sábado, 26 de março de 2016

Socorro!Não sabemos ler!!





A formação do ser humano começa na família. É em casa que se tem início um processo de humanização e libertação; é um caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, e bem cedo a escola participa desse processo. 
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, já dizia um dos maiores pensadores da pedagogia do Brasil e do mundo, Paulo Freire. 
Analisando sob a perspectiva de formar cidadãos críticos a leitura tem função primordial nesse processo e temos que refletir que com o conhecimento adquirido na escola, o aluno se prepara para a vida. Passa a ter o poder de se transformar e de modificar o mundo onde vive. 

Mas afinal, é possível a escola ensinar a ler? Qual a importância da leitura para a formação cidadã? O que estamos levando para a sala de aula, em se tratando de leitura, contribui para a formação do leitor crítico e reflexivo? 

Segundo Kuenzer (2002, p.101), “ler significa em primeiro lugar, ler criticamente, o que quer dizer perder a ingenuidade diante do texto dos outros, percebendo que atrás de cada texto há um sujeito, com uma prática histórica, uma visão de mundo (um universo de valores), uma intenção”. A leitura crítica é geradora de significados, em que ao ler, o leitor cria seu próprio texto com base no que foi lido, concordando ou discordando da idéia principal. Isto faz com que seja diferenciada da decodificação de sinais, reprodução mecânica de informações que por muito tempo foi considerada como interpretação textual, virando prática habitual nas de Língua Portuguesa a cópia de fragmentos do texto, para servir de resposta aos questionamentos feitos a respeito do que estava escrito, “[…] como atividade constitutiva de sujeitos capazes de interligir o mundo e nele atuar como cidadãos” (BRANDÃO E MICHELITTI APUD. CHIAPPINI, 1998, p. 22). 

O ato de ler não pode e nem deve ser delegado à escola, mas sim uma relação de cumplicidade e retroalimentação entre a família e a escola. A leitura é utilizada em vários locais e com diversas finalidades em nossas vidas: no trabalho, na escola, no lazer ou em casa, portanto a formação do leitor inicia-se no âmbito escolar e se processa em longo prazo, tendo como mediador o professor, em quem encontramos a possibilidade de diversificarmos o conhecimento. 

Construir significado para o texto é tão somente compreende-lo, tarefa que não se constitui com tanta facilidade em se tratando da leitura de textos em sala de aula. Para tanto, se faz necessário adotar práticas que priorizem em vez de fórmulas decoradas, o entendimento e a compreensão do que está sendo ensinado e consequentemente adote posturas que possibilitem fazer uso, desse conhecimento na vida prática, uma vez que tão importante quanto aprender a compreender é utilizar essa compreensão para se tornar uma pessoa apta a exercer sua cidadania e a fazer parte do mundo e do mercado de trabalho. 

Um texto não pode ser compreendido como algo pronto e acabado, pelo contrário, deve ser entendido como uma estrutura em acabamento, com lacunas, e que necessita que alguém o complete e atribua um caráter significativo. 

Não se deve apresentar para o aluno uma leitura estética que se centre no sentido primeiro das palavras, mas sim uma leitura que abra lacunas, que oportunize ao leitor, criar e recriar a partir do que foi lido. Assim, o trabalho com esse tipo de leitura pressupõe a formação de um leitor crítico e reflexivo e capaz de agir e interagir em sociedade, sensibilizados dos seus direitos e deveres e preparado para intervir no seu meio quando se fizer necessário. Porém formar um leitor crítico é tarefa principal de um professor que também se encaixe nesse perfil, não sendo possível ao professor que não tem esse domínio, exigir do seu aluno algo que ele próprio ainda não utiliza ou não é capaz de fazer com autonomia. 

Brandão e Michelitti apud. Chiappini (1998, p. 18) comentaram que “Se um texto é marcado por sua incompletude e só se completa no ato de leitura, se o leitor é aquele que vai fazer ‘funcionar’ o texto, na medida em que o opera através da leitura, o ato de ler não pode se caracterizar como uma atividade passiva”. O leitor precisa ser visto como peça fundamental no processo de leitura e na interação leitor-texto, interligado às demais atividades propostas em outras disciplinas, não devendo ser responsabilidade só do professor da disciplina de Língua Portuguesa. 

