sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

O Parque, o Patrimônio e a Administração Pública

Autor: João Luiz Corbett (*)


No início do século XX a arte e a ciência despontavam como os grandes fatores de mudança na história, e dentre as múltiplas novidades a arquitetura iniciava seus primeiros passos no que seria conhecido como Modernismo. Na França o nome que despontava era o de Le Corbusier.

Entre seus alunos havia um russo de nome Gregori Warchavchik. No ano de 1923 Warchavchik vem para o Brasil que ainda efervescia com a semana modernista em São Paulo. Participante ativo das artes casa formando uma família ligada às artes e a literatura.

Numa chácara com aproximadamente 12 mil metros quadrados, na Vila Mariana, São Paulo, Warchavchik projeta em 1927 e constrói em 1928, a casa da família. Sendo considerada a primeira obra de arquitetura moderna no Brasil, com um jardim reunindo arvores de todo o Brasil.

Por que estou contando tudo isto? Porque a história deste parque se mistura com a valentia dos moradores do bairro que em 1983 lutaram pela preservação da área verde e das construções históricas, que iriam se transformar num condomínio com três torres. O movimento chamou a atenção dos políticos de então e o imóvel foi tombado pela prefeitura e anexado ao patrimônio público.

A partir daí podemos conhecer um pouco da vontade política de preservar o patrimônio público ou de escondê-lo de forma a não chamar a atenção. Considerando que já se passaram 41 anos desde o tombamento vemos hoje um parque e museu totalmente abandonados e se deteriorando dia a dia.

Sendo o parque originário de uma casa seu entorno é totalmente cercado por muros tendo apenas um portão de entrada, sendo muito comum, para alguns moradores da região e principalmente pelas pessoas que circulam pela rua não saberem o que há atrás dos muros.

Aqui entra a história do investimento público. No início dos anos 2000, após 17 anos do tombamento e da deterioração constante, foi realizado um concurso público sendo aprovado um projeto que em valores atualizados deve ser de aproximadamente R$ 25 milhões, a serem custeados pela prefeitura ou pela iniciativa privada. Até hoje, 2024, nenhum dos dois se interessou. Como e por que investir em algo que ninguém vê? Um local de história, arte e cultura fechado atrás de muros não atrai empresas e políticos.

Eventos artísticos dos mais variados teores foram levados a efeito não para angariar fundos ou patrocinadores, mas para prometer que esta `nova administração` faria a manutenção das construções históricas e da área verde, nada aconteceu. O patrimônio cultural se deteriora a olhos vistos. A única informação que dão é que sendo um patrimônio histórico e tendo um projeto aprovado nada pode ser feito a não ser que siga exatamente o projeto aprovado. Ou seja, é permitido deteriorar. Conservar sabe-se lá quando.

Aqui pode-se incluir o precário sistema de saúde: AMA – Assistência Médica Ambulatorial, UBS – Unidades Básica de Saúde e UPA – Unidade de Pronto Atendimento. Todos fazem parte do patrimônio público seja no imóvel ou nos equipamentos. Distribuídos em diversos bairros da capital normalmente têm instalações precárias e sempre sem manutenção assim como os equipamentos.

Todos nós sabemos que quando não há manutenção constante o custo de recuperação é muito maior, provocando demora no atendimento, atraso em resultado de exames e um sistema de atendimento jurássico. Aqui vai um pequeno detalhe; como não há investimento em informatização caso você seja atendido em destas unidades e tiver que ser encaminhado para outra unidade, você terá que levar o prontuário, os exames e tudo o mais. Não há comunicação entre as unidades!!!!

Investimento é coisa séria mais ainda quando se trata de investir em patrimônio público e cultural, ou seja, naquilo que pertence a todos nós e à nossa história. Este parque é o mais puro exemplo da nossa realidade de administração pública. Para aqueles que quiserem conhecer o Museu Casa e Parque Modernista fica na Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana, São Paulo. No Facebook: Amigos do Museu Casa e Parque Modernista.

* JOÃO LUIZ CORBETT






















-Economista com carreira construída em empresas dos segmentos de açúcar, álcool, biocombustíveis, frigorífico, exportação, energia elétrica e serviços, com plantas em diversas regiões do país;

-Atuação em planejamento estratégico empresarial, reorganização de empresas, aprimoramento de competências, elaboração de planos de negócios com definição de estratégias, estrutura societária e empresarial, com desenvolvimento e recuperação de negócios e

- Atuação em empresas de grande e médio porte nas áreas de planejamento estratégico, orçamento, planejamento e gestão financeira, tesouraria, controladoria, fiscal e tributária.


Nota do Editor:

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