente, de elevação da Selic, crescem os investimentos no mercado financeiro em busca de maior rentabilidade sobre o capital investido, em detrimento dos investimentos na produção, pois estes dependem, em grande parte, de recursos provenientes de empréstimos e financiamentos, que com a alta nos juros, se tornaram mais caros.
Então, podemos dizer que as variações na Selic afetam diretamente os investimentos, sejam eles produtivos, ou especulativos, e que a política monetária posta em prática pelo Banco Central, nas últimas décadas, tem levado a economia nacional a registrar investimentos produtivos cada vez menores, privilegiando, em contrapartida, os investimentos especulativos.
O resultado disso estende-se a questões ainda mais amplas e de maior importância que meramente o controle da inflação, passando pela queda na oferta de bens e serviços, gerando, assim, a chamada inflação de demanda, pela busca por produtos estrangeiros para suprir a demanda interna, e, mais além, induzindo à desindustrialização do país. Mas esses são assuntos para um outro ensaio.
1.2.3. Sobre os Preços e o Poder de Compra
Já vimos que juros elevados reduzem a inflação, pois encarecem as compras à prazo, reduzindo, consequentemente, a demanda e as pressões sobre a oferta. Por outro lado, como os recursos provenientes de empréstimos e financiamentos ficam mais caros, também desestimulam os investimentos na produção, limitando a oferta de mercadorias. Nesse cenário, de oferta reduzida e alta nos custos de produção, adivinhem qual é o resultado mais esperado… Você acertou! A resposta é a alta nos preços das mercadorias!
Já os juros baixos, têm efeito contrário, incentivando o consumo e os investimentos na produção, pois com juros baixos, o crédito fica mais barato.
Podemos, então, dizer que assim como nos casos da inflação e dos investimentos, as variações nos juros também impactam os preços das mercadorias, e, consequentemente, o poder de compra da sociedade. Com juros altos, só quem ganha é o especulador, enquanto que o produtor e o consumidor, vêm seu poder de investimento e compra caírem.
O objetivo deste breve ensaio foi transmitir ao leitor, sobretudo ao leigo em assuntos econômicos, noções sobre os impactos das variações nas taxas de juros, mais especificamente, da taxa Selic, esta, resultante da política monetária colocada em prática pelo Banco Central do Brasil. Para maiores esclarecimentos, há vasta bibliografia acerca desse tema, entre outros meios de acesso à informação, que vale à pena ser consultada.
*ROBERTO BASSI RIBEIRO SOARES
-Economista graduado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP (1994);
- Mestrado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP (2004);
-Atua há mais de 10 anos como Perito Econômico-Financeiro;
-Tem ainda experiência na área comercial como Hunter e Farmer e, na organização da área financeira em micoempresas e MEI's;
e
-Foi Professor Universitário por mais de 20 anos em disciplinas de Cursos em Ciências Econômicas e Administração.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Excelente artigo para informar o cidadão comum de assuntos econômicos e que muitas vezes é um conglomerado de informações que, à princípio, não fazem sentido algum. Principalmente quando o fenômeno da alta da SELEC vem acompanhado com a narrativa ideológica/política para ludibriar os desavisados.
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