Essa postura proporciona um ensino-aprendizagem mais contextualizado e voltado para o desenvolvimento do raciocínio crítico do estudante em qualquer uma das áreas de conhecimentos. Observamos que a leitura deve se apresentar como uma necessidade, um gosto para despertar o prazer no estudante para que ele possa absorver e aprender cada vez mais além de desenvolver suas competências leitoras dentro e fora da escola. 

É fundamental que a leitura se constitua como uma prática social de diferentes funções, pelas quais estudantes podem perceber que precisam ler não somente para compreender, mas também para relacionarem-se, comunicarem, adquirirem conhecimentos, ampliando os horizontes em relação ao mundo e as questões inerentes ao seu bem estar. E dentro da complexidade das redes sociais, configura-se, então, como uma necessidade básica na vida de cada uma que pode ser produtiva para enriquecer as relações interpessoais dentro do seu grupo ou até mesmo no mercado de trabalho. 

O ensino médio como etapa final da educação básica, que deve garantir além da aquisição de conteúdos programáticos essenciais para a contextualização dos conhecimentos científicos, uma formação crítico-social para dar ao jovem, condições de enfrentar o mundo com mais segurança. E a tarefa de formar leitores é de responsabilidade dos educadores das diversas disciplinas não apenas de Língua Portuguesa, já que a leitura é instrumento de apropriação do conhecimento, é ferramenta que permite aprender a aprender, configurando-se como uma atividade de ensino em todas as áreas. 

O que vivenciamos hoje é um “empobrecimento” oriundo desse de alunos que cada vez leem menos, e por consequência apresentam dificuldades de interpretação de texto, estando desta forma vulneráveis as manipulações, interpretações errôneas, escasso de criticidade devido a deficiência de leitura. 

Faz-se necessário salientar que toda reflexão em torno deste assunto não se esgota enquanto ainda forem visíveis as lacunas existentes entre a teoria e a prática que circundam a atuação docente no contexto da sala de aula. Muitos são os desafios encontrados em relação ao ensino de língua materna, porém, é na formação inicial de professores que se constrói o alicerce para que se possa mudar uma realidade presente e marcada por fatores ideológicos e governamentais que constituem a educação. 

Urgentemente, o ensino e a prática de leitura precisam ser repensados, enquanto práticas pedagógicas. O hábito de leitura é desenvolvido ativando-se os conhecimentos anteriores do leitor, instaurando um processo de produção de sentidos que extrapolem as palavras do texto. Deve-se fomentar uma leitura que abra caminhos para o leitor ser agente de si mesmo, pois, segundo Freire (1995), "ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ler é procurar ou buscar criar a compreensão do lido. Ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da comunicação". 

REFERÊNCIAS 

CHIAPPINI, L. (Coord.).Aprender e ensinar com textos didáticos e para-didáticos. Vol. II. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1998. 

BRANDÃO E MICHELITTI APUD. CHIAPPINI, 1998. 

ECO, Roberto. Os limites da interpretação. São Paulo: Perspectiva, 2000. 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. Em três artigos que se completam. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. – São Paulo: Cortez, 1994. – (Coleção Magistério. 2º grau. Série formação do professor). 

MOTA, Sônia Rodrigues. A família e o leitor. Fundamentação Vitae / Casa da leitura / Proler. Rio de Janeiro, 1994. 

ORLANDI, Eni Puccinelli (Org.). A leitura e os leitores. 2ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2003. 

SILVA, Ezequiel Theodoro. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 5ª ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991. 

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998. 

Por SELMA MARTINS




- Publicitária;
- Pedagoga; e
- Apaixonada pela vida
-Frase:Pior que a verdade é a convicção: Nos limita e impede nossa evolução 

 -Mora Em Campinas, São Paulo

